30/07/2015
SER BOM É SER ETERNO
Quinta-Feira da XVII Semana Comum
Evangelho: Mt 13, 47-53
Naquele tempo,
disse Jesus à multidão: 47 “O Reino dos Céus é
ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. 48
Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e
recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam. 49
Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus
dos que são justos, 50 e lançarão os maus na fornalha de
fogo. E aí, haverá choro e ranger de dentes. 51
Compreendestes tudo isso?” Eles responderam: “Sim”. 52
Então Jesus acrescentou: “Assim, pois, todo mestre da Lei, que se torna
discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro
coisas novas e velhas”. 53 Quando Jesus terminou de contar essas
parábolas, partiu dali.
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Estamos na parte final do discurso de Jesus
sobre o Reino de Deus em parábolas (Mt 13). Desta vez Jesus conta uma parábola
sobre a rede na pescaria em que no fim haverá a seleção entre os peixes bons e
os peixes que não prestam: “Quando está cheia, os pescadores puxam a rede
para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que
não prestam”. O conteúdo coincide com a parábola do trigo e do joio (Mt
13,24-30). A oposição de “bons” e “maus” corresponde à das árvores boas e más
(Mt 7,15-19). O objetivo da parábola é orientar os discípulos para que tomem decisão
de praticar o bem no presente, pois somente os que praticam o bem podem chegar à
vida plena com Deus (cf. Mt 25,34-36.40).
Na vida cotidiana sempre selecionamos e
escolhemos o que é bom ou o que é melhor.
Selecionamos boas amizades. Selecionamos algo de bom ou de melhor para comprar,
para comer, para morar, selecionamos roupa melhor, e assim por diante. Vivemos
selecionando o que é bom ou o que é melhor. O bom ou o melhor é sempre o objeto
do apetite ou do desejo do homem, qualquer que seja esse objeto. O ruim é, ao
contrário, o objeto de ódio ou de aversão do homem. Mas nem tudo o que
desejamos é bom, mas tudo o que é bom sempre desejamos. A bondade atrai, pois
ela agrada e edifica. A bondade é a própria perfeição possuída por um ser. Por
possuir a bondade, um ser que a tem é capaz de dar a outro a perfeição que lhe
falta.
Quando Jesus fala para os lavradores, Jesus
usa a colheita para falar sobre o Reino de Deus. Jesus usa ilustração sobre a
pescaria quando fala para os pescadores. Com esta ilustração Jesus quer dizer
aos pescadores que até a pescaria pode falar sobre algo de Deus para eles.
Quando Jesus compara o Reino de Deus a uma
rede que é lançada sobre todos, mas que só os peixes bons são selecionados, ele
está dizendo que se trata de uma coisa seletiva, em que a bondade é que tem
valor e permanece para sempre. A bondade é sinal de amabilidade. Quem ama
porque é bom. Quem é bom, ama. A bondade
é algo que em si tem algo divino, pois Deus é a Bondade por excelência (cf. Mc
10,18). Por isso, a bondade tem uma marca de eternidade.
Os maus, ao contrário, vão fazer parte de
outro reino, onde as pessoas somente vão odiar-se, segundo Jesus. A expressão:
“Chorar e ranger os dentes” mostra bem como é a pessoa que odeia: vive como que
rangendo os dentes. Eternamente infeliz. A frustração definitiva do homem
(pranto e ranger de dentes) é perder a vida para sempre. A grande frustração do
homem é sua incapacidade de viver na bondade, no bem, na compaixão, na
simplicidade, na solidariedade. A bondade atrai. A simplicidade atrai. A
arrogância, a prepotência, o orgulho, o complexo de superioridade afasta as
pessoas e mata a caridade e a igualdade, elimina a comunhão fraterna e afasta
os demais. Qualquer arrogante, prepotente, orgulhoso, ambicioso vive na
tremenda solidão. Viver é conviver. Através da convivência saudável é que
podemos crescer como seres humanos. Até a própria vulnerabilidade da
convivência nos ajuda a crescermos como pessoas saudáveis.
A parábola da rede lida neste dia se refere
ao julgamento final. A imagem da pesca ilustra a dinâmica do Reino de Deus
feita de perdas e ganhos. Uma vez a rede lançada ao mar, a pescaria já não
depende da vontade do pescador. Cada lançada de rede é uma surpresa. A seleção
será feita somente no final da pescaria, quando os peixes bons são colocados em
cestas, enquanto os maus são jogados fora.
A parábola propõe a todos nós a sorte final,
para orientar-nos na decisão presente. Quando soubermos para onde vamos,
saberemos também escolher por onde devemos caminhar (saber escolher o caminho).
