25/11/2015
SER
CRISTÃO PERSEVERANTE
Quarta-Feira da XXXIV Semana Comum
Evangelho: Lc 21,12-19
12 “Antes que estas
coisas aconteçam, sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e
postos na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu
nome. 13 Esta será a ocasião em que
testemunhareis a vossa fé. 14 Fazei o firme
propósito de não planejar com antecedência a própria defesa; 15 porque eu vos darei palavras tão acertadas, que
nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater. 16 Sereis
entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles
matarão alguns de vós. 17 Todos vos odiarão por
causa do meu nome. 18 Mas vós não perdereis um
só fio de cabelo da vossa cabeça. 19 É
permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!”.
______________
Estamos ainda no discurso escatológico ou
apocalíptico na versão de Lucas. Não podemos nos esquecer que o evangelho de
Lucas foi escrito depois da destruição de Jerusalém que aconteceu em 70 d. C na
guerra dos judeus contra Roma em 66-70 d.C. O fim de Jerusalém é, para Lucas,
uma prefiguração do fim. As perseguições eram fatos e não se tratava de uma
previsão. Quando o evangelista Lucas escreveu seu evangelho, a comunidade cristã
já tinha muita experiência de perseguições, cárceres e martírios por parte dos
inimigos e muita experiência de dificuldade, divisões e traições dentro da
própria comunidade.
Ser Cristão e Perseguição
“Antes
que estas coisas aconteçam, sereis presos e perseguidos; sereis entregues às
sinagogas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por
causa do meu nome”.
Para os cristãos a perseguição não é
incidente de percurso, mas é um fato inevitável. Por isso, ela não constitui
novidade na história da Igreja. O autor da Segunda Carta ao Timóteo nos lembra:
“Em verdade,
todos aqueles que quiserem viver piedosamente em Cristo Jesus, serão
perseguidos” (2Tm 3,12). Pode acontecer que numa ou na outra
situação tenhamos que sofrer a calúnia ou a difamação por sermos verazes, por
sermos fiéis à verdade; por sermos honestos e corretos, pois a presença de um
justo é uma censura viva ou incomoda para quem vive injustamente ou
desonestamente (cf. Sb 2,12). Em outras, as nossas palavras ou as nossas ações
serão, talvez, mal interpretadas. Em qualquer caso, o Senhor espera de nós,
cristãos que falemos sempre a verdade com clareza.
Jesus não nos engana jamais. Ele nunca
prometeu que neste mundo seríamos aplaudidos e que o caminho cristão seria
fácil. Ele nos avisou: “O servo não é maior que seu senhor. Se eles me
perseguiram, também vos perseguirão...” (Jo 15,20). O que Ele nos garante é
que salvaremos a vida pela fidelidade, e que Ele dará testemunho diante do Pai
daqueles que deram testemunho d’Ele diante dos homens (cf. Mt 10,32-33). Ele
nos encoraja: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o
mundo” (Jo 16,33). O verdadeiro amor e a verdadeira fidelidade são testados
sua genuinidade, principalmente, nos momentos de provação.
Lucas convida, assim, a comunidade cristã a
trilhar o caminho da fidelidade e da coragem, o caminho que o próprio Senhor
trilhou, mesmo diante da repressão violenta das estruturas do poder, sinagogas,
e reis, e mesmo perante a morte violenta (Lc 21,12). Se Jesus Cristo venceu a
morte, o maior inimigo da humanidade, o cristão não tem mais nenhuma razão de
ter medo. Se o mal avançar, a confiança em Deus deve avançar muito mais porque
Deus sempre terá a última palavra, e não o mundo. O que importa para uma comunidade
cristã é a vivacidade da esperança. É a esperança que arranca o homem de uma
existência sem futuro e sem expectativas. A tristeza e o desânimo são um sinal
da ausência de uma verdadeira esperança cristã que no fundo provém de uma falta
de fé.
A Igreja, ao longo de sua existência até no
momento, tem tido a mesma experiência: os cristãos são caluniados, odiados,
zombados, perseguidos e levados à morte em nome dos interesses egoistas. Mas
continua a valer o ditado: “O
sangue dos mártires é a semente da Igreja” (Tertuliano). Quantos
mártires, de todos os tempos, também de nosso tempo, nos estimulam com seu
admirável exemplo. Não somente os mártires de sangue, mas também os mártires
silenciosos da vida diária que continuam cumprindo o evangelho de Jesus Cristo
e vivem segundo os critérios dos ensinamentos de Cristo fazendo o bem sem
nenhum barulho. As pessoas de muita bondade sempre são silenciosas, mas as
obras delas são gritantes. A verdadeira nobreza vem do coração bondoso ou
amoroso. O bom exemplo é o melhor sermão. A vida apenas para satisfazer você
mesmo nunca satisfaz ninguém.
