10/07/2015
SER SIMPLES, PRUDENTE E
PERSEVERANTE
Sexta-Feira da XIV Semana Comum
Evangelho: Mt 10,
16-23
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 16 “Eis que eu vos envio como ovelhas
no meio de lobos. Sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as
pombas. 17 Cuidado com os homens, porque eles vos entregarão aos tribunais e
vos açoitarão nas suas sinagogas. 18 Vós sereis levados diante de governadores
e reis, por minha causa, para dar testemunho diante deles e das nações. 19
Quando vos entregarem, não fiqueis preocupados como falar ou o que dizer. Então
naquele momento vos será indicado o que deveis dizer. 20 Com efeito, não sereis
vós que havereis de falar, mas sim o Espírito do vosso Pai é que falará através
de vós. 21 O irmão entregará à morte o próprio irmão; o pai entregará o filho;
os filhos se levantarão contra seus pais, e os matarão. 22 Vós sereis odiados
por todos, por causa de meu nome. Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo.
23 Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo,
vós não acabareis de percorrer as cidades de Israel, antes que venha o Filho
do Homem.
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Estamos ainda no discurso de Jesus sobre a
missão (Mt 9,36-11,1). No texto do
evangelho de hoje Jesus nos recorda que a luta do discípulo na missão contra o
mal está em desvantagem: “Eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos”.
“Ovelha” é a presa fácil para o lobo. Ovelha é mansa, indefesa para qualquer
ataque. Lobo é feroz, forte e persistente.
Como os discípulos devem agir neste tipo de
ação? “Sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas”. Simples e prudente são as palavras de Jesus.
“Sejam prudentes como as serpentes!”.
A palavra “prudência”
provem do latim “prudens-entis” que
significa precavido, competente. A prudência é a capacidade de ver, de
compenetrar-se e de ajustar-se à realidade. A prudência oferece a capacidade de
discernir o correto do incorreto, o bom do mau, o verdadeiro do falso, o sensato
do insensato a fim de guiar nossas decisões e ações. A verdade é a regra de
ação para qualquer prudente. O homem sábio é sempre guiado pela prudência.
“Sejam simples como as pombas!”. A simplicidade é a lealdade, transparência, confiança na
verdade e a recusa de qualquer meio de violência. A simplicidade é a
transparência do olhar, pureza do coração, sinceridade do discurso, retidão da
alma e do comportamento. A simplicidade é a espontaneidade, a improvisação
alegre, desprendimento, desprezo do prevalecer. A simplicidade é o esquecimento
de si, é nisso que ele é uma virtude. A simplicidade é a virtude dos sábios e a
sabedoria dos santos. O Reino de Deus se revela na debilidade e na simplicidade
de Jesus e de seus mensageiros. A fortaleza de Deus encontra seu cumprimento na
debilidade (cf. 2Cor 12,9). Toda a história da Igreja confirma esta verdade.
São os pequenos e os humildes que fizeram as maiores obras da evangelização,
como Madre Teresa de Calcutá e tantos outros.
Mas a debilidade não
é presunção, nem ligeireza, nem superficialidade ou ingenuidade. Por isso,
segundo Jesus, a debilidade ou a mansidão tem que ser acompanhada com a
prudência. A prudência é a capacidade e a humildade de valorizar e de levar em
consideração as situações concretas para agir sabiamente. Mas trata-se sempre,
por suposto, da prudência de Cristo, não da prudência do mundo baseada em
cálculos cínicos, em diplomacia interesseira e de compromisso sempre em busca
de uma salvação própria, que é uma manifestação do egoísmo. O egoísmo não
convive com o amor, pois o amor leva o homem ao encontro do outro para
oferecer-lhe ajuda. O egoísmo devora tudo o que o outro tem.
“Cuidado com os
homens, porque eles vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas
sinagogas. Vós sereis levados diante de governadores e reis, por minha causa,
para dar testemunho diante deles e das nações”, acrescentou Jesus.
