quinta-feira, 16 de maio de 2013

TEMPO DA MISSÃO E DO SEGUIMENTO
“Tu, segue-me!”

 

Sábado da VII Semana da Páscoa
18 de Maio de 2013
 
Textos de Leitura: At 28,16-20.30-31; Jo 21, 20-25

Naquele tempo, 20 Pedro virou-se e viu atrás de si aquele outro discípulo que Jesus amava, o mesmo que se reclinara sobre o peito de Jesus durante a ceia e lhe perguntara: “Senhor, quem é que te vai entregar?” 21 Quando Pedro viu aquele discípulo, perguntou a Jesus: “Senhor, o que vai ser deste?”. 22 Jesus respondeu: “Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa isso? Tu, segue-me!” 23Então, correu entre os discípulos a notícia de que aquele discípulo não morreria. Jesus não disse que ele não morreria, mas apenas: “Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa?” 24Este é o discípulo que dá testemunho dessas coisas e que as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. 25 Jesus fez ainda muitas outras coisas, mas, se fossem escritas todas, penso que não caberiam no mundo os livros que deveriam ser escritos.

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Terminamos o Tempo pascal com a festa de Pentecostes neste fim de semana, os cinqüenta dias de celebração gozosa da ressurreição do Senhor. A primeira conseqüência da fé na ressurreição de Jesus é o começo de nossa missão, de nosso seguimento: “Tu, segue-me!”. É seguir tudo que Jesus ordenou a fazer (Mt 28,20). É o tempo de viver com sentido, pois, com a ressurreição do Senhor, a vida não acaba na história, mas permanece eternamente, pois o Deus em quem acreditamos é o Deus da vida e que esse Deus põe a vida onde o homem põe a morte e que a morte tem seu contrapeso: a ressurreição. É o tempo de começarmos a acreditar e a viver como pessoas ressuscitadas antecipadamente, pois o próprio Senhor nos garante: “Quem crê em mim ainda que esteja morto viverá” (Jo 11,25). É o tempo de anunciarmos ao mundo o Evangelho de amor misericordioso de Deus por todos os seres humanos, o amor levado até a morte de Cristo na cruz. Quem vive no amor fraterno não pára de existir, pois o amor é o nome próprio de Deus (cf. 1Jo 4,8.16).


As leituras deste dia nos apresentam as conclusões do evangelho de João e do livro dos Atos dos Apóstolos. São conclusões abertas que deixam nas mãos dos cristãos a tarefa de continuarem o trabalho de evangelização.


A última passagem dos Atos dos Apóstolos que lemos hoje resume os dois anos que Paulo esteve em Roma em seu primeiro cativeiro. Ele se torna um prisioneiro, mas quando se trata de evangelização ele defende com inteligência para que a Palavra de Deus não fique encadeada. Ele pode ficar preso, mas jamais ele deixa a Palavra de Deus ficar presa. A fé inquebrável que tem em Jesus lhe move em todo momento e dá sentido a toda sua atuação. É um verdadeiro apostolo incansável. Através da Segunda Carta ao Timóteo ele nos dá o seguinte conselho: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda boa obra... (Por isso), proclama a Palavra, insiste, no tempo oportuno e no importuno, refuta, ameaça, exorta com toda paciência e doutrina” (2Tm 3,16-17; 4,2). Não há tempo certo para evangelizar, tem que ser o tempo todo. São Filipe Neri dizia: “Se quisermos nos dedicar inteiramente ao nosso próximo, não devemos reservar a nós mesmos nem tempo nem espaço”.


Nos versículos anteriores do texto do evangelho lido neste dia, Pedro havia recebido uma insinuação de Jesus sobre o seu futuro pessoal: seria pelo martírio. A partir desta insinuação de Jesus, Pedro entrou em curiosidade para saber o futuro de João, seu companheiro: “Senhor, o que vai ser deste?”. Com isto Pedro caiu em tentação de saber do futuro dos demais, descuidando assim de seu papel de evangelizador.


Por isso, a resposta de Jesus a Pedro sobre o destino de João é sábia. Jesus não revela a Pedro o destino de João. Desta maneira, Pedro, diante de qualquer irmão, fica aberto ao amor, ao serviço, à ajuda diária que há que prestar sem saber o caminho que a história vai tomar. Viver no amor e por amor é a melhor maneira de viver na incerteza do tempo. Mario Quintana nos relembra: “Esta vida é uma estranha hospedaria, de onde se parte quase sempre às tontas, pois nunca as nossas malas estão prontas. E a nossa conta nunca está em dia”.  A incerteza da história dá espaço para a certeza de Deus. Como diz a Carta aos Hebreus: “A fé é uma certeza a respeito do que não se vê” (11,1).


Como Pedro, muitas vezes, nós caímos na tentação de saber demais da vida alheia. Uma curiosidade sem freio sempre termina no abismo, na destruição da vida alheia, na criação do ambiente pesado, na convivência de mútua suspeita. Quem fica curioso demais sobre a vida alheia é porque não está cuidando da própria vida. Em última analise, é porque a própria vida não está bem. Por isso, precisamos ouvir repetidas vezes o que o Senhor nos diz hoje: “Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Tu, segue-me” (Jo 21,22). Seguir Jesus é viver aquilo que Ele viveu e fazer aquilo que ele fez. Ele fez tudo com amor e por amor para que todos pudessem conviver na paz e na fraternidade e alcançar a salvação. Isto é a evangelização. Será que estamos seguindo Jesus em todas as circunstâncias de nossa vida?


“Jesus fez ainda muitas outras coisas, mas, se fossem escritas todas, penso que não caberiam no mundo os livros que deveriam ser escritos”, concluiu o autor do texto do evangelho de hoje.


O evangelho de João parece como se não acabasse nunca. Há muitas coisas que, segundo o autor, não caberiam no seu evangelho. Quem sabe estas “muitas coisas” estão nós todos que cremos em Jesus Cristo depois de mais de dois mil anos, nós que éramos objetos da oração do Senhor na conclusão de seu discurso de despedida: “Pai santo, eu não te rogo somente por eles, mas também por aqueles que vão crer em mim pela sua palavra; para que todos sejam um como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, e para que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,20-21); nós que celebramos na nossa história a Páscoa eterna de Jesus, a Páscoa que nos toca para vivermos com sentido, pois a vida venceu a morte através da ressurreição do Senhor; nós que celebramos estas sete semanas da Páscoa que concluíram com o dom maior do Ressuscitado: Seu Santo Espírito; nós que estamos intentando viver a vida cristã no amor fraterno e anunciar ao mundo que Cristo Jesus é quem dá sentido para toda a história e para nossa vida e por isso todos são chamados a crer n’Ele para que tenham vida em Seu nome (Jo 20,30-31); nós que nos deixamos levar pelo Espírito de Jesus para a verdade plena (Jo 16,13), para a verdade encarnada em cada geração.

P. Vitus Gustama,svd

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