21/11/2015
APRESENTAÇÃO
DE NOSSA SENHORA
SER MEMBRO DA FAMÍLIA DE JESUS CRISTO
21 de Novembro
Evangelho: Mt 12, 46-50
Naquele tempo, 46 enquanto Jesus estava
falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando
falar com ele. 47 Alguém disse a Jesus: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí
fora, e querem falar contigo”. 48 Jesus perguntou àquele que tinha falado:
“Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” 49 E, estendendo a mão para os
discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. 50 Pois todo aquele que
faz a vontade de meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e
minha mãe”.
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A apresentação de Nossa Senhora não é narrada
nos evangelhos. Ela é uma tradição muito antiga (Evangelho Apócrifo do século
II: Evangelho apócrifo de São Tiago). Segundo esta tradição (Apócrifo), os pais
de Maria, Joaquim e Ana, piedosos israelitas, não conseguiram ter filhos até
sua idade avançada por causa da esterilidade ( ver também 1Sam 1,1-2,36; Lc
1,1-25). Não ter filhos significava, na época, o castigo de Deus pelos pecados
cometidos. Mas os dois eram justos. Em sua angústia Ana fez uma oração
fervorosa, prometendo ao Senhor oferecer-lhe o fruto de suas entranhas se lhe
concedesse descendência.
O nascimento de Nossa Senhora foi o resultado
dessa oração e dessa promessa: “Ó Deus de nossos pais, abençoa-me e ouve minha oração como abençoaste o
ventre de Sara, dando-lhe um filho, Isaac”, assim Ana, mãe de Maria rezava (Apócrifo de Tiago, 2,1).
Quando se retirou para o deserto durante quarenta dias e quarenta noites Joaquim,
pai de Maria, dizia para si mesmo: “Não descerei nem para comida, nem para bebida, enquanto o
Senhor não me visitar; a minha oração será para mim comida e bebida”
(cf. Apócrifo de Tiago 1,4). Joaquim e Ana, fiéis ao seu voto, apresentaram a
menina quando tinha três anos no templo e permanecia, no templo, dedicada à
oração até seu casamento com José (cf. Evangelho apócrifo de São Tiago 7,1-8,1)
A apresentação de Nossa Senhora é a festa de
entrega voluntária a Deus; é a festa que nos ensina a renunciar a nossa própria
vontade a fim de fazer somente a vontade de Deus para formar uma família com
Deus e ser instrumento divino para levar os outros para Deus: “Pois todo aquele que faz a vontade do meu
Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”, diz
Jesus (Mt 12,50).
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O texto do evangelho de hoje é escolhido em
função da festa da Apresentação de Nossa Senhora ao Senhor.
No texto do evangelho deste dia, onde os
familiares de Jesus não são mencionados por seus nomes, “a mãe”, aqui,
representa Israel enquanto origem de Jesus e “os irmãos” representam também
Israel enquanto membros do mesmo povo. Israel fica “fora” em vez de se
aproximar de Jesus. Jesus rompe sua vinculação de seu povo de origem para
formar uma nova família com os que se associam com o compromisso de formar uma
comunidade de irmãos vivendo o amor fraterno (ágape) como maior mandamento (cf.
Jo 13,34-35; 15,12).
A maior parte das religiões do mundo se apóia
na família, comunidade natural. Jesus edifica sua religião ou sua comunidade
não sobre as relações familiares e sim sobre uma comunidade de tipo seletivo em
virtude da fé para elevar a família humana em família de Deus. Para divinizar a
família humana é preciso que Deus seja de todos e centro da vida e de qualquer
convivência (família, comunidade, grupos etc.).
A evolução do mundo técnico tende a tirar o
homem de suas comunidades naturais para submergi-lo em comunidades mais
“artificiais” ou “mais seletivas”. Por isso, a família vive, muitas vezes, de
maneira dramática o conflito das gerações que caracteriza a nossa época. Os
pais rezam melhor em companhia de seus amigos do que em família, com seus
filhos e familiares. Mas se todos se preocuparem com a vontade de Deus ao
praticar o bem, ao viver o amor fraterno, o único que nos edifica, humaniza e
diviniza, acabarão salvar a comunidade natural que é a família humana. Por
isso, Jesus afirma hoje: “Todo
aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha
irmã e minha mãe” (Mt 12,50). Trata-se de uma família ou uma comunidade de
Deus, e por isso, de uma comunidade de salvação.
