quinta-feira, 19 de novembro de 2015


Domingo, 22/11/2015
SOLENIDADE DE CRISTO, REI DO UNIVERSO

34º DOMINGO DO TEMPO COMUM

 

 

I Leitura: Dn 7,13-14

 

13 “Continuei insistindo na visão noturna, e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho de homem, aproximando-se do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença. 14 Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam; seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá”.

 

II Leitura: Ap 1,5-8

 

5 Jesus Cristo é a testemunha fiel, o primeiro a ressuscitar dentre os mortos, o soberano dos reis da terra. A Jesus, que nos ama, que por seu sangue nos libertou dos nossos pecados 6 e que fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai, a ele a glória e o poder, em eternidade. Amém. 7 Olhai! Ele vem com as nuvens, e todos os olhos o verão, também aqueles que o traspassaram. Todas as tribos da terra baterão no peito por causa dele. Sim. Amém! 8 “Eu sou o Alfa e o Ômega”, diz o Senhor Deus, “aquele que é, que era e que vem, o Todo-poderoso”.

 

Evangelho: Jo 18,33-37

 

Naquele tempo, 33b Pilatos chamou Jesus e perguntou-lhe: “Tu és o rei dos judeus?” 34 Jesus respondeu: “Estás dizendo isto por ti mesmo ou outros te disseram isto de mim?” 35 Pilatos falou: “Por acaso sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?” 36 Jesus respondeu: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”. 37 Pilatos disse a Jesus: “Então tu és rei?” Jesus respondeu: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”.

-----------------------------

 

I. Uma breve história da festa e seu sentido litúrgico

        

A festa de Jesus Cristo, Rei do universo, foi instituída por Pio XI, que explica seu sentido na encíclica Quas Primas de 11 de Dezembro de 1925.

 

Sobre o sentido da festa o Papa explica na encíclica Quas Primas nas seguintes palavras:

Os males invadem a terra porque a maioria dos homens se afasta de Jesus Cristo e de sua Lei santíssima. Não resplandecerá uma esperança certa de paz verdadeira entre os homens e povos enquanto os indivíduos e as nações negarem e recusarem o império de nosso Salvador. Estamos convencidos de que não há meio mais eficaz para restabelecer e vigorizar a paz que procurar a restauração do reinado de Jesus Cristo. O reinado de Cristo se opõe unicamente ao reino de Satanás e à potestade das trevas. Por isso, ele exige não somente que os homens sejam desapegados das coisas e das riquezas terrenas, não somente que tenham fome e sede de justiça, mas também que se neguem a si mesmos e tomem sua cruz... Enquanto os homens e as nações, afastados de Deus, correm o risco de cair na sua ruína e na morte por causa da chama de ódios e das lutas fratricidas”.

 

Para o papa, então, os grandes e vários males que afetam o mundo têm sua raiz no fato de que “a maioria dos homens se tinha afastado de Jesus Cristo e de sua lei santíssima”. Por isso, o papa crê que “não há meio para estabelecer e revigorar a paz do que procurar a restauração do reinado de Jesus Cristo. Seus frutos seriam “a liberdade, a ordem, a tranquilidade, a concórdia e a paz” entre os homens. Por isso institui a festa “de nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo”. O motivo anterior para a introdução da festa nesse ano foi a celebração do 16º centenário do Primeiro Concílio de Nicéia, que proclamou a igualdade de natureza entre Jesus e o Pai, base do reconhecimento de sua realeza.

        

A festa apresenta-se, na estrutura atual do ano litúrgico, com sentido mais espiritual e escatológico. Sua colocação no último domingo do ano litúrgico faz com que se sintonize melhor com a perspectiva própria do final do ano imediatamente antes do advento. Jesus Cristo Rei surge, então, como a meta a que tendem o ano litúrgico e  de toda a nossa peregrinação terrestre: “Jesus Cristo é sempre o mesmo, ontem e hoje; ele O será para a eternidade” (Hb 13,8), “ o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim” (Ap 22,13). Assim, no final do ano litúrgico ergue-se a figura do Rei da Glória, “o fim da história humana, ponto de convergência para o qual tendem as aspirações da história  e da civilização, centro do gênero humano, a alegria de todos os corações e a plenitude  das suas aspirações... Vivificados e reunidos no seu Espírito, caminhamos em direção à consumação da história humana, a qual corresponde plenamente ao seu desígnio de amor: “recapitular todas as coisas em Cristo, tanto as do céu como as da terra”[Ef 1,10] (GS 45).

