sexta-feira, 17 de maio de 2013

 
PENTECOSTES
PAPEL DO ESPÍRITO SANTO E SEUS FRUTOS NA VIDA DO CRISTÃO
 

 
Primeira Leitura: At 2,1-11
 
 1Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. 2De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. 3Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. 4Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava. 5Moravam em Jerusalém judeus devotos, de todas as nações do mundo. 6Quando ouviram o barulho, juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua. 7Cheios de espanto e admiração, diziam: “Esses homens que estão falando não são todos galileus? 8Como é que nós os escutamos na nossa própria língua? 9Nós, que somos partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judéia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, 10da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, também romanos que aqui residem; 11judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus em nossa própria língua!”

Segunda Leitura: 1Cor 12,3-7. 12-13
 
Irmãos: 3bNinguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo. 4Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. 5Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. 6Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. 7A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum. 12Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo. 13De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito.

Evangelho: Jo 20,19-23
 
19Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. 20Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. 21Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. 22E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. 23A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”. 
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Neste domingo celebramos o Pentecostes: a festa do Espírito Santo. com a festa de Pentecostes terminamos o círculo pascal para começar o tempo comum. 
 
O Espírito Santo fundamenta a missão de Jesus e fundamenta a missão da Igreja. Só no livro de Atos dos Apóstolos, de onde tiramos o relato de Pentecostes, o Espírito Santo é mencionado 45 vezes. Em conseqüência disto, com razão, a dupla obra de Lucas (o Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos) é designada como “o Evangelho do Espírito Santo”. O Espírito Santo é a plenitude de tudo quanto Deus tem que nos dar. Na liturgia há uma exuberância de imagens e comparações para exprimir o que o Espírito Santo é e faz. Ele santifica, fortifica e consola. Ele aquece quando estamos frios; ele nos ajuda e nos cura. Ele torna flexível o que é rígido, purifica, ilumina na escuridão. Ele é como uma língua, como descreve os Atos e como uma pomba na descrição dos Evangelhos. Ele é sopro, o dedo de Deus com que foi criado o universo. Renova continuamente a face da terra.
 

Como nós sabemos que o Espírito Santo é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. É simples esta frase, mas rico é o seu conteúdo. Ela significa que Deus é uma “família”. Deus não é um Deus solitário. Deus é uma comunidade; uma convivência. Há em Deus uma comunicação perfeita. Há em Deus uma convivência que é completa e desconhece qualquer sombra.  É conhecimento do outro numa unidade indivisa. O Espírito Santo é o vínculo de união perfeita entre Pai e Filho. O Espírito Santo é aquele que supera a relação Eu-Tu e introduz o Nós. Por isso, ele é por excelência a união entre Pessoas divinas.


No evangelho de São João (cf. Jo 14,26; 15,26-27; 16,13-15; 14,16-18) o Espírito Santo é chamado de Paráclito, termo de origem grega do mundo jurídico que é traduzido por advogado, auxiliar, defensor. Em que sentido? Em situação de sofrimento e dor, o Espírito santo desempenha seu papel como consolador. Nas decisões importantes em que ele é invocado o Espírito Santo se faz conselheiro. Ele nos interpela, acusa e questiona na nossa mediocridade, apatia e no nosso desânimo (cf. Jo 16,8). Como o verdadeiro advogado o Espírito Santo nos conduz para a plena verdade (Jo 16,13-15) que é o próprio Jesus Cristo, o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6). O Espírito Santo nos conduz a Jesus pela dupla via: pela via do conhecimento e do amor e nos leva ao seguimento de Jesus até o fim, ao anúncio do Reino, à opção pelos pobres. Aqui consiste a trilogia fundamental: conhecer intimamente, amar profundamente e seguir a Jesus fielmente. Quem nos possibilita tudo isso é o Espírito Santo.


O mesmo evangelho de João nos afirma que pelo batismo recebemos o Espírito Santo que nos habita o coração (cf. Jo 3,5-8.34). E o Espírito Santo prometido por Jesus tem uma função de ensinar, recordar, comunicar e conduzir à verdade de Jesus diante do risco de a Igreja perder o rumo em relação à memória e a compreensão de Jesus (cf. Jo 15,26; 16,14s).
 

Na história, o Espírito Santo se mostra como uma força vulcânica que ninguém pode segurar, como um vendaval (vento tempestuoso) que toma as pessoas e as leva a fazer obras grandiosas. Cabe ainda ressaltar mais algumas características do Espírito Santo.


