sábado, 20 de junho de 2015

24/06/2015
NASCIMENTO DE SÃO JOÃO BATISTA
24 de Junho
                                                       

Evangelho: Lc 1,5-17.57-66.80

 56 Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa.57 Completando-se para Isabel o tempo de dar à luz, teve um filho.58 Os seus vizinhos e parentes souberam que o Senhor lhe manifestara a sua misericórdia, e congratulavam-se com ela.59 No oitavo dia, foram circuncidar o menino e o queriam chamar pelo nome de seu pai, Zacarias.60 Mas sua mãe interveio: "Não", disse ela, "ele se chamará João".61 Replicaram-lhe: "Não há ninguém na tua família que se chame por este nome".62 E perguntavam por acenos ao seu pai como queria que se chamasse.63 Ele, pedindo uma tabuinha, escreveu nela as palavras: "João é o seu nome". Todos ficaram pasmados.64 E logo se lhe abriu a boca e soltou-se-lhe a língua e ele falou, bendizendo a Deus. 65 O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos; o fato divulgou-se por todas as montanhas da Judéia.66 Todos os que o ouviam conservavam-no no coração, dizendo: "Que será este menino? Porque a mão do Senhor estava com ele. 80 O menino foi crescendo e fortificava-se em espírito, e viveu nos desertos até o dia em que se apresentou diante de Israel.
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João significa o Senhor manifestou sua benevolência;
Zacarias= Deus se recordou;
Isabel (elíseba, Hbr)= Deus é plenitude, perfeição.


A Igreja celebra normalmente a festa dos santos no dia de seu nascimento para a vida eterna, que é o dia de sua morte. No caso de São João Batista se faz uma exceção e se celebra o dia de seu nascimento terreno, porque ele é o Precursor que prepara a próxima chegada do Messias, Jesus Cristo.


O nascimento de João Batista é visto como um ato de “misericórdia” do Senhor na vida de Isabel. O que se enfatiza na misericórdia são a generosidade e a fidelidade de Deus aos justos. “Justo” é aquele que acolhe o amor de Deus com gratidão. E este amor leva a pessoa a viver de acordo com a justiça divina e não faz nenhuma injustiça contra os outros, seja na palavra, seja no ato. Praticamos a justiça não para sermos santos ou perfeitos e sim para não tratar o irmão injustamente. Através do nascimento de João Batista de um casal idoso e estéril, mas justo, Deus quer mostrar como é grande o seu poder pelos justos e como é gratuito o seu amor que torna fecunda uma mulher estéril como Isabel.


O ventre estéril de Isabel representa a condição da humanidade: sem vida, sem esperança, e sem futuro. É uma situação insustentável, triste e sem saída. Mas para os justos Deus sempre intervém do alto para dar-lhes vida, movido unicamente por seu amor. Neste ponto explode a alegria que envolve a todos e que provoca o homem a fazer louvores. A presença de Deus na vida de qualquer pessoa sempre traz a alegria. As pessoas que acreditam em Deus são pessoas alegres, porque Deus é amor.


Por outro lado, o texto quer nos apresentar o lado escuro da fé. Zacarias serve a Deus no Templo. Mesmo assim tem dúvidas diante do anúncio de Deus sobre a gravidez de Isabel, sua esposa apesar de sua idade avançada. Vem a pergunta que serve de reflexão para cada um de nós diante da incredulidade de Zacarias: “Que sentido tinha, então, o rito que com tanta solenidade ele celebrava no Templo? Que sentido tem das missas das quais participamos quase todos os dias se continuamos a duvidar da misericórdia e do poder de Deus na nossa vida?”


Através do nascimento milagroso de João Batista Deus quer dizer a cada um de nós: “Confie em mim!”. Deus nos pede que em cada dúvida, perplexidade e escuridão de nossa vida que saibamos nos entregar nas mãos misericordiosas de Deus e que sejamos fiéis aos seus mandamentos não por medo, mas por amor. Diante do amor de Deus devemos responder com o mesmo amor.  Através do anjo Deus diz a Zacarias: “Não tenhais medo, Zacarias!”. As mensagens e a Palavra de Deus são motivo de paz e de serenidade para quem as escuta com coração e as vive no cotidiano. É verdade que em determinados casos e momentos pode custar aceitar a vontade de Deus, porém, no final da história sempre nos deixa a paz. Por isso, quando há medo e desconfiança temos que recorrer à voz e à Palavra de Deus que nos acalma. Para Deus não há nada, absolutamente nada impossível (cf. Lc 1,37).


Outras Mensagens Da Festa Do Nascimento De João Batista


a). Zacarias tinha ficado mudo, logo depois da anunciação do anjo, porque não tinha acreditado (Lc 1,20); agora sua obediência em querer que a criança se chamasse João, como o anjo recomendara, mostra que, de fato, ele tinha acreditado; em conseqüência, sua mudez é revelada. Em outras palavras, quando Zacarias, finalmente, consente ou concorda com a instrução de Deus, seu castigo/punição é tirado e ele fica livre para falar. Suas primeiras palavras são em louvor a Deus. A soltura de Zacarias de mudez é expressa em louvor. Quando não acreditarmos na força de Deus, somos impedidos de falar dele e de louvar seu nome (ficamos mudos). A partir do momento em que acreditarmos, experimentarmos e vivermos a força de Deus, ninguém e nada nos impedirão de louvarmos Deus, fonte de nossa força.


