segunda-feira, 27 de maio de 2013

FAZER-SE SERVO AO ESTILO DE JESUS PARA RESGATAR O PRÓXIMO
 
Quarta-feira da VIII Semana Comum
29 de Maio de 2013
 
Texto de Leitura: Mc 10, 32-45

Naquele tempo, 32discípulos estavam a caminho, subindo para Jerusalém. Jesus ia na frente. Os discípulos estavam espantados, e aqueles que iam atrás estavam com medo. Jesus chamou de novo os Doze à parte e começou a dizer-lhes o que estava para acontecer com ele: 33“Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos pagãos. 34Vão zombar dele, cuspir nele, vão torturá-lo e matá-lo. E depois de três dias ele ressuscitará”. 35Tiago e João, filhos de Zebedeu, foram a Jesus e lhe disseram: “Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir”. 36Ele perguntou: “Que quereis que eu vos faça?” 37Eles responderam: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda quando estiveres na tua glória!” 38Jesus então lhes disse: “Vós não sabeis o que pedis. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados com o batismo com que vou ser batizado?” 39Eles responderam: “Podemos”. E ele lhes disse: “Vós bebereis o cálice que eu devo beber, e sereis batizados com batismo com que eu devo ser batizado. 40Mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. É para aqueles a quem foi reservado”.  41Quando os outros dez discípulos ouviram isso, indignaram-se com Tiago e João. 42Jesus os chamou e disse: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. 43Mas entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; 44e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. 45Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos”.

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1. Jesus Que Está Na Frente de Nossa Caminhada Nos Chama Continuamente a Segui-Lo (Mc 10,32-34)


O texto do evangelho de hoje nos diz que Jesus e os seus discípulos “estavam a caminho”. E a meta desta caminhada é explicitamente mencionada: Jerusalém (11,11). Sem dúvida, Jesus já visitou Jerusalém várias vezes, mas somente desta vez ele a visitou como Messias. E Jesus é descrito como uma pessoa que está marchando determinadamente para seu destino: “Estavam a caminho para subir a Jerusalém” (v.32). Com a descrição de “estar a caminho”, Marcos quer nos dizer que seguir a Jesus significa colocar-se em marcha e andar atrás de Jesus, pois quem anda na frente de Jesus, se perde ou fica desorientado. Trata-se de um caminhar no qual há avanços e retrocessos, clarezas e obscuridades.


O texto também nos relata que Jesus vai à frente dos discípulos (v.32b). O verbo usado aqui por Marcos é  “ir à frente”. Este “ir à frente” servirá para expressar a promessa da ressurreição: Jesus Ressuscitado irá novamente à frente dos discípulos, como guia e pastor, na Galiléia (14,28; 16,7). A imagem de Jesus que “vai à frente” é a imagem do Servo que se entrega. É o cumprimento daquilo que lemos no quarto canto do Servo de Deus: “Se ele oferece a sua vida como sacrifício pelo pecado, certamente verá uma descendência, prolongará os seus dias” (Is 53,10). Trata-se de um anúncio de morte, mas cheio de esperança, pois fala-se da ressurreição.  


Podemos ver também neste “ir à frente” de Jesus uma mensagem de esperança e de certeza para quem acredita em Jesus. Para tudo de bom que fazemos e queremos fazer Jesus abre o caminho apesar das “subidas” que nos fazem perdermos fôlego. Mas tendo consciência de que Jesus está andando na nossa frente, ganharemos novas forças ou renovaremos nossas forças para continuar a acompanhar Jesus no seu caminho de salvação. O Jesus na frente nos chama continuamente para caminhar sem desistência e sem desânimo apesar de nossos medos e fraquezas: “Os discípulos estavam espantados, e aqueles que iam atrás estavam com medo” (Mc 10,32b).


