06/01/2017
JESUS É A NOSSA FORÇA E NOS REVELA NOSSA
AMABILIDADE
06 de Janeiro
Primeira Leitura: 1Jo 5,5-13
Caríssimos,
5quem é o vencedor do mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?
6Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo. (Não veio somente com
a água, mas com a água e o sangue). E o Espírito é que dá testemunho, porque o
Espírito é a Verdade. 7Assim, são três que dão testemunho: 8o Espírito, a água
e o sangue; e os três são unânimes. 9Se aceitamos o testemunho dos homens, o
testemunho de Deus é maior. Este é o testemunho de Deus, pois ele deu
testemunho a respeito de seu Filho. Aquele que crê no Filho de Deus tem este
testemunho dentro de si. 10Aquele que não crê em Deus faz dele um mentiroso,
porque não crê no testemunho que Deus deu a respeito de seu Filho. 11E o testemunho
é este: Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho. 12Quem tem o
Filho, tem a vida; quem não tem o Filho não tem a vida. 13Eu vos escrevo estas
coisas a vós que acreditastes no nome do Filho de Deus, para que saibais que
possuís a vida eterna.
Evangelho: Mc 1,7-11
Naquele tempo, 7João pregava, dizendo:
“Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar
para desamarrar suas sandálias. 8Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará
com o Espírito Santo”. 9Naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia, e foi
batizado por João no rio Jordão. 10E logo, ao sair da água, viu o céu se
abrindo, e o Espírito, como pomba, descer sobre ele. 11E do céu veio uma voz:
“Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer”.
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Fé Como Vitória Do
Amor Sobre o Mundo Do Maligno
“Quem é o vencedor do mundo, senão aquele que
crê que Jesus é o Filho de Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue:
Jesus Cristo”, assim lemos na Primeira Leitura.
Para São João, na sua Primeira Carta, o
objeto da nossa fé é o amor: “Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem
para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus
nele” (c1Jo 4,16). O amor de Deus por nós é um projeto de salvação e
não de condenação, pois o amor não condena. Trata-se de um projeto de vida
eterna, de vida que dura para sempre. Por isso, amar a alguém verdadeiramente
equivale a lhe dizer: “Tu nunca morrerás”. Amar é a questão de qualidade de
vida, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).
O amor como objeto da fé tem um tríplice conteúdo:
Amor que Deus é (1Jo 4,8.16) que se
revelou na morte de Jesus na Cruz como prova de que Jesus nos amou até o fim (cf.
Jo 13,1); o amor que Deus como dom do
espirito (=vida) que colocou em nós que nos capacita para amar; e o amor que em nós continua atuando no amor
fraterno (cf. Jo 15,12). Como o próprio são Joao escreveu: “Nós amamos porque Deus nos amou primeiro”
(1Jo 4,19). Na medida em que amamos, o amor de Deus atua em nós. Estaremos em
comunhão plena com Deus a partir do momento em que amarmos mutuamente no amor
fraterno.
Portanto, a fé em Jesus como o Filho enviado
pelo Pai ao mundo (cf. Jo 3,16) é a vitória sobre o “mundo”, porque esta vitória
é a fé no amor. Se o reino do maligno constitui as trevas do desamor, então a fé
no amor é a vitória sobre o mundo do desamor e do ódio. Quando conseguirmos colocar
o amor e o perdão no lugar da vingança e do ódio, estaremos vencendo e
dominando o mundo de maligno; não deixaremos que mundo do maligno avance na nossa
vida.
Somos Filhos Muito
Amados de Deus
O texto do evangelho lido neste dia fala da
missão de João Batista e do Batismo de Jesus.
No horizonte teológico da comunidade de Mc, a
missão principal de João Batista é preparar a vinda daquele que é “mais forte” do
que ele. A imagem do “mais forte” evoca as antigas esperanças messiânicas do
herói divino que de maneira eficaz e corajosa intervém na história para
libertar os oprimidos (cf. Is 9,5;49,24s). Na tradição cristã primitiva, Jesus
será apresentado como o “mais forte”, que vence o adversário e liberta os
oprimidos (cf. Mc 3,27;Lc 11,22;At 10,38). Esse “mais forte” é quem vai
realizar todas as promessas do AT.
