29/06/2015
CAMINHAR COM JESUS PARA SER SALVO
Segunda-Feira da XIII Semana Comum
Evangelho:
Mt 8,18-22
Naquele tempo, 18 vendo uma
multidão ao seu redor, Jesus mandou passar para a outra margem do lago. 19
Então um mestre da Lei aproximou-se e disse: “Mestre, eu te seguirei aonde quer
que tu vás”. 20 Jesus lhe respondeu: “As raposas têm suas tocas e as
aves dos céus têm seus ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a
cabeça”. 21 Um outro dos discípulos disse a Jesus: “Senhor, permite-me
que primeiro eu vá sepultar meu pai”. 22 Mas Jesus lhe respondeu:
“Segue-me, e deixa que os mortos sepultem os seus mortos”.
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“É graça
divina começar bem.
Graça maior,
persistir na caminhada certa, manter o ritmo...
Mas a graça
das graças é não desistir.
Podendo ou não
podendo,
Caindo, embora
aos pedaços,
Chegar até o
fim...”
(Dom Hélder Câmara)
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O evangelho de Mateus foi escrito em
torno dos anos 80 para os fieis de sua comunidade. Os fieis de sua comunidade
já tinham feito sua escolha cristã. Mas em determinado tempo vacilavam por
causa das dificuldades, e abatidos por causa de duras perseguições. Por isso,
veio a exortação para que os fieis retomassem consciência mais viva de sua
identidade cristã, chamados a transformar a história humana em historia de
salvação. Nesta perspectiva Mt coloca dois personagens para transmitir essa
exortação.
O primeiro é um especialista da Lei
que escolheu ser cristão. Trata-se de um letrado que reconhece em Jesus um
mestre superior a si mesmo e decide seguir a Jesus, o grande mestre: “Mestre, eu te
seguirei aonde quer que tu vás”. Ele chama Jesus de “Mestre”. O discípulo que conhece
Jesus profundamente, em vez de chamar Jesus de “Mestre”, chama-o de “Senhor”
(Mt 8,21). Mesmo assim é elogiável a disposição do letrado em seguir a Jesus: “Eu
te seguirei aonde quer que tu vás”.
Jesus não responde “sim” nem “não”. Jesus
quer mostrar ao letrado o que deve fazer para seguir a Jesus. Tornar-se discípulo
de Jesus ou seu seguidor, não significa apenas freqüentar a escola de Jesus e
aprender algo dele. Ser discípulo de Jesus significa, acima de tudo,
compartilhar a vida de Jesus; é estar em comunhão de vida com Jesus. E Jesus
leva a vida de um peregrino no verdadeiro sentido da palavra: “As raposas
têm suas tocas e as aves têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde
reclinar a cabeção”. Com isso, Jesus alerta ao letrado que toda a vida de
Jesus, até o momento de Sua morte, será uma entrega total, sem instalação nem
descanso. Jesus mostra para o letrado que a vida de Jesus é uma renúncia total.
Trata-se da vida de um servo que dá tudo de si, que renuncia até ao calor do
lar e da pátria.
Para ser um verdadeiro cristão, um
verdadeiro seguidor de Cristo, é preciso ter espírito de despojamento e de
pobreza, pois aquele que está cheio de coisas do mundo não sobra nenhum espaço
para Deus nem para o próximo e encontrará dificuldade em se desinstalar.. O
cristão existe para fazer o bem permanentemente. Fazer o bem não tem descanso
nem tem término. Ninguém ama suficientemente nem definitivamente. O amor sempre
deixa quem ama em dívida. O amor não descansa nem cansa.
“As
raposas têm suas tocas e as aves dos céus têm seus ninhos; mas o Filho do Homem
não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20)
O instinto de segurança e a
necessidade de estabilidade estão inscritos profundamente na natureza humana: o
homem busca o calor de um refúgio, uma fogueira, uma casa para morar, uns
objetos que lhe pertencem. Os animais têm este mesmo instinto de propriedade.
Jesus desde que saiu de sua casa
familiar de Nazaré, deixando sua mãe sozinha, não tem seu próprio lugar, vive
como nômade, como viajante: “Não tenho onde reclinar minha cabeça”.
Renunciou o calor de um lugar, renunciou a toda propriedade.
Seguir a Jesus é fazer forçosamente
certa escolha; é renunciar a uma serie de coisas; é viver na segurança com Deus
que criou tudo. Jesus quer que estejamos sempre caminhando em busca da
perfeição. Somente caminhando é que criamos caminho. Somente andando mais longe
é que podemos percebemos a existência de tantas coisas e acontecimentos nesta
vida. Quem caminha mais e mais, vê mais coisas. Jesus quer que estejamos
abertos ao novo, à novidade, ao impulso do seu Espírito. Jesus não quer que
estejamos parados, pois o Espírito de Deus sopra para onde quer. Jesus não quer
que fiquemos apegados às coisas mortas, pois elas servem apenas de meio e não
de fim. A fé é uma caminhada até a porta do céu. O que nos faz entrar é o amor
que vivemos diariamente, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).
