Domingo, 07/06/2015
A PALAVRA
DE DEUS DEVE ESTAR
ACIMA DE QUALQUER
INTERESSE
X DOMINGO DO TEMPO
COMUM ANO B
Naquele tempo ,
20Jesus voltou para casa
com os seus
discípulos . E de novo
se reuniu tanta gente
que eles
nem sequer
podiam comer . 21Quando
souberam disso, os parentes de Jesus
saíram para agarrá-lo, porque
diziam que estava fora
de si . 22Os mestres da Lei ,
que tinham vindo de Jerusalém, diziam que ele estava
possuído por Belzebu ,
e que pelo príncipe dos demônios
ele expulsava os demônios .
23Então Jesus os chamou e
falou-lhes em parábolas :
“Como é que
Satanás pode expulsar a Satanás? 24Se um reino se
divide contra si
mesmo , ele
não poderá manter-se. 25Se
uma família se divide contra si mesma , ela não poderá manter-se. 26Assim , se Satanás se levanta contra
si mesmo
e se divide, não poderá sobreviver ,
mas será destruído. 27Ninguém pode entrar
na casa de um
homem forte
para roubar seus bens , sem antes o amarrar . Só depois poderá saquear sua casa . 28Em verdade vos digo: tudo
será perdoado aos homens , tanto os pecados ,
como qualquer
blasfêmia que
tiverem dito . 29Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo ,
nunca será perdoado, mas será culpado de um
pecado eterno ”.
30Jesus falou isso , porque diziam: “Ele
está possuído por um
espírito mau ”.
31Nisso chegaram sua mãe e seus irmãos . Eles
ficaram do lado de fora
e mandaram chamá-lo. 32Havia uma multidão
sentada ao redor dele. Então lhe
disseram: “Tua mãe e teus irmãos
estão lá fora
à tua procura ”. 33Ele respondeu: “Quem é minha
mãe , e quem
são meus
irmãos ?” 34E olhando para os que estavam
sentados ao seu redor ,
disse: “Aqui estão minha
mãe e meus
irmãos . 35Quem faz a vontade
de Deus , esse
é meu irmão ,
minha irmã e minha
mãe ”.
____________________
O texto
do evangelho deste dia
se encontra dentro
do conjunto de Mc 3,7-6,6ª onde se relatam a revelação
de Jesus e a incompreensão de seus parentes e
dos contemporâneos , especialmente
dos dirigentes do povo .
Nesse conjunto Jesus se revela quem Ele é através de suas
palavras cheias
de autoridade e mediante
suas obras
para salvar a humanidade . Os simples
cujo coração
é puro não
encontram nenhuma dificuldade para entender a verdade
nas palavras e nas obras
ditas e feitas por
Jesus. Os dirigentes do povo , ao contrário ,
fecham seus olhos
e seus corações
diante de tudo
isso e decidem opor-se a Jesus firmemente em nome de seus interesses egoístas. Mas
a multidão formada por
gente simples
e seus discípulos
estão ao lado de Jesus, pois
eles não
têm nada para
defender a não
ser a busca
do sentido de sua
vida e de sua
salvação.
Na cena
anterior deste texto
o evangelista Marcos
nos relatou que
Jesus subiu ao monte e lá ele escolheu
os Doze (Mc 3,13-19). E no Evangelho de hoje nos é
relatado que depois
que escolheu os Doze “Jesus voltou para casa com seus discípulos ” (Mc 3,20). Trata-se da proximidade
com Deus
(no monte ) e da proximidade
com os homens
(voltar para casa ). Jesus se retira
do povo para estar com Deus a fim de estar mais próximo com o povo (ser reflexo de Deus
no meio dos irmãos ).
O encontro profundo
com Deus
leva o homem
ao encontro fraterno
com o próximo . A proximidade com Deus nos faz próximos
dos outros homens .
Lemos que a multidão
continua entusiasmada pela força da palavra
de Jesus, e por isso ,
se aglomera ao redor de Jesus. A bondade atrai a simpatia
do homem e a bênção
de Deus . A bondade
é sempre fonte
de admiração de quem
tem um coração
puro e imaculado .
É importante
observar que para essa multidão é que se abre a casa .
Trata-se da multidão dos marginalizados
e pecadores que
se sente atraída por tudo que Jesus
diz e faz, pois em
tudo que
Jesus fala e faz eles
encontram o sentido de sua vida . Mas com isso , Jesus e seus
discípulos perdem sua
privacidade , pois a multidão invade sua
intimidade a ponto
de eles não
poderem mais comer .
Os parentes
de Jesus, ao ouvir que
ele estava fora
de si , ou
estava louco , eles
foram até Jesus para
retirá-lo do seu lugar
de missão . A loucura
era sinal
de possessão diabólica . Qualificar alguém de louco
era uma forma
de excluí-lo, anulá-lo e condená-lo. Com
Jesus seus inimigos
queriam aplicar também
essa tática para
anular Jesus. Mas
por que
tudo isso ?
Os parentes
de Jesus acreditaram nas fofocas ou comentários maldosos dos inimigos
de que Jesus era
louco . Por
isso , eles
foram até Jesus para
levá-lo para casa
sem perguntar
até que
ponto esse comentário tinha fundamento . Às vezes ,
acontece o contrário : aquele que acha que o outro seja louco
é muito mais
louco do que
todos os loucos
de verdade . Precisamos nos
perguntar também
tanto pessoalmente
como comunitariamente: Quem é Jesus em
quem acreditamos? Por
que nos
reunimos em Seu
nome ? Por
que celebramos a Eucaristia ?
