sexta-feira, 3 de julho de 2015

06/07/2015
 
CONTATO PERMANENTE COM JESUS FAZ QUALQUER UM VIVER UMA VIDA DIGNA

Segunda-Feira da XIV Semana Comum


Evangelho: Mt 9, 18-26

18 Enquanto Jesus estava falando, um chefe aproximou-se, inclinou-se profundamente diante dele, e disse: “Minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe tua mão sobre ela e ela viverá”. 19 Jesus levantou-se e o seguiu, junto com os seus discípulos. 20 Nisto, uma mulher que sofria de hemorragia há doze anos veio por trás dele e tocou a barra do seu manto. 21 Ela pensava consigo: “Se eu conseguir ao menos tocar no manto dele, ficarei curada”. 22 Jesus voltou-se e, ao vê-la, disse: “Coragem, filha! A tua fé te salvou”. E a mulher ficou curada a partir daquele instante. 23 Chegando à casa do chefe, Jesus viu os tocadores de flauta e a multidão alvoroçada, 24 e disse: “Retirai-vos, porque a menina não morreu, mas está dormindo”. E começaram a caçoar dele. 25Quando a multidão foi afastada, Jesus entrou, tomou a menina pela mão, e ela se levantou. 26Essa notícia espalhou-se por toda aquela região.
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1. Um Chefe Que Suplica a Jesus Pela Filha Morta: Jesus É a Ressurreição e a Vida Para Quem Crê Nele


Os dois episódios no evangelho de hoje (uma menina morta que voltou a viver e uma mulher curada de sua hemorragia) se encontram também em Marcos (Mc 5,21-43) e em Lucas (Lc 8,40-56).


Em Mateus, no primeiro episódio, aquele que se aproxima de Jesus que suplica pela filha morta não tem nome. Simplesmente ele é “um chefe”. Não se diz que é um chefe da sinagoga como em Marcos e Lucas nos quais se fala de Jairo. Este chefe que manifesta sua fé em Jesus nos leva ao episódio do centurião que pediu a cura para seu empregado (Mt 8,5-13). Mas o caso do chefe é grave, pois trata-se da filha morta.


Neste primeiro episódio do evangelho deste dia Jesus se encontra, então, diante da morte de uma menina e o pai desta pede a Jesus para impor sua mão sobre ela a fim de ela voltar a viver: “Minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe tua mão sobre ela e ela viverá”. Trata-se de um pobre chefe esmagado pela dor: a morte de sua filha. Há situações diante das quais a força humana (chefe) fica impotente, como diante da morte. Nessas situações só a fé é que pode nos ajudar, como fez o pai da menina falecida.


É algo surpreendente a confiança posta por esse homem em Jesus. É uma verdadeira fé no impossível: fé no poder de Jesus de fazer sua filha morta voltar a viver. Lá onde a força humana terminar, a fé a continuará. Jesus não se resiste a este tipo de oração. “Jesus se levantou e o seguiu junto com seus discípulos”, assim relatou Mateus.


Quando chegou à casa da menina morta, Jesus disse à multidão: “Retirai-vos porque a menina não morreu e sim está dormindo”.  Jesus quer dizer que para ele e para o poder de Deus a morte não significa mais que um sono ligeiro. Morrer é descansar em paz nos braços do Pai celeste. Tanto que muitos colocam as três letras no túmulo dos seus entes queridos: RIP (Requiescat In Pace ou Rest In Peace = Descanse em paz). Para os primeiros cristãos, morrer significa descansar em Deus. Da mesma maneira Jesus também falou de Lázaro morto: “Nosso amigo Lázaro está dormindo e vou despertá-lo” (Jo 11,11). A morte para Deus não é um poder insuperável. As coisas têm um aspecto muito distinto diante do olhar de Deus e diante da experiência do homem. Mas se aprendermos a olhar tudo a partir de Deus, então a morte perderá seu caráter arrepiante. Para Jesus, a morte não tem o caráter temível e definitivo. Para ele, a morte é uma espécie de “sono” do qual Deus tem o poder de despertar. Se para Jesus a morte não tem nenhum caráter temível, pois é apenas uma passagem para uma vida eterna, deve ser também para quem quiser segui-lo. O cristão é chamado a proteger a vida no seu inicio, na sua duração e no seu término na história, pois Deus é a Vida por excelência e por isso, chama todos à vida, especialmente para aqueles que vivem no desespero e na falta de esperança. A menina morta voltou a viver por causa do poder de Jesus e a fé do pai dela no poder de Jesus.


