04/11/2015
RENUNCIAR-SE
A TUDO PARA SEGUIR E AMAR JESUS LIVREMENTE
Quarta-Feira
da XXXI Semana Comum
Evangelho: Lc 14, 25-33
Naquele tempo, 25 grandes multidões
acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele lhes disse: 26 “Se alguém vem a mim,
mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos
e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo. 27 Quem não carrega sua cruz e não
caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo. 28 Com efeito: qual de
vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos,
para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, 29 ele vai lançar o
alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a
caçoar, dizendo:
30 ‘Este homem começou a
construir e não foi capaz de acabar!’ 31 Ou ainda: Qual rei
que, ao sair para guerrear com outro, não se senta primeiro e examina bem se
com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte
mil? 32 Se ele vê que não pode, enquanto o outro rei ainda está
longe, envia mensageiros para negociar as condições de paz. 33 Do mesmo modo,
portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser
meu discípulo!”
________________
Continuamos a acompanhar Jesus no seu
Caminho para Jerusalém onde Ele será crucificado, morto e glorificado (Lc
9,51-19,28). Durante este caminho Jesus deu aos seus discípulos Suas últimas
lições. As lições apresentadas no texto do evangelho de hoje são sobre as
condições para seguir a Jesus. O que nos torna verdadeiro discípulo de Jesus?
É preciso sabermos que as condições do
seguimento apresentadas por Jesus têm caráter universal, pois são dirigidas às
multidões que o acompanham em seu caminho para Jerusalém. Todas elas são
centradas no caráter global que tem o seguimento de Jesus.
E Jesus nos adverte que o seguimento em
questão não é fácil. Podemos explicar isso através do texto do evangelho de
ontem em que muitos não aceitaram o convite para participar do banquete do
Reino, pois é exigente e não se trata somente de sentar-se à Sua mesa (cf. Lc
14,15-24). É necessário cumprir as exigência básicas.
Hoje Jesus nos diz que para ser seus
discípulos temos que colocar a importância do Reino acima dos sentimentos
familiares, pois a nossa salvação está em jogo.
“Se alguém vem a mim, mas não se desapega
de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até
da sua própria vida, não pode ser meu discípulo”. Assim Jesus começou suas
lições sobre o seguimento.
Nesta primeira condição, os “pais” e “irmãos” representam as tradições,
os apegos ao passado, as circunstancias imediatas culturais, sociais e
religiosas. Trata-se de todo tipo de condicionamento que impede alguém de optar
ou de fazer novas opções. Por isso, renunciar
aos pais e à família em geral significa, aqui, a capacidade de se desprender da
tradição dos antigos que não salvam para abraçar o novo que salva trazido por Jesus;
é ser livre das leis e das regras que amarram a pessoa para ser mais
misericordiosa; é libertar-se de cultos estéreis e sem vida para assumir uma fé
que transforma todos em pessoas mais humanas. Na linguagem psicológica, é
cortar o cordão umbilical das dependências do passado para assumir o presente
com suas possibilidades para nos fazer crescer. É relativizar todo processo
anterior para assumir outro processo que torna a pessoa mais madura.
Somos advertidos sobre onde colocamos nosso
maior amor. O amor sem condições e sem fronteiras não é um suave sentimento
muito tranqüilo e fácil. É uma revolução. Jesus pede uma renúncia total para
que nossa entrega a Ele seja total. Sabemos que Jesus quer que amemos aos
nossos (cf. Jo 13,34-35; 15,12). O amor filial, o amor conjugal, o amor
fraterno são “sagrados”. Todavia, o amor de Deus, que nos sustenta, anima e
salva, deve ser maior.
Trata-se, desta primeira condição, de uma
opção radical pela pessoa de Jesus e pela nova escala de valores que Ele
propõe. Os valores do Reino devem estar acima de tudo e de todos. Quem não
fizer opção pela Vida, por excelência, que o próprio Jesus personifica (cf. Jo
11,25; 14,6), terá que contentar-se com uma vida raquítica, isto é uma vida
limitada sem desenvolvimento e não conseguirá jamais superar os problemas que
estabelecem as relações humanas.
É preciso saber renunciar-se a si próprio. Trata-se
de capacidade de superação de todo o passado acreditando no futuro oferecido
por Jesus. É dispor-se a seguir Jesus escutando a sua voz e colocando em prática
seus ensinamentos (cf. Lc 10,38-42). Se não fizer assim é em vão chamar Jesus
de Senhor (cf. Lc 6,46). Neste sentido, seguir Jesus sempre supõe a conversão
para poder deixar-se guiar por Ele sem nenhum obstáculo colocado por nós neste
seguimento.
A segunda condição é conseqüência da
anterior: “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode
ser meu discípulo”. A exemplo de Jesus, cada discípulo deve estar preparado
para afrontar a recusa da sociedade que vive os valores contrários aos do
Reino. O discípulos tem aceitar a sensação de fracasso ou experimentar o
aparente fracasso. O “aparente fracasso” porque a última palavra sobre o homem
será a de Deus e não a do homem. O discípulo deve estar preparado para sentir a
sensação sem segurança.