Quando o mundo odeia os cristãos por serem
honestos e justos, e por isso, incomodam o mundo, é um sinal de que os cristãos
vivem de acordo com os ensinamentos de Cristo. A presença de um justo e honesto
sempre incomoda os desonestos e corruptos. Ser odiado pelo bem praticado, pela
verdade testemunhada, pela justiça vivida, pelo amor fraterno adotado na
convivência, pela honestidade em qualquer negócio, pela retidão no
comportamento, pela transparência no olhar é, paradoxalmente, um grande aplauso
e é um dos maiores elogios que um ser humano ou um cristão possa ter sobre a
face da terra.
Ser Cristão e o Testemunho
Segundo Jesus, cada dificuldade ou
perseguição deve se tornar uma oportunidade de dar testemunho dele: “Mas isto será para vós uma ocasião de dar
testemunho de mim” (v.13).
Por incrível que pareça a perseguição é o
momento oportuno para o cristão porque é uma ocasião de anunciar a Boa Nova, de
dar testemunho sobre o bem maior; é uma oportunidade de evangelização. Para São
Paulo, por exemplo, foram úteis todas as perseguições para evangelizar: era
meio paradoxal de dirigir-se às mais altas autoridades na época (cf. At 26,1;
18,12; 24,1; 25,1). Na Carta aos Filipenses, São Paulo escreveu: “Meus
irmãos, quero fazer-vos saber que os acontecimentos que me envolvem estão
redundando em maior proveito do Evangelho” (Fl 1,12).
Ser testemunha era a identidade dos
discípulos de Jesus. O anúncio da palavra de Deus e o testemunho de vida são
palavras-chaves e inseparáveis na obra de Lucas, de modo especial na segunda
obra (Atos dos Apóstolos). Testemunhar significa provar com a própria vida
aquilo que se fala, se professa e no que se acredita, assumindo todas as
conseqüências. Testemunhar Jesus é provar com a própria vida que é ele o
sentido profundo de nossa vida e da vida do mundo; que Jesus é “o Caminho, a
Verdade e a Vida” (Jo 14,16); que Jesus é a ressurreição e a vida (Jo 11,25);
que Jesus é a Luz do mundo (Jo 8,12); que Jesus é o Pão da vida para o mundo
(cf. Jo 6,22-71), e assim por diante.
Para Jesus o testemunho tem que chegar até o
fim, até as ultimas conseqüências a fim de ganhar a verdadeira vida, a vida em
plenitude, a vida eternamente com Deus. A salvação para cada um de nós e para
melhorar o mundo, a família, o trabalho, depende da perseverança no caminho da
justiça, do amor e da fraternidade. Por isso, Jesus disse: “É pela perseverança que mantereis vossas
vidas” (Lc 21,19).
A capacidade de resistir precisa haurir a
confiança em Deus, confiança que tem que ser sempre renovada na oração. Como
cristãos rezamos sem cessar, pedindo a graça da perseverança final. Estamos,
todavia, conscientes de que isto leva consigo a disponibilidade para nos
converter, porque estamos conscientes de que a nossa fidelidade é continuamente
posta à prova e de que está exposta a contínuas tentações. Podemos ser tentados
tanto do exterior (escândalo) como do interior (tentação). É precisamente no
momento da tentação que entra em ação a capacidade de resistir. Lembre-se de
que o nosso velho Adão está sempre à espreita ou continua a nos observar
ocultamente.
Cristo pronunciou Sua Palavra sobre nós,
cristãos. Seu Espírito nos faz compreendermos o sentido da Palavra do Senhor. A
Igreja (todos os cristãos), unida a Cristo, Palavra do Pai, se converte, assim,
em uma Palavra viva, em Evangelho vivente do Pai para todos os homens. Cristo
nos instruiu com Sua Palavra e com Seu exemplo para nos torne em anunciadores
de Seu Evangelho não somente com os lábios e sim com a vida. Cristo entregou
sua vida para que tenhamos vida (cf. Jo 10,10). Por nossa vez, temos que ser
vida para os outros. Sejamos pão de Cristo para os demais que carecem o sentido
da vida.
P. Vitus Gustama,svd
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