sexta-feira, 31 de julho de 2015

05/08/2015
FÉ SÓLIDA TRANFORMA O IMPOSSIVEL NO POSSÍVEL

Quarta-Feira da XVIII Semana Comum


“Posso afirmar que posso viver sem água nem ar, mas não posso viver sem Deus. Podes arrancar-me os olhos que isso não me mata. Podes arrancar-me o nariz que isso não me mata. Mas basta que destruas minha fé, e estarei morto” (Mahatma Gandhi).


“Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1Jo 5,4)
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Evangelho: Mt 15,21-28

Naquele tempo, 21 Jesus retirou-se para a região de Tiro e Sidônia. 22 Eis que uma mulher cananeia, vindo daquela região, pôs-se a gritar: “Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim: minha filha está cruelmente atormentada por um demônio!” 23 Mas, Jesus não lhe respondeu palavra alguma. Então seus discípulos aproximaram-se e lhe pediram: “Manda embora essa mulher, pois ela vem gritando atrás de nós”. 24 Jesus respondeu: “Eu fui enviado somente às ovelhas perdidas da casa de Israel”. 25 Mas, a mulher, aproximando-se, prostrou-se diante de Jesus, e começou a implorar: “Senhor, socorre-me!” 26 Jesus lhe disse: “Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-los aos cachorrinhos”. 27 A mulher insistiu: “É verdade, Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!” 28 Diante disso, Jesus lhe disse: “Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como tu queres!” E desde aquele momento sua filha ficou curada.
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O evangelista nos apresenta uma mulher que é uma cananéia. Para o evangelista Marcos essa mulher é sírio-fenícia (Mc 7,26). Tiro e Sidônia são cidades da Fenícia (atualmente, Líbano). Os fenícios se designavam a si próprios de cananeus. Para os judeus, os cananeus, por serem estrangeiros, eram um povo amaldiçoado por Deus por ser impuros. Neste sentido, a mulher cananeia seria duplamente escrava por ser uma cananeia e mulher (mulher nenhuma tinha valor. Nenhum testemunho da mulher tinha validade).


Essa mulher cananéia sai ao encontro de Jesus. Ela sai do ambiente em que vive.  Aqui “sair” tem um sentido de querer uma mudança profunda. Sair é uma passagem. É uma busca. É sair de si ao encontro de algo que tem valor. Jesus também sai da Galileia. É assim a salvação. Deus sai ao encontro dos homens e os homens saem ao encontro de Deus, seu Salvador. Não há lugares determinados para a graça e a salvação. Não há lugares mais santos  e outros menos santos. Quando acontecer a saída de Deus ao encontro do homem e o homem sai ao encontro de Deus, o lugar de encontro se transforma em lugar santo. Se não houver esse encontro, um templo ou uma igreja continua sendo um lugar como qualquer, menos como lugar santo. O encontro dos dois (Deus e o homem) sempre resulta no milagre ou numa mudança radical.


A cananéia e sua filha são duas personagens que representam aqui o paganismo. O estado da filha figura a condição dos pagãos, possuídos por ideologia contrária a Deus. O pedido da mãe representa o anseio profundo de encontrar a salvação em Jesus (compare Jo 12,21). A salvação acontece precisamente no encontro da cananeia com Jesus.


1. A Salvação Trazida Por Jesus é Universal


O que tem por trás do relato sobre a cura da filha de uma mulher cananéia é a chegada do Evangelho aos pagãos. Neste relato usam-se os termos “cananéia”, apelativo dado à mulher cuja filha estava doente, e “cachorro”. No Antigo Testamento o apelativo “cananéia”  designa os pagãos. Do mesmo modo o termo “cachorro” (animal impuro), que é para os judeus tem um sentido pejorativo, designa os pagãos (impuros).


O relato nos mostra que, sendo judeu, Jesus abre o diálogo para os pagãos, pois Ele foi enviado para salvar toda a humanidade. Por sua vez, os pagãos, representados pela mulher cananéia, reconhecem a messianidade de Jesus ao chamá-Lo de “Senhor e Filho de Davi” (Mt 15,22.25) e O adoram como Deus: “A mulher, aproximando-se, prostrou-se diante de Jesus, e começou a implorar: “Senhor, socorre-me!”(Mt 15,25).  “Prostrar-se é uma expressão de adoração.


Para enfatizar mais ainda o papel de Jesus como o Salvador da humanidade o texto usa também o termo “pão” que no relato tem um sentido simbólico: “Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-los aos cachorrinhos”. A mulher insistiu: “É verdade, Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!”.  “Comer as migalhas que caem da mesa dos filhos” significa receber de Jesus o dom da cura para a filha da cananéia. O pão alimenta e sustenta a vida. Jesus é Aquele que sustenta a vida da humanidade, pois Ele é a própria vida e o Pão da vida (Jo 11,25; 14,6; cf. Jo 6,35.41.48.51.55).