 

II. Mensagem Do Texto: Jo 18,33-37

        

O nosso texto pertence ao Relato da Paixão de Jesus (Jo 18-19). Este texto quer responder duas perguntas importantes: Qual é o sentido da realeza de Jesus ? E por que os judeus e Pilatos a recusam ?

        

Pilatos faz a Jesus uma pergunta: “Tu és o Rei dos judeus ?” (v.33). Aos olhos de Pilatos, o título “rei dos judeus” podia designar quer um chefe de bando buscando tomar o lugar das autoridades locais reconhecidas por Roma, quer um revolucionário zelote querendo expulsar os pagãos da Terra Santa. Pilatos estava certamente informado de que o povo judeu esperava um rei, chamado “Messias”, que ia restaurar a soberania de Israel (cf. Mt 27,22;Lc 23,2; Mc 15,32).  Jesus responderá solenemente nos vv. 36-37 . Três vezes ele dirá: o meu reino. Mas antes da resposta solene de Jesus, o evangelista João quer chamar a atenção dos leitores para um detalhe importante: Jesus não responde à pergunta imediatamente, mas formula, por sua vez, uma pergunta para Pilatos: “Estás dizendo isto por ti mesmo ou outros te disseram isto de mim?” (v.34) para mostrar que quem, na verdade, conduz a discussão é Jesus, e não Pilatos.

        

A primeira pergunta de Pilatos não nasce de uma avaliação pessoal dele (v.34), mas é formulada por sugestão dos judeus. Pilatos não percebe a advertência implícita que ele pode estar sendo manipulado. Com sua pergunta, Jesus quer induzir Pilatos a fazer a pergunta certa: “...O que fizeste?” (v.35). Daí é que se deve partir, da atuação de Jesus, não da interpretação que os judeus lhe conferem. Sua atuação mostra que ele é rei, mas de maneira totalmente diferente de como os judeus queriam dar a entender.

        

Jesus insiste na origem de sua realeza: “O meu reino não é deste mundo” (v.36). Não há nada em comum entre a realeza de Cristo e a do mundo. A realeza do mundo manifesta-se no poder, na riqueza, na ambição, na imposição , na busca de si e é defendida pelas armas. Possuir, conquistar, exterminar são, para os homens, provas de força, mas para Jesus, eles são manifestação da fraqueza.

        

A realeza de Jesus manifesta-se na doação de sua vida para que o povo possa viver (por isso é que a realeza de Jesus tem seu ponto alto na cruz), no amor e no serviço à verdade, e a única coisa que pretende é a obediência à verdade. A verdade não precisa de outra defesa senão ela mesma. Não precisa das armas de que os homens se valem para defender a precariedade de suas conquistas. Jesus não elimina ninguém. Ao contrário, ele é que se entrega à morte para salvar os homens. Não faz  alianças com os grandes e poderosos, mas põe-se ao lado dos indefesos.  O reino de Cristo cresce onde se manifesta a atitude de serviço, a doação generosa em favor do irmão; onde cresce o respeito pelos outros e diálogo.

        

O texto termina com um apelo de Jesus a decidir-se pela verdade: “Todo aquele que  é da verdade escuta minha voz” (v.37). Para entender esta frase importa notar o sentido da palavra “verdade” e “escutar”.

 

Na filosofia a verdade (verdade lógica), se define como conformidade da inteligência com seu objeto (Adaequatio intellectus ad rem), ou, ontologicamente, como conformidade da coisa com a inteligência (Adaequatio rei ad intellectum).