Quem é este “chefe”? Ele não tem nome nem determinada função (se é chefe de sinagoga ou se é chefe dos judeus ou se é chefe do sinédrio). Ele é simplesmente um chefe.  Pode ser qualquer um de nós, pois, de alguma forma, cada um é chefe: seja dentro da família, seja fora dela (na sociedade). Uma pessoa pode ser muito importante (“chefe”) entre os homens ou muito poderosa do ponto de vista humano, mas ela precisa também de salvação. O poder mundano não salva, pois diante da morte tudo que é humano cai no chão. O brilho falso tem seu fim. Somente Deus salva e nos garante a vida eterna. Do ponto de vista humano, paradoxalmente, o aparente superpotente ou super-poderoso é, na verdade, impotente. Mas “quando me sinto fraco, então é que sou forte”, escreveu São Paulo à comunidade de Corinto (2Cor 12,10).


Um ser humano precisa de outro ser humano para possibilitar seu crescimento como ser humano. Podemos possuir tudo que o mundo tem a oferecer em termos de status, realizações e bens, no entanto, sem nos sentirmos integrados, tudo isso parece vazio e inútil. A integração (viver em comunidade como irmãos/família) sugere calor, compreensão e abraço. Quando ficamos isolados, estamos propensos a ser prejudicados. Sentir-se integrada mantém a pessoa em equilíbrio. Sempre que há distância, há também anseio e pode haver uma solidão, pois o ser humano existe para coexistir com os demais seres humanos.


E o ser humano, enquanto criatura, precisa do Salvador que dá sentido para tudo na sua vida. Por isso, Santo Agostinho dizia: “Ninguém está tão só do que aquele que vive sem Deus. E, o homem, para onde se dirija, sem se apoiar em Deus só encontrará a dor”. Nas suas Confissões, Santo Agostinho rezou: “Fizeste-nos para Ti, Senhor, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti. Dá-me, Senhor, saber e compreender qual seja o primeiro: invocar-Te ou louvar-Te; conhecer-Te ou invocar-Te. Mas quem Te invocará sem Te conhecer? (...) Que eu Te busque, Senhor, invocando-Te; e que eu Te invoque, crendo em Ti: Tu nos foste anunciado” (Conf. 1,1). “Deus, de Quem separar-se é morrer, a Quem retornar é ressuscitar, com Quem habitar é viver” (Solil. 1,1,3)


2. Mulher Curada da hemorragia


Dentro do primeiro episódio Mateus insere outro episódio: uma mulher que sofria de hemorragia há doze anos. Em primeiro lugar, essa mulher não tem nome, nem se menciona sua família nem sua tradição. Menciona-se, além disso, seus doze anos de sofrimento! O número “doze” aplicado aos anos de sua enfermidade é clara alusão a Israel. A mulher enferma representa, então, o povo que para que seja salvo (cura) é preciso renunciar à Lei para entrar em contato direto com Jesus. Jesus seria “impuro”, isto é, não tem acesso a Deus (salvação) por seu contato com os “pecadores” (Mt 9,10-13). Mas Jesus é Emanuel, Deus-Conosco (Mt 1,23; 18,20; 28,20) que vem para salvar. Para encontrar a salvação nele é preciso se aderir a ele e fazer contato permanente com ele.


Segundo o texto do evangelho de hoje essa mulher não pede nada e não diz nada a Jesus. Mas ela mostra sua fé total em Jesus. A fé dessa mulher é comparável à do chefe do primeiro episódio; sua certeza de cura é total. Ela somente pensa e silenciosamente se aproxima de Jesus para tocar a barra do seu manto: “Se eu conseguir ao menos tocar no manto dele, ficarei curada”, pensou essa mulher. Jesus tinha curado o leproso com seu contato (Mt 8,15).


A mulher que sofre de hemorragia se aproxima e toca a orla do manto de Jesus. Este gesto era proibido na cultura judaica. Uma mulher não podia olhar para um homem em publico, muito menos tocá-lo. A situação fica pior ainda porque a mulher está com a hemorragia que pode causar a impureza legal para a pessoa tocada. Por ser mulher e pela sua enfermidade essa mulher estava duplamente excluída. Mas ela não quer saber das proibições. Ela quer viver e procurar todos meios para voltar a ser uma mulher saudável. Acima de tudo, ela quer encontrar-se com Jesus e tocar seu manto. Ela não quer ser escrava das regras e dos costumes desumanos. Pois de fato, as regras culturais e as de culto a afastam da convivência e da salvação.