b). O nascimento de João Batista é visto como um ato de “misericórdia” do Senhor na vida de Isabel. Na bíblia “misericórdia” não indica a compaixão para com uma pessoa indigna e desprezível (de fato, Zacarias e Isabel eram as pessoas justas e retas), mas se refere à generosidade e fidelidade de Deus. Deus quer mostrar como é grande o seu poder e gratuito o seu amor. O seio estéril de Isabel representa a condição humana sem vida, sem esperança e sem futuro, insustentável, triste e sem vida. E Deus intervém para dar-lhe vida, movido pela misericórdia. Tudo que se fala aqui é uma mensagem de esperança. Com Deus nem tudo é perdido e nada é pequeno; com Deus tudo se torna possível. Será que somos pessoas de esperança? Aquele que tem fé, também tem esperança; aquele que tem esperança tem perseverança e aquele que tem perseverança tem paciência por que ele sabe em quem acredita (cf. 2Tm 1,12).


c). Sobre a circuncisão.


No oitavo dia João foi apresentado ao templo para o rito da circuncisão. A circuncisão é o sinal da pertença ao povo da aliança. O circuncidado passa a fazer parte de Israel e se torna herdeiro das promessas feitas por Deus a Abraão e à sua descendência.  Este rito era determinado, para todos os judeus, no oitavo dia (Gn 17,12;Lv 12,3). Mas São Paulo afirma que a circuncisão não tem valor diante da promessa de salvação, pois o que é marca da carne fica na carne (cf. Rm 2,25-29; veja também At 15). Ela só tem sentido quando marca o coração, quando transforma a vida. Num caminho de evolução teológica, os cristãos substituíram este rito pelo batismo. Com o batismo, o batizado recebe a qualidade de discípulo de Jesus Cristo. O batismo torna a pessoa membro da comunidade cristã, independentemente de sua etnia, cor ou posição social. Para ser cristão não precisa ser judeu (circuncisão).


d). Sobre o nome “João”
   

Como era costume, os vizinhos e parentes dão por ato que o menino se chamaria como o pai (Tb 1,9). Mas João não poderia se chamar “Zacarias”. Com isso, João não dá simplesmente continuidade à estirpe (tronco de família), mas assinala o início da nova época. Terminou o tempo em que se recordam as promessas (“Zacarias” significa “Deus se recorda” ou “Deus recorda” as suas promessas). Terminou o tempo em que se recordam as promessas, chegou o tempo de ver em ação a bondade de Deus (João significa “o Senhor fez graça, manifestou sua bondade, a sua benevolência). A questão decisiva é, a partir dessa mudança de nome em não seguir o nome do pai: Qual é a vontade de Deus? Deus nem sempre escolhe o caminho da tradição, o velho costume, a trilha usada. Isabel escolhe o nome de João, pois conhecia, por espírito profético (Jo 1,41), a vontade de Deus. Os parentes julgavam tudo pelos usos e costumes. Isabel percebe o sopro de algo novo. Ela julga de maneira nova. E isto causa estranheza para os que estão totalmente enraizados nas coisas velhas. O Espírito interrompe por caminhos novos pois ele é aquele que renova a face da terra(cf. Ap 21,5), que nem sempre fáceis de compreensão. O Espírito nem sempre sopra segundo os planos dos homens, mas também até contra eles. A vontade e a Palavra de Deus colocam os homens escolhidos perante a necessidade de terem de abandonar a senda rotineira ou o curso normal de uma tradição(cf. Lc 5,39).  Essa atitude radical que destrói as linhas tradicionais de autoridade e continuidade, por certo está bem de acordo com a ação e mensagem de João. Mais tarde ele verá seus correligionários judeus como “raça de víboras”(Lc 3,7;Mt 3,7) que totalmente confiam em sua descendência de Abraão para protegê-los do próximo julgamento, quando na verdade nem a descendência de Abraão, nem a usual rotina do culto, mas apenas o arrependimento individual e boas ações podem salvar alguém da destruição(Lc 3,7-9 par.; Mc 1,4-5;12).


e). João não é o Messias, pois a interdição de beber vinho é antimessiânico. Os tempos messiânicos seriam caracterizados pela festa, pela alegria e pela ausência de jejuns. Assim João Batista expressa uma realidade mais vinculada ao AT, uma vez que insiste na penitência e nos jejuns, sendo um período de preparação. Quando Jesus inaugura o reinado messiânico, aproveita uma festa (Jo 2,1-12) e manifesta-se livre em relação à tradição, sendo acusado de comilão e beberão (Lc 15,33ss;7,34). Por isso, a missão do arauto é desaparecer, ficar em segundo plano quando chega aquele que foi anunciado. Por isso também, um erro grave de qualquer precursor ou evangelizador ou pregador seria deixar que o confundissem com aquele que esperam, ainda que fosse por alguns minutos ou por pouco tempo.


f). O nascimento dos santos/consagrados constitui alegria para muitos, porque o santo é um dom de Deus à humanidade, é um bem para todos. Todo ato de misericórdia traz a alegria não só a quem o recebe, mas também aos que sabem reconhecê-lo e estão prontos a exaltá-lo. A misericórdia e a alegria são alguns dos temas preferidos e fortes de Lucas. A mensagem da salvação percorre espaços sempre mais vastos. Não basta, por isso, participar nos acontecimentos salvíficos e ouvir falar deles. Os acontecimentos devem ser acolhidos no coração e quem os acolhe deve sintonizar-se interiormente com eles e espalha para os outros.

P. Vitus Gustama,svd

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