SÃO TIAGO MAIOR, 25/7/2015
SER TESTEMUNHA DA FÉ NA VIDA QUE NÃO ACABA
Evangelho: Mt
20,20-28
20 Naquele tempo, a mãe dos filhos de Zebedeu
aproximou-se de Jesus com seus filhos e ajoelhou-se com a intenção de fazer um
pedido. 21 Jesus perguntou: “O que tu queres?” Ela respondeu: “Manda que estes
meus dois filhos se sentem, no teu Reino, um à tua direita e outro à tua
esquerda”. 22 Jesus, então, respondeu-lhes: “Não sabeis o que estais pedindo.
Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?” Eles responderam: “Podemos”.
23 Então Jesus lhes disse: “De fato, vós bebereis do meu cálice, mas não
depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. Meu Pai é
quem dará esses lugares àqueles para os quais ele os preparou”. 24 Quando os
outros dez discípulos ouviram isso, ficaram irritados contra os dois irmãos. 25
Jesus, porém, chamou-os e disse: “Vós sabeis que os chefes das nações têm poder
sobre elas e os grandes as oprimem. 26 Entre vós não deverá ser assim. Quem
quiser tornar-se grande, torne-se vosso servidor; 27 quem quiser ser o
primeiro, seja vosso servo. 28 Pois, o Filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos”.
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Sobre Apóstolo São Tiago Maior
O apóstolo Tiago Maior é irmão de João. Ele
ocupa o segundo lugar logo depois de Pedro (Mc 3, 17), ou o terceiro lugar
depois de Pedro e André no Evangelho de Mateus (Mt 10, 2; Lc 6,14) e de Lucas
(6, 14), ou depois de Pedro e de João (At 1,13). Ele faz parte do grupo dos
três discípulos privilegiados (Pedro, Tiago e João) que foram admitidos por
Jesus em momentos importantes da sua vida, especialmente na Transfiguração de
Jesus (Mc 9,2-13; Mt 17,1-13; Lc 9,28-36) e no horto do Getsêmani (Mc
14,32-41;Mt 26,36-46; Lc 22,39-46).
Uma tradição sucessiva, que remonta pelo menos
a Isidoro de Sevilha, relata que São Tiago Maior permaneceu algum tempo na
Espanha para evangelizar aquela importante região que fazia parte do Império
Romano. Mas outra tradição disse que o seu corpo teria sido transportado para a
cidade de Santiago de Compostela na Espanha onde até hoje essa cidade continua
sendo um lugar de veneração e objeto de peregrinações.
Graças ao Apóstolo São Tiago, como a outros
Apóstolos a Boa Notícia de salvação chega até nós hoje. Por nossa vez não
podemos deixar a Palavra de Deus morrer em nossas mãos. Precisamos ser
apóstolos na atualidade.
Mensagem da Festa do Apostolo São Tiago Maior
Sempre que celebramos a festa de um apóstolo,
fazemos memória do fato fundacional da Igreja. Nossa Igreja é chamada a Igreja
apostólica e nossa fé é a fé apostólica, fé que foi nos transmitida pelos
apóstolos, testemunhas oculares da vida de Jesus. Falar da fé apostólica
significa que nossa fé, nossa esperança, nossa vida de comunidade tem como base
a experiência dos apóstolos que estiveram perto de Jesus e o acompanharam até a
morte e testemunharam sua ressurreição. Falar da “fé apostólica” significa
sentir-se parte de uma longa cadeia de homens e mulheres que em muitos lugares
e de muitas maneiras foram atraídos por esse Jesus que os apóstolos conheceram
e viveram a mesma experiência que eles viveram e transmitiram aos demais. Falar
da fé apostólica significa que tudo que cremos e vivemos não é algo que foi
inventado. A fé que os apóstolos viveram e que é transmitida para nós hoje.
O Novo Catecismo da Igreja
Católica
no artigo 857 afirma: “A Igreja é
apostólica, porque está fundada sobre os Apóstolos. E isso em três sentidos:
1.
-foi
e continua a ser construída sobre o «alicerce dos Apóstolos» (Ef 2, 20),
testemunhas escolhidas e enviadas em missão pelo próprio Cristo;
2.
-guarda
e transmite, com a ajuda do Espírito Santo que nela habita, a doutrina, o bom
depósito, as sãs palavras recebidas dos Apóstolos;
3.
-continua
a ser ensinada, santificada e dirigida pelos Apóstolos até ao regresso de
Cristo, graças àqueles que lhes sucedem no ofício pastoral: o colégio dos
bispos, assistido pelos presbíteros, em união com o sucessor de Pedro, pastor
supremo da Igreja: ‘Pastor eterno, não abandonais o vosso rebanho, mas sempre o
guardais e protegeis por meio dos santos Apóstolos, para que seja conduzido
através dos tempos, pelos mesmos chefes que pusestes à sua frente como
representantes do vosso Filho, Jesus Cristo’”.
E no artigo
869 do mesmo Catecismo lê-se:
“A Igreja é apostólica: está edificada sobre alicerces duradouros, que
são os Doze apóstolos do Cordeiro; é indestrutível; é infalivelmente mantida na
verdade: Cristo é quem a governa por meio de Pedro e dos outros apóstolos,
presentes nos seus sucessores, o Papa e o colégio dos bispos”.
