05/08/2015
FÉ SÓLIDA TRANFORMA O
IMPOSSIVEL NO POSSÍVEL
Quarta-Feira
da XVIII Semana Comum
“Posso afirmar que posso viver sem água
nem ar, mas não posso viver sem Deus. Podes arrancar-me os olhos que isso não
me mata. Podes arrancar-me o nariz que isso não me mata. Mas basta que destruas
minha fé, e estarei morto” (Mahatma Gandhi).
“Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1Jo 5,4)
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Evangelho: Mt 15,21-28
Naquele tempo, 21 Jesus retirou-se para
a região de Tiro e Sidônia. 22 Eis que uma mulher cananeia, vindo
daquela região, pôs-se a gritar: “Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim:
minha filha está cruelmente atormentada por um demônio!” 23 Mas, Jesus não lhe
respondeu palavra alguma. Então seus discípulos aproximaram-se e lhe pediram:
“Manda embora essa mulher, pois ela vem gritando atrás de nós”. 24 Jesus respondeu: “Eu
fui enviado somente às ovelhas perdidas da casa de Israel”. 25 Mas, a mulher,
aproximando-se, prostrou-se diante de Jesus, e começou a implorar: “Senhor,
socorre-me!” 26 Jesus lhe disse:
“Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-los aos cachorrinhos”. 27 A mulher insistiu:
“É verdade, Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da
mesa de seus donos!” 28 Diante disso, Jesus lhe disse: “Mulher, grande
é a tua fé! Seja feito como tu queres!” E desde aquele momento sua filha ficou
curada.
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O evangelista nos apresenta uma mulher que é uma
cananéia. Para o evangelista Marcos essa mulher é sírio-fenícia (Mc 7,26). Tiro
e Sidônia são cidades da Fenícia (atualmente, Líbano). Os fenícios se
designavam a si próprios de cananeus. Para os judeus, os cananeus, por serem
estrangeiros, eram um povo amaldiçoado por Deus por ser impuros. Neste sentido,
a mulher cananeia seria duplamente escrava por ser uma cananeia e mulher
(mulher nenhuma tinha valor. Nenhum testemunho da mulher tinha validade).
Essa mulher cananéia sai ao encontro de
Jesus. Ela sai do ambiente em que vive. Aqui
“sair” tem um sentido de querer uma mudança profunda. Sair é uma passagem. É uma
busca. É sair de si ao encontro de algo que tem valor. Jesus também sai da
Galileia. É assim a salvação. Deus sai ao encontro dos homens e os homens saem
ao encontro de Deus, seu Salvador. Não há lugares determinados para a graça e a
salvação. Não há lugares mais santos e
outros menos santos. Quando acontecer a saída de Deus ao encontro do homem e o
homem sai ao encontro de Deus, o lugar de encontro se transforma em lugar
santo. Se não houver esse encontro, um templo ou uma igreja continua sendo um
lugar como qualquer, menos como lugar santo. O encontro dos dois (Deus e o
homem) sempre resulta no milagre ou numa mudança radical.
A cananéia e sua filha são duas personagens
que representam aqui o paganismo. O estado da filha figura a condição dos
pagãos, possuídos por ideologia contrária a Deus. O pedido da mãe representa o
anseio profundo de encontrar a salvação em Jesus (compare Jo 12,21). A salvação
acontece precisamente no encontro da cananeia com Jesus.
1. A Salvação Trazida Por Jesus é Universal
O que tem por trás do relato sobre a cura da
filha de uma mulher cananéia é a chegada do Evangelho aos pagãos. Neste relato
usam-se os termos “cananéia”, apelativo dado à mulher cuja filha estava doente,
e “cachorro”. No Antigo Testamento o apelativo “cananéia” designa os pagãos. Do mesmo modo o termo
“cachorro” (animal impuro), que é para os judeus tem um sentido pejorativo,
designa os pagãos (impuros).
O relato nos mostra que, sendo judeu, Jesus
abre o diálogo para os pagãos, pois Ele foi enviado para salvar toda a
humanidade. Por sua vez, os pagãos, representados pela mulher cananéia,
reconhecem a messianidade de Jesus ao chamá-Lo de “Senhor e Filho de Davi” (Mt
15,22.25) e O adoram como Deus: “A mulher, aproximando-se, prostrou-se
diante de Jesus, e começou a implorar: “Senhor, socorre-me!”(Mt 15,25). “Prostrar-se é uma expressão de adoração.
Para enfatizar mais ainda o papel de Jesus
como o Salvador da humanidade o texto usa também o termo “pão” que no relato
tem um sentido simbólico: “Não fica bem tirar o pão dos filhos para
jogá-los aos cachorrinhos”. A mulher insistiu: “É verdade, Senhor; mas os
cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!”. “Comer as migalhas que caem da mesa dos
filhos” significa receber de Jesus o dom da cura para a filha da cananéia. O
pão alimenta e sustenta a vida. Jesus é Aquele que sustenta a vida da
humanidade, pois Ele é a própria vida e o Pão da vida (Jo 11,25; 14,6; cf. Jo
6,35.41.48.51.55).
