08/07/2015
SER
MISSIONÁRIO DO SENHOR
Texto de Leitura: Mt 10,1-7
Naquele tempo, 1 Jesus chamou os doze
discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos maus e de curar todo tipo
de doença e enfermidade. 2 Estes são os nomes dos doze apóstolos:
primeiro, Simão chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e
seu irmão João; 3 Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador de
impostos; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; 4 Simão, o Zelota, e Judas
Iscariotes, que foi o traidor de Jesus. 5 Jesus enviou estes Doze, com
as seguintes recomendações: “Não deveis ir aonde moram os pagãos, nem entrar
nas cidades dos samaritanos! 6 Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa
de Israel! 7 Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está
próximo’”.
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Terminada a serie de milagres narrados
depois do Sermão da Montanha, entramos agora no segundo dos cinco grandes
discursos de Jesus no evangelho de Mateus. Este segundo discurso é conhecido
como o Discurso missionário que abrange Mt 9,36-11,1 (Os cinco grandes
discursos: Mt 5,1-7,28: Sermão da
Montanha; Mt 9,36-11,1: Discurso
missionário; Mt 13,1-52: Discurso
sobre o Reino em parábolas; Mt 18,1-35: Discurso sobre a vida comunitária/Igreja; Mt 23/24,1-25,46: Discurso sobre o Julgamento final/ a Vinda
do Filho do Homem).
Notemos que a missão em Mt não se limita
apenas aos doze, mas para todos aqueles que queriam seguir a Jesus. Por isso,
neste discurso sobre a missão não se fala nem da partida dos doze (cf. Mc
6,12-13; Lc 9,6) nem do seu regresso (cf. Mc 6,30; Lc 9,10). O discurso sobre a
missão não é endereçado para a multidão e sim para os discípulos que serão
enviados. Podemos dizer que este discurso serve como um tipo de “manual” para
os seguidores de Jesus na tarefa de exercer a missão como cristãos.
Os Doze são enviados com algumas instruções
básicas. A primeira instrução de Jesus é “Não
tomeis o caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos” (v.5). Podemos
ter duas interpretações deste versículo. Primeiro, ele reflete uma tensão viva
na comunidade de Mt onde certos grupos de origem judia não compreendiam nem
aceitavam a missão aos pagãos. Segundo, na cultura de Jesus, a palavra
“estrada/caminho” significa caminho ou modo de viver. Jesus pode ter querido
dizer que não sigam o modo de viver dos pagãos que são idólatras.
A segunda instrução, “Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel” (v.6). Em Mt
encontramos duas etapas da missão. Na primeira etapa (Mt 10), a missão de Jesus
e de seus discípulos é limitada para as “ovelhas perdidas de Israel”. Aqui não
se fala da seleção entre os melhores, mas trata-se de gente necessitada. Foi
para as pessoas necessitadas de Israel que foram enviados os Doze. Na segunda
etapa (Mt 28,19), o mandato missionário será para espalhar a Boa Nova a todos
os povos.
Estas duas etapas da missão nos trazem uma
lição muito importante para nossa comunidade: somos chamados a cuidar tanto dos
de dentro da comunidade (missão ad intra),
como dos de fora (missão ad extra). A
Igreja ou comunidade sem caridade interna, não tem força para dar testemunho
crível para os de fora da comunidade. O testemunho interno de comunhão é o
primeiro passo para um anúncio mais eloqüente. Mas o cuidado com os de dentro
não pode ser uma desculpa para ignorar os de fora. Ou, o cuidado com os de fora
não justifica a falta de tempo ou atenção para com os de dentro. Temos, muitas
vezes, mais facilidade de sorrir para os de fora do que para os de dentro. “É
mais fácil simular virtudes que possuí-las. Por isso, o mundo está cheio de
farsantes” (Santo Agostinho).
Pela profissão de cada escolhido no
Evangelho de hoje percebemos que Jesus não buscou primeiro reunir pessoas
ilustres, e sim pessoas disponíveis, capazes de segui-Lo até o fim. São aqueles
que darão sua vida por Ele (pelo Reino de Deus e sua justiça). Ouvimos muitas
vezes a seguinte frase: Deus não escolhe os capacitados, mas Ele capacita os
escolhidos. A vocação divina é sempre um mistério no sentido de que não temos
capacidade para entender tudo, pois está fora de nosso alcance humano.
Jesus é um grande organizador de comunidades
de homens e mulheres. Havia muitas
pessoas inquietas, mas necessitavam de um fator de coesão, de um líder que os
vinculava e os ajudava a crescerem como pessoas. Esta faceta de organizador e
de promotor de organizações comunitárias está condensada nos relatos de eleição
dos doze missionários ou apóstolos para continuar a missão. E aqui está condensado
um dos seus ensinamentos fundamentais: a comunidade cristã (pastorais,
movimentos, grupos eclesiais etc.) existe para evangelizar. Não há outro motivo
maior do que este. A comunidade cristã existe porque há um “povo cansado e
abatido” diante do qual cada membro da comunidade cristã é chamado a ser
solidário capaz de aliviar a dor alheia e de dar resposta a partir de sua
própria insignificância e debilidade. Cada um de nós, apesar das fraquezas, tem
algo de bom para ser partilhado para os outros. Se cada um tirar um pouco de
bom de dentro de seu coração o cristianismo vai fazer diferença na Igreja e na sociedade.