2. Uma Pagã Que Nos Ensina a Termos Fé Em Jesus


O grandioso do relato do evangelho deste dia é a forma como uma mulher pagã é colocada como modelo de fé em seu sentido mais genuíno e original. Ela se abandona nos braços d’Aquele que vem da parte de Deus (Jesus Cristo) e se declara fraca e limitada humanamente diante do problema que afeta a vida de sua filha e consequentemente afeta também sua vida como mãe. Em uma família ninguém sofre sozinho. A mãe reconhece a superioridade e poder de Jesus, mostrando ao mesmo tempo a gravidade do problema que afeta sua própria filha. O problema de sua filha é insustentável. Na sua declaração essa mulher quer dizer a Jesus: “Sem Sua ajuda, Jesus, sem Seu poder, é impossível sair do meu problema!”.


Essa mulher era uma Cananéia, uma pagã, uma estrangeira. Jesus põe a prova sua fé usando uma frase que se utilizava para desprezar os estrangeiros ou os pagãos: “cachorro”. Mas ela, confiada na justiça e na misericórdia de Deus, responde sabiamente a Jesus: “Mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa dos seus donos”. Pela sua fé verdadeira e profunda e pela perseverança na sua oração essa mulher é premiada por Jesus: a cura de sua filha.


O evangelho nos mostra a fé de uma mulher que não pertencia ao povo eleito, não pertencia à uma Igreja ou a uma religião, mas tinha confiança e fé no poder de Jesus. Ela pode não pertencer a uma religião ou a uma Igreja, mas ela pertence a Deus pela fé que tem no poder do Deus-Encarnado, Jesus Cristo. Será que os que estão dentro da Igreja têm mais fé do que os que estão fora da Igreja? Será que os que estão dentro da Igreja são mais cristãos do que os que estão fora da Igreja? Será que os que estão dentro da Igreja são mais humanos, gentis e educados do que os que estão fora da Igreja? Será que os que estão dentro da Igreja são mais perseverantes na fé do que os que estão fora da Igreja? Será que, por causa da fé e do amor, os que são considerados fora da Igreja na verdade estão dentro da Igreja e os que são considerados dentro da Igreja na verdade estão fora da Igreja? Será.....? “Todos somos mais ateus do que acreditamos e mais crentes do que pensamos. Acho que os ateus não se opõem a Deus, mas às criaturas de Deus que os fiéis lhe mostram” (René Juan Trossero).


Ser pagão não depende da pertença ou não a uma religião ou a uma Igreja. Ser pagão se define a partir do modo de viver. Por isso, há cristãos-pagãos como também há pagãos- cristãos. Há cristãos que perdem com facilidade sua fé e vivem sem esperança. São “cristãos” pagãos. Há muitos que são considerados pagãos pelos outros, como a mulher Cananéia, mas acreditam no poder de Deus incondicionalmente. São “pagãos” cristãos.


A mulher Cananéia não perde sua fé, não protesta, não se revolta ainda que encare a humilhação: ser chamada de cachorro. Ela conseguiu o que pedia, pois ela se abandonava totalmente nos braços de Deus e encarava todos os tipos de obstáculos e dificuldades. Santo Agostinho dizia que muitos não conseguem o que pedem porque são maus de coração e por isso, eles têm que ser, primeiramente, bons. Ou muitos não conseguem o que pedem porque pedem malmente, sem insistência no lugar de fazê-lo com paciência, com humildade, com fé e por amor. Há que esforçar-se por pedir o que bom para todos. A mulher Cananéia é boa mãe, pede algo bom e pede bem. Através do evangelho de hoje o Senhor quer nos mover a termos fé e perseverança e a vivermos na esperança porque Deus nos ama. Deus se vence com fé e não com orgulho. De Deus se obtém tudo com confiança. Em Deus sempre encontra uma acolhida quando cada um se aproxima com humildade e não com autossuficiência.


Essa mulher é um modelo acabado de fé e oração unidas. Ela chama Jesus de “Senhor”, um título dado a Jesus pós-pascal. Sua fé é orientada para a libertação do próximo, nesse caso de sua filha. E sua oração cumpre aquilo que Jesus pede: a fé, confiança, perseverança e sem desfalecimento.


Ela nos ensina que a fé e a oração devem andar juntas. Quem tem fé em Deus precisa rezar. E quem reza, precisa ter fé. A fé é a atitude básica de qualquer crente, de qualquer cristão, pois ela é a resposta nossa diante da oferta do amor de Deus para nós. A oração evidencia, por sua vez, a presença e a vitalidade de nossa fé em Deus.

P. Vitus Gustama,svd

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