terça-feira, 28 de maio de 2013

CORPUS CHRISTI




1. Viver Uma Vida Eucarística Na Partilha Fraterna


Na festa de Corpus Christi nos são mostradas, de maneira muito forte, as duas dimensões inseparáveis do mistério eucarístico: a presença real e amorosa de Cristo no Pão consagrado e a necessidade de viver a caridade fraterna na partilha.


A festa de Corpus Christi é a festa que exalta a presença real de Jesus Cristo no sacramento da Eucaristia. Precisamente por serfesta do Sacramento” exaltamos o Corpo e o Sangue, Pão e Vinho eucarístico, de Jesus Cristo sinal eficaz de sua presença entre s. Mas neste caso o sinal aponta para a refeição fraterna na qual o próprio Cristo se dá como alimento. E a refeição fraterna e festiva não pode ser entendida sem comunhão, sem convivência com o Senhor e com os demais comensais. É certo que a Eucaristia constrói a Igreja, mas constrói como comunidade que e partilha e compartilha. Compartilhar é mais que repartir o que nos sobra: é mudar nossa maneira de pensar e de viver até se tornar possível uma convivência fraterna e solidaria. Por isso, é impossível celebrar esta festa sem aprofundar nossa experiência de amor fraterno, de caridade mútua e, portanto, de solidariedade e de convivência.


Na festa de Corpus Christi nos são mostradas, de maneira muito forte, as duas dimensões inseparáveis do mistério eucarístico: a presença real e amorosa de Cristo no Pão consagrado e a necessidade de viver a caridade fraterna na partilha.


2. Vida Cristã É Uma Procissão Para a Vida Eterna


O que distingue a festa de Corpus Christi é a procissão. É o mais exterior nesta festa e é também mais distintivo. Mas quando o exterior nasce de dentro é também a manifestação de seu núcleo interior. Por isso, podemos também meditar o mistério desta festa a partir da procissão. Procissão na sua etimologia latina significa “ir adiante”, “adiantar-se”.


A Hóstia consagrada levada em procissão é o Pão vivo e Doador da vida: “Eu sou o Pão da Vida”, disse Jesus. Com razão recebe culto público e sua finalidade principal é ser recebida como alimento espiritual para nos unir com Cristo e nos associar a seu sacrifício, isto é, ao receber o Pão da Vida devemos ser vida para os outros. Somos alimentados com o Pão da Vida para que sejamos vida para os outros.


Que sentido tem a procissão de Corpus Christi? Ela nos faz descobrir que somos peregrinos sobre a terra; não temos aqui pátria permanente. Andamos pelo espaço e pelo tempo, estamos sempre em caminho e buscamos nossa pátria própria e eterna. Santo Agostinho dizia: “Gostes ou não, não és mais que um peregrino neste mundo. Podes, pois, adoçar teu caminho; porém, por mais que queiras, não poderás converter-te em residente” (In ps. 120,14). Nessa peregrinação somos aqueles que devem deixar-se transformar porque ser homem significa deixar-se transformar. A perfeição se alcança transformando-se e formando-se permanentemente.


Nossa temporalidade e os distintos lugares onde se desenvolve nossa existência se manifestam através de uma procissão, de uma marcha. Mas esta marcha não é a marcha de uma manada. Uma procissão é um movimento dos que se sentem verdadeiramente unidos; é uma peregrinação durante a qual os peregrinos se dão as mãos para que o outro continue em nessa peregrinação. É ser irmão e irmã da jornada. É um movimento que leva consigo o Santo, o Eterno, que tem consigo a tranqüilidade do movimento e a unidade dos que se movem.


Através da Procissão de Corpus Christi queremos manifestar publicamente que o Senhor da história e deste êxodo santo do desterro para a pátria eterna, vai conosco; é uma marcha eterna, uma procissão que tem verdadeiramente uma meta diante de si e consigo. Nesta marcha levamos o Corpo santo que foi entregue por nós para a remissão de nossos pecados. Temos sempre conosco o Crucificado ressuscitado na marcha através de nosso tempo. Por meio desta procissão confessamos que somos pecadores, mas andando com o Doador da vida, viveremos na graça santificante. Por isso, a procissão nos fala da presença permanente da reconciliação nos caminhos de nossa vida. A procissão nos diz que Deus vai conosco; Ele, a reconciliação, Ele, o amor e a misericórdia. Ele que nos acompanha, Ele que nos persegue ainda que caminhemos por caminhos tortuosos e percamos a direção. Ele, que busca no deserto a ovelha perdida e corre ao encontro do filho pródigo. Ele vai conosco na peregrinação de nossa vida, Ele que recorreu por si mesmo todas as ruas e estradas desde o nascimento até a morte. Ele, com misericórdia de seu coração, com a experiência de uma vida completa de homem, paciente e misericordioso. Ele, a salvação e a reconciliação de nossos pecados, levamos o sacramento através das ruas ou campos ou desertos de nossa vida e confessamos e cremos: estamos bem acompanhados na nossa peregrinação, pois o Senhor caminha conosco. Estamos bem acompanhados por Aquele que com sua companhia pode fazer todos os caminhos retos. Através da Procissão queremos confessar que nós, peregrinos nesta terra levamos nas mãos Aquele que é o Começo e o Fim, o Alfa e o Ômega de nossa vida. Através da Procissão queremos professar que a divindade e a humanidade estão unidas indissoluvelmente. Levamos conosco o Corpo glorioso em que o mundo começou a ser glorificado. O Eterno, o Definitivo, o próprio Deus está conosco. Neste momento misterioso tempo e eternidade, terra e céu, Deus e homem começa a penetrar-se. Se você tiver consciência de tudo isso, sua vida vai começar a mudar e a se transformar e você ganhará cada vez mais força mais do que suficiente para começar sua vida com Deus.


Levamos o Corpo do Senhor em procissão e com isso expressamos que todos somos um, que todos vamos pelo mesmo caminho, o único caminho de Deus e de sua eternidade. As mesmas forças da vida eterna operam em todos nós, o único amor divino é nossa participação, participação que nos vincula mais profunda e interiormente.


Se o Senhor anda conosco, simbolizado pela procissão, então, não podemos ter mais medo de nada para avançar no bem; não podemos perder mais tempo para começar de novo, para formar-se. Se a vida é uma peregrinação com o Senhor não é permitido ficar parado e paralisado. Caminhar com o Senhor tudo será aberto apesar dos aparentes muros de desafio.

P. Vitus Gustama,svd

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