24/11/2015
TUDO QUE É HISTÓRICO CONHECE
SEU FIM, MAS QUEM ESTÁ COM DEUS VIVE PARA SEMPRE
Terça-Feira da XXXIV Semana
Comum
Evangelho: Lc 21,5-11
Naquele tempo, 5 algumas pessoas
comentavam a respeito do Templo que era enfeitado com belas pedras e com
ofertas votivas. Jesus disse: 6 “Vós admirais estas
coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”. 7 Mas eles
perguntaram: “Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que
estas coisas estão para acontecer?” 8 Jesus respondeu: “Cuidado para não serdes enganados,
porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ E ainda: ‘O tempo está
próximo’. Não sigais essa gente! 9 Quando ouvirdes falar de guerras e
revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam
primeiro, mas não será logo o fim”. 10 E Jesus continuou: “Um povo se levantará
contra outro povo, um país atacará outro país. 11 Haverá grandes
terremotos, fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e
grandes sinais serão vistos no céu”.
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A partir de hoje até o próximo sábado lemos
o “discurso escatológico” de Jesus que se encontra em Lc 21,5-36: fala-se dos
acontecimentos futuros e os que se relacionam ao fim.
Como os dois outros evangelhos sinóticos (Mt
24-25; Mc 13), também o evangelho de Lucas encerra a atividade de Jesus em
Jerusalém (Lc 19,29-21,38), antes de sua prisão, com o discurso sobre o fim ou
discurso escatológico (Lc 21,5-36). Em seu lugar atual na tradição sinótica
esse discurso é considerado como um discurso de despedida de Jesus que deixa à
sua comunidade os últimos conselhos e advertências. Para Lucas a destruição de
Jerusalém era um fato e as perseguições à comunidade primitiva uma realidade.
Tanto Mateus como Lucas inspiram seu discurso escatológico do evangelho de
Marcos capítulo 13.
No texto do evangelho deste dia, o
evangelista Lucas nos relatou que alguns discípulos de Jesus comentaram sobre a
beleza do Templo pela qualidade da pedra (mármores) e das doações dos fiéis.
Nos tempos de Jesus, o Templo era
recém-edificado. Sua construção começou 19 anos (dezenove anos) antes de
Cristo. O Templo de Jerusalém era considerado uma das sete maravilhas do mundo
antigo. Seus mármores, seu ouro e toda a ornamentação eram admirados pelos
peregrinos.
Diante da admiração dos discípulos Jesus
pronuncia algo profético: “Dias virão em
que não ficará pedra sobre pedra”.
Nesse mesmo lugar foi construído o Templo por Salomão até o ano 1.000
a.C e destruído por Nabuconosor em 586 a.C. Logo em seguida foi construído
outro Templo por Zorobabel em 516 a.C. O Templo contemporâneo de Jesus foi
destruído por Tito em 70 d.C e foi construído novamente em 687 por Mesquita de
Omar no mesmo local.
“Dias virão em que não ficará pedra sobre
pedra. Tudo será destruído” é a resposta de Jesus diante da admiração dos discípulos
pela beleza do Templo. Deus não olha para as belas e as preciosas dádivas. Deus
procura o povo que O aceite para que todos convivam como uma família cujos
membros cuidam uns dos outros. Onde Deus for expulso, entram as agressões, violência,
violação de direitos, exploração e assim por diante.
Quando Jesus afirmou: “Tudo será destruído”,
algumas pessoas perguntaram sobre o quando desse acontecimento: “Mestre,
quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para
acontecer?”. Em Mc a pergunta é sobre o fim do mundo (Mc 13,4). Em Lc, a
pergunta é sobre o fim do Templo. A maioria dos movimentos judeus populares na
época de Jesus acreditava que o mundo se aproximava para seu fim. Para eles era
iminente uma inevitável catástrofe universal. Todos viviam agitados.
Para Lucas a destruição do Templo (Jerusalém)
não pertence aos acontecimentos escatológicos. A destruição do Templo já tinha
acontecido. O fim do mundo, no entanto, ainda não aconteceu.
Para Jesus, o importante não era a data em
que o mundo haveria de sucumbir. Para ele o importante era a finalidade deste
mundo: “Para que estamos aqui neste mundo? O que podemos e devemos fazer para
melhorar nossa convivência? O que podemos fazer para ser úteis para os demais? O
que quer Deus de mim, de nós? Para que eu estou no mundo? Qual é o destino da
humanidade? Qual será meu fim? Para onde a vida vai nos levar? Será que a vida
termina com a morte?. Será que Deus nos criou por acaso ou por uma causa?
Então, será que estou no mundo por acaso ou por uma causa? Qual esta causa?”.
