segunda-feira, 16 de novembro de 2015

20/11/2015
HONRAR E RESPEITAR O ESPAÇO SAGRADO


Sexta-Feira da XXXIII Semana Comum


Evangelho: Lc 19, 45-48


Jesus entrou no Templo e começou a expulsar os vendedores. E disse: “Está escrito: ‘Minha casa será casa de oração’. No entanto, vós fizestes dela um antro de ladrões”. Jesus ensinava todos os dias no Templo. Os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os notáveis do povo procuravam modo de matá-lo. Mas não sabiam o que fazer, porque o povo todo ficava fascinado quando ouvia Jesus falar.
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Terminada a etapa das lições do caminho (Lc 9,51-19,28), Jesus se encontra, finalmente, em Jerusalém e continua dando suas ultimas lições antes de sua Paixão e Morte (Lc 19,29-21,38).




Na passagem do evangelho deste dia o evangelista Lucas nos apresenta Jesus expulsando os vendedores do Templo. Trata-se do primeiro gesto profético de Jesus no Templo de Jerusalém. Jesus atua como os profetas clássicos que, primeiro, faziam alguma ação simbólica e logo em seguida, pronunciavam seus oráculos.




A ação simbólica de Jesus no texto de hoje é expulsar os vendedores do Templo. Para os judeus, principalmente para os dirigentes, o Templo de Jerusalém é o centro do poder religioso, o centro do poder econômico e o centro do poder político (o Sinédrio). Um está ligado a outro, um implica outro. Jesus expulsa os venderes do Templo porque o Templo se transforma em lugar de exploração, principalmente dos pobres. Jesus enfrenta abertamente o legalismo desumanizante, opressor, vazio. Ao expulsar os vendedores do Templo Jesus mexe com o centro do poder religioso, econômico e político. Os dirigentes interpretam o ato de Jesus como uma ameaça para esses três centros. Consequentemente, eles procuram alguma maneira para matá-lo. O evangelista Joao usa uma expressão para os dirigentes matarem Jesus: “Se deixamos que ele continue assim, todos vão acreditar nele; os romanos virão e destruirão o Templo e toda a nação” (Jo 11,48). Diante da intervenção de Jesus na expulsão dos vendedores do Templo “Os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os notáveis do povo procuravam modo de matar Jesus”.  Enquanto que o povo, na sua simplicidade, não encontrou nenhuma dificuldade para aceitar a mensagem de Jesus, como Lucas nos relatou: “o povo todo ficava fascinado quando ouvia Jesus falar”. 




Logo em seguida Jesus pronuncia dois oráculos. O primeiro oráculo é tirado de Is 56,7 sobre o caráter do Templo como casa de oração. O segundo oráculo é tirado de Jr 7,1-15, um texto que inspira toda a ação e o pensamento de Jesus. Para Jeremias e Jesus o Templo se transforma em uma cova de bandidos porque nele encontram os assassinos e os idólatras que matam, oprimem e exploram até os mais pobres.




A intervenção de Jesus no Templo na expulsão dos vendedores é uma chamada de atenção para recolocar nossa atitude religiosa num plano de autenticidade e sinceridade. O espaço sagrado e o tempo sagrado (momento de oração e de celebração) devem adquirir seu verdadeiro sentido como forma de encontro com Deus que se traduz na vivência do amor fraterno.  Ambos (o espaço sagrado e o tempo sagrado) temos que assumir sempre a forma da intercessão e da busca do perdão de Deus para um coração arrependido: “Minha casa será casa de oração”.




Minha casa será casa de oração”. Precisamos levar a sério a firmação de Jesus que o templo/igreja é casa de oração, pois em muitos lugares o silêncio se torna raro, pois cada grupo, pelo menos de duas pessoas, conversam no espaço sagrado em vez rezarem e respeitarem quem está querendo rezar. Podemos dizer que revivemos o legalismo desumanizante, opressor, vazio. Como consequência, entramos no espaço sagrado (templo/igreja) vazios e saímos dele mais vazios ainda. Tem-se impressão de que as pessoas que se envolvem na liturgia, ficam sem tempo para conversar com Deus, pois vivem agitados.