Ao seguir a Jesus ficamos frente a frente
com a cruz: a cruz da contrariedade, a cruz da injustiça, a cruz da
desonestidade, a cruz da perda de um inocente, a cruz da corrupção e assim por
diante. E Jesus continua nos chamando a caminhar atrás dele vivendo uma vida
honesta, justa, fraterna no amor. A cruz nos convida a nos deixarmos contagiar
pelo amor. Quem carrega a cruz com amor, une-se a Cristo. Quem a carrega sem
amor, encontra-se com condenação.
Carreguemos nossa
cruz de cada dia, sendo fieis à missão que o Senhor nos confiou de anunciar Seu
Evangelho. Sejamos um Evangelho encarnado do amor de Deus para os demais.
Passemos a vida, como Cristo, fazendo o bem a todos (cf. At 10,38). Somente
edificaremos a Igreja sobre a Pedra angular que é Cristo, se renunciarmos a
nossos egoísmos, a nossas injustiças, a nossas paixões ordenadas, a nossas
inclinações desenfreadas aos bens materiais ou ao poder. Cristo nos quer livres
de toda carga de maldade, de toda injustiça e de todo sinal de morte.
Podemos dizer que a moral cristã é uma moral
simples que tem seu grande ponto de referência no amor ao próximo: “Não
fique devendo a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está
cumprindo a Lei. O amor é o cumprimento perfeito da Lei”, diz São Paulo aos
romanos (Rm 13,8.10). Todos os preceitos da ética cristã ficam profundamente
condicionados pelo preceito do amor ao próximo. Por isso, uma falta contra
qualquer dos preceitos se descobre como uma falta contra a lei do amor. Todas
as injustiças são conseqüências da falta de amor. Para os justos, os bons, os
honestos, os que têm amor no coração não necessitariam de nenhuma lei.
Amar, não tem término. Há que avançar sempre
no amor para alcançar o Deus de amor (1Jo 4,8.16). Amor é um grande desafio de
cada dia, pois ele é essencial para os seres humanos e sua convivência diária a
fim de chegar à sua plenitude. Por ser essencial, tudo deve partir dele e nele
tudo deve terminar. Quando cumprirmos as leis civis, diremos que estamos dentro
da lei. Mas o amor é uma “chamada” dirigida a todos para que o ser humano seja
mais humano a fim de ser mais divino.
A partir do amor podemos entender o
seguimento renunciante de Jesus, que nos recorda a passagem do evangelho lida
neste dia. Jesus, para levar até o fim Sua missão salvadora da humanidade,
renunciou a tudo, inclusive, a sua vida. Por isso, foi constituído Senhor e
Salvador de todos. E nos diz que também nós devemos saber carregar a cruz de
cada dia para fazer o bem como Ele e com Ele.
A fé em Cristo abarca toda nossa vida. Por
isso, para ser um verdadeiro cristão é preciso aprender a renunciar a muita
coisa na vida. Renunciar não é um ato negativo e sim uma opção por aquilo que é
superior na escala de valores. Cada renúncia supõe o amor. Se cada renúncia não
se complementar por, com e no amor, a renúncia poderá se converter em
anti-entrega. Somente o amor é que transforma qualquer renúncia em doação
gratificante.
A adesão a Jesus leva cada pessoa ou cada
cristão a um comportamento novo diante de todas as coisas e diante de todas as
pessoas, inclusive diante das pessoas que tem uma ligação afetiva.
Para ser seus discípulos, Jesus não nos pede
que cumpramos as regras, ou que sejamos bons. Tudo isso é necessário. Jesus nos
pede que sejamos absolutamente disponíveis. Ser discípulo de Jesus não é
somente ser bom, pois todos têm que sê-lo independentemente de ser ou de não
ser cristão. Ser discípulo de Jesus é ser diferente, por ser disponível e
pronto para renunciar a tudo pelo valor superior. Ser cristão é sério e
difícil. Por isso, muitos caminham com Jesus, mas poucos chegam a ser
discípulos.
Nesta Eucaristia ou celebração, o Senhor nos
manifesta quanto nos ama, dando sua vida por nós todos, e fazendo-nos
participes da Vida que Ele recebeu do Deus Pai. Em seu amor por nós, Jesus
carregou sobre si nossos pecados para nos redimir. Por isso, ele se converteu
para nós no Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Entremos em comunhão
de vida com Ele e estejamos dispostos a ir atrás de suas pecadas, carregando
nossa cruz de cada dia. Carreguemos nossa cruz de cada dia, sendo fieis à
missão que o Senhor nos confiou de anunciar seu Evangelho de salvação. Sejamos
um evangelho encarnado do amor de Deus para os demais. Vivamos fazendo o bem
para todos.
Que Deus nos conceda
a graça de viver com lealdade nossa fé em Jesus Cristo para que, sendo luz em
meio das trevas do mundo, colaboremos para que todos encontrem o caminho que
leva a Cristo que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6), Luz das nações e
salvação para todos os homens.
P.Vitus Gustama, SVD
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