Ele é a força do novo e da renovação de todas as coisas: cria ordem na criação, faz surgir o novo Adão no seio de Maria, impulsiona Jesus para a evangelização, ressuscita o crucificado dos mortos, antecipa a humanidade nova na Igreja e nos traz, no final, o novo céu e a nova terra. Que seria da sociedade e das Igrejas se não surgissem os inovadores, as pessoas criativas, que têm idéias novas, que descobrem novos caminhos para a educação, a política, a religião etc.? O Espírito Santo certamente está ligado ao novo e ao alternativo.
 

Ele é o atualizador da memória de Jesus. Ele atualiza a mensagem de Jesus. Ele nunca deixa que as palavras de Jesus permaneçam mortas, mas que sempre sejam relidas, ganhem novas significações e implementem novas práticas. Ele continua a obra de Jesus nas comunidades.
  

Ele é o princípio libertador das opressões de nossa situação de pecado, chamada pela Bíblia de carne. Carne expressa o projeto da pessoa voltada sobre si mesma, esquecida dos outros e de Deus. Ele sempre é gerador de liberdade (1Cor 3,17), de entrega aos demais e de amor.
 

Ele produz unidade, e ao mesmo tempo, promove diferentes maneiras de servir, como descreve a Carta de São Paulo aos coríntios (1Cor 12,3-7.12-13). Ele é a força criadora de diferenças e de comunhão entre as diferenças. É ele que suscita entre as pessoas os mais diversos dons e nas comunidades os mais diferentes serviços e ministérios, como se ensina nas cartas aos Romanos (Rm 12) e aos Coríntios (12). Mas esta diversidade não decai em desigualdades e discriminações porque bebemos da mesma fonte que é o Espírito Santo (1Cor 12,13). Os dons ou os carismas não são dados para a autopromoção, mas para o bem da comunidade (1Cor 12,7). A base da palavra “carisma” é “charis” (grego) que significa “graça”. Por isso, carisma é resultado de uma ação da graça (charis). O carisma articula o dom pessoal com o bem da comunidade.  o carisma existe em vista da construção social ou do bem comum.  Ou na linguagem de São Paul podemos dizer por carisma, uma manifestação gratuita do Espírito Santo que atua para o bem comum do povo de Deus. o carisma não é para o gozo individual, mas a serviço da comunidade no sentido da comunidade eclesial, o Corpo de Cristo.


No Pentecostes o sinal importante do Espírito Santo não foi uma confusão de línguas que ninguém entende, mas foi a capacidade de falar de tal modo que todo mundo se sentiu à vontade com a mensagem. A linguagem que todos entendem é o amor. O Espírito Santo interfere para melhorar e não para atrapalhar a comunicação da Igreja de Jesus Cristo. A comunidade fundada em Pentecostes (no Espírito Santo) é um lugar de diálogo, de encontro, de comunicação, de unidade (não necessariamente uniformidade), de acolhimento. O erro não está em sermos diferentes. O erro está em sermos divididos. A comunidade nascida em Pentecostes não é o lugar da lei que mata, mas é o lugar do Espírito Santo, isto é, o lugar da abertura e da vida, do reconhecimento e do despertar, o lugar de uma libertação fundada no amor. O amor é o caminho para Deus, o único carisma realmente imprescindível na vida cristã, o carisma que jamais cessará.
 

No começo da Bíblia, na construção da torre de Babel todo mundo que falava a mesma língua começou a se desentender, um não compreendia mais o outro porque estavam fazendo uma obra do orgulho, um monumento para celebrar a própria importância dos construtores e não para servir Deus (Gên 11,1-9).


Quando, na Igreja, cada um fica mais preocupado com o próprio prestígio ou com o prestígio de seu grupo do que com o serviço para o bem de todos (da comunidade), acontece de novo o que está representado na torre de Babel: a comunidade não se entende, fica desunida. Comunidade desunida não constrói como Jesus deseja. A obra fica paralisada no meio. Se cada cristão esquecer sua missão de serviço a Deus e começar a cuidar do seu próprio prestígio e poder, ele também terá dificuldades em se fazer entender.
 

O Espírito Santo foi derramado sobre todos no batismo. Ele habita os corações das pessoas (1Cor 3,16), dando-lhes entusiasmo, coragem e determinação. Ele consola os aflitos e mantém viva a esperança. Ele nos consola, exorta e ensina como as mães fazem junto a seus filhinhos (Jo 14,26;16,13) Um grande teólogo cristão, Mário (+ 334) dizia: “ O Espírito  Santo é a nossa Mãe porque o Paráclito,  o Consolador está pronto a nos consolar como uma mãe consola o seu filho e porque os fiéis são renascidos dele e são assim os filhos desta Mãe misteriosa que é o Espírito Santo”. Ele não nos deixa órfãos (Jo 14,18). Ele nos educa na oração e na forma de pedir as coisas verdadeiras: “O Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8,26).


