terça-feira, 28 de julho de 2015

31/07/2015
DEUS SE MANIFESTA NO NOSSO COTIDIANO: ESTEJAMOS ATENTOS

Sexta-Feira da XVII Semana Comum
 

Evangelho: Mt 13, 54-58

Naquele tempo, 54 dirigindo-se para a sua terra, Jesus ensinava na sinagoga, de modo que ficavam admirados. E diziam: “De onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres? 55 Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? 56 E suas irmãs não moram conosco? Então, de onde lhe vem tudo isso?” 57 E ficaram escandalizados por causa dele. Jesus, porém, disse: “Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família!” 58 E Jesus não fez ali muitos milagres, porque eles não tinham fé.
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Jesus chega a Nazaré, sua terra natal, pois em Nazaré é que José e Maria moraram com Jesus quando era menino. Jesus quer também levar sua mensagem para os nazarenos. Para isso Jesus aproveitou a celebração no sábado em uma sinagoga. E os nazarenos ficaram admirados. Mas trata-se de uma admiração que tem de recusa. “‘Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria... Então, de onde lhe vem tudo isso?’. E ficaram escandalizados por causa dele”. É assim a Palavra de Deus. Algumas pessoas se sentem tocadas no seu coração sob o apelo para a conversão (mudança de vida qualitativamente). Outras pessoas se sentem atingidas na sua arrogância e tomam atitudes de defesa para não perder seus interesses egoístas. Trata-se de uma reação do amor próprio ferido. Preferem ser destruídas na própria arrogância a aceitar a salvação.


Os nazarenos se perguntam:De onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres? Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não moram conosco? Então, de onde lhe vem tudo isso?”. Somente  os leitores do Evangelho de Mateus conhecem a resposta, que Jesus foi gerado “por obra do Espirito Santo” (Mt 1,20).


Os conterrâneos de Jesus, os nazarenos, acham conhecer Jesus, mas na verdade eles não O conhecem na sua profundidade. Não há nada que seja tão perigoso do que a pretensão de saber de tudo. Uma pessoa que tem essa pretensão se fecha em si mesma e deixa de aprender e por isso, deixa de crescer e de avançar na vida. A humildade sempre nos move a aprender mais para poder partilhar com os demais. “Você sabe? Então, ensine. Você não sabe, então, aprenda”, dizia Confúcio que viveu quinhentos anos antes de Cristo. Para ter resultados extraordinários precisamos ter humildade para aprender. A falta da humildade impede alguém de aprender mais e de continuar a crescer e impede alguém de ser irmão do outro. A pessoa que se fecha em si se torna conservadora. Todo conservador não tem futuro, pois não aceita qualquer novidade. Ela acha que não tenha mais nada para aprender. Certamente essas pessoas são os familiares de Jesus; são os mais próximos de Jesus. Os nazarenos não prestam atenção para o conteúdo da mensagem de Jesus, mas quem a pronuncia. Aprendemos que precisamos saber classificar quem fala e de que se fala. Se houver a verdade na fala de uma pessoa (não importa quem fala), não teremos razão nenhuma para recusar a verdade contida nessa fala. Mais tarde Jesus nos dará o seguinte conselho: “Fazei e observai tudo quanto vos disserem (escribas e fariseus). Mas não imiteis as suas ações, pois dizem, mas não fazem”. O Espirito de Deus para onde quiser e por quem quiser.


Tenho medo de que essas pessoas sejamos nós também. Nós que achamos seguidores de Jesus, frequentadores de cultos ou celebrações, mas não queremos andar ou caminhar atrás de Jesus para segui-Lo. A palavra “seguir” supõe movimento, dinâmica, peregrinação. O verdadeiro seguidor é aquele que sempre olha para aquilo que seu Mestre faz, e escuta aquilo que o Mestre diz e ensina. O verdadeiro seguidor é aquele que mantém a mente e coração abertos, disponíveis, e prestes a renunciar tudo para aprender além do que já sabe ou supostamente sabe. Só seguindo atrás de Jesus é que poderemos ver muito mais coisas na vida e entenderemos o significado de cada coisa e acontecimento. Quem vive dentro de quatro paredes vê sempre as mesmas coisas e por isso, não há surpresa nem novidade. Ao sair do quatro para ir à rua, começam as surpresas para sua vida.


Não é ele o filho do carpinteiro?”.


