APRENDER A CAMINHAR COM AS
PRÓPRIAS PERNAS, MAS SOB O IMPULSO DO ESPÍRITO DIVINO
Terça-feira da VI Semana da Páscoa
07 de Maio de 2013
Texto
de Leitura: Jo 16,5-11
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 5“Agora, parto para aquele que me enviou, e nenhum de
vós me pergunta: ‘Para onde vais?’ 6Mas, porque vos disse isto, a
tristeza encheu os vossos corações. 7No entanto, eu vos digo a
verdade: É bom para vós que eu parta; se eu não for, não virá até vós o
Defensor; mas, se eu me for, eu vo-lo mandarei. 8E quando vier, ele
demonstrará ao mundo em que consistem o pecado, a justiça e o julgamento: 9o
pecado, porque não acreditaram em mim; 10a justiça, porque vou para
o Pai, de modo que não mais me vereis; 11e o julgamento, porque o
chefe deste mundo já está condenado”.
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O texto do evangelho de hoje faz
parte do discurso de despedida de Jesus de seus discípulos no evangelho de João
(Jo 13-17).
“Agora, parto para aquele que me
enviou, e nenhum de vós me pergunta: ‘Para onde vais?’ Mas, porque vos disse
isto, a tristeza encheu os vossos corações”, disse Jesus no evangelho deste
dia.
Jesus anuncia aos discípulos a sua
morte iminente (partida) que provoca uma reação negativa nos discípulos:
tristeza (Jo 16,6) e perturbação (Jo 14,1). Mas esta partida (morte) traz, ao
mesmo tempo, conseqüências positivas: a vinda do Paráclito (Jo 16,7) e a
reunião definitiva (Jo 14,2-3).
Neste texto do evangelho Jesus
afirma que a sua morte é uma partida para Aquele que o enviou. Este retorno
Àquele que o enviou mostra que a causa pela qual Jesus lutava e vivia era a de
Deus que é a salvação do mundo (Jo 3,16). Por isso, sua volta para Deus é para
ser glorificado. A morte, para Jesus, é o momento da glorificação. É a “hora”
de Jesus (cf. Jo 2,4; 12,23).
Os discípulos continuam sem
compreender a morte como ida ao Pai. Não pedem explicações a Jesus, mas se
sentem tristes ao pensar na separação que eles interpretam como desamparo (Jo
14,18). Para eles sem Jesus na sua presença física eles se sentem indefesos no
mundo e diante do mundo.
“Quando vier o Defensor,
ele demonstrará ao mundo em que consistem o pecado, a justiça e o julgamento: o
pecado, porque não acreditaram em mim; a justiça, porque vou para o Pai, de
modo que não mais me vereis; e o julgamento, porque o chefe deste mundo já está
condenado”.
O papel do Paráclito (o Defensor) é
convencer o mundo no sentido de demonstrar, de provar, de culpar e de condenar.
O Paraclito (o Espírito) executará a sentença de Deus contra o mundo ateu. Para
João o juízo “final” não acontecerá nos últimos dias, mas já agora pelo fato de
que a decisão escatológica já se concretizou na cruz e na ressurreição de
Jesus. O Espírito convencerá o mundo sobre o pecado que consiste na
incredulidade e no fato de fechar-se ao amor do Criador (Jo 3,16) manifestado
em Jesus Cristo.
O sistema injusto condena o justo
como criminoso. O sistema injusto se faz juiz contra os justos e honestos. É a
inversão de valores em nome do interesse e das vantagens individuais. Mas o
Espírito vai reabrir o processo para pronunciar a sentença contrária. Os que se
fizeram juízes serão os culpados e culpáveis. E o condenado pelo sistema
encontrará a verdade em Deus e o próprio Deus que não pode ser subornado será o
ponto de referência diante do qual cada um se condena. Diante da verdade a
própria mentira se condena. Deus se constitui em juiz e inverte o juízo dado
pelo mundo.
O “mundo” neste texto se designa ao
círculo dirigente que condenou Jesus; o mundo no sentido das forças sociais,
históricas e econômicas opostas ao plano divino. Trata-se da personificação das
forças malignas da história: a injustiça exercida sobre os inocentes, a
opressão dos pobres, a tirania dos sistemas totalitários. Jesus declara aos
discípulos que o Espírito de Deus realizará este juízo da história no qual
brilhará a justiça e a bondade divinas a favor dos seus. O mundo prefere suas
trevas de pecado à luz poderosa da bondade e da verdade divinas. Seu pecado consiste em impedir, reprimir ou
suprimir a vida impedindo a realização do projeto criador (Jo 1,10), e esse
pecado alcançou seu ápice na recusa de Jesus (Jo 15,22). O Espírito mostrará
aos discípulos a justiça de Deus e que o mundo é o réu de seu pecado, de ter
recusado a presença de Deus em Jesus.
Portanto, qualquer cristão não pode
abandonar uma vida correta e justa em nome de qualquer pessoa ou de qualquer
valor material. O Espírito suscita homens particularmente sensíveis aos valores
autênticos e a Eucaristia os capacita para comprometer-se efetivamente na
contestação dos pseudo-valores. O homem animado pelo Espírito não pode tolerar
compactuar com a maldade nem em nome dum beneficio econômico nem em nome de uma
posição social. A justiça humana pode desviar a verdade em nome de interesses
pessoais, mas ainda resta a justiça divina diante da qual a verdade, a justiça,
a honestidade e a lealdade estarão em destaque. Por isso, “a vida dos justos
está nas mãos de Deus e nenhum tormento os atingirá... Os que confiam em Deus
compreenderão a verdade e os que são fieis habitarão com Ele no amor” (Sabedoria
3,1.9).
P. Vitus Gustama,svd
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