14/11/2015
ORAÇÃO NA VIDA E VIDA
NA ORAÇÃO
REZAR SEM CESSAR
Sábado
da XXXII Semana Comum
Evangelho: Lc 18,1-8
Naquele tempo: 1 Jesus contou aos discípulos
uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca
desistir, dizendo: 2 'Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não
respeitava homem algum. 3 Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura
do juiz, pedindo: `Faze-me justiça contra o meu adversário!' 4 Durante muito
tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: 'Eu não temo a Deus, e não
respeito homem algum. 5 Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe
justiça, para que ela não venha a agredir-me!'' 6 E o Senhor acrescentou:
'Escutai o que diz este juiz injusto. 7 E Deus, não fará justiça aos seus
escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? 8 Eu
vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando
vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?'
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Continuamos a acompanhar Jesus na sua última
viagem para Jerusalém onde ele será crucificado, morto e glorificado. Ao mesmo
tempo, aprendamos dele as últimas lições importantes para nossa vida como cristãos,
seguidores de Jesus. Desta vez a lição que Jesus quer nos passar é a importância
da oração na nossa vida de cristãos.
O evangelista Lucas é conhecido como uma
pessoa orante, e a sua comunidade é uma comunidade orante, porque ele dá uma
atenção particular à oração. Por isso, seu evangelho é chamado também de o
“Evangelho de Oração”. A oração envolve o evangelho inteiro desde o primeiro
capítulo que abre com uma solene liturgia no Templo de Jerusalém (Lc 1,1-10)
até a reunião dos discípulos, depois da ascensão, novamente no Templo para
louvar a Deus (Lc 24,53).
A oração é uma percepção da realidade que
logo se desabrocha em louvor, em adoração, em agradecimento e em pedido de
piedade Àquele que é a origem do ser. Por isso, quem sabe viver
conscientemente, sabe também rezar bem. E quem sabe rezar bem, também sabe
viver conscientemente. “Vive de tal modo que sua vida seja uma oração”
(Santo Agostinho: In ps. 91,3). O homem que ora inspira o mundo, olha para o
mundo com compaixão e, nesse olhar, penetra a fonte de todo ser. A oração é mais do
que recitar umas fórmulas, é, sobretudo, uma convicção íntima de que Deus é
nosso Pai e que quer nosso bem. Orar/rezar é uma maneira mais eficaz para
aproximar a terra para o céu; é uma maneira de encurtar a distância entre o céu
e a terra; é meio direto para penetrar no céu a fim de conversar com o Pai do
céu. A oração derruba o muro que nos separa de
Deus, pois na oração conversamos diretamente com o céu, isto é, com Deus.
Distanciar-se da oração significa distanciar-se do céu. É impossível chamar
Deus de Pai sem conversar com Ele permanentemente.
Rezar
verdadeiramente significa estar diante de Deus, estar com Deus e estar em Deus.
O homem que reza precisa manter-se na presença de Deus. Para estar plenamente
diante de Deus é necessário que o homem largue o resto. Quando o homem está
diante de Deus, existe o começo de uma convivência: estar com Deus. Estar com
Deus significa estar de acordo com Ele, isto é, fazer a vontade dele, é estar
unido a Ele e trabalhar com Ele (ser missionário). Quando o homem estiver
diante de Deus e estiver com Deus, ele estará em de Deus. Estar em Deus
significa tornar-se a morada de Deus. É formar-se uma só coisa com Deus. E o
homem participará da vida divina como consequência deste estar em Deus. Por isso, a oração não é apenas um barco
salva-vidas para quem estiver afundando.
”Jesus contou aos discípulos uma parábola
para mostrar-lhes a necessidade de rezar
sempre, e nunca desistir...” (Lc 18,1), assim o evangelista Lucas nos
relatou sobre a importância da oração na vida de quem acredita em Deus.
O advérbio “sempre” confere à oração um
duplo significado. O rezar “sempre” é o programa de quem crê, chamado a
aceitar, a cada dia, o desafio da história: convoca ao compromisso de colocar a
“prece na vida” e “vida na prece”. Oração e vida se fundem em uma recíproca
imanência. Uma é a vida da outra. A prece transforma em unidade os fragmentos
da existência quotidiana diante de Deus. Se a prece tem lugar na existência
quotidiana do cristão, a própria vida está na prece. Por isso, a prece não é
apenas um barco salva-vidas para quem estiver afundando. Para o cristão, falar
com Deus significa usar a linguagem da vida e da história na conversa com o Pai
do céu. Seria impossível imaginar um filho não conversar com seu pai morando na
mesma casa.
