26/11/2015
VIVER
NA VIGILÂNCIA E NA ESPERANÇA PARA DECIFRAR O SENTIDO DOS ACONTECIMENTOS
Quinta-Feira da XXXIV Semana Comum
Evangelho: Lc 21,20-28
20“Quando virdes
Jerusalém cercada de exércitos, ficai sabendo que a sua destruição está
próxima.
21Então, os que
estiverem na Judeia, devem fugir para as montanhas; os que estiverem no meio da
cidade, devem afastar-se; os que estiverem no campo, não entrem na cidade. 22Pois esses dias são
de vingança, para que se cumpra tudo o que dizem as Escrituras. 23Infelizes das mulheres
grávidas e daquelas que estiverem amamentando naqueles dias, pois haverá uma
grande calamidade na terra e ira contra este povo. 24Serão mortos pela
espada e levados presos para todas as nações, e Jerusalém será pisada pelos
infiéis, até que o tempo dos pagãos se complete. 25Haverá sinais no sol,
na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas, com pavor do
barulho do mar e das ondas. 26Os homens vão
desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças
do céu serão abaladas. 27Então eles verão o
Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória. 28Quando estas coisas
começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa
libertação está próxima”.
__________
Quando lemos a Bíblia e fazemos uma leitura
crítica percebemos que cada destruição que aconteceu sempre traz alguma lição
para a humanidade para nos dizer que o homem pode se considerar prepotente, mas
será destruído do mesmo jeito como qualquer outra criatura humana de qualquer
classe social criada pela própria humanidade. Na história de Sodoma e
Gomorra (cf. Gn 19) a maldade humana chegou ao extremo. Por isso, a
destruição dessa duas cidades simboliza o fim da maldade humana. A maldade não é
eterna e não tem futuro nenhum, e por isso, não vale nem um pouco investir nela.
Quem investir nela, será destruído para sempre. A maldade nenhuma dá segurança
e paz. Somente um coração fraterno vê no outro nosso irmão e por isso, jamais
faremos o mal ou a maldade contra ele. Do mesmo jeito, a queda de Samaria (722 a.C) foi
fruto da idolatria, pois a população trocou o verdadeiro Deus pelos ídolos. Nenhum
ídolo é capaz de salvar a humanidade, mas somente Deus. Quem corre atrás de ídolos,
corre atrás da destruição. Quem segue a Jesus, encontrará a salvação. Aconteceu
a mesma coisa com a destruição de Jerusalém. Jerusalém era o
centro religioso, econômico e político. A cidade da paz (Jerusalém) se
transformou em lugar de grande exploração, especialmente dos mais pobres (cf. Jo
2,13-25). O lugar de Deus foi tomado pelos exploradores dos irmãos.
Em outras palavras, nenhum império, nenhum
poder, nenhuma pessoa que se considerava prepotente sobrevive. Vale a pena ser
arrogante, prepotente? A resposta cristã é NÃO! A arrogância é uma maneira de não
reconhecer ou não aceitar os próprios defeitos e fraquezas, pois o arrogante só
quer viver na aparência e vive mendigando louvores alheios. Qualquer arrogante é
uma pessoa solitária e no fim vai morrer na solidão.
Ser Fiel Na Vivência Dos
Ensinamentos De Jesus
Estamos ainda no discurso escatológico
(sobre o fim) ou apocalíptico (porque quer revelar algo além do acontecimento)
na versão de Lucas. Desta vez o evangelista Lucas nos descreve a destruição da
cidade de Jerusalém e o Templo e suas tremendas conseqüências.
