26/06/2015
FORMAR UMA COMUNIDADE
DE IRMÃOS SEM EXCLUSÃO
Sexta-Feira da XII
Semana Comum
Evangelho: Mt 8,1-4
1 Tendo Jesus descido do monte,
numerosas multidões o seguiam. 2 Eis que um leproso se aproximou e se ajoelhou
diante dele, dizendo: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar”. 3
Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero, fica limpo”. No mesmo
instante, o homem ficou curado da lepra. 4 Então Jesus lhe disse: “Olha, não
digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote, e faze a oferta que
Moisés ordenou, para servir de testemunho para eles”.
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“Tendo Jesus descido do monte,
numerosas multidões o seguiam”. Esta frase é antitética com Mt 5,1: “Vendo
Jesus as multidões, subiu ao monte...” (Sermão da Montanha). Agora Jesus desceu
da Montanha (viver na prática os ensinamentos do Sermão da Montanha) e “numerosas
multidões o seguiam”. A descida de Jesus da Montanha marca, então, o passo
do ensinamento para a ação.
Para entender o texto de hoje
precisamos ter na nossa mente de que a comunidade para quem o evangelista
Mateus escreveu seu evangelho é uma comunidade mista: um bom número de judeu-cristãos
(alguns de tendência até rigorista) e um certo número de gentio-cristãos, e
cristãos de uma mentalidade mais aberta. Como verdadeiro pastor da comunidade, o
autor procura atenuar as tensões entre os vários grupos. Ele tenta evitar uma
ruptura entre judeu-cristãos e gentio-cristãos e daí a sua preocupação com a
edificação de uma comunidade igualitária, fraterna (sem exclusão), misericordiosa,
colhedora, capaz de perdoar, compassiva para com os fracos e pecadores.
O evangelista Mateus nos relatou
que “um leproso se aproximou de Jesus”.
Mateus usa o verbo “aproximar-se” 54 vezes no seu evangelho. Este verbo
está carregado de sentido. A comunidade de Mateus, de origem judia, ao escutar
este verbo, sentia que caiam muitas barreiras “do puro e do impuro”. Por isso,
Mateus relatou que “Jesus estendeu a mão, tocou no leproso”. O leproso
estava verdadeiramente excomungado da comunidade social e cultural de Israel (um
excluído) e era declarado “impuro” e marginalizado de toda participação no
culto e acreditava-se que era incapaz de aproximar-se de Deus e da sociedade
humana (cf. Lv 13,45-46). Deus é capaz de se aproximar de qualquer ser humano,
mesmo que na mente humana há excluídos. Todos são filhos e filhas de Deus.
Jesus, o Deus-Conosco veio para unir e reunir todos numa comunidade de irmãos cujo
Pai comum é o próprio Deus (cf. Mt 23,8-10). E os cristãos são enviados para
unir e reunir todos como irmãos e irmãs, filhos e filhas do Pai do céu. Desunir
ou dividir para um grupo estar contra o outro descaracteriza qualquer
comunidade cristã.
O leproso do Evangelho de hoje sabe
que, com Jesus, caíram as barreiras e sabe que para Jesus, mesmo sendo leproso,
ele é parte da comunidade. Por isso, o leproso toma coragem de aproximar-se de
Jesus. A coragem do leproso é uma grande lição para nós. Diante de Deus não há
nada que não tenha solução. Basta nos aproximarmos de Deus com coragem e
humildade. Deus está sempre pronto para estender a mão para nós. Ficar
desesperado pode ser um sinal de que não queremos nos aproximar de Deus. Ficar
desesperado é ficar apenas no nosso lado. Estar do lado de Deus nos tranqüiliza.
Aproximou-se de Jesus um leproso e
lhe suplicou: “Senhor, se queres, podes purificar-me”. A oração desse
leproso é breve e confiante. “Se
queres”, disse o leproso. Ele não pede nem exige nada. O leproso sabe que Jesus
pode tudo, até o impossível (cf. Lc 1,37). Basta o querer d’Ele. Por isso, o
leproso acrescenta: “podes purificar-me”. Para o leproso, Jesus é aquele que
pode curá-lo e ao mesmo tempo pode reabilitá-lo totalmente, isto é,
purificá-lo, eliminar dele todo sinal de impureza, fazendo-o capaz de se
aproximar de Deus e de integrar-se na comunidade.
