domingo, 19 de julho de 2015

21/07/2015
ESTAR DENTRO DA CASA DE JESUS PARA TRANSFORMAR A FAMILIA HUMANA EM FAMÍLIA DE DEUS


Terça-feira da XVI Semana Comum


Evangelho: Mt 12, 46-50

Naquele tempo, 46 enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. 47 Alguém disse a Jesus: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo”. 48 Jesus pergun­tou àquele que tinha falado: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” 49 E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. 50 Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
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Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo”.


Estar fora ou estar dentro aqui não é questão de espaço. Estar dentro é questão de sintonia e compromisso. Estar dentro era estar comprometido com a verdade, com a construção da paz e da justiça (cf. Mt 5,20). Estar fora significava estar agarrado aos próprios princípios, ser incapaz de aderir ao novo, estar cego diante dos fatos. Estar fora é exigir sinais e milagres daquele que é o próprio milagre; é estar cego diante da evidências.


Os escribas e fariseus eram da família de Jesus, eram judeus como Jesus e poderiam estar dentro, novo projeto de Salvação, mas eles não participavam, estavam “fora” da “casa” de Jesus, pois não ouviam a novidade trazida por Jesus. Os escribas e fariseus estavam rejeitando Jesus, portanto, estavam fora de casa. Todo aquele que não se comprometia com o pobre, o humilde, o nu, o encancerado, o preso estaria fora da família de Deus e por isso, estaria fora do Reino (cf. Mt 25,31-46).


Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.


A maior parte das religiões do mundo se apoia na família, comunidade natural. Jesus edifica sua religião ou sua comunidade não sobre as relações familiares, e sim sobre uma comunidade de tipo seletivo em virtude da fé para elevar a família humana para a família de Deus. Para divinizar a família humana é preciso que Deus seja o centro de cada família e é preciso que cada membro viva de acordo com a Palavra de Deus.


A evolução do mundo técnico tende a tirar o homem de suas comunidades naturais para submergi-lo em comunidades mais “artificiais” ou “mais seletivas”. Por isso, a família vive, muitas vezes, de maneira dramática o conflito das gerações que caracteriza a nossa época. Os pais rezam melhor em companhia de seus amigos do que em família, com seus filhos e familiares. Mas se todos se preocuparem com a vontade de Deus ao praticar o bem, ao viver o amor fraterno, o único que nos edifica, humaniza e diviniza, acabarão salvar a comunidade natural que é a família humana. Por isso, Jesus afirma hoje: “Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12,50). O verbo “fazer” é característico da narração do evangelista Mateus. Os fariseus dizem e não fazem (Mt 23,3.15). Unir-se a Cristo não significa outra coisa que fazer a vontade de seu Pai. No evangelho de São João Jesus fala de outra maneira para a mesma coisa: “Vós sois meus amigos se praticais o que vos mando” (Jo 15,14). Trata-se de uma família ou uma comunidade de Deus, e por isso, de uma comunidade de salvação.


Jesus, por sua encarnação, entrou no mundo e formou parte de nossa humanidade, de uma verdadeira humanidade, com os laços de sangue e de cultura. Ele se tornou humano para nos divinizar. Ele nasceu numa família para santificar a família. Ele viveu em um país determinado, Palestina; tinha uma mãe, Maria. Essas realidades humanas têm grande importância, constituem realmente o lugar de nossa vida.


Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?”, pergunta Jesus. A pergunta não significa um desprezo de Jesus à sua mãe, Maria. Maria sempre cumpriu a vontade de Deus: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Ela foi chamada pelo anjo Gabriel de “cheia de graça” e que ela “está com o Senhor” (Lc 1,28). Além disso, ninguém amou Sua mãe melhor que o próprio Jesus. E nenhuma mãe amou melhor seu Filho, Jesus Cristo, Deus-Conosco do que a própria Maria, a mãe de Jesus. Ela acompanhava seu filho Jesus até ao pé da cruz, enquanto muitos discípulos o abandonaram (Jo 19,25-27).


É claro que a resposta de Jesus para a própria pergunta mostra que Jesus relativiza os vínculos familiares em função da vontade de Deus. Com esta pergunta Jesus quer nos revelar algo muito importante: o discípulo, cada cristão, cada cristã que vive os ensinamentos de Jesus é um parente de Jesus. Jesus oferece aos homens a qualitativa intimidade de sua família. A família humana de Jesus viveu conforme a vontade de Deus: José que criou Jesus era chamado de “o justo”, aquele que vive segundo os mandamentos de Deus (cf. Mt 1,19). Maria, a Mãe de Jesus foi chamada pelo anjo de “cheia de graça” (cf. Lc 1,28).


Por isso, a família humana de Jesus serve de exemplo para todas as famílias humanas. Que é possível formar uma família de Deus nesta terra quando Jesus se torna o centro de todos. Quando Jesus fica no meio, tudo se ordena e tudo se une e todos formarão um círculo de irmãos ao redor de Jesus Cristo. Quando Cristo se torna o centro, todos ficarão olhando para Ele para saber o que se deve fazer e como se deve fazer. Se alguém ocupar o centro, que é o lugar de Cristo, todos terão um olhar sem direção ou cada um vai criando sua própria direção. “Onde te envaideceste, ali mesmo caíste” (Santo Agostinho. Serm. 131,5). Jesus Cristo deve ser o fator central para que todos tenham a mesma direção: formar uma família divina logo nesta terra onde o amor fraterno é a única identidade para todos: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35). “Quando se enfraquece o amor, também se enfraquece o fervor”, dizia Santo Agostinho (In ps. 85,24). A única maneira de salvar a família humana ou qualquer comunidade é transformá-la em família de Deus, família que vive de acordo com os mandamentos de Deus.


Entre Deus e os homens já não há somente relações frias de obediência e de submissão como entre o patrão e o empregado. Com Jesus entramos na família divina, como seus irmãos e irmãs, como sua mãe. Se em todos os meus atos e atitudes de cada dia, se em todos os minutos de minha vida procurar me manter unido a Deus, serei irmão de Jesus, farei parte da família de Deus desde aqui na terra junto aos outros irmãos e irmãs no mundo inteiro que fazem a mesma coisa.


Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. O Reino de Deus cria uma nova família que ultrapassa todos os laços terrenos sem diminuir o valor da família. A vivência da vontade de Deus eleva a família humana para o nível divino. Por isso, a frase de Jesus acima citada deve servir de orientação para nossa vida diária. Será que faço parte da família de Jesus ou estar dentro da “casa” de Jesus?
 
P. Vitus Gustama,svd

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