Na liturgia a presença do Espírito Santo é também destacada.  Começamos a celebração em nome da Trindade. As orações são dirigidas ao Pai pelo Filho no Espírito Santo. A presença do Espírito Santo na liturgia é destacada no momento de duas epicleses (as duas invocações do Espírito Santo). A primeira epiclese acontece na consagração em que o pão e o vinho se tornam sacramento do Corpo e do Sangue de Jesus pela invocação do Espírito Santo. Ao Espírito Santo se atribui a consagração: “Na verdade, ó Pai, Vós sois santo e fonte de toda santidade, santificai, pois, estas oferendas, derramando sobre elas o Vosso Espírito, a fim de que se tornem para nós o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, Vosso Filho e Senhor nosso” (cf. Oração eucarística II). A segunda epiclese (a 2ª invocação do Espírito Santo) acontece depois da consagração em que se suplica ao Pai para que todos os que vão participar do Corpo e do Sangue de Cristo sejam reunidos num só corpo pelo Espírito Santo para formar uma verdadeira comunhão de irmãos. A Eucaristia deve construir, como resultado, uma verdadeira comunidade pela força do Espírito Santo. Comungar não é mais uma coisa privada e sim um momento para criar e fortalecer a comunidade. As duas epicleses têm a mesma importância.


Outros frutos do Espírito Santo são o amor, a bondade, moderação e autocontrole, cortesia, mansidão e longanimidade, jovialidade e paz (veja Gl 5,22-24).
  

Segundo Gálatas, o amor que é o fruto do ES se expressa através de cordialidade, simpatia, coração bom. Trata-se de uma atitude típica da interioridade; é a disposição interior para o pensar bem, para o falar bem, para o agir bem. O amor traduzido com cordialidade, simpatia(simpatia vem do grego sumpáscho que significa igualar-se ao outro, ter uma atitude de profunda sintonia com o outro), coração aberto é a capacidade imediata de entender os sofrimentos e as alegrias de quem está perto de nós; é um coração espaçoso, raiz de toda a moral do NT. O amor é a virtude pela qual resplandecem até mesmo as coisas mais pequenas, e os gestos mais simples se tornam belos e construtivos. Tudo que se faz com amor, por pequeno que seja, se torna uma obra prima. E nada vale aquilo que se faz sem amor, por maior que ele seja.
    

A bondade é fruto do ES. A bondade é um reflexo da atitude divina. Ela é a prerrogativa daquele que se compraz em fazer por primeiro o bem, em suscitar sempre e somente o bem ao seu redor. Ela é uma qualidade criativa(tudo que Deus criou era bom. cf. Gn 1). Nossa bondade é nada mais que uma participação, no ES, da característica divina, e por isso, é bela, criativa, fascinante, capaz de suscitar uma sociedade nova. Nenhum coração resiste diante da bondade. Se a bondade é fruto do ES, então, ela é um dom a ser invocado, a ser implorado, dispondo-nos a acolhê-lo com humildade e reconhecimento.
  

Outro fruto do ES é a moderação. A palavra que se usa em grego é epieíkeia (ocorre 7 vezes no NT) que significa respeito, afabilidade, acessibilidade, moderação, flexibilidade e equilíbrio ao aplicar as leis, as regras; é capacidade de saber prever também as oportunas exceções às regras. Trata-se de uma atitude fundamental na vida social. O contrário da moderação é a arrogância, a petulância, a rudez, a presunção, a falta de educação etc.
    

O domínio de si ou autocontrole, que é outro fruto do ES, está muito ligado à moderação. É uma atitude que exige de si o respeito pelo outro, mantendo sob controle os próprios sentimentos ou instintos de poder e de prevaricação, de ser oportunista diante da fragilidade do outro. O autocontrole evita todo senso de superioridade e toda violência física,  verbal e moral nos relacionamentos; evita a exploração da dignidade alheia; evita a busca da própria vantagem, do próprio prazer em prejuízo da dignidade ou do interesse de alguém. É uma virtude social fundamental.
  

A cortesia é outro fruto do ES. Ela é a atitude de Deus em relação ao homem, o modo com o qual o Senhor se comporta conosco, segundo o que Jesus diz: “Ele é benévolo (chrestós) para os ingratos e para os maus” (cf. Lc 6,35). A cortesia é a arte de acolher, de ir ao encontro do outro fazendo-o sentir que é bem-vindo, esperado, amado. Quando uma pessoa se sente acolhida, estimada e compreendida, ela se solta, fala, dá corda ao discurso.
     