Quantas pessoas são escravas das regras. A graça produz as regras, mas as regras não produzem a salvação, pois elas são apenas meios e não o fim. Os costumes que não salvam e não ajudam as pessoas a crescerem no bem e no amor fraterno, não podem ser mantidos.


Jesus reconhece nessa mulher a fé que transforma sua situação triste em alegria por encontrar o Salvador, Jesus: “Coragem, filha! A tua fé te salvou”. Jesus chama a mulher de “ filha”. É uma expressão de muita ternura. O termo “filha” coloca essa mulher em relação com “a filha” do chefe. Ambas são figuras de Israel. A partir de então, a mulher voltou a viver sua vida saudavelmente.


Os dois (chefe cuja filha estava morta e a mulher que sofria de hemorragia há doze anos) se aproximam de Jesus com muita fé e obtêm o que pedem. “Fé é crer no que não vemos. O prêmio da fé é ver o que cremos” (Santo Agostinho: Serm. 43,1,1). “Prepara teu pote para ir à fonte da graça. Que significa preparar? Aumentar a fé, fortalecer a fé, robustecer a fé” (Santo Agostinho: Serm. Frangipane 2,6). Eles confiam, se apóiam e se abandonam totalmente em Jesus.  E receberam uma resposta adequada da parte de Jesus: a volta da filha para a vida e a cura da mulher sofrida de hemorragia de longos anos. Por causa da fé eu preparo o espaço necessário para que Deus possa atuar. A fé é sempre e continua sendo a condição e o fundamento da ação salvadora de Deus no homem. A novidade do Reino trazido por Jesus não é somente a cura, mas principalmente a ressurreição ou a salvação.


A dor daquele pai e o sofrimento daquela mulher podem ser um bom símbolo de todos os nossos males, pessoais e comunitários.  Também agora, como em sua vida terrena, Jesus nos quer atender e nos encher de sua força e de sua esperança. É preciso manter nosso contato diário com Jesus para que sejamos vivos e salvos. Na Eucaristia ele mesmo se dá como alimento, para que, quando nos aproximamos dele e o recebemos com fé, possa curar também nossos males. Mas a cura-salvação não é um toque mágico e sim um encontro de pessoas com Jesus. É o encontro com Jesus na fé que cura e salva, e somente depois do encontro é que Jesus diz as seguintes palavras: “A tua fé te salvou!”. O verdadeiro encontro com Jesus muda totalmente a vida de quem se aproxima de Jesus. Mesmo que alguém se encontre numa situação muito difícil (morte e doença incurável no evangelho de hoje), mas ao se aproximar de Jesus e ao manter contato com Jesus tudo mudará para uma situação melhor.


Para Refletir:


1.   A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e nos é aberta a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos passos no tempo (Papa Francisco: Lumen Fidei, Carta Encíclica).

 
2.   A fé está ligada à escuta. Abraão não vê Deus, mas ouve a sua voz. Deste modo, a fé assume um caráter pessoal: o Senhor não é o Deus de um lugar, nem mesmo o Deus vinculado a um tempo sagrado específico, mas o Deus de uma pessoa, concretamente o Deus de Abraão, Isaac e Jacob, capaz de entrar em contato com o homem e estabelecer com ele uma aliança. A fé é a resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um Tu que nos chama por nome... A fé “vê” na medida em que caminha, em que entra no espaço aberto pela Palavra de Deus (idem).


3.   O contrário da fé é a idolatria. O ídolo é um pretexto para se colocar a si mesmo no centro da realidade, na adoração da obra das próprias mãos. A idolatria é sempre politeísmo, movimento sem meta de um senhor para outro. A idolatria não oferece um caminho, mas uma multiplicidade de veredas que não conduzem a uma meta certa, antes se configuram como um labirinto. A fé, enquanto ligada à conversão, é o contrário da idolatria: é separação dos ídolos para voltar ao Deus vivo, através de um encontro pessoal (idem).


4.   Acreditar significa confiar-se a um amor misericordioso que sempre acolhe e perdoa, que sustenta e guia a existência, que se mostra poderoso na sua capacidade de endireitar os desvios da nossa história. A fé consiste na disponibilidade a deixar-se incessantemente transformar pela chamada de Deus. Paradoxalmente, neste voltar-se continuamente para o Senhor, o homem encontra uma estrada segura que o liberta do movimento dispersivo a que o sujeitam os ídolos.

P. Vitus Gustama,svd

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