06/11/2015
SOMOS
USUÁRIOS E ADMINISTRADORES DOS BENS DE DEUS NESTE MUNDO
Sexta-Feira
da XXXI Semana Comum
Evangelho: Lc 16,1-8
Naquele tempo: 1 Jesus disse aos discípulos:
'Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens.
2 Ele o chamou e lhe disse: 'Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas
da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens'. 3 O
administrador então começou a refletir: 'O senhor vai me tirar a administração.
Que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha. 4 Ah!
Já sei o que fazer, para que alguém me receba em sua casa quando eu for
afastado da administração'. 5 Então ele chamou cada um dos que estavam devendo
ao seu patrão. E perguntou ao primeiro: 'Quanto deves ao meu patrão?' 6 Ele
respondeu: 'Cem barris de óleo!' O administrador disse: 'Pega a tua conta,
senta-te, depressa, e escreve cinqüenta!' 7 Depois ele perguntou a outro: 'E
tu, quanto deves?' Ele respondeu: 'Cem medidas de trigo'. O administrador
disse: 'Pega tua conta e escreve oitenta'. 8 E o senhor elogiou o administrador
desonesto, porque ele agiu com esperteza. Com efeito, os filhos deste mundo são
mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz.
_____________
Continuamos a acompanhar Jesus no seu caminho
para Jerusalém, escutando atentamente suas ultimas e importantes lições para
nossa vida de cristãos (Lc
9,51-19,28). Ele será crucificado, morto e glorificado em Jerusalém. Nós cristãos
temos que levar adiante a missão deixada por Jesus. A lição que Jesus quer
passar para nós hoje é sobre os bens materiais. Que atitude devemos adotar
diante dos bens materiais?
Por todo o seu evangelho Lucas revela
preocupações quanto a atitude correta no uso dos bens materiais deste mundo,
como encontramos em todo capítulo 16 deste evangelho. Na verdade podemos
encontrar este tema já no capítulo 15 implicitamente sobre o filho pródigo que
esbanja a riqueza numa vida desenfreada.
O que se enfatiza no texto do evangelho de
hoje é a sagacidade do administrador em procurar soluções para seus problemas.
Diante dos problemas existentes ele não fica de braços cruzados, nem
desesperado. Ele vai atrás das soluções. O que Jesus elogia é a capacidade do
administrador em buscar a melhor saída possível para seus problemas existentes
para que seu futuro não seja comprometido, e não a desonestidade do
administrador. Jesus não elogia a desonestidade do administrador.
Ao lado da esperteza do administrador, Jesus
censura o comportamento dos “filhos da luz”, os seus seguidores: “Com
efeito, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os
filhos da luz”. Jesus quer nos dizer: “Vocês como filhos de Deus devem
aprender a viver muito melhor do que este administrador. Vocês como filhos e
filhas de Deus não devem ficar desesperados diante dos seus problemas porque o
Pai do céu vão ampará-los”.
Se este administrador que Jesus considera
“filho deste mundo” que não acredita em Deus, não fica desanimado diante da
situação crítica, os filhos da luz, aqueles que acreditam em Deus (todos nós),
devem ser muito mais do que este. Porque a razão do ser de um filho de Deus é o
próprio Deus que na sua misericórdia nos amou primeiro (1Jo 4,19) e nos salvou
para si. Por isso, quem crê em Deus não é um otimista, pois ele não precisa do
pensamento positivo. Quem crê em Deus também não é pessimista, pois ele não
precisa da lógica da dialética negativa. Quem confia em Deus, sabe que Deus
aguarda por ele, que Deus espera por ele, que ele está convidado para o futuro
de Deus e tem em suas mãos, com isso, o mais maravilhoso convite de sua vida.
Desespero é a doença mortal, doença do espírito, doença do eu (Kierkegaard), porque o desesperado não
acredita mais em nada e em ninguém nem em Deus. Mas não adianta fugir; não
adianta querer sumir diante da situação de ameaça e angústia. Tentar fugir é
fugir da vida; fugir da vida é fugir de Deus porque Deus é a VIDA (Jo 14,6). E
quem foge é porque não está livre.