Jesus, por sua encarnação, entrou no mundo e
formou parte de nossa humanidade, de uma verdadeira humanidade, com os laços de
sangue e de cultura e cresceu em uma família. Ele se tornou humano para nos
divinizar. Ele nasceu numa família para santificar a família. Ele viveu em um
país determinado, Palestina; tinha uma mãe, Maria. Essas realidades humanas têm
grande importância, constituem realmente o lugar de nossa vida.
“Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?”,
pergunta Jesus. A pergunta não significa um desprezo de Jesus aos seus parentes
ou familiares. Ninguém amou Sua mãe melhor que Ele. E nenhuma mãe amou melhor
seu Filho, Jesus Cristo, Deus-Conosco do que a própria Maria, a mãe de Jesus.
Com esta pergunta Jesus quer nos revelar algo
muito importante: o discípulo, cada cristão, cada cristã que vive os
ensinamentos de Jesus é um parente de Jesus. Jesus oferece aos homens a
qualitativa intimidade de sua família. A família humana de Jesus viveu conforme
a vontade de Deus: José que criou Jesus era chamado de “o justo”, aquele que
vive segundo os mandamentos de Deus (cf. Mt 1,19). Maria, a Mãe de Jesus foi
chamada pelo anjo de “cheia de graça” (cf. Lc 1,28) e ela viveu a vida conforme
a vontade de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Tua
palavra” (Lc 1,38). Por isso, a família
humana de Jesus serve de exemplo para todas as famílias humanas. Que é possível
formar uma família de Deus nesta terra quando Jesus se torna centro de todos e
quando todos vivem de acordo com a Palavra de Deus. A única maneira de salvar a
família humana é transformá-la em família de Deus, família que vive de acordo
com os mandamentos de Deus.
Entre Deus e os homens já não há somente
relações frias de obediência e de submissão como entre o patrão e o empregado.
Com Jesus entramos na família divina, como seus irmãos e irmãs, como sua mãe.
Se em todos os meus atos e atitudes de cada dia, se em todos os minutos de
minha vida procurar me manter unido a Deus na vivência do amor fraterno, serei
irmão de Jesus, farei parte da família de Deus desde aqui na terra junto aos
outros irmãos e irmãs no mundo inteiro que fazem a mesma coisa.
“Todo aquele que faz a vontade do meu Pai,
que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Esta frase
deve servir de orientação para nossa vida diária. É lindo e desejável ter um
lar, um aconchego. É o sonho de todos. É o desejo de qualquer coração. Ter um
lar é um sonho vivo de qualquer ser humano. No lar podemos descansar, conviver
amorosamente e estar juntos como pessoas amadas. Mas é preciso incluir Jesus
como membro de nosso lar e nós como membros do lar do Senhor. Somente assim
nosso lar na terra se transformará em céu antecipado onde há paz e amor,
segurança e alegria, festa e descanso. Nosso ler definitivo no céu deve começar
desde já aqui na terra tendo Jesus como membro de nossa família e nós, da
família de Jesus. A disponibilidade de Maria diante da Palavra e do desígnio
divino nos indicam o grado máximo que devemos aspirar no serviço da Palavra
divina: “Faça-se em mim segundo a sua Palavra” (Lc 1,38).
Reflita:
“Por acaso não fará Deus justiça aos
seus escolhidos, que estão clamando por Ele dia e noite? ... Digo-vos que em
breve Deus lhes fará justiça”
(Lc 18,7-8).
“O Senhor, meu Deus, vive, se eu der à luz,
trate-se de homem ou de mulher, oferecê-lo-ei em voto ao Senhor meu Deus, e o
servirá em todos os dias de sua vida”, prometeu Ana (Apócrifo de Tiago, 4,1).
P. Vitus Gustama,svd
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