Este versículo introdutório (Lc 18,1) é
seguido pela parábola sobre o juiz desonesto e a viúva insistente. Com
a história da viúva, que tão insistente, venceu, pelo cansaço, o juiz
desinteressado que não estava nem um pouco inclinado a atendê-la, Jesus quer
nos recomendar a perseverança na oração. São três as razões porque devemos ser
perseverantes nas nossas orações: Primeiro, a bondade e a misericórdia
de Deus. Segundo, o amor de Deus por cada um de nós (Deus ama cada um na
sua individualidade). Terceiro, o interesse que nos mostramos
perseverantes na oração. Por isso, o modo como a pessoa reza depende da imagem
de Deus que traz no seu coração. Quanto mais correta for esta imagem, mais
disposição terá para a oração e mais confiante e perseverante esta será.
A pessoa de fé é sempre perseverante, porque
ela sabe a quem recorrer e em quem acredita, sem se importar com as
circunstâncias. Aquele que crê, tem absoluta certeza de ser atendido. A oração
que não foi atendida é uma forma de Deus atender nosso pedido, pois Deus tem a
sabedoria infinita. Se Deus “não nos atender” é para o nosso bem maior, pois
Deus sabe muito bem de nossas necessidades. Se Ele atender nosso pedido é para
nossa salvação. E se Ele não atender nossa oração é para nossa salvação também.
Sem duvida nenhuma, Deus sempre nos atende, pois Ele quer nossa salvação. “Quando
a oração brota da alma como uma necessidade da própria alma, converte-se em
chave de ouro, em santo e eficaz sinal que abre as portas do céu e torna
possível um encontro com Deus. O homem se eleva em oração e Deus se inclina em
misericórdia”, dizia Santo Agostinho (In ps. 85,7).
A vontade de Deus de querer nos salvar é o
motivo de nossa perseverança na nossa oração. E acabamos aprendendo o que
devemos pedir e o que não devemos pedir a Deus nas nossas orações. Neste
sentido, a oração não deixa de ser um caminho pedagógico.
“Jesus contou aos discípulos uma parábola,
para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir”. A oração
perseverante é expressão e o alimento da fé em Deus. Fé e oração estão sempre
intimamente unidas. Para orar é preciso crer e para crer é necessário orar. A
oração é um exercício de fé. Se há quem consagre a sua vida à oração, é para
manter viva e ativa essa fé que Jesus deseja encontrar no coração de todos (Lc
18,8). A oração deve ser como uma respiração permanente. Ninguém sobreviveria
sem respirar e sem o ar do qual ele respira. Assim também um cristão: não viveria
como bom cristão sem uma oração perseverante. E aquele que crê não quer obrigar
Deus a fazer a própria vontade, utilizá-lo para realizar seus desejos, mas para
obter a graça de conformar sua vontade à de Deus.
Além disso, a parábola da viúva insistente
quer nos ensinar que, para atingir objetivos superiores às nossas forças,
precisamos orar sem cessar, pois há objetivos que não podem ser alcançados sem
a oração. Por exemplo: onde conseguir a força para perdoar quem nos prejudicou,
a não ser na oração? Ou, onde conseguir a força para não fraquejar diante dos
maus desejos da ambição, da inveja, da cobiça, do ódio, do rancor, da vingança
a não ser na oração? Se por um instante sequer deixarmos cair os braços, isto
é, se pararmos de rezar imediatamente as forças do mal prevalecerão, seremos
derrotados e os desastres que sofremos serão assustadores. Se pararmos de
rezar, erraremos o caminho. Quem aprender a ficar de joelho em oração e
adoração, vai conseguir ficar firme e inabalável diante das dificuldades da
vida, pois ele sabe e acredita que Deus está com ele e ele está com Deus.
“A Igreja não pode dispensar o pulmão da
oração, e alegra-me imenso que se multipliquem, em todas as instituições
eclesiais, os grupos de oração, de intercessão, de leitura orante da Palavra,
as adorações perpétuas da Eucaristia. Ao mesmo tempo, há que rejeitar a tentação duma
espiritualidade intimista e individualista, que dificilmente se coaduna com as
exigências da caridade, com a lógica da encarnação. Há o risco de que alguns
momentos de oração se tornem uma desculpa para evitar de dedicar a vida à
missão, porque a privatização do estilo de vida pode levar os cristãos a refugiarem-se
nalguma falsa espiritualidade”. (Papa Francisco: Exortação Apostólica Evangelii Gaudium n.262)
P. Vitus Gustama,svd
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