02/07/2015
JESUS PERDOA NOSSOS O PECADOS E SOMOS
ENVIADOS A SER INSTRUMENTO DE SUA MISERICÓRDIA DIVINA
Quinta-Feira Da XIII Semana Comum
Evangelho:
Mt 9,1-8
Naquele tempo, 1 entrando em um
barco, Jesus atravessou para a outra margem do lago e foi para a sua cidade. 2
Apresentaram-lhe, então, um paralítico deitado numa cama. Vendo a fé que eles
tinham, Jesus disse ao paralítico: “Coragem, filho, os teus pecados estão
perdoados!” 3 Então alguns mestres da Lei pensaram: “Esse homem está
blasfemando!” 4 Mas Jesus, conhecendo os pensamentos deles, disse: “Por que
tendes esses maus pensamentos em vossos corações? 5 O que é mais fácil, dizer:
‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te e anda’? 6 Pois bem,
para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar pecados,
— disse, então, ao paralítico — “Levanta-te, pega a tua cama e vai para a tua
casa”. 7 O paralítico então se levantou, e foi para a sua casa. 8 Vendo isso, a
multidão ficou com medo e glorificou a Deus, por ter dado tal poder aos homens.
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Depois da tempestade acalmada e a
libertação dos dois gadarenos possuídos relatadas nos textos anteriores da
passagem do evangelho de hoje (Mt 8,5-34), agora Jesus nos mostra seu poder
sobre o mal mais profundo: o pecado. A salvação que Jesus Cristo quer para a
humanidade é integral, do homem todo: seu corpo e espírito. O sinal externo- a
cura da paralisia- é o símbolo da cura interior, a libertação do pecado, como
tantas outras vezes em seus milagres.
“Tem ânimo ,
meu filho ;
os teus pecados
te são
perdoados!”, diz Jesus ao paralítico .
Segundo a crença
popular na época
as enfermidades
ou doenças
eram fruto do pecado
(cf. Jo 9,2). Isto
significa, conforme pensavam os judeus , que somente Deus podia perdoar os pecados . Logo , para os fariseus a atitude de Jesus
de transmitir o perdão
dos pecados do paralítico
era um
grande escândalo .
Tratava-se de uma blasfêmia . Com isso , Mateus quer colocar nesta controvérsia
a discussão se Jesus tem o poder
de perdoar os pecados .
A conclusão da discussão
é que Jesus tem o poder
de perdoar os pecados ,
isto é, ele
atua com o poder
de Deus (cf. Mt 12,22-28), pois para Mateus
Jesus é o Deus-Conosco ou Emanuel (cf. Mt
1,23; 19,20; 28,20).
Ao declarar
o perdão dos pecados
do paralitico, Jesus quer nos dizer também que há enfermidades que
são causadas pelo
pecado ou
pelas escolhas erradas na vida . Neste caso ,
para Jesus o mais
grave e urgente
do paralítico não
é sua enfermidade
física e sim
seu pecado
(enfermidade da alma ).
Para a cura
das enfermidades espirituais
é necessária a colaboração
do próprio enfermo ,
neste caso através
da fé dos que
levaram o paralitico até Jesus : “Vendo
a fé que
eles tinham” (conversão
e fé em
Deus ) e o perdão
de Deus (misericórdia ):
“Tem ânimo , meu
filho ; os teus
pecados te
são perdoados!”. A conversão da parte
do homem e a misericórdia
da parte de Deus
resultam na libertação do homem do seu passado escuro.
“Os teus pecados te são perdoados!” É a primeira vez que o
evangelista Mateus menciona este tipo de poder que Jesus tem: o poder de
perdão. O poder que Jesus tem em relação ao pecado é um poder de reconciliação
dos homens com Deus. “Os pecados” em Mateus significam o passado pecador do
homem, antes de seu encontro com Jesus. A fé em Jesus, que é a adesão a ele e a
sua mensagem, apaga o passado pecador do homem e dá-lhe oportunidade de um novo
começo. O pecado é capaz de paralisar a vida do homem, mas a conversão e a fé
em Deus libertam o homem de sua paralisia para viver na liberdade de um filho
de Deus. Da parte de Jesus não há pecado que não possa ser perdoado. Basta o
homem se arrepender e voltar para Deus, o Deus da misericórdia não quer saber
mais o passado do homem. Mas através do profeta Isaias Deus nos dá o seguinte
recado: “Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem”.
Mas o evangelista Mateus não somente
se concentra no poder de Jesus de perdoar pecados. Mais adiante, no seu
evangelho, ele vai nos dizer que a comunidade cristã é o lugar de reconciliação
e do perdão mútuo. Jesus Cristo vai dar o dom do poder de perdoar à comunidade
cristã: “Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado
no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu”
(Mt 18,18). Assim a comunidade cristã ou a Igreja se transforma em lugar de
libertação dos pecados e de liberdade dos reconciliados.
“Os teus pecados te são perdoados!” Como é bom viver com uma
consciência limpa. Como é leve uma vida sem mancha moral ou ética. É uma
liberdade que faz qualquer um viver a vida na alegria. Quando o coração estiver
limpo podemos aplicar para nós as palavras de São Paulo aos filipenses: “Alegrai-vos
no Senhor. Repito: alegrai-vos” (Fl 4,4). Há alegria disfarçada para calar
ou abafar os gritos de um coração sujo, como escreveu um psicólogo argentino: “Há
gargalhadas que se parecem mais com um soluço do que com uma risada” (René
Juan Trassero). Mas a alegria no Senhor é uma alegria que liberta e salva:
“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”, prometeu-nos Jesus
no Sermão da Montanha (Mt 5,8).