A destruição de Jerusalém (e o Templo de
Jerusalém) aconteceu em 70 d.C. “Quando virdes Jerusalém cercada de
exércitos...”. A palavra “cercada” aqui literalmente significa
“acampamentos”. Os acampamentos que cercam Jerusalém são os de Tito, comandante
das legiões romanas, enviadas para sufocar e acabar com a rebelião judaica. O
perigo é muito grande porque se trata de um período designado como “dias de
vingança” (Lc 21,22. Alude ao Os 9,7). Essa guerra catastrófica termina com a
destruição da cidade e do Templo de Jerusalém em agosto de 70 d.C. sob as
legiões romanas do imperador Tito (79 d.C.- 81 d.C.). E a segunda no ano 135
d.C. nos tempos do imperador Adriano (117 d.C. -138 d.C.). Segundo alguns
especialistas, muitos cristãos realmente conseguiram fugir da cidade quando as
tropas romanas se aproximaram de Jerusalém.
Segundo os exegetas o evangelho de Lucas foi
escrito depois dos anos 70 (em torno do ano 85 depois de Cristo). Isto
significa que a destruição de Jerusalém já tinha acontecido. Lucas considera a
destruição de Jerusalém como o fim de uma etapa da historia da salvação e por isso,
não é o sinal da chegada do momento final (escatologia).
Lucas aproveita o acontecimento da
destruição de Jerusalém para falar da vinda do Filho do Homem no fim dos tempos
(parusia) a fim de que todos vivam vigilantes e preparados, pois a segunda vinda
do Senhor (parusia) é certa, mas o momento é incerto, pois essa vinda vem como
ladrão sem avisar (cf.
Mt 24,43; Lc 12,39; 1Ts 5,2; 2Pd 3,10; Ap 3,3). É preciso viver o momento presente
com uma visão do futuro. O próprio futuro está no presente. Nossa vida se move
no presente entre uma história (passado) e um projeto (futuro). Aprendemos das
lições do passado com otimismo e desejo de superação. Como escreveu o filósofo
Sören Kiekergaard: “A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás.
Mas só pode ser vivida olhando-se para frente”. Sobretudo, aprendemos a
viver intensamente o presente, o único instante que temos em nossas mãos para
construir. Não podemos perder o presente lamentando-nos pelos erros do passado
e muito menos ainda, temendo o que pode chegar a ser no futuro. O melhor
caminho para afrontar o futuro é aproveitar o momento presente: “No mundo
tereis tribulações, mas tende coragem: Eu venci o mundo!”, diz-nos
Jesus (Jo 16,33b).
Por isso, a finalidade desse discurso não é
para descrever os acontecimentos que precederão o fim e sim para encorajar os
cristãos a viverem de acordo com os ensinamentos de Cristo apesar das
dificuldades, provações e perseguições. “É
pela perseverança que mantereis vossas vidas”, lembra-nos o Senhor (Lc 21,29b). A Palavra de Deus vai ser a ultima
palavra para a humanidade e não a palavra do homem.
Por isso, outro objetivo deste tipo de
discurso é motivar a esperança e a perseverança. Quando houver a esperança,
haverá também a perseverança, isto é, a capacidade de resistir diante de
qualquer obstáculo ou dificuldade para alcançar a esperança desejada. A esperança
cristã tem um nome próprio: Jesus Cristo. Jesus é o penhor da libertação do
homem. O cristão não está sozinho, e sim está com o Senhor da história diante
de Quem não existe o impossível, pois a extremidade do homem é a oportunidade
de Deus.
Um Alerta para Estar Despojado
“Ai daquelas mulheres que estiverem
grávidas e que estiverem amamentando naqueles dias” (Lc 21,23), clama o
Senhor ao contemplar o fim do mundo.
Esta exclamação significa muito mais do que
uma simples compaixão humana por aquelas mulheres desamparadas. Para o Senhor
que contempla e adverte, elas se tornam imagem e tipo daqueles que para os
quais o fim do mundo ou o fim de uma história vai surpreender no preciso
instante em que não se sentirão livres para poder seguir a voz do Senhor e sair
ao encontro da eternidade feliz. Seus pés não são fortalecidos para seguir o
caminho da cruz que termina na ressurreição. Pesa sobre seus ombros a carga do
falso reino deste mundo. Seus braços abraçam as alegrias caducas de um mundo
condenado a perecer. Não conhecem a linguagem dos sinais celestes. São escravos
das próprias paixões que os fazem amarrados e cegos diante da eternidade.