E os apóstolos são as testemunhas da
ressurreição de Jesus Cristo; são testemunhas de que para aquele que aceita
Jesus Cristo não conhece a morte, pois ressuscitará como Jesus Cristo
ressuscitou. Os apóstolos são proclamadores do triunfo de Jesus sobre a morte,
portanto, são os primeiros anunciadores da salvação para todos os homens. E os
apóstolos faziam tal proclamação com valentia, sem medo porque era fruto da
convicção profunda que produz a verdadeira fé.
Como diz São Paulo: “Sustentados pelo mesmo espírito de fé, conforme o
que está escrito: ‘Eu creio e, por isso, falei’, nós também cremos e, por isso,
falamos, certos de que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará
também com Jesus e nos colocará ao seu lado” (2Cor 4,13-14). Quando você tem
realmente convicção de uma coisa, você jamais se entregará. Você vai lutar até
o fim. Assim foi a vida dos apóstolos. A valentia e a ousadia dos apóstolos não
se detinham nem sequer diante das ameaças dos poderosos porque estavam com uma
grande convicção da ressurreição do Senhor. São Tiago foi o primeiro de todos a
pagar com sua própria vida a intrepidez de seu testemunho.
Nós somos encarregados de continuar no mundo
esse mesmo testemunho dos apóstolos. Somos chamados e enviados a ser
testemunhas da ressurreição, da vida sem fim. Se nós acreditamos realmente na
ressurreição, devemos respeitar a vida, a nossa própria e a dignidade da vida
dos outros no seu início, na sua duração e no seu fim na história. Quem
desrespeita a própria vida e a vida dos outros, nega a ressurreição. Se
realmente acreditamos na ressurreição temos que ter certeza de que a vida não
termina aqui, pois a vida é de Deus (cf. Jo 11,25; 14,6). Se acreditamos realmente
na ressurreição devemos ter certeza de que os que nos precederam estão em
comunhão conosco e intercedem por nós como nossos irmãos. Se realmente
acreditamos na ressurreição não devemos prolongar nossa tristeza pelo
falecimento de nosso irmão/ nossa irmã, nosso pai/nossa mãe, marido/esposa, filho/filha,
pois eles apenas voltaram para a casa do Pai (cf. Jo 14,1-6). Se acreditamos
realmente na ressurreição, devemos ter certeza de que o amor dos que nos
precederam para a eternidade não morre, pois o amor é o nome próprio de Deus:
“Deus é amor”, disse são João (1Jo 4,8.16). São Paulo escreveu: “Se o
Espírito d'Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele,
que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos
corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós” (Rm 8, 11). E o
Novo Catecismo da Igreja Católica afirma: “Crer na ressurreição dos mortos foi,
desde o princípio, um elemento essencial da fé cristã. A ressurreição dos
mortos é a fé dos cristãos: é por crer nela que somos cristãos” (Artigo 991):
Portanto, devemos revisar com seriedade a
nossa fé na ressurreição e a qualidade de nossa maneira de testemunhar essa fé:
se nosso testemunho realmente provém de uma convicção interior ou não. A prova
disto é a nossa perseverança em tudo a exemplo dos apóstolos.
Por isso, ser cristão, como lição tirada do
evangelho deste dia, não pode ser um pretexto para situar-se bem no mundo, para
ficar nos primeiros postos ou posições, como pediram os dois irmãos, Tiago e
João. Se viver desta maneira, a religião é capaz de cair no perigo de fanatismo
e na violência. Ser cristão é seguir Jesus Cristo. Seguir Cristo significa
acompanhá-lo em cada momento. É adotar a vida dele na nossa vida e sua missão
na nossa missão.
O maior perigo para qualquer cristão,
especialmente para aqueles que trabalham na Igreja do Senhor é o mesmo:
converter a autoridade em poder e domínio e não em serviço. Quem busca o poder,
e uma vez no poder será difícil perceber e achar que está errado. Toda autoridade
que se exerce como poder e não como serviço tiraniza e oprime. Quem exerce a
autoridade puramente como serviço ao irmão e à comunidade tem um mérito
extraordinário. O poder já é perigoso, muito mais ainda super-poderoso.
Celebrar a Eucaristia é comer o pão e beber o
cálice. Com esse gesto de comunhão significamos nossa comunhão com Jesus e com
os irmãos. Comungamos, então, com a causa de Jesus. Assim damos sentido à nossa
fé e nos envolvemos na missão da Igreja, fundada sobre os apóstolos.
Na Igreja de Cristo todos nós somos chamados
a servir no espírito de Jesus. Servir é adorar a
Deus em ação. Servir é fazer algo de bom sem esperar nada de troca ou de
reconhecimento. Uma Igreja que não serve, não serve para nada. Servir pela
salvação dos demais é o centro do cristianismo. O poder e o serviço se excluem.
A ambição de poder é o câncer do serviço. O poder pode servir para muitas
coisas, mas não serve para tornar bons os homens. Geralmente os maus líderes
produzem os maus funcionários. A competitividade na
Igreja do Senhor faz desaparecer a solidariedade, a compaixão, a igualdade e a
colaboração. A competitividade sempre torce para que a vida do outro não dê
certo para que ele possa estar em destaque solitariamente para ser adorado
pelos demais. O cristão existe para os outros e é batizado para os outros.
Não é a missão de Cristo na terra situar seus
seguidores nos melhores postos e conceder honras, e sim salvar os homens com um
amor que jamais morre. Toda autoridade na Igreja é fazer os outros crescerem no
bem e para salvar as pessoas.
P.Vitus Gustama, SVD
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