2. Ambição Pelo Poder Obscurece o Seguimento e Mata o Espírito de serviço (Mc 10,35-45)


Apesar de Jesus estar na nossa frente não faltam tentações de desviarmos do Seu caminho. Uma dessas tentações é a ambição pelo poder mundano. Uma pessoa com a ambição viciada pelo poder é capaz de recorrer à violência para alcançar seu objetivo. Este tipo de pessoa não se preocupa em ser justo. Ele não suporta competidores nem rivais e tenta eliminá-los de qualquer maneira. Poder é uma palavra mágica que encanta, arruína e corrompe a tantos mortais. Os que são viciados pelo poder manipulam e oprimem, especialmente, os débeis: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam”. Quanta atualidade nesta imagem! Quanta tristeza se muitos deles presumem de ser cristãos.


Depois que os discípulos ouviram o terceiro anúncio da Paixão, novamente, como depois do segundo, surge uma discussão entre os discípulos sobre o primeiro posto, sobre a preeminência na comunidade. Para os discípulos esta discussão lhes importava. Eles estão como que cegos para enxergar o caminho trilhado por Jesus e que eles devem trilhar também como discípulos do Senhor: “Mestre, deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda quando estiveres na tua glória!”.


Seguir a Jesus, fazer-se servo como Jesus se torna difícil quando entra na vida de qualquer cristão a sede pelo primeiro posto, pelo poder como poder, não como serviço entendido como doação de si mesmo aos demais até o sacrifício total da própria vida a exemplo de Jesus.


 “Na sua glória”, glória (doxa) como em 8,38 e 13,26. Os dois irmãos são motivados mais pela ambição egoísta do que pela idéia clara sobre o que eles querem: “Vós não sabeis o que estais pedindo” (38b). Eles não sabem “o que estão pedindo” (v.38), mas “sabem” de que modo a classe dirigente age (v.42). Os dois pensam no prêmio e não no caminho. Além disso, seu pedido egoísta por uma alta posição mostra que eles continuam concentrados mais em sua grandeza pessoal do que no serviço humilde para qual Jesus chamou os Doze (9,33-50).
   

É uma ocasião apropriada para Jesus transmitir lição sobre discipulado (42-45): “Entre vocês não deverá ser assim...”. Em seguida ele propõe um outro tipo de autoridade, que é o anti-poder, mediante imagens e modelos sociais inequívocos para seu tempo e o ambiente antigo: o servo (diakonos: pessoa que serve à mesa) e o escravo (doulos: pessoa na situação mais baixa do que um servidor). Quem “serve à mesa” e, mais ainda, quem é “escravo de todos” tem como preocupação principal o atender às necessidades dos outros. 


Quando a Igreja é fiel a este modelo, a sua vida comunitária reflete a própria vida de Jesus (cf. Fl 2,5-11). Assim, a Igreja se torna uma presença profética no mundo, e tem força para denunciar estruturas injustas e o uso do poder para dominar e tiranizar, da mesma forma que Jesus o fazia naquela sociedade na qual vivia. Por isso, como é triste quando cristãos se esquecerem desta exigência de Jesus na vida familiar ou na comunidade; ou silenciam diante de injustiças na sociedade e compactuam com um poder dominador. A grandeza dos cristãos-discípulos está na capacidade de servir e na dedicação ao serviço. O essencial para qualquer autoridade ou responsável na comunidade cristã é que ele seja mais servo do que chefe: um servidor de Deus e das pessoas para que todos cresçam no amor e na verdade.
  

Em nosso íntimo, infelizmente, existe um pequeno tirano que quer o poder e prestígio e que se agarra a isso; quer dominar, ser superior, controlar. Teme qualquer crítica, qualquer controle: é o único a ter razão, mandando tudo e em tudo, conservando ciosamente seu poder de quere dominar. “Quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos” é o recado permanente de Jesus para todos nós.


O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos”, concluiu Jesus no evangelho de hoje. São palavras bem pensadas que manifestam com que consciência Jesus vai ao encontro de seu destino. Este estilo de vida é que dá a Jesus o sentido de sua morte. O texto diz: “Como resgate para muitos”. Jesus se vê como o “Justo Sofredor” cuja morte-martírio se converte em sacrifício de salvação para todos. Jesus me resgatou sacrificando-se. Jesus me salvou oferecendo sua vida como resgate. De que maneira eu posso “resgatar” meu próximo? Sou capaz de me sacrificar para que o próximo possa viver?

P. Vitus Gustama,svd

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