20/11/2015
HONRAR E RESPEITAR O
ESPAÇO SAGRADO
Sexta-Feira
da XXXIII Semana Comum
Evangelho: Lc 19, 45-48
Jesus entrou no Templo e começou a expulsar
os vendedores. E disse: “Está escrito: ‘Minha casa será casa de oração’. No
entanto, vós fizestes dela um antro de ladrões”. Jesus ensinava todos os dias
no Templo. Os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os notáveis do povo
procuravam modo de matá-lo. Mas não sabiam o que fazer, porque o povo todo
ficava fascinado quando ouvia Jesus falar.
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Terminada a etapa das lições do caminho (Lc
9,51-19,28), Jesus se encontra, finalmente, em Jerusalém e continua dando suas
ultimas lições antes de sua Paixão e Morte (Lc 19,29-21,38).
Na passagem do evangelho deste dia o
evangelista Lucas nos apresenta Jesus expulsando os vendedores do Templo.
Trata-se do primeiro gesto profético de Jesus no Templo de Jerusalém. Jesus
atua como os profetas clássicos que, primeiro, faziam alguma ação simbólica e
logo em seguida, pronunciavam seus oráculos.
A ação simbólica de Jesus no texto de hoje é
expulsar os vendedores do Templo. Para os judeus, principalmente para os
dirigentes, o Templo de Jerusalém é o centro do poder religioso, o centro do
poder econômico e o centro do poder político (o Sinédrio). Um está ligado a
outro, um implica outro. Jesus expulsa os venderes do Templo porque o Templo se
transforma em lugar de exploração, principalmente dos pobres. Jesus enfrenta
abertamente o legalismo desumanizante, opressor, vazio. Ao expulsar os
vendedores do Templo Jesus mexe com o centro do poder religioso, econômico e político.
Os dirigentes interpretam o ato de Jesus como uma ameaça para esses três centros.
Consequentemente, eles procuram alguma maneira para matá-lo. O evangelista Joao
usa uma expressão para os dirigentes matarem Jesus: “Se deixamos que ele continue
assim, todos vão acreditar nele; os romanos virão e destruirão o Templo e toda
a nação” (Jo 11,48). Diante da intervenção
de Jesus na expulsão dos vendedores do Templo “Os sumos sacerdotes, os mestres
da Lei e os notáveis do povo procuravam modo de matar Jesus”. Enquanto que o povo, na sua simplicidade, não
encontrou nenhuma dificuldade para aceitar a mensagem de Jesus, como Lucas nos
relatou: “o povo todo ficava fascinado quando ouvia Jesus falar”.
Logo em seguida Jesus pronuncia dois
oráculos. O primeiro oráculo é tirado de Is 56,7 sobre o caráter do
Templo como casa de oração. O segundo oráculo é tirado de Jr
7,1-15, um texto que inspira toda a ação e o pensamento de Jesus. Para Jeremias
e Jesus o Templo se transforma em uma cova de bandidos porque nele encontram os
assassinos e os idólatras que matam, oprimem e exploram até os mais pobres.
A intervenção de Jesus no Templo na expulsão
dos vendedores é uma chamada de atenção para recolocar nossa atitude religiosa
num plano de autenticidade e sinceridade. O espaço sagrado e o tempo sagrado
(momento de oração e de celebração) devem adquirir seu verdadeiro sentido como
forma de encontro com Deus que se traduz na vivência do amor fraterno. Ambos (o espaço sagrado e o tempo sagrado) temos
que assumir sempre a forma da intercessão e da busca do perdão de Deus para um
coração arrependido: “Minha casa será casa de oração”.
“Minha
casa será casa de oração”. Precisamos levar a sério a firmação de Jesus que
o templo/igreja é casa de oração, pois em muitos lugares o silêncio se torna
raro, pois cada grupo, pelo menos de duas pessoas, conversam no espaço sagrado
em vez rezarem e respeitarem quem está querendo rezar. Podemos dizer que
revivemos o legalismo desumanizante, opressor, vazio. Como consequência, entramos
no espaço sagrado (templo/igreja) vazios e saímos dele mais vazios ainda. Tem-se
impressão de que as pessoas que se envolvem na liturgia, ficam sem tempo para
conversar com Deus, pois vivem agitados.