Rezar verdadeiramente significa estar diante de Deus, estar com Deus e estar em Deus. O homem que reza precisa manter-se na presença de Deus. Para estar plenamente diante de Deus é necessário que o homem largue o resto. Quando o homem está diante de Deus, existe o começo de uma convivência: estar com Deus. Estar com Deus significa estar de acordo com Ele, isto é, fazer a vontade dele, é estar unido a Ele e trabalhar com Ele (ser missionário). Quando o homem estiver diante de Deus e estiver com Deus, ele estará em de Deus e estará com o próximo. Estar em Deus significa tornar-se a morada de Deus. É formar-se uma só coisa com Deus. E o homem participará da vida divina como consequência deste estar em Deus.  Por isso, a oração não é apenas um barco salva-vidas para quem estiver afundando.




O valor de nossa religiosidade e o de nosso verdadeiro encontro com Deus que dão sentido para toda nossa existência dependem da escolha que fazemos entre estas duas formas de receber a mensagem de Deus. 




Nem sempre estamos prontos ou preparados diante da intervenção de Deus na nossa vida. Como os dirigentes do povo de Israel podemos também assumir atitudes contraditórias diante da intervenção de Deus na nossa vida. Deus quer expulsar de nossa cabeça ou de nosso coração todas as atitudes que querem ocupar o lugar de Deus na nossa vida. Mas por causa de nossos pensamentos pré-fabricados ou pré-estabelecidos acabamos expulsando Deus de nossa vida e permanecemos na nossa vida sem direção, pois vivemos sem escala de valores. Deus intervém na nossa vida com intuito de recolocar nossa vida no seu eixo verdadeiro ou no caminho da salvação. Mas quantas vezes eliminamos ou procuramos algum meio para eliminar o plano de Deus para nossa vida ou tentamos esquecer Sua Palavra inquietante tal como sucedeu na vida dos dirigentes do povo durante a atuação de Jesus em Jerusalém. 




Jamais podemos identificar religião com prática cultual. O culto verdadeiro e autentico tem conseqüências verticais e horizontais. Honramos Deus na medida em que passamos da comunidade cultual para a vida na prática da solidariedade com os irmãos, especialmente com os mais necessitados. Ao sair do templo ou da igreja não podemos fingir não olhar para o irmão que necessita de nossa ajuda. O verdadeiro culto é o culto da vida inteira vivida com fidelidade na vivencia da vontade de Deus e na solidariedade com os irmãos.




A entrada de Deus e de Sua Palavra na nossa vida quer colocar em questão as nossas atitudes religiosas. Esta entrada serve para desmascarar nosso egoísmo e nosso jogo de interesse em nome de uma vida sem sentido e sem rumo e para tirar de nós um falso sentimento de segurança a fim de nos salvar. A entrada de Deus e de Sua Palavra na nossa vida exige que coloquemos em revisão a nossa religiosidade se é autentica ou falsa. Ninguém pode crer impunemente. A religião não pode nos assegurar a impunidade em nossas más ações, e a religião nunca pode ser considerada como o refugio seguro para malfeitores. Uma religião sem o compromisso de uma conduta coerente em função da vivência dos valores humanos reconhecidos universalmente é um ópio que faz adormecer a própria consciência. Precisamos questionar o questionável e perguntar o perguntável. Precisamos ficar atentos para que nossa prática religiosa não seja mais importante do que o próprio Deus e o ser humano. Onde há o amor fraterno, ali Deus está, mesmo que se trate do ateísmo. Onde não há o amor fraterno, não há o verdadeiro cristianismo, pois o amor fraterno é o mandamento do Senhor (Jo 13,34-35; 15,12).


P. Vitus Gustama,svd

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