Vale a pena cada um se perguntar: “O que é
que me pesa no encontro derradeiro com o Senhor no fim da minha história? E o
que é que me amarra que dificulta minha caminhada ao encontro do Senhor no fim
da minha vida?”. Quem carrega coisas caducas acaba dificultando o próprio vôo
até Deus. É preciso ter as “asas” livres do Senhor para voar com liberdade.
Uma Mensagem de Consolo e de
Esperança
“Quando essas coisas começarem a
acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está
próxima” (Lc 21,28).
O anúncio de Jesus sobre o fim do mundo ou
sobre o fim da história de cada um de nós não é um anúncio que quer entristecer
e sim animar: “… levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa
libertação está próxima”. Todos nós somos convidados a ter confiança na
vitória de Cristo Jesus: “O Filho do Homem vem numa nuvem com poder e glória”
(Lc 21,27). Seja no momento de nossa morte, que não é final e sim início de uma
nova maneira de existir, muito mais plena. Seja no momento do final da
história, basta estar com Cristo e permanecer nele, ele virá não na humildade e
pobreza de Belém e sim na glória e majestade, sinal de sua vitória sobre a
morte. Ele já atravessou na sua Páscoa a fronteira da morte e inaugurou para si
e para nós a nova existência, os novos céus e a nova terra.
A glória de Jesus se irradia através de
todos os portadores da paz e da bondade, através de todos os homens e mulheres
que trabalham para construir uma sociedade mais justa e honesta, que põem seus
talentos e potencialidades a serviço dos marginalizados e desamparados. É a
outra História que se escreve dia após dia, não com letras de molde nem com
slogans televisivas, mas com atos de serviço. É a história de salvação. É a
história com Deus. É a historia que humaniza. E por isso, é a história que
diviniza o humano.
Precisamos fazer este tipo de história para
que o Senhor possa vir na sua glória ao nosso encontro. Neste dia ouviremos o
Senhor nos dizer: “… levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa
libertação está próxima!” (Lc 21,28). Que Deus nos conceda a graça de
passar nossa vida fazendo sempre o bem para todos, e que isso façamos não por
simples filantropia e sim porque amamos nosso próximo, nosso semelhante e
imagem viva de Deus como o Senhor nos amou. “No entardecer de nossa vida
seremos julgados sobre o amor” (São João da Cruz).
Nossa vida se move no presente entre uma
história (passado) e um projeto (futuro). Aprendemos das lições do passado como
otimismo e desejo de superação. Mas, sobretudo, aprendemos a viver intensamente
o presente, o único instante que temos em nossas mãos para construir. Não
podemos perder o presente lamentando-nos pelos erros do passado e muito menos
ainda, temendo o que pode chegar a ser no futuro. O melhor caminho para
afrontar o futuro é aproveitar o momento presente: “No mundo tereis
tribulações, mas tende coragem: Eu venci o mundo!”, diz-nos Jesus (Jo 16,33b).
Durante esta semana a liturgia,
preparando-nos para o Advento, vai-nos colocando numa espera atenta da vinda do
Salvador. Esperamos, de alguma maneira, o que já possuímos. E esta esperança é
tão certa como as mesmas intervenções de Deus na história do Seu povo.
“Se quiser triunfar na vida, faça da PERSEVERANÇA a sua melhor amiga;
da EXPERIÊNCIA,
o seu sábio conselheiro; da PRUDÊNCIA, o seu irmão mais velho; e da ESPERANÇA,
o seu anjo guardião” (Joseph Addison, poeta inglês, 1672-1719).
P. Vitus Gustama,svd
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