Rezar verdadeiramente significa estar diante de
Deus, estar com Deus e estar em Deus. O homem que reza precisa
manter-se na presença de Deus. Para estar plenamente diante de Deus é
necessário que o homem largue o resto. Quando o homem está diante de Deus,
existe o começo de uma convivência: estar com Deus. Estar com Deus significa
estar de acordo com Ele, isto é, fazer a vontade dele, é estar unido a Ele e
trabalhar com Ele (ser missionário). Quando o homem estiver diante de Deus e
estiver com Deus, ele estará em de Deus e estará com o próximo. Estar em Deus
significa tornar-se a morada de Deus. É formar-se uma só coisa com Deus. E o
homem participará da vida divina como consequência deste estar em Deus. Por isso, a oração não é apenas um barco
salva-vidas para quem estiver afundando.
O valor de nossa religiosidade e o de nosso
verdadeiro encontro com Deus que dão sentido para toda nossa existência
dependem da escolha que fazemos entre estas duas formas de receber a mensagem
de Deus.
Nem sempre estamos prontos ou preparados diante
da intervenção de Deus na nossa vida. Como os dirigentes do povo de Israel
podemos também assumir atitudes contraditórias diante da intervenção de Deus na
nossa vida. Deus quer expulsar de nossa cabeça ou de nosso coração todas as
atitudes que querem ocupar o lugar de Deus na nossa vida. Mas por causa de
nossos pensamentos pré-fabricados ou pré-estabelecidos acabamos expulsando Deus
de nossa vida e permanecemos na nossa vida sem direção, pois vivemos sem escala
de valores. Deus intervém na nossa vida com intuito de recolocar nossa vida no
seu eixo verdadeiro ou no caminho da salvação. Mas quantas vezes eliminamos ou
procuramos algum meio para eliminar o plano de Deus para nossa vida ou tentamos
esquecer Sua Palavra inquietante tal como sucedeu na vida dos dirigentes do
povo durante a atuação de Jesus em Jerusalém.
Jamais podemos identificar religião com
prática cultual. O culto verdadeiro e autentico tem conseqüências verticais e
horizontais. Honramos Deus na medida em que passamos da comunidade cultual para
a vida na prática da solidariedade com os irmãos, especialmente com os mais
necessitados. Ao sair do templo ou da igreja não podemos fingir não olhar para
o irmão que necessita de nossa ajuda. O verdadeiro culto é o culto da vida
inteira vivida com fidelidade na vivencia da vontade de Deus e na solidariedade
com os irmãos.
A entrada de Deus e de Sua Palavra na nossa
vida quer colocar em questão as nossas atitudes religiosas. Esta entrada serve
para desmascarar nosso egoísmo e nosso jogo de interesse em nome de uma vida
sem sentido e sem rumo e para tirar de nós um falso sentimento de segurança a
fim de nos salvar. A entrada de Deus e de Sua Palavra na nossa vida exige que
coloquemos em revisão a nossa religiosidade se é autentica ou falsa. Ninguém pode
crer impunemente. A religião não pode nos assegurar a impunidade em nossas más
ações, e a religião nunca pode ser considerada como o refugio seguro para
malfeitores. Uma religião sem o compromisso de uma conduta coerente em função
da vivência dos valores humanos reconhecidos universalmente é um ópio que faz
adormecer a própria consciência. Precisamos questionar o questionável e
perguntar o perguntável. Precisamos ficar atentos para que nossa prática
religiosa não seja mais importante do que o próprio Deus e o ser humano. Onde
há o amor fraterno, ali Deus está, mesmo que se trate do ateísmo. Onde não há o
amor fraterno, não há o verdadeiro cristianismo, pois o amor fraterno é o
mandamento do Senhor (Jo 13,34-35; 15,12).
P. Vitus Gustama,svd
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