O cristão é aquele
que conhece e crê nas Palavras do Senhor (ensinamentos) e põe em prática os
mesmos ensinamentos vivendo o mesmo estilo de Sua vida. Em outras palavras, o
cristão aceita ter a mesma sorte do Senhor Jesus vivendo o que sabe e crê, ou o
cristão não pode ser chamado como tal ou nem pode ser considerado como cristão.
Santo Agostinho dizia: “O nome de cristão traz em si a conotação de
justiça, bondade, integridade, paciência, castidade, prudência, amabilidade,
inocência e piedade. Como podes explicar a apropriação de tal nome se tua
conduta mostra tão poucas dessas muitas virtudes?” (De vit. Christ.6).
Jesus não esconde a
verdade aos cristãos: o evangelho provoca, muitas vezes, a oposição e
perseguição. Se como cristãos somos perseguidos é porque nossa fé é profética
por natureza. O profetismo, isto é anunciar e denunciar, é um aspecto
constitutivo do cristianismo. O cristão deve anunciar o Reino de Deus neste
mundo e denunciar os valores que desumanizam a própria humanidade e pisam sobre
a fraternidade e a igualdade. Se a fé cristã deixar de ser profética, ela
passará a ser algo vergonhoso, pois não iluminará mais a humanidade nem dará
sabor à vida. Se os cristãos ficarem calados diante da injustiça, da opressão,
da maldade ou do pecado para não complicar sua própria existência, eles viverão
um cristianismo falso. Se os cristãos optarem por Deus em favor dos homens,
eles entrarão em conflito com os poderes políticos ou ideológicos que os
escravizam, e sofrerão a perseguição, a incompreensão e todo tipo de
calamidades. Jesus anuncia a impossibilidade de viver autenticamente a fé sem
um compromisso pessoal contra todo tipo de pecado.
Jesus recomenda a
prudência e promete a assistência do Espírito capaz de animar a vida do cristão
e dar a valentia para superar as dificuldades: “Quando vos entregarem, não
fiqueis preocupados como falar ou o que dizer. Então naquele momento vos será indicado
o que deveis dizer. Com efeito, não sereis vós que havereis de falar, mas sim o
Espírito do vosso Pai é que falará através de vós”. Mas podemos ser
perseguidos por vivermos os valores ensinados por Cristo, mas jamais podemos
ser perseguidores.
O discípulo é pobre e está sem arma e deve
ser desarmado; ele é somente rico na fé e na validez do anuncio, pois trata-se
da Palavra de Deus que tem por objetivo salvar os homens e será a ultima
palavra para a humanidade. A missão exige um ambiente de debilidade para forçar
o discípulo a ter fé permanentemente em Deus e para tirar qualquer tipo de
ilusão como discípulo. É Deus quem opera e não os homens. Os homens são
instrumentos nas mãos de Deus.
Jesus reconhece que a oposição e a
perseguição vêem, muitas vezes, da própria família: “O irmão entregará seu
irmão à morte. O pai, seu filho. Os filhos levantar-se-ão contra seus pais e os
matarão”. O ódio pode nascer em qualquer pessoa e em qualquer lugar. Jesus
nos sugere uma só solução: “Permanecei fieis!”. É conservar a firmeza e o
valor, contra toda decepção, contra toda oposição e contra todo fracasso. O que
conta é a salvação eterna. Precisamos saber que Jesus está conosco. Na
obscuridade do fracasso estamos seguros de que Jesus, com toda certeza, virá e salvará
os seus. Mas Jesus nos alerta e nos afirma: “Aquele que perseverar até o fim,
será salvo”. Será que sou perseverante em tudo como cristão? Perseverança é a
capacidade de resistir até o fim por causa da meta (nobre) a ser alcançada.
O discípulo é pobre e está sem arma e deve
ser desarmado; ele é somente rico na fé e na validez do anuncio, pois trata-se
da Palavra de Deus que tem por objetivo salvar os homens e será a ultima
palavra para a humanidade. A missão exige um ambiente de debilidade para forçar
o discípulo a ter fé permanentemente em Deus e para tirar qualquer tipo de
ilusão como discípulo. É Deus quem opera e não os homens. Os homens são
instrumentos nas mãos de Deus.
P. Vitus Gustama, SVD
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