Não estaríamos considerados “loucos ”, nós que pretendemos ser discípulos de Jesus? Será que
nós chamados cristãos ,
“irmãos de Jesus” atrapalhamos o projeto salvífico de Jesus como
aconteceu com seus
parentes ?
O novo não pode ser julgado a partir do velho . Como não
podemos avaliar as pessoas
e os acontecimentos da vida a partir de nossas feridas . É preciso
renovar os critérios
de avaliação para poder questionar o questionável e corrigir o corrigível e aceitar
o aceitável para a
salvação de todos . Ao se interrogar
o homem encontra
o sentido de sua
vida e de sua
passagem neste mundo ,
abrindo, assim , as possibilidades para o crescimento na
sua humanidade .
Somente podemos nos
tornar muito divinos quando
formos muito humanos
com os demais
homens .
O evangelho
deste dia nos
relata também que
Jesus encara seus adversários
vindos de Jerusalém, cidade onde ele
sofrerá a Paixão e morte .
“Ele está possuído por
Belzebu , chefe dos demônios ”, disseram os escribas
sobre Jesus e suas
atividades . Em
outras palavras , Jesus é recusado não somente “pelos seus ”, mas principalmente
“pelas autoridades religiosas”. Jesus é
recusado, desconhecido e ignorado. Jesus
é contestado, não é escutado, não é seguido. Jesus é deixado de lado .
O que
está em jogo
na discussão com
os adversários de Jesus é a luta entre o espírito do mal
e o espírito do bem .
Por isso ,
merece o duríssimo ataque de Jesus. O que eles fazem
é uma blasfêmia contra
o Espírito Santo .
Pecar contra
o Espírito Santo
significa negar o que
é evidente , negar
a luz de Deus
permanentemente , tapar-se os olhos para não ver , negar
a verdade , negar a
salvação. Por isso ,
enquanto lhes
durar essa atitude obstinada e esta cegueira voluntária , eles
mesmos se excluem do perdão e do Reino .
Para os escribas
que atribuem ao demônio
a força do Espírito
de Deus que
age n’Ele , Jesus pronunciou solenemente a seguinte
frase : “Em verdade vos digo: tudo
será perdoado aos homens , tanto os pecados ,
como qualquer
blasfêmia que
tiverem dito . Mas
quem blasfemar
contra o Espírito
Santo , nunca
será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno ”. O pecado contra o
Espírito Santo
é “o fechamento radical
à proposta salvífica e libertadora presente em Jesus. O pecado contra o
Espírito Santo
é, portanto , irremissível
porque inclui em
si a rejeição do perdão ,
excluindo a atitude de fé
e de conversão ”.
Creio que
nós não
somos certamente dos que negam a Jesus permanentemente .
Ao contrário , não
somente cremos nele e sim
que seguimos a Jesus e celebramos seus sacramentos
e meditamos sua Palavra
iluminadora. E nós cremos que Jesus é mais
forte e por
isso , Ele
nos ajuda
na nossa luta
contra o mal .
E para afastar o mal precisamos viver e praticar o bem . Ser
cristão não
é apenas aquele
que evita o mal ,
mas principalmente
fazendo o bem ele
afasta o mal . Se Jesus que é mais forte do que qualquer mal já está entre nós , então
precisamos estar com
ele permanentemente ,
colocando-o no centro de nossa vida .
Na Vigília
Pascal , quando
renovamos o nosso compromisso
batismal, fazemos cada ano uma dupla opção : renunciar ao pecado e ao mal
e professar nossa
fé em
Deus . Hoje
o Evangelho nos
mostra Cristo
como Libertador
do mal para que durante toda jornada
colaboremos com ele
em tirar o mal de nosso meio .
O motivo
para a intervenção
da família de Jesus foi, certamente , o conjunto
de informações recebidas sobre a doutrina
e atividade de Jesus, especialmente a notícia
sobre a crescente
oposição entre
Jesus e os dirigentes religiosos do povo
(cf. Mc 2,1-3,6) sem nenhuma verificação precisa
sobre a verdade
das informações recebidas. Os parentes de Jesus simplesmente
não queriam ver
o nome de sua
família desonrado. Talvez
eles se esqueçam que
a honra de uma família
depende da vivência da verdade ,
do amor , da honestidade ,
da justiça , e não
depende dos comentários . Os interesses próprios
e egoístas destroem a convivência fraterna .
Os escribas
vindos de Jerusalém também julgam Jesus
e a sua missão
de uma maneira negativa
em nome
dos interesses escondidos. Eles se apresentam com
um julgamento
já pré-formado a respeito
de Jesus. Com este
tipo de julgamento
eles querem impedir
que o povo
procure o novo Mestre
para manter o povo cego diante da realidade . Eles tentam desqualificar
Jesus com um
atributo muito
negativo : Jesus tem Belzebu .
E isso eles
fazem não diretamente
a Jesus, mas diante
da multidão a fim
de ganhar um
reconhecimento barato .
Na religiosidade popular do tempo de Jesus, provavelmente, o Belzebu
era o nome
dado ao príncipe
de demônios . Ninguém
gostaria de ser chamado de príncipe
de demônios . Para
um Salvador
da humanidade os escribas
aplicam esse apelido
tão negativo .
Quem coloca os critérios
de interesse próprio
acima da verdade
e de Deus é capaz
de destruir o próximo e
no fim se destrói. Somente
quem tiver a disponibilidade
de desinstalar constantemente , terá a liberdade suficiente
para os apelos
de Deus em
cada momento
de sua vida .
Pe. Vitus Gustama,svd
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