Os únicos que chegam à vida em plenitude, pela misericórdia de Deus, são os que
produzem fruto bom nesta vida; são os que em si tem a marca de eternidade como
a bondade, o amor, a compaixão, a solidariedade e assim por diante. Tudo que tem algo divino em mim e na minha vivência
será reconhecido por Deus (cf. Mt 25,31-46). A sabedoria cristã consiste no
discernimento dos verdadeiros valores do Evangelho como amor, partilha,
solidariedade, compaixão, perdão, honestidade, justiça, paz etc., e em sua
aplicação para as circunstâncias atuais. Há que estabelecer uma escala de
valores para que cada cristão possa orientar sua maneira de viver no presente.
Os outros valores devem estar subordinados em função dos valores superiores do
Reino de Deus.
Mas ao mesmo tempo, esta parábola quer nos
recordar que somente Deus tem a competência na seleção entre os bons e os maus
no fim de cada história. Cristão nenhum tem condições para classificar quem vai
para o céu e quem não vai para lá, pois sua própria salvação ainda não está
garantida, pois ele continua sendo pessoa capaz de pecar em qualquer momento. É
preciso olharmos para cada ser humano como filho(a) de Deus e nosso irmão. Como
dizia Santo Agostinho: “Amando ao próximo tu limpas os olhos para ver a
Deus” (In Joan. 17,8). Quanto mais santo for o homem, mais se
reconhecerá como pecador. A conversão não é uma carreira acabada. A conversão é
diária, pois somos capazes de optar por outros valores em nome de algum
interesse não-cristão. Deixemos Deus determinar a qualidade de cada um e não
nos arroguemos pelas qualidades que temos, pois tudo de bom em nós tem sua
origem no Supremo Bem que é Deus. Tudo de bom em nós deve ser partilhado para
com os outros. Fazemos tudo de bom, porque Deus da bondade faz isso. “Faze o
que deves fazer. E faze-o bem. Esta é a única norma para alcançar a perfeição”,
dizia Santo Agostinho (In ps. 34,2,16). Somos prolongamento da
generosidade do Deus-Criador que criou tudo para o bem da humanidade
gratuitamente. Temos apenas o direito de usufruto. Esse direito cessará neste
mundo cessará quando terminar nossa caminhada na história.
Deus tem paciência para esperar os frutos
bons de cada um de nós. a história é o tempo para crescermos no bem e na
bondade e para nos amadurecermos como filhos e filhas de Deus. Primordialmente, somos bons porque tudo o que Deus
criou era bom (cf. Gn 1,1ss). Deus aguarda a colheita, não diminuída por
prematuras intervenções de escolha. Só então, no fim, haverá a colheita, com
base na realidade de ser grão ou joio/cizânia, peixe bom ou mau, de ser
caridoso ou egoísta. É uma advertência eficaz, embora tácita: Deus é paciente
com todos e deixa aos pecadores, cada um de nós, tempo para amadurecer sua
conversão; Deus sabe esperar a livre decisão do homem, cabe a cada um escolher
ser bom grão e bom peixe e não peixe imprestável.
Portanto, é prudente premunir-se, pensar
enquanto é tempo, decidir-se a fazer o bem, ser útil aos outros, ser peixe bom,
ser selecionado por Deus no fim de nossa história. Quem quer seguir a Jesus
deve viver o presente, mas sempre com a visão do futuro de Deus que começa no
nosso hoje.
Jesus concluiu o discurso sobre o Reino em parábolas
dizendo: “Compreendestes tudo isso?”
Eles responderam: “Sim”. Então Jesus acrescentou: “Assim, pois, todo mestre da
Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que
tira do seu tesouro coisas novas e velhas”.
Ouvir e entender devem andar juntos. Do reto
entender depende o agir correto. Somente aquele que estiver em sintonia com os
ensinamentos do Senhor será capaz de agir conforma a vontade de Deus. Eu preciso
me esforçar para entender os ensinamentos de Jesus Cristo para que não me
desvie de seus imperativos. Para agir de acordo com a Palavra de Deus eu devo entende-la,
primeiro. Somente este entender é que abre caminhos para agir de acordo com a
Palavra de Deus. Todos os cristão devem fazer com que a Palavra de Deus possa
ser entendida pelos ouvintes. Trata-se de ensinar de acordo com a autoridade de
Jesus, isto é, quando se identificam com a maneira de viver e de atuar de Jesus
Cristo. Quem quiser ensinar deverá ele próprio estar bem instruído. Quem para
de aprender também para de crescer e para de fazer os outros crescerem.
P. Vitus Gustama, SVD
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