SER LÍDER SEM PRECISAR DE TER CARGO
Sábado da VIII Semana
Comum
I
SÃO JUSTINO
(+ cerca 165)
“Há pessoas ignorantes e bárbaras quanto
à linguagem, mas sapientes e fieis no espírito... e é evidente que isto não seja
obra da sabedoria humana, mas do poder divino”.
(São Justino)
No dia 01 de junho celebramos a memória
obrigatória de São Justino, mártir. São Justino é o mais célebre e o maior de
todos os filósofos cristãos do século II. Era um homem que tinha nobreza de
caráter e o gosto pela exatidão histórica. Justino foi um leigo intelectual que
buscava a verdade: “Atos e não palavras!”, dizia ele. Ele procurava a verdade
para vivê-la. Tendo ingressado no cristianismo por volta do ano 130, afirmou
ter encontrado no cristianismo a única filosofia segura que satisfazia todos os
seus anseios. Em outras palavras, ele encontrou a verdade no cristianismo, a
verdade que o libertou de outras filosofias. Cumpriu-se aquilo que Jesus tinha
dito: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros
discípulos; conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo
8,32).
Para Justino, o cristianismo não é,
antes de tudo, uma doutrina e sim uma pessoa: O Verbo de Deus encarnado e
crucificado em Jesus Cristo. Por isso, Justino dizia: “A nossa doutrina
(cristã) supera qualquer doutrina humana, porque nela temos o inteiro Verbo (de
Deus)”. Por isso, “toda verdade, afirmada em qualquer povo, pertence a nós
cristãos”, acrescentou Justino.
Um dia, retirando-se à solidão,
Justino passeava pela areia à beira mar para meditar sobre a visão de Deus. Na
sua meditação, ele disse que a alma humana não podia atingir a Deus com seus
próprios recursos; somente o cristianismo era a filosofia verdadeira que
apresentava conclusões para todas a verdades parciais.
Por ser um famoso filósofo com
nobre caráter, ele era respeitado. Mas um filosofo invejoso e cínico chamado
Crescêncio denunciou Justino covardemente diante do imperador Marco Aurélio. “A
inveja é a tristeza pelo bem alheio”, dizia Santo Thomas de Aquino. Diante do
imperador, para Justino foi lançada a seguinte pergunta: “A que ciência te
dedicas tu?”. Justino respondeu: “Estudei sucessivamente todas as ciências.
Acabei por apegar-me à doutrina verdadeira dos cristãos”. Por causa disso, ele
foi flagelado e sofreu a pena capital. Ele
morreu em torno do ano 165 como mártir.
Justino foi uma mistura perfeita da
intelectualidade com a espiritualidade. Meditava profundamente a doutrina
cristã e se apegava a ela até a morte.
Ele nos ensina a vivermos e praticarmos nossa intelectualidade sempre
dentro do Espírito de Deus. É a intelectualidade conduzida para a salvação. A
intelectualidade dentro da espiritualidade nos faz viver na sabedoria. Todo
sábio é inteligente, pois para ser sábio tem que ser inteligente, mas nem
sempre todo inteligente é sábio. O sábio não solta qualquer palavra sem pensar.
Como diz a sabedoria indiana: “Quando falares, cuida para que tuas palavras
sejam melhores que o silêncio”. E
"O
sábio estima todos porque sabe ver o bom de cada um e sabe o que custa fazer
bem as coisas. O tolo despreza todos porque não conhece o bom e escolhe o pior”,
dizia um escritor (Baltasar Gracián).
II
Evangelho do Dia
Texto
de Leitura: Mc 11,27-33
27Naquele tempo, Jesus e os
discípulos foram de novo a Jerusalém. Enquanto Jesus estava andando no Templo,
os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os anciãos aproximaram-se dele e
perguntaram: 28“Com que autoridade fazes essas coisas? Quem te deu
autoridade para fazer isso?” 29Jesus respondeu: “Vou fazer-vos uma
só pergunta. Se me responderdes, eu vos direi com que autoridade faço isso. 30O
batismo de João vinha do céu ou dos homens? Respondei-me”. 31Eles discutiam entre si: “Se respondermos que vinha
do céu, ele vai dizer: ‘Por que não acreditastes em João?’ 32Devemos então dizer que vinha
dos homens?” Mas eles tinham medo da multidão, porque todos, de fato, tinham
João na qualidade de profeta. 33Então eles responderam a Jesus: “Não
sabemos”. E Jesus disse: “Pois eu também, não vos digo com que autoridade faço
essas coisas”.
_______________________
Estamos na seção onde se fala de
Jesus e do poder constituído (Mc 11,27-12,37). Em Mc 11,18 o evangelista Marcos
nos informou que “Os chefes dos sacerdotes e os escribas procuravam como
matariam Jesus”. Nesta seção os vemos em ação. O que vem em seguida é a continuação
do choque frontal entre eles e Jesus e será cumprido o que Jesus disse no
primeiro anúncio da paixão: “O Filho do homem deve sofrer muito, ser
rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas” (Mc
8,31). Agora eles estão intentando surpreender Jesus em algum erro para acabar
com ele. Podem ser lidas cinco controvérsias como o ponto de ataque contra Jesus em Mc
2,1-3,6.