Os cristãos são convidados a não fugir deste
mundo, mas a viver no meio do mundo com critérios de generosidade e
desprendimento diametralmente opostos aos habituais. Jesus nos chama a
reconhecermos a nossa força porque a graça de Deus nos basta (2Cor 12,9). Jesus
nos convida a termos coragem(Jo 16,33).
Mas devemos ter coragem com previdência, pois a coragem sem previdência
é imprudência. Mas não basta ter somente previdência sem coragem, pois a
previdência sem coragem faz a pessoa ficar escrupulosa. O cristão deve ser uma
pessoa de esperança. Na angústia antecipamos o possível perigo, mas na
esperança, a possível salvação. A lei do cristão é descobrir o apelo de Deus em
cada momento, na confiança inabalável de que tudo tem sentido e tudo é abrigado
por um sentido absoluto, acolhido no mistério da plenitude de Deus. O cristão
tem motivos para afastar de si qualquer tentação de desespero. Jesus Cristo é o
exemplo mais alto e mais indiscutível. Perante a iminência ameaçadora da morte,
Jesus, com toda a serenidade, tomou o caminho para Jerusalém (Lc 9,51). Se
Jesus Cristo morreu de braços abertos, nós não podemos ficar com os braços
cruzados.
Nós devemos nos mostrar criativos na prática
da caridade e da misericórdia em relação aos pecadores, na solidariedade com os
pobres e excluídos, na disponibilidade para o perdão e a reconciliação, no
empenho para criar um mundo mais humano e fraterno onde a dignidade de cada
pessoa é respeitada. Para qualquer cristão existe sempre algo a ser feito,
alguma iniciativa a ser tomada, visando o crescimento da amizade com Deus.
Importa estarmos sempre em ação, pois nós desconhecemos a hora do encontro com
Deus. Por isso, devemos usar de esperteza para sermos dignos de salvação. Jesus
quer nos dizer que devemos estar atentos ao momento presente, porque hoje, não
amanhã nem ontem, temos nas mãos as possibilidades reais de fazer algo para
nossa salvação. O hoje é o único que temos. Temos que ter a sagacidade em
praticar o bem, a justiça, o respeito pela dignidade dos outros e assim por
diante.
Esta parábola quer nos dizer também que não
somos “proprietários” das coisas e sim “gerentes” ou “administradores”. Nossa relação
com as coisas não é a de propriedade e sim de uso. Tudo o que
possuo: meus bens, minhas qualidades, minhas riquezas intelectuais e morais,
minhas faculdades afetivas, os aspectos do meu caráter, de tudo isto Deus
pedirá conta. Não sou mais do que o gerente de tudo isto que me foi confiado
por Deus e tudo continua pertencendo a Deus. Não tenho direito de menosprezar
os dons de Deus. Terei que prestar contas das riquezas que não foram
desenvolvidas ou não foram multiplicadas para o bem dos necessitados. O Senhor
pede que abandonemos nosso olhar egoísta e míope e abramos nossos olhos para
trabalhar colaborando para que o Reino de Deus chegue aos que são aleijados
dele ou vivem dominados pela maldade.
Nesta Eucaristia o Senhor nos reúne para
encher-nos de sua Vida e de seu Espírito. Ele não limita sua entrega para nós.
Ele se dá plenamente a todos e a cada um de nós em particular. A presença do
Senhor em nós é como uma grande luz que se acende; mas essa luz não pode se
acabar sem que ilumine todos ao redor. Quem comunga o Corpo do Senhor se
converte em portador de seu amor salvador para os demais. Se não a Eucaristia
se tornaria um ato mágico que careceria de sentido. Não podemos denegrir o nome
do Senhor em nós através de nosso egoísmo.
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário