segunda-feira, 1 de junho de 2015

03/06/2015
 
CREMOS NA RESSURREIÇÃO

Quarta-Feira da IX Semana Comum


Evangelho: Mc 12,18-27

Naquele tempo, 18vieram ter com Jesus alguns saduceus, os quais afirmam que não existe ressurreição e lhe propuseram este caso: 19“Mestre, Moisés deu-nos esta prescrição: Se morrer o irmão de alguém, e deixar a esposa sem filhos, o irmão desse homem deve casar-se com a viúva, a fim de garantir a descendência de seu irmão”. 20Ora, havia sete irmãos: o mais velho casou-se, e morreu sem deixar descendência. 21O segundo casou-se com a viúva, e morreu sem deixar descendência. E a mesma coisa aconteceu com o terceiro. 22E nenhum dos sete deixou descendência. Por último, morreu também a mulher. 23Na ressurreição, quando eles ressuscitarem, de quem será ela mulher? Porque os sete se casaram com ela!” 24Jesus respondeu: “Acaso, vós não estais enganados, por não conhecerdes as Escrituras, nem o poder de Deus? 25Com efeito, quando os mortos ressuscitarem, os homens e as mulheres não se casarão, pois serão como os anjos do céu. 26Quanto ao fato da ressurreição dos mortos, não lestes, no livro de Moisés, na passagem da sarça ardente, como Deus lhe falou: ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’? 27Ora, ele não é Deus de mortos, mas de vivos! Vós estais muito enganados”.
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A discussão entre Jesus e autoridades passa agora do campo político-religioso para o campo puramente dogmático. Entram em cena os saduceus que Marcos cita somente na passagem do evangelho de hoje (única vez em que os saduceus aparecem no evangelho de Marcos). O assunto é sobre a ressurreição.


Os saduceus são um grupo formado por pessoas ricas e aristocráticos. Por isso, são uma “classe separada”: fazendeiros que dominam os comércios da cidade. Eles pertencem às famílias sacerdotais dirigentes. Eles têm uma grande influencia na política e na administração da justiça na Palestina. Eles são conservadores em termos da religião. Eles aceitam apenas a Tora (Pentateuco ou cinco primeiros Livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). Eles não acreditam na vida depois da morte (ressurreição), pois não está escrita (explicitamente) no Pentateuco. Por isso, eles aplicam o ditado “Carpe diem” (aproveite o dia ou ser hedonista) ou salve-se quem puder. O divorcio entre eles é comum. Por não acreditar na vida após a morte, eles perguntam a Jesus a partir de um caso especial como conta o evangelho deste dia.


Jesus se baseia nas Escrituras (Mc 12,24) ainda que, depois, se limite a citar uma passagem do Pentateuco para se adaptar a seus interlocutores. A resposta de Jesus está contida nas duas frases praticamente idênticas: ”Vós estais enganados (Mc 12,24) e “Vós estais muito enganados” (Mc 12,27). Por dois motivos: Não conheceis as Escrituras nem o poder de Deus (Mc 12,24). A passagem que Jesus cita é Ex 3,1-12 onde se narra sobre Deus que apareceu a Moisés na sarça. Nessa cena Deus se define como o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó, isto é, o Deus que atua na história e que quer continuar sendo, com o homem, protagonista da história. O Deus de Abraão é o Deus dos vivos, o Deus fonte de vida. O homem que atua com Deus não pode ter como meta o fracasso da morte. A comunidade ou cada pessoa que tem a experiência com Jesus ressuscitado é um povo que vai além da história e é destinado para uma vida sem fim com Deus.


Além disso, Jesus olha para toda a revelação divina, inclusive a que teve lugar depois de Moisés na qual o conceito de ressurreição é evidente. Por exemplo, no Livro de Sabedoria onde se diz: “Deus criou o homem para a imortalidade” (cf. Sb 1,12-3,9; etc.). Para Jesus a vida dos ressuscitados é eterna, é imortal, como a dos anjos e por isso, não necessita perpetuar-se por geração.