Outro fruto do ES é a mansidão. Ela é uma atitude que facilmente pode ser mal interpretada, pois é confundida com a fraqueza ou com a ingenuidade. Mas, na verdade, ela é a atitude típica de Jesus que se autodefine manso (cf. Mt 11,29). E ela é uma das bem-aventuranças por ele proclamada (cf. Mt 5,5). Mansidão é a atitude que acalma a ira ou cólera. A mansidão é a atitude de quem elimina ou modera a própria cólera e a dos outros; é responder à ira com a ponderação.
   

A longanimidade é outro fruto do ES. É uma virtude que está ligada estreitamente à cortesia e à mansidão. Ela permite sustentar no tempo a esperança (Cf. Lc 13,6-9; 2Cor 2,1-4). Ela é a capacidade de saber investir, sem pretender a obtenção de resultados imediatos ( o contrário da precipitação). Ela é a atitude que permite superar frustrações, que permite superar a irritação e o desencorajamento diante da aparente esterilidade da ação apostólica, educativa, formativa. Ela nos permite semear, eventualmente com sofrimento, olhando para a colheita que nos será dada pelas mãos de Deus. Ela nos convida a ter coragem e a resistir, na certeza de que da resistência virá a alegria.
      

Outro fruto do ES é a alegria/jovialidade (cf. Fl 4,4-7). O termo grego “chará” que se traduz por “alegria”, ocorre 59 vezes no NT, sem contar os sinônimos e os verbos a ele ligados. É muito mais fácil experimentar a alegria do que defini-la. Ela é a atitude que torna tudo mais fácil. “Deus ama a quem doa com alegria” (2Cor 9,7), pois quem doa com alegria, doa bem. Ela é a capacidade que torna outros felizes e contentes. Ela é um sinal claríssimo da presença do ES. Se quisermos entender onde o ES está agindo, precisamos verificar a presença ou a ausência da alegria. Onde há a alegria, está aí o ES. O objetivo da obra de Jesus é o tornar-nos plenos de alegria: “Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (cf. Jo 16,22-24). Por isso, ela é a característica típica do Reino de Deus.
    

O oposto da alegria é a tristeza, aquele sentimento pelo qual tudo parece mais pesado. E uma variante da tristeza é a depressão ou mau humor, a melancolia, o descontentamento. Como resistir à atitude da tristeza? Como superar a depressão? É invocar o ES, pois a alegria é o dom do ES. É preciso invocar o ES, na certeza de que a alegria existe, de que ela está no fundo de nós mesmos, porque ela é a presença de Jesus ressuscitado ainda que esteja escondida. A alegria vem e virá, e tal certeza, cultivada no coração, ajuda a superar depressões, maus humores, escuridão etc..
    

Outro fruto conjuntural e central do ES é a paz (shalom), que representa também uma espécie de síntese de todo bem na Bíblia. Biblicamente a paz é entendida como todo e qualquer bem, humano e divino. Por isso, São Paulo até diz: “E a paz de Deus, que ultrapassa toda a compreensão, guardará vossos corações e vossos pensamentos em Jesus Cristo (Fl 4,7). A paz podemos definir como a atitude que nos defende da ânsia, que reina sobre a ânsia, que a domina. Ela é, obviamente, dom de Deus, do Espírito; é a riqueza que o Espírito derrama sobre os que a acolhem. A paz é a sensação de sentir-se em casa, de ter familiaridade com o ambiente em que vivemos. E sentir-se em casa com Deus, em Deus; o repouso em Deus é a paz que bloqueia a inquietude do coração. Como dizia Sto. Agostinho: “Nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti”. A paz é sentir-se em casa com os outros, quando os relacionamentos são construtivos. A paz leva a pessoa a superar os medos e as desconfianças recíprocas.
      

Os Atos dos Apóstolos relatam um curioso episódio: Chegando a Éfeso, Paulo encontrou alguns discípulos e lhes perguntou: “‘Recebestes o Espírito Santo, quando abraçastes a fé?’ responderam-lhe: ‘Não, nem sequer ouvimos dizer que há um Espírito Santo’”(At 19,1).
  

Se dirigíssemos hoje a mesma pergunta a muitos cristãos, receberíamos talvez uma resposta desse mesmo tipo: sabem, sim, que existe um Espírito Santo, mas é tudo o que sabem a respeito d’Ele; de resto, ignoram quem é, na realidade, o Espírito Santo e o que representa para a vida deles.


Portanto, mais do que nunca, reunamo-nos hoje em torno da Igreja para invocar, em uníssono, sobre nós, sobre nossa família e sobre o mundo inteiro, o Espírito Santo que é Espírito de reconciliação, de unidade, de renovação, de harmonia, de amor, de alegria, de mansidão, de cortesia, de longanimidade, de moderação, de autocontrole e de paz. E que estejamos abertos permanente diante do Espírito Santo que quer nos renovar e transformar em criaturas novas e renovadas de Deus.


P. Vitus Gustama,svd

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