Ao dizer “Tem ânimo, meu filho; os teus
pecados te são perdoados!”, Jesus usa aqui a visibilidade da cura corporal,
perfeitamente controlável, para provar outra cura espiritual, a cura da alma em
estado de pecado. Jesus pronunciou formulas de absolvição: “teus pecados são te
perdoados”, e depois, fez gestos exteriores de cura: “levanta-te e vai para tua
casa”. Muitas doenças acontecem conosco porque causa dos problemas não
solucionados. Trata-se de doenças psicossomáticas. É preciso que reorganizemos
nossa vida no Senhor para que nossa alegria seja plena.
Além de mostrar que Jesus atua com o
poder de Deus (cf. Mt 12,22-28) e por isso, ele tem o poder de perdoar os
pecados, Mateus quer nos dizer que a comunidade, para a qual escreveu seu
evangelho, recebeu do Senhor Jesus o mesmo poder para perdoar os pecados (cf. Mt
18,18).
A Igreja é o prolongamento real da
Encarnação de Jesus, como Ele próprio é o grande Sacramento, a presença visível
de Deus. Assim a Igreja é o grande Sacramento visível de Cristo. Jesus
comunicou seu poder de perdoar a seus apóstolos, isto é, para aqueles que,
durante todo o tempo da Igreja, têm missão de fazê-la existir como Igreja
exercendo o ministério que lhes foi confiado. Quando os apóstolos ou seus
sucessores perdoam em nome de Cristo é todo o povo de Deus que se encontra
comprometido no mistério da cruz e no ato divino-humano de perdão que ali tomou
corpo. Os sacramentos são sinais visíveis que manifestam a graça invisível. A
Igreja inteira, pelo ministério apostólico, está constituída no ato de
misericórdia em proveito de toda a humanidade. Neste sentido pode se dizer que
o cristão é ministro da misericórdia divina no sentido de que ele é chamado
para perdoar sempre porque Deus o perdoa sempre e por isso, ele vive por causa da
misericórdia divina. Todos são chamados a participar da obra de misericórdia. A
Igreja é a misericórdia de Deus para os homens.
“Vendo a fé que eles
tinham, Jesus disse ao paralítico: ‘Tem ânimo, meu filho; os teus pecados te são
perdoados! ’”. A fé, que é o dom de Deus ao homem, se for autêntica é capaz
de levar o homem à conversão, à orientação de sua vida e de sua caminhada para
a felicidade e para a salvação. Deus valoriza o futuro do homem e perdoa seu
passado desde que o homem se converta. Mas será que nossa fé é autêntica? A
verdadeira fé em Deus mantém nossa vida em ordem que traz a paz. “A paz é a
tranqüilidade da ordem”, dizia Santo Agostinho. A fé é capaz de ordenar
tudo na simplicidade de nossa vida, pois para Deus tudo é simples e para o
simples tudo é divino.
Mas “alguns Mestres da Lei
pensaram: ‘Esse homem (Jesus) está blasfemando’”. Com esta expressão se põe
em evidência de que o Deus de Jesus não era o deus dos dirigentes de seu povo.
Mais uma oposição contra o plano de Deus que o evangelista Mateus tem nos
mostrado até agora.
Também nós corremos o perigo de
fazermos um Deus à medida de um sistema ou de uma instituição que pode nos
levar para um fanatismo fundamentalista que leva à autodestruição ou ao
cataclismo de matar o outro por amor ao suposto Deus em quem se acredita ou em
nome de um suposto Deus e para servi-lo. Seria um Deus muito cruel, mas não é um
Deus misericordioso revelado por Jesus. Temos que tomar cuidado para que nenhum
sistema possa pensar por nós. Deste jeito criaremos ídolos e seremos idólatras,
não mais filhos e filhas de Deus que precisam viver a fraternidade universal
como conseqüência lógica e essencial da consciência de que Deus é o Pai de
todos.
Para Refletir:
“Convido todo o cristão, em qualquer
lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal
com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por
Ele, de procurá-Lo dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar
que este convite não lhe diz respeito, já que «da alegria trazida pelo Senhor
ninguém é excluído». Quem arrisca, o Senhor não o desilude; e, quando alguém dá
um pequeno passo em direção a Jesus, descobre que Ele já aguardava de braços
abertos a sua chegada. Este é o momento para dizer a Jesus Cristo: «Senhor, deixei-me
enganar, de mil maneiras fugi do vosso amor, mas aqui estou novamente para
renovar a minha aliança convosco. Preciso de Vós. Resgatai-me de novo, Senhor; aceitai-me
mais uma vez nos vossos braços redentores». Como nos faz bem voltar para Ele, quando
nos perdemos! Insisto uma vez mais: Deus nunca Se cansa de perdoar, somos
nós que nos cansamos de pedir a sua misericórdia. Aquele que nos convidou a
perdoar «setenta vezes sete» (Mt 18, 22) dá-nos o exemplo: Ele perdoa setenta
vezes sete. Volta uma vez e outra a carregar-nos aos seus ombros. Ninguém nos
pode tirar a dignidade que este amor infinito e inabalável nos confere. Ele permite-nos
levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre
nos pode restituir a alegria. Não fujamos da ressurreição de Jesus; nunca nos
demos por mortos, suceda o que suceder. Que nada possa mais do que a sua vida
que nos impele para diante!” (Papa Francisco: Exortação Apostólica Evangelii
Gaudium n.3)
P. Vitus Gustama, SVD
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