Os nazarenos reprovam a origem humilde de Jesus. Para eles, Jesus é nada mais do que um simples filho de um carpinteiro. Por ser filho de um carpinteiro, as palavras de Jesus não valem para eles embora nelas se encontrem toda a verdade. É preciso sabermos distinguir quem fala e o que se fala. Se na fala de alguém, mesmo que não gostamos dele, contém verdade, temos que aceitar essa verdade. Jesus nos deu o seguinte critério: “Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem” (Mt 23,3). Não podemos estar do lado de ninguém e sim do lado da verdade e do amor. Os nazarenos esperam um Messias cheio de glória e poder; um messias misterioso, celestial e transcendente. Mas Deus não encaixa em nossas ideias estereotipadas. Deus cabe no nosso coração, mas não cabe na nossa cabeça, pois o coração sente aquilo que os olhos não veem. O coração compreende quando a mente se tranquiliza. Além disso, é preciso que ouçamos aquilo que alguém diz e não para aquele que o diz.


Os nazarenos preferem a imagem de Deus que eles têm na cabeça ao próprio Deus. Para eles, Jesus é cotidiano demais para ser Deus. Este é o maior perigo para qualquer adepto de qualquer religião ou Igreja: identificar a imagem que tem de Deus com o próprio Deus. Por isso, vale a pena cada um fazer esta pergunta: “A imagem de Deus que você tem será que é o próprio Deus?”. Muitas vezes abandonamos o próprio Deus para ficar com a imagem que achamos que seja Deus. Muitas vezes condenamos os outros a partir da imagem de Deus que temos. Quem sabe que os que se acham crédulos são muito mais incrédulos como os próprios conterrâneos de Jesus.


 “Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família!”.  E Jesus não fez ali muitos milagres, porque eles não tinham fé.


As pessoas da cidade de Jesus (vilarejo de Nazaré), do lugar de seu trabalho não se dispõem de tempo para meditar se ali há um Profeta ou mais que um Profeta. Basta-lhes a vida rotineira. Falta-lhes a fome da verdade. Falta-lhes o discernimento. Falta-lhes a reflexão sobre a realidade. Deus se manifesta no nosso cotidiano sem espetáculo, como o vento que ao vemos, mas sentimos o efeito de sua presença ou de sua passagem. E a novidade do Reino trazida por Jesus suscita neles apenas dúvidas, suspeitas e gozação. É o grande desafio da própria encarnação. É o grande mistério da fé. A fé somente floresce em campos fecundos que se deixam regar com chuva do céu. Os mistérios de Deus somente são compreendidos com coração, pois o coração sente aquilo que a inteligência desconhece.


Ao longo da história tem tido muitas pessoas inspiradas por Deus para denunciar situações injustas e más condutas. Algumas são conhecidas. Mas há muitíssimos profetas anônimos, gente que se atreve a denunciar o que é injusto e desonesto. Muitos desses profetas pagam com a própria vida pela denúncia feita, pois os que defendem os próprios interesses, e não os interesses comuns não têm piedade de eliminar quem os denuncia.


Uma das funções como batizados é a função profética: anunciar o bem e denunciar o mal. Um batizado não pode ficar em silêncio diante da desonestidade e da injustiça. O silêncio nos faz cúmplices. Somos chamados a ser profetas na nossa atualidade.


Não somente somos chamados a denunciar, mas também a ouvir os que denunciam. Quem sabe que dentro dessa denúncia estamos nós também, pois muitas vezes nos sentimos tão cômodos em nossa vidinha tão perfeitamente organizada, em nossas próprias ideias tão formadas e preestabelecidas, em nossa maneira inflexível de entender as coisas, em nossa imagem estática de Deus que nos fazem surdos diante do apelo do Espírito de Deus para fazer e seguir o bem. Se há verdade na denúncia, temos que agradecer a Deus, pois é um chamado para voltarmos a trilhar o caminho do bem. Fé é caminhada. Quando ficamos incomodados, paramos de ter fé. É mais cômodo crer em um Deus todo-poderoso que controla tudo o que ocorre do que em um Deus que sofre com seus filhos, que é crucificado para salvar os outros filhos de Deus, e em um Deus que nos criou para que resolvamos as injustiças do mundo. No ritmo da velocidade do avanço tecnológico precisamos estar atentos para ver e ouvir o que Deus quer nisto tudo. Não tapemos nossos ouvidos nem fechemos nossos olhos nem paralisemos nossa mente. Precisamos tempo todo estar atentos ao que ocorre para que possamos nos posicionar como filhos e filhas de Deus, luz do mundo e sal da terra. Precisamos ter muita flexibilidade e disponibilidade para acolher aquilo que Deus nos quer dizer, inclusive através de quem menos esperamos, pois o Espírito de Deus sopra para onde quer e por quem quer.


Pare e verifique, Deus se manifesta na nossa vida cotidiana. Pergunte-se: “De que maneira Deus se manifesta a mim hoje? O que Ele quer me manifestar? Para que Ele se manifesta?”. Estejamos todos atentos. Em cada momento Deus se manifesta a nós.

P. Vitus Gustama,svd

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