Segundo o texto do evangelho deste dia, o
papel essencial dos escolhidos é expulsar os “espíritos imundos” e “curar os
homens” de seus males. Em outras palavras são enviados para fazer o bem e
destruir o mal. São chamados para ser parceiros do bem e enviados em busca de
outros parceiros do bem.
Judas Iscariotes faz parte de seu grupo. É
aquele que vai trair o próprio Mestre em nome de dinheiro (cf. Mt 26,14.47; Mc
3,19;14,10; Lc 22,47; Jo 13,21-30;18,2). Ele também foi enviado para a missão,
uma grande missão. Jesus tomou esse risco ao confiar a responsabilidade de sua
obra para pobres humanos. Por isso, há que rezar sempre por aqueles que têm responsabilidade
na Igreja. Cada um de nós também tem uma missão, cada um é responsável, em uma
parte da obra de salvação de Jesus.
Jesus é muito consciente da amplitude de sua
obra. É necessário ter muito tempo. Sem pressa Jesus limita a missão no momento
só dentro do território de Israel. Ele mesmo, durante sua vida terrena, se
limitou ao que podia fazer: dirigir-se às ovelhas agarradas da casa de Israel.
Mais tarde ele enviará os discípulos pelo mundo inteiro (Mt 28,18-20). Em
outras palavras, é preciso arrumar primeiro a casa. É preciso evangelizar os
que estão dentro de casa para depois evangelizar os que estão fora dela que nem
sempre é fácil. É o desafio de cada missionário-evangelizador.
Ao enviá-los Jesus dá-lhes o poder. Mas este
poder deve ser entendido como um dom de autoridade. A palavra autoridade provém
do latim augere que significa crescer. Somente tem autoridade aquele que
é capaz de fazer o outro crescer. A autoridade dada por Jesus tem as seguintes características: (1). Está orientado por inteiro ao ministério
apostólico, ou para o serviço (do bem) e não para dominar ou mandar e
desmandar: expulsar o mal, fazer o bem, pregar o Reino. É um dom completamente
missionário. Por isso, não se trata de nenhum poder de direção ou de governo. (2). É uma autoridade conferida, mas não
abandonada por Jesus a seus discípulos. (3).
Jesus reconhece que haverá oposição por causa do jogo de interesses mesquinhos.
Nem todos são sucessores dos apóstolos, mas
todos são seguidores de Jesus e por isso, devem continuar, cada um em seu
ambiente, a missão que cada um recebeu no batismo. Todos nós formamos a Igreja
“apostólica” e “missionária”. Por isso, não vamos à missa para ir à missa. Que
a missa é, de uma parte, a expressão de nossa fé, de nossa esperança e de nossa
caridade. Mas de outra parte, a missa é sempre um imperativo, uma exigência
para fazer operativa nossa fé, nossa esperança e nossa caridade. Por isso,
quando finaliza a missa, começa a realidade na vida; quando termina a
celebração eucarística ou qualquer reunião eclesial, deve começar nosso
compromisso cristão; quando termina a missa, deve começar a missão. Se não a
missa careceria de sentido.
Somos chamados por Jesus Cristo para estar
com ele a fim de aprendermos a ser parceiros do bem. Somos enviados depois do
encontro com ele para fazer o bem e em busca dos novos parceiros do bem. A alma
da missão é caridade. A única coisa que nos faz bem é fazer o bem. A
vida não é uma luta para superar os outros, mas uma missão a ser exercida para
dar o melhor de nós para a humanidade conforme os talentos recebidos de Deus.
Estamos aqui neste mundo com um objetivo único, com um objetivo nobre que nos
permitirá manifestar nosso mais alto potencial enquanto, ao mesmo tempo,
acrescentamos valor às vidas das pessoas que estão a nossa volta. Descobrir a
própria missão significa trazer mais de você mesmo para o trabalho, para a
convivência e concentrar-se nas coisas que você sabe fazer melhor e dar sempre
o melhor de você para os outros sem esperar nada em troca.
O que você tem feito e pode ainda
fazer pelo Senhor e pela sua Igreja? “Faze o
que podes. Deus não te pede mais” (Santo Agostinho.
Serm. 128,10,12). “Deus não condena quem não pode fazer o que quer, e sim quem
não quer fazer o que pode” (Santo Agostinho. Serm. 54,2).
P. Vitus Gustama, SVD
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