Uma das coisas que sempre preocupam o homem é o seu destino final. O que passa depois da morte? Nós nos encontramos hoje diante da Palavra de Deus que toca um dos pontos mais difíceis de entender em nossa vida: a realidade da morte e a proposta cristã da Ressurreição. Ainda não entendemos as propostas cristãs da Ressurreição porque constantemente vivemos aferrados a uma falsa corporalidade pelo medo que nos inculcaram diante da realidade da morte. Cada dia os homens e as mulheres de nosso tempo vivem em um pânico constante diante da morte. Pânico que nos faz viver a vida de forma escrupulosa e de falsos moralismos.


Para o cristão, a resposta de Jesus ilumina este mistério e o faz viver em paz, pois agora sabe que não existe a morte e sim simplesmente uma transformação para quem vive no Senhor e com o Senhor e que se traduz na convivência fraterna com os demais.


A esperança na ressurreição é a força capaz de ordenar as realidades humanas numa escala de valores posta na vida eterna. Por isso, Jesus ensina que a vida eterna será dada na gratuidade e a universalidade na relação entre os homens; não haverá domínio de uns sobre outros; a existência será uma grande festa de vida eterna e plena. A ressurreição não pode ser entendida na perspectiva dos valores temporais. Isso é o que no texto significam os anjos.


Por outro lado, devemos entender no texto que Deus é um Deus dos vivos e não dos mortos. Devemos aprofundar sobre o mistério de um Deus que dá a vida, que transforma nosso ser, que nos ressuscita. Desta forma, o evangelista Marcos antecipa o conteúdo da ressurreição de Jesus como vida depois da morte e nos convida a descobrirmos o verdadeiro poder de Deus que transforma as forças da morte em forças de vida. O Deus que Jesus dá a conhecer é um Deus doador de vida e que deseja que as pessoas voltem a nascer de dentro com novos valores de vida e de justiça.


Diante da morte temos que ter uma atitude de acolhida e uma grande capacidade de tratá-la como fez São Francisco de Assis que chamava a morte de “a irmã Morte”, e diante da Ressurreição nós temos que entender o conteúdo de justiça que ela esconde.


A morte é um mistério, também para nós. Mas fica iluminada pela afirmação de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá” (Jo 11,25). Não sabemos como, mas estamos destinados a viver, a viver com Deus, participando da vida pascal de Cristo, nosso irmão. A ressurreição é a morte de nossa morte para vivermos eternamente com Deus. Santo Agostinho nos dá o seguinte conselho: “Confia em Deus; Ele sempre dá o que promete. Sabe o que promete, porque é a verdade. Pode prometer porque é onipotente. Dispõe de tudo porque é a própria vida. Oferece todas as garantias porque é eterno” (In ps. 35,13). “Deus, de quem separar-se é morrer, a quem retornar é ressuscitar, com quem habitar é viver. Deus de quem fugir é cair, a quem voltar é levantar-se, em quem apoiar-se é estar seguro. Deus, a quem esquecer é morrer, a quem buscar é viver, a quem ver é possuir” (Solil. 1,1,3). “A perda (de nossos entes queridos) que sofremos oprime-nos o coração, mas a esperança nos consola; nossa fraqueza natural nos acabrunha, mas a fé nos ergue outra vez; nossa condição mortal nos faz derramarmos copiosas lagrimas, mas as promessas de Deus as enxugam, acrescentou Santo Agostinho.


A paixão pela vida, própria de quem crê na ressurreição, deve nos impulsionar a fazermos presentes ali onde “se produz morte”, para lutar com todas as nossas forças diante de qualquer ataque à vida, especialmente ataque à vida dos inocentes e indefesos. Esta atitude de defesa da vida nasce da fé num Deus ressuscitador e amigo da vida e deve ser firme e coerente em todas as frentes. Crer na ressurreição é crer no Deus da vida. E não somente isso; é crer em nós mesmos como a verdadeira possibilidade que temos de ser algo de Deus. Quem pensa e vive unicamente a partir da perspectiva do homem e da matéria, não pode entender o anúncio da ressurreição. A fé na vida eterna nos compromete na luta pela defesa da vida no seu início, na sua duração e no seu fim nesta terra; nos compromete na luta pela justiça, pela honestidade, pela retidão, pela ética e moral, pelo bem e pela caridade. A fé na vida eterna é a única que pode dar sentido humano à história e ao progresso. Os próprios discípulos de Jesus eram principalmente testemunhas da ressurreição. Nós cristãos devemos ser assim também: testemunhas da vida que aponta para a vida eterna.

P. Vitus Gustama,svd

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