 

Biblicamente (cf. Jo 1,14;14,6), a verdade significa lealdade, fidelidade, coerência e firmeza no pacto, na amizade, no amor. Para o evangelista João, a verdade (alêtheia) designa, primeiramente, a realidade divina enquanto se manifesta e pode ser conhecida pelo homem. O que o homem percebe da realidade de Deus é amor sem limite de Deus pela humanidade (cf. Jo 3,16). Este amor é a verdade de Deus. Deus não pode fazer outra coisa a não ser amar sem medida até o fim (cf. Jo 13,1). O amor leal de Deus que é a verdade de Deus é a atividade vivificante (cf. Jo 6, 63) própria da vida. Deus é força e atividade de amor.

 

Objetivo primário do amor de Deus à humanidade é Jesus, a quem comunica a plenitude da glória de Deus (amor leal). Esta comunicação divina realiza em Jesus o projeto divino sobre o homem (cf. Jo 1,1c; 1,14: a Palavra/ o Projeto se fez Homem). Jesus se torna modelo de homem perfeito. Jesus é o espelho da perfeição do homem. O que Jesus vem testemunhar é o reinado da veracidade do Deus fiel, que se manifesta na prática e na palavra de Jesus que se resumem no amor fraterno (cf. Jo 15,12-17). É o contrário da mentira que é a incredulidade, a recusa de Jesus, a pretensão de ter Deus sem passar pelo caminho que é Jesus (cf. Jo 14,6), uma vez que ele se dá a conhecer, que Jesus desmascarou em Jo 8, e que se manifesta nas intenções homicidas (cf. Jo 5,18ss;8,37.40;18,31).

 

O reinado da verdade é também a prática do mandamento que Jesus legou como marca da pertença: o amor (cf. 15,9-17;13,35). Por isso, quem serve à verdade, ele serve a Cristo. O cristão deve ser um homem que, em todas as situações da vida se conserva em total sinceridade. Portanto, nem diante de si mesmo, nem diante dos outros homens, nem diante de Deus, finge ser ou ter o que não é nem tem. Quem falsifica a verdade, dando-lhe a cor que deseja, escurece a face de Cristo e nega o próprio Cristo.  

        

Também para entender essa frase importa notar o sentido do verbo “escutar”, que foi empregado para expressar a relação das ovelhas e do Bom Pastor (Jo 10,27):Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”. Trata-se não apenas de ficar ouvindo algo, mas de “se comprometer”. Escutar Jesus significa, então, se comprometer com a causa de Jesus.

 

Neste sentido, escutar nos faz mais dóceis e pacientes, mais humanos e fraternos, acolhedores dos problemas humanos com profunda e autêntica disposição de humildade e de serviço. Sem esta atitude profunda de escuta, o grupo se torna monolítico (monólito = formado de uma só pedra) que faz desaparecer a diversidade e do pluralismo. A verdadeira escuta consiste na atitude de compreensão empática, isto é, a capacidade de perceber a ideia e a atitude expressa pelo outro e do ponto de vista do outro sentindo com ele, assimilando seu quadro de referências e significados. A atitude de escuta equivale à atitude de identificação: identificação dos interlocutores entre si na escuta mutua, que equivale a respeito pela alteridade do outro. Esta identificação é uma passagem decisiva, indiscutivelmente, no caminho rumo ao amor fraterno (ágape) e ao serviço fraterno (koinonia).

        

Se pretendermos que Cristo nos reine, temos que ser coerentes, começando por entregar-lhe o nosso coração. Se deixarmos que Cristo reine no nosso coração, não nos converteremos em dominadores e prepotentes ou donos da verdade, mas seremos servidores de todos os homens. Servir os outros, como Cristo, exige que sejamos muito humanos. Se a nossa vida for desumana, Deus nada edificará sobre ela, pois normalmente não constrói sobre a desordem, sobre egoísmo e sobre a prepotência. Se não o fizermos, falar do reinado de Cristo será uma manifestação externa de uma fé inexistente.
P. Vitus Gustama,svd

Nenhum comentário:

25/11/2024-Segundaf Da XXXIV Semana Comum

GENEROSIDADE E DESPOJAMENTO DE UMA VIÚVA, FRUTO DE SUA FÉ EM DEUS Segunda-Feira da XXXIV Semana Comum Primeira Leitura: Apocalipse 14,1-...