21/07/2015
ESTAR
DENTRO DA CASA DE JESUS PARA TRANSFORMAR A FAMILIA HUMANA EM FAMÍLIA DE DEUS
Terça-feira
da XVI Semana Comum
Evangelho: Mt 12, 46-50
Naquele tempo, 46 enquanto Jesus estava
falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando
falar com ele. 47 Alguém disse a Jesus: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí
fora, e querem falar contigo”. 48 Jesus perguntou àquele que tinha falado:
“Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” 49 E, estendendo a mão para os
discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. 50 Pois todo aquele que
faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e
minha mãe”.
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“Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e
querem falar contigo”.
Estar fora ou estar dentro aqui não é questão
de espaço. Estar dentro é questão de sintonia e compromisso. Estar dentro
era estar comprometido com a verdade, com a construção da paz e da justiça (cf.
Mt 5,20). Estar fora significava estar agarrado aos próprios princípios, ser
incapaz de aderir ao novo, estar cego diante dos fatos. Estar fora é exigir
sinais e milagres daquele que é o próprio milagre; é estar cego diante da evidências.
Os escribas e fariseus eram da família de
Jesus, eram judeus como Jesus e poderiam estar dentro, novo projeto de Salvação,
mas eles não participavam, estavam “fora” da “casa” de Jesus, pois não ouviam a
novidade trazida por Jesus. Os escribas e fariseus estavam rejeitando Jesus,
portanto, estavam fora de casa. Todo aquele que não se comprometia com o pobre,
o humilde, o nu, o encancerado, o preso estaria fora da família de Deus e por
isso, estaria fora do Reino (cf. Mt 25,31-46).
“Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? Todo
aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha
irmã e minha mãe”.
A maior parte das religiões do mundo se apoia
na família, comunidade natural. Jesus edifica sua religião ou sua comunidade
não sobre as relações familiares, e sim sobre uma comunidade de tipo seletivo
em virtude da fé para elevar a família humana para a família de Deus. Para
divinizar a família humana é preciso que Deus seja o centro de cada família e é
preciso que cada membro viva de acordo com a Palavra de Deus.
A evolução do mundo técnico tende a tirar o
homem de suas comunidades naturais para submergi-lo em comunidades mais
“artificiais” ou “mais seletivas”. Por isso, a família vive, muitas vezes, de
maneira dramática o conflito das gerações que caracteriza a nossa época. Os
pais rezam melhor em companhia de seus amigos do que em família, com seus
filhos e familiares. Mas se todos se preocuparem com a vontade de Deus ao
praticar o bem, ao viver o amor fraterno, o único que nos edifica, humaniza e
diviniza, acabarão salvar a comunidade natural que é a família humana. Por
isso, Jesus afirma hoje: “Todo aquele que
faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e
minha mãe” (Mt 12,50). O verbo “fazer” é característico da narração do
evangelista Mateus. Os fariseus dizem e não fazem (Mt 23,3.15). Unir-se a
Cristo não significa outra coisa que fazer a vontade de seu Pai. No evangelho
de São João Jesus fala de outra maneira para a mesma coisa: “Vós sois meus
amigos se praticais o que vos mando” (Jo 15,14). Trata-se de uma família ou uma
comunidade de Deus, e por isso, de uma comunidade de salvação.
Jesus, por sua encarnação, entrou no mundo e
formou parte de nossa humanidade, de uma verdadeira humanidade, com os laços de
sangue e de cultura. Ele se tornou humano para nos divinizar. Ele nasceu numa
família para santificar a família. Ele viveu em um país determinado, Palestina;
tinha uma mãe, Maria. Essas realidades humanas têm grande importância, constituem
realmente o lugar de nossa vida.
“Quem
é minha mãe? Quem são meus irmãos?”, pergunta Jesus. A pergunta não
significa um desprezo de Jesus à sua mãe, Maria. Maria sempre cumpriu a vontade
de Deus: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc
1,38). Ela foi chamada pelo anjo Gabriel de “cheia de graça” e que ela “está
com o Senhor” (Lc 1,28). Além disso, ninguém amou Sua mãe melhor que o próprio
Jesus. E nenhuma mãe amou melhor seu Filho, Jesus Cristo, Deus-Conosco do que a
própria Maria, a mãe de Jesus. Ela acompanhava seu filho Jesus até ao pé da
cruz, enquanto muitos discípulos o abandonaram (Jo 19,25-27).
É claro que a resposta de Jesus para a
própria pergunta mostra que Jesus relativiza os vínculos familiares em função
da vontade de Deus. Com esta pergunta Jesus quer nos revelar algo muito
importante: o discípulo, cada cristão, cada cristã que vive os ensinamentos de
Jesus é um parente de Jesus. Jesus oferece aos homens a qualitativa intimidade
de sua família. A família humana de Jesus viveu conforme a vontade de Deus:
José que criou Jesus era chamado de “o justo”, aquele que vive segundo os
mandamentos de Deus (cf. Mt 1,19). Maria, a Mãe de Jesus foi chamada pelo anjo
de “cheia de graça” (cf. Lc 1,28).
Por isso, a família humana de Jesus serve de
exemplo para todas as famílias humanas. Que é possível formar uma família de
Deus nesta terra quando Jesus se torna o centro de todos. Quando Jesus fica no
meio, tudo se ordena e tudo se une e todos formarão um círculo de irmãos ao redor
de Jesus Cristo. Quando Cristo se torna o centro, todos ficarão olhando para
Ele para saber o que se deve fazer e como se deve fazer. Se alguém ocupar o
centro, que é o lugar de Cristo, todos terão um olhar sem direção ou cada um
vai criando sua própria direção. “Onde
te envaideceste, ali mesmo caíste” (Santo Agostinho. Serm. 131,5). Jesus Cristo deve ser o fator central para que todos
tenham a mesma direção: formar uma família divina logo nesta terra onde o amor
fraterno é a única identidade para todos: “Nisto
reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros”
(Jo 13,35). “Quando se enfraquece o
amor, também se enfraquece o fervor”, dizia Santo Agostinho (In ps. 85,24).
A única maneira de salvar a família humana ou qualquer comunidade é
transformá-la em família de Deus, família que vive de acordo com os mandamentos
de Deus.
Entre Deus e os homens já não há somente
relações frias de obediência e de submissão como entre o patrão e o empregado.
Com Jesus entramos na família divina, como seus irmãos e irmãs, como sua mãe.
Se em todos os meus atos e atitudes de cada dia, se em todos os minutos de
minha vida procurar me manter unido a Deus, serei irmão de Jesus, farei parte
da família de Deus desde aqui na terra junto aos outros irmãos e irmãs no mundo
inteiro que fazem a mesma coisa.
“Todo aquele que faz a vontade do meu Pai,
que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. O Reino
de Deus cria uma nova família que ultrapassa todos os laços terrenos sem
diminuir o valor da família. A vivência da vontade de Deus eleva a família
humana para o nível divino. Por isso, a frase de Jesus acima citada deve servir
de orientação para nossa vida diária. Será que faço parte da família de Jesus
ou estar dentro da “casa” de Jesus?
P. Vitus Gustama,svd
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