Os que formam o poder constituído são
em primeiro lugar, os sumos sacerdotes, os mais afetados (medo de perder
seus bens através da arrecadação no Templo) pelo que Jesus fez no templo (cf. Mc
11,15-18) e os que podem, facilmente, acusar Jesus de ter atuado contra o lugar
santo (Templo). Entre os sacerdotes predominam os saduceus, grupo político-religioso
de tendência conservadora. Em segundo
lugar, os escribas ou doutores da lei, pessoas especializadas nos problemas
jurídicos e religiosos e, portanto, únicos e verdadeiros interpretes e
defensores da Lei. Para eles, o homem é feito para a lei, enquanto que para
Jesus, a lei é feita para o homem (Mc 2,27). Sua oposição já começou no inicio
do evangelho de Marcos (Cf. Mc 2,6.16; 3,22; 7,1). Em terceiro lugar, os
anciãos, os membros laicos do Sinédrio, a suprema corte judia legislativa e
judicial de Jerusalém, os representantes civis e religiosos do povo. Entre os
escribas e os anciãos predominam os fariseus, verdadeiros representantes da
piedade popular. Finalmente, o partido de Herodes, o braço civil do
poder romano em Palestina.
O evangelho lido neste dia nos
relata que Jesus e seus discípulos se encontram em Jerusalém. Por isso, a cena
do evangelho de hoje tem como local Jerusalém. O texto está carregado de
tensão. É o confronto direito entre Jesus e os dirigentes do povo. A fama de
Jesus pela sua preocupação em lutar pela igualdade, pela convivência na
fraternidade universal, pela verdadeira vivência da religião, pelo bem de
todos, provoca o desconforto para os dirigentes que querem manter seus
privilégios e seu domínio. Os dirigentes queriam desmoralizar Jesus e suas
atividades em favor do povo através das seguintes perguntas: “Com que
autoridade tu fazes essas coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso?”.
Essa pergunta só pode sair da boca de quem adora o poder e a desigualdade. Ama
menos quem se preocupa demasiadamente com a regra e o poder na convivência em
vez de se preocupar com o bem que deve ser feito. Para fazer o bem em favor do
povo necessitado não precisa de nenhum poder; basta ter amor no coração e sentir
na pele o sofrimento dos outros para se compadecer e oferecer a ajuda naquilo
que se pode para aliviar uma parte do sofrimento. Precisamente só aquele que é
capaz de ser solidário com os necessitados é que tem mais autoridade. Esse tipo
de pessoa quando fala desperta qualquer coração, pois fala a partir da vida
vivida na solidariedade e na compaixão, como por exemplo, Madre Teresa de
Calcutá.
“Quem te deu autoridade para fazer
isso?”.
O que os dirigentes querem dizer é o poder. “Quem te deu esse poder?”. A
autoridade não é dada para ninguém, pois ela vem de dentro da pessoa. A
autoridade é a capacidade de fazer o outro crescer. A palavra “autoridade”
provem do latim “augere” que significa “crescer”. Toda palavra, toda atividade,
toda ajuda, todo conselho que faz o outro crescer é uma autoridade. A
autoridade é respeitada e é amada. O poder é temido, mas não é amado.
Para ser chefe você precisa de
um cargo. Mas para ser líder você não precisa de cargo. Ninguém precisa mais de
autoridade formal para liderar. Todos nós temos um poder natural de liderar que
nada tem a ver com cargos, idade ou com o lugar em que moramos. Liderar tem
muito mais a ver com a maneira brilhante como cada um de nós trabalha e a
destreza de nosso comportamento. Cada um de nós tem o reservatório interno de
potencial para liderança. E cada um de nós tem o poder de se mostrar líder no
que faz. Somente precisamos nos conscientizar de tudo isso e assumi-lo.
Um líder que ama é um líder que é respeitado. Um líder que adora o poder é
temido, mas não é amado e por isso, não é respeitado. Etimologicamente a
palavra “respeitar” (em latim) significa tomar em consideração. “Respeito” é sentimento que leva
alguém a tratar outrem ou alguma coisa com grande atenção, profunda deferência;
consideração, reverência.
Em vez de desqualificarem Jesus, os
dirigentes são desqualificados a partir da pergunta de Jesus: “O batismo de
João vinha do céu ou dos homens?”. Eles mesmos sabem do peso da pergunta: “Se
respondermos que vinha do céu, ele vai dizer: ‘Por que não acreditastes em João?’ Devemos então dizer que vinha dos homens?” O evangelista Marcos comenta: “Mas eles
tinham medo da multidão, porque todos, de fato, tinham João na qualidade de
profeta”. Diante da pergunta pesada,
pois toca e desmascara profundamente sua maneira de viver, eles fingem não
saber respondê-la: “Não sabemos”. Temos lido em jornais, revistas,
entrevistas e temos ouvido nas rádios e televisão este tipo de resposta que
saiu da boca daqueles que têm poder: “Eu não sabia!”, “Não sabíamos”, mesmo que
as provas sejam contundentes e evidentes. Fingir não saber sobre aquilo que é
óbvio e praticado é uma forma discreta de confessar aquilo que sabe. Ninguém se
engana. Ninguém tem poder de eliminar a verdade do coração. “Deus faz o
diário de nossa vida: a mão divina escreve o que fizemos e o que omitimos,
história que um dia será apresentada a todo o universo. Procuremos, pois,
fazê-la bela!” (Bossuet; cf. Mt 25,31-46). E “o homem que nunca se
entregou a uma causa superior não atingiu o cimo da vida” (Richard Nixon).
P. Vitus Gustama,svd
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