Para Jesus o tempo presente e o futuro se abriam como esperança: era o tempo
definitivo da salvação com Sua presença. Era preciso ter uma mudança de
mentalidade para mudar a maneira de viver. É preciso olhar para o alto (Deus)
para podermos entender tudo que se passa no mundo e para que nossa vida ou
maneira de viver seja ordenada. Em cada momento cada pessoa é chamada a
transformar o mundo de morte num mundo de vida. Cada um nasceu para ser
mensageiro de Deus neste mundo ou para ser o sinal da presença de Deus neste
mundo. Por isso, cada ser humano deve ficar atento permanentemente para os
apelos de Deus diariamente.
“Dias
virão em que não ficará pedra sobre pedra”. Símbolo da fragilidade, da
caducidade das mais esplêndidas obras humanas.
Precisamos refletir sobre a grande fragilidade de todas as coisas, sobre
“minha” fragilidade, sobre a brevidade da beleza e da vida na história. Todos
têm olhar para a verdade desta realidade, pois tudo será destruído. O que
embeleza a vida humana são os valores como o amor, a bondade, a solidariedade,
respeito pela vida, perdão mútuo etc. Tratam-se de valores que dignificam a
vida humana e que nos levam à comunhão com Deus de amor (cf. 1Jo 4,8.16). Por
isso é que São Paulo nos consola: “Sabemos
que, se a nossa morada terrestre, esta tenda, for destruída, teremos no céu um
edifício, obra de Deus, morada eterna, não feita por mãos humanas” (2Cor
5,1). O próprio Jesus nos promete: “Na
casa de meu Pai há muitas moradas... vou preparar-vos um lugar e quando vos for
preparado um lugar, virei novamente e vos levarei comigo a fim de que onde eu
estiver, estejais vós também” (Jo 14,2-3). O que não será destruído são os
valores.
Se tudo for destruído (menos os valores),
então, somos chamados a estar vigilantes. Somos chamados a viver com sabedoria,
com prudência, com fraternidade, com justiça, com verdade, com caridade, com
compaixão, com amor, com fé e esperança que são valores que permanecem e que
nos salvam. Quando tudo for destruído, estes valores permanecerão. A beleza
sólida destes valores permanecerá, mesmo quando tudo o mais estiver reduzido a
escombros. Se tudo o que é terreno será
destruído, então, devemos temer perder Jesus, ser afastados dele eternamente,
ser privados do seu amor e do seu coração. Somos chamados a amar um bem
inefável, um bem benéfico, o Bem que cria todos os bens.
Cada cristão, como templo de Deus (cf. 1Cor
3,16-17), adornado com as belas pedras das virtudes cristãs, pode e deve
perseverar no bem, resistindo às diversas provações e tentações. Nós cristãos
temos um dever de ler os sinais dos tempos e de fazer um verdadeiro
discernimento do bem e do mal, do verdadeiro e do falso, para não nos deixar
enganar pelos falsos profetas e afastar do seguimento de Jesus Cristo, o único
Salvador. Concretamente, devemos viver cada dia sob o influxo do Espírito de
Deus, deixando-nos guiar pelos Seus dons, irradiando os Seus frutos, exercendo
os Seus carismas, vivendo as bem-aventuranças (Cf. Mt 5,1-12).
Portanto, cada dia nós temos que voltar a
começar de novo nossa história, pois cada dia é o tempo de salvação, se
estivermos conscientes da provisoriedade da vida humana na história. Mas fazer
a história com Deus é fazer a história de salvação. Vamos viver um dia de cada
vez de maneira mais profunda para que, se Deus permitir, possamos viver o dia
seguinte de maneira nova, pois trata-se de um novo dia de nossa vida (cf. Mt
6,25-34). Jamais podemos viver mais de dois dias de cada vez para que a
angústia e a preocupação exagerada não nos dominem. Confiemos em Deus o nosso
hoje!
“Sem sentido, a vida humana se degenera. A pessoa
humana não só quer viver como quer também saber por que vive... É possível viver
passando por muitas dificuldades quando se acredita que ainda há alguém ou
alguma coisa por que valha a pena viver. A comida, a bebida, a casa, o
descanso, a amizade e muitas outras coisas são essenciais para a vida. Mas também
o é o sentido! É notável como grande parte da nossa vida é vivida sem
refletirmos no seu sentido. Não é, pois, nenhuma surpresa que tantas pessoas
andem sempre ocupadas e, no entanto, levem uma vida insípida! Têm muito que
fazer e andam sempre numa correria para acabar de fazer tudo, mas, por trás
desta atividade febril, com frequência, perguntam a si mesmas se realmente
acontece alguma coisa. Uma vida sobre a qual não se reflita perde eventualmente
o sentido e torna-se chata... Se tivermos a Bíblia e os nossos livros
espirituais numa das mãos e o jornal na outra, acabaremos sempre por descobrir
novas perguntas, mas descobriremos também uma forma de as viver fielmente,
esperando que, pouco a pouco, a resposta nos seja revelado” (Henri J. M. Nouwen)
P. Vitus Gustama,svd
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