Por esta razão Jesus adota para si o
titulo de “Filho do Homem”. O duplo título “Filho do Homem” indica unicidade e
excelência: é “Homem acabado” no sentido da plena realização, o modelo de
homem, por possuir em plenitude o Espírito de Deus. Para chegar a ser um homem
acabado, pleno do Espírito de Deus, o cristão precisa participar da vida e da
missão de Jesus, precisa levar adiante a Palavra de Deus.
A mensagem cristã é exigente. Não se
trata de aderir a uma doutrina, mas a uma pessoa; não se trata de adotar um
modo de pensar, mas de orientar-se para um modo de viver: o modo de viver de
Jesus Cristo. Um cristão que se contenta de não fazer mal a ninguém não é
suficiente. É preciso fazer o bem em função do bem e não em função do mal. É
colocar o interesse do Reino de Deus acima de todas as preocupações pessoais
assim como dos afetos mais caros, com plena dedicação. É viver aberto diante de
Deus permanentemente.
O segundo personagem já é discípulo,
mas ainda não compreendeu todas as exigências de sua escolha. Por isso, o texto
diz que ele pede um período de interrupção antes de seguir o Mestre. Ele quer
ser um cristão periódico. Quer ser um cristão de estação. É um cristão que
procura Deus quando estiver livre de tudo, quando tiver tempo livre ou quando
alguma necessidade aperta sua vida. É um cristão que procura Deus de vez em
quando. Mas para este tipo de cristão Jesus faz prevalecer a exigência de uma
escolha coerente, total e radical para si que é escolha para toda a vida.
Este segundo personagem pede a Jesus
permissão para enterrar o pai, mas recebe de Jesus esta resposta: “Segue-me!
Deixa que os mortos sepultem os seus mortos”. A menção do pai nos leva
ao episódio relacionado com a chamada de Eliseu no Antigo Testamento. Eliseu
pediu licença a Elias para ir despedir-se de seu pai (cf. 1Rs 19,20). No Antigo
Testamento a tradição (o pai) estava viva, mas para Jesus está morta.
“Segue-me! Deixa que os mortos
sepultem os seus mortos”. Não se trata da falta com os deveres de
piedade para o pai defunto. O “pai” aqui representa uma tradição que não mais
salva. Abandonar o “pai” significa ficar independente da tradição transmitida
que não tem mais valor para ser mantida. O pedido para “enterrar o pai” indica
a veneração, o respeito e a estima pelo passado que não mais salva homem algum.
Por isso, os mortos aqui são os que professam essas tradições mortais. São
figuras de um mundo de morte, sem salvação. A tradição morta ou a cultura de
morte gera morte e mortos.
O discípulo, o cristão, ao
contrario, é chamado a ser defensor e protetor da vida em qualquer instância e
circunstância, pois a vida é o dom de Deus, e o próprio Jesus se identifica com
a Vida: “Eu sou a Vida e a Ressurreição” (Jo 11,25; cf. 14,6).
“Segue-me! Deixa que os mostos
sepultem seus mortos”. Jesus não quer que descuidemos dos nossos
falecidos. Isto seria falta de caridade e da humanidade. O que Jesus quer é que
abandonemos todos os hábitos que não nos fazem crescer como pessoas e filhos de
Deus e irmãos dos outros. Precisamos deixar o modo de viver e de pensar que nos
fazem como mortos: sem vida, sem horizonte, sem criatividade e assim por
diante. A tradição morta gera a morte e mortos. Ao contrário, precisamos seguir
Aquele que nos faz viver, Aquele que nos diz: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a
Vida” (Jo 14,6). Precisamos crer n’Aquele que nos garante a vida: “Eu
sou a Ressurreição e a Vida. Quem crer em mim, ainda que esteja morto, viverá”
(Jo 11,25).
Precisamos olhar com carinho e seriedade
para o nosso modo de viver para descobrirmos nele os hábitos que não nos fazem
crescer ou não nos fazem viver com dignidade e avançar na caminhada da
perfeição cristã. Sabemos que nosso grande problema não é implementar as coisas
novas na nossa cabeça e sim tirar as coisas velhas e mortas de nossa cabeça. Ao
mesmo tempo precisamos olhar para o modo de viver de Jesus para que sejamos
homens acabados como foi ele. “Se queres seguir a Deus, deixa-O ir adiante. Não
queiras que Ele te siga” (Santo Agostinho. In ps. 124,9).
Para estar aberto diante de Deus é
preciso abandonar hábitos negativos, isto é, todos os hábitos ou costumes que
não nos levam à vida plena. Nos ensinamentos de Jesus encontramos o caminho para
a verdadeira vida. Vale a pena encarar todas as dificuldades, pois a vitória
está reservada para quem é perseverante neste caminho (cf. Mt 10,22; Jo 16,33).
P. Vitus Gustama,svd
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