Como resposta ao pedido do leproso,
Jesus atendeu-lhe a mão e disse: “Eu quero, fica limpo”. “No mesmo
instante, o homem ficou curado da lepra”, assim Mateus nos relatou. A cura é
imediata. O leproso precisa voltar a ser membro da comunidade de irmãos. Formar
uma comunidade de irmãos, unir todos para formar a fraternidade é urgente, sem
o qual ninguém poderia chamar Deus de Pai-Nosso (cf. Mt 6,9-13).
É o primeiro milagre relatado por
Mateus logo depois do Sermão da Montanha. A escolha de um leproso para este
primeiro milagre para Mateus tem seu significado. Mateus escreveu seu evangelho
para os judeus. Em seu contexto cultural e religioso, a lepra era o mal por
excelência, uma enfermidade contagiosa que destruía lentamente a pessoa afetada
e que era considerada pelos antigos como um castigo de Deus, sinal de pecado
que excluía a pessoa afetada da comunidade (Dt 28,27-35; Lv 13,14). O leproso
era considerado impuro e fazia impuro tudo que tocava. Por isso, ele era
afastado da comunidade. O leproso sofria, então, não somente fisicamente, mas
também psicológico e social e religiosamente. E para a lepra não tinha nenhum
remédio. O leproso estava condenado à morte. Restava esperar um milagre para
sobreviver.
Mas no meio da falta de solução e de saída
Jesus apareceu para superar o problema. Jesus estendeu a mão e tocou nele e
disse: “Eu quero. Fica limpo”. A palavra de Deus se torna fato, se for
obedecida e praticada. A força salvadora de Deus está na ação de Jesus. De
fato, o leproso ficou curado. Podemos imaginar alegria deste homem que era
solitário, abandonado, excluído e maldito pela sociedade, e agora feliz, pois
volta a olhar para o futuro com muita esperança. Deus em Jesus devolveu ao homem
que era leproso um novo começo com o olhar brilhante para o futuro.
A mão estendida, o contato é um
sinal de amizade. Jesus se apresenta como amigo do sofredor, do abandonado e se
aproxima dele para dizer que o sofredor não está sozinho. Jesus compartilha os
dramas da humanidade. Por este humilde gesto Jesus reintegra o leproso curado na
sociedade dos que o excluíam. Esta mão estendida é também um gesto de vitoria.
Esta mão estendida é o gesto de amor. É uma mão pronta para ajudar como ajudou
Pedro que estava para afogar. É uma mão que está pronta para ajudar quem se
encontra na dificuldade. Todos os cristãos devem ser a mão estendida de Jesus
neste mundo.
Todos nós somos débeis de alguma
forma e necessitamos da ajuda permanente de Jesus. Nossa oração, confiada e
simples, como a do leproso, se encontra sempre com o olhar de Jesus, com sua
vontade de nos salvar. Jesus nos toca com sua mão diariamente. Mas muitas vezes
estamos bem anestesiados pelas preocupações e agitações que acabamos não
sentindo a mão de Jesus tocando nossa mão. Jesus nos alimenta com o Pão e o
Vinho da Eucaristia, tocando nossa vida. Ele nos perdoa através da mão de seus
ministros estendida sobre nossa cabeça, tocando e ungindo nossa testa e nossa
mão com o óleo santo de batismo, de crisma, dos enfermos.
Olhando para o leproso antes e
depois de sua cura, cada um precisa se perguntar: “O que é que faz você perder
a esperança lentamente?”. E nesta situaçao, você tem coragem de se aproximar de
Jesus e deixar-se tocar por ele para você voltar a ter mais esperança e força
para continuar sua luta? Quais sao atitudes suas que excluem os outros da
comunidade? Vamos lançar os braços em abraços para os outros a fim de formarmos
uma comunidade de irmaos. É uma maneira de agradar o Pai-Nosso que está no céu.
Que assim seja!
P. Vitus Gustama,svd
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