2. Uma Pagã Que Nos Ensina a Termos Fé Em Jesus
O grandioso do relato do evangelho deste dia
é a forma como uma mulher pagã é colocada como modelo de fé em seu sentido mais
genuíno e original. Ela se abandona nos braços d’Aquele que vem da parte de
Deus (Jesus Cristo) e se declara fraca e limitada humanamente diante do
problema que afeta a vida de sua filha e consequentemente afeta também sua vida
como mãe. Em uma família ninguém sofre sozinho. A mãe reconhece a superioridade
e poder de Jesus, mostrando ao mesmo tempo a gravidade do problema que afeta
sua própria filha. O problema de sua filha é insustentável. Na sua declaração
essa mulher quer dizer a Jesus: “Sem Sua ajuda, Jesus, sem Seu poder, é
impossível sair do meu problema!”.
Essa mulher era uma Cananéia, uma pagã, uma
estrangeira. Jesus põe a prova sua fé usando uma frase que se utilizava para
desprezar os estrangeiros ou os pagãos: “cachorro”. Mas ela, confiada na
justiça e na misericórdia de Deus, responde sabiamente a Jesus: “Mas os
cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa dos seus donos”. Pela
sua fé verdadeira e profunda e pela perseverança na sua oração essa mulher é
premiada por Jesus: a cura de sua filha.
O evangelho nos mostra a fé de uma mulher que
não pertencia ao povo eleito, não pertencia à uma Igreja ou a uma religião, mas
tinha confiança e fé no poder de Jesus. Ela pode não pertencer a uma religião
ou a uma Igreja, mas ela pertence a Deus pela fé que tem no poder do
Deus-Encarnado, Jesus Cristo. Será que os que estão dentro da Igreja têm mais
fé do que os que estão fora da Igreja? Será que os que estão dentro da Igreja
são mais cristãos do que os que estão fora da Igreja? Será que os que estão
dentro da Igreja são mais humanos, gentis e educados do que os que estão fora
da Igreja? Será que os que estão dentro da Igreja são mais perseverantes na fé
do que os que estão fora da Igreja? Será que, por causa da fé e do amor, os que
são considerados fora da Igreja na verdade estão dentro da Igreja e os que são
considerados dentro da Igreja na verdade estão fora da Igreja? Será.....? “Todos somos mais ateus do que
acreditamos e mais crentes do que pensamos. Acho que os ateus não se opõem a
Deus, mas às criaturas de Deus que os fiéis lhe mostram” (René Juan
Trossero).
Ser pagão não depende da pertença ou não a
uma religião ou a uma Igreja. Ser pagão se define a partir do modo de viver.
Por isso, há cristãos-pagãos como também há pagãos- cristãos. Há cristãos que
perdem com facilidade sua fé e vivem sem esperança. São “cristãos” pagãos. Há
muitos que são considerados pagãos pelos outros, como a mulher Cananéia, mas
acreditam no poder de Deus incondicionalmente. São “pagãos” cristãos.
A mulher Cananéia não perde sua fé, não
protesta, não se revolta ainda que encare a humilhação: ser chamada de
cachorro. Ela conseguiu o que pedia, pois ela se abandonava totalmente nos
braços de Deus e encarava todos os tipos de obstáculos e dificuldades. Santo
Agostinho dizia que muitos não conseguem o que pedem porque são maus de coração
e por isso, eles têm que ser, primeiramente, bons. Ou muitos não conseguem o
que pedem porque pedem malmente, sem insistência no lugar de fazê-lo com
paciência, com humildade, com fé e por amor. Há que esforçar-se por pedir o que
bom para todos. A mulher Cananéia é boa mãe, pede algo bom e pede bem. Através
do evangelho de hoje o Senhor quer nos mover a termos fé e perseverança e a
vivermos na esperança porque Deus nos ama. Deus se vence com fé e não com
orgulho. De Deus se obtém tudo com confiança. Em Deus sempre encontra uma
acolhida quando cada um se aproxima com humildade e não com autossuficiência.
Essa mulher é um modelo acabado de fé e
oração unidas. Ela chama Jesus de “Senhor”, um título dado a Jesus pós-pascal.
Sua fé é orientada para a libertação do próximo, nesse caso de sua filha. E sua
oração cumpre aquilo que Jesus pede: a fé, confiança, perseverança e sem
desfalecimento.
Ela nos ensina que a fé e a oração devem
andar juntas. Quem tem fé em Deus precisa rezar. E quem reza, precisa ter fé. A
fé é a atitude básica de qualquer crente, de qualquer cristão, pois ela é a
resposta nossa diante da oferta do amor de Deus para nós. A oração evidencia,
por sua vez, a presença e a vitalidade de nossa fé em Deus.
P. Vitus Gustama,svd
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