Perante esse “mais forte”, João Batista
reconhece a sua indignidade total. Até para desamarrar as correias das
sandálias, que era uma tarefa exclusivamente dos escravos e que era tido como
gesto de extrema humilhação, sente-se indigno.
Só tem que desaparecer para dar lugar a quem “mais forte” que ele: “É necessário que ele cresça e eu diminua”
(Jo 3,30).
Sentir-se indigno, pequeno e humilde é a
atitude normal de quem se encontra perante uma divindade. Consciente ou
inconscientemente, em cada comunhão, perante Jesus Cristo presente na hóstia
consagrada, também nos sentimos indignos de recebê-lo ao rezarmos: “Senhor eu
não sou digno de que entreis em minha morada. Mas dizei uma só palavra, serei
salvo!” Mas Jesus quer entrar na nossa vida para que voltemos a ser dignos de
ser filhos de Deus (salvos). Mas depois disto temos uma missão de preparar os
outros para a vinda de Jesus na vida deles, como João Batista preparava o povo
para a chegada do Messias prometido.
O segundo momento é o da chegada. Jesus está
no meio de nós. O tempo de espera terminou. O anseio se consumou. O céu,
fechado até agora, se abre para dar passo ao Espírito. E Deus, calado muito
tempo, entra em diálogo com Jesus. Por isso, é o momento de contemplação, de
assombro, de alegria contida. Céu e Terra deixam de estar incomunicados pela
incompreensão, pela maldade e a hostilidade. Chegou um novo modo e distinto de
gerar história. Com sua chegada, Jesus nos introduz em uma atmosfera limpa,
pura, maculada e respirável. Com Jesus sempre ganhamos novo fôlego. Esta é sua
força.
Neste segundo momento relata-se o batismo de
Jesus. Com o batismo de Jesus, Deus mergulha totalmente na vida do ser humano
para que o ser humano possa mergulhar na vida de Deus. Jesus se manifesta um de
nós, igual a todos, menos no pecado, mas assumindo os pecados dos seres humanos
(cf. Mt 8,17). Deus torna-se um de nós em Cristo para que nós nos tornemos
divinos. Ele morreu não para pagar os próprios pecados, mas os nossos: “Nossos pecados ele os carregou em seu corpo
no madeiro, a fim de que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça”
(1Pd 2,24). Ao receber esse batismo, Jesus assume a ansiedade dos homens de
receber a salvação e ao mesmo tempo assume o desejo do seu Pai de conduzir os
homens à comunhão de irmãos.
A abertura dos céus, na hora do batismo de
Jesus, que se rasgam significa a abertura de novas relações entre Deus e os
homens, um início de um novo diálogo de Deus com os homens, um novo tempo de
graça, de novos dons dados por Deus aos homens. Jesus é o lugar do novo,
definitivo e pleno encontro de Deus com os homens, dos homens com Deus e, conseqüentemente,
dos homens entre si. Neste sentido Jesus se torna para seus seguidores, ao
mesmo tempo o ponto de encontro e o ponto de partida no sentido de viver aquilo
que Jesus ensinou e viveu.
O batismo de Jesus é o momento de teofania (manifestação
divina). A “voz vinda do céu” revela quem é Jesus, sua verdadeira identidade:
“Tu és o meu Filho, o amado. Em ti me comprazo” (v.11; cf. Is 42,1). Esta voz é
uma indicação a Jesus como ele é amado pelo Pai. Depois de um longo tempo de
silêncio de Deus, de vazio do Espírito, os céus se rasgam e Deus atua novamente
na história e fala com os homens de maneira definitiva a partir de Jesus.
Doravante em Jesus, como o Filho de Deus, vai agir o poder salvífico de Deus.
Durante a nossa curta vida, a questão que
guia muitos dos nossos comportamentos é a seguinte: “Quem somos nós?” Raramente
nos fazemos esta pergunta de maneira formal; contudo, a vivemos muito
concretamente nas decisões do nosso dia-a-dia.
As três respostas que nós geralmente vivemos,
e que não damos necessariamente, são: ”Nós somos o que fazemos (sucesso); nós
somos o que os outros dizem de nós (popularidade); e nós somos o que temos (poder)”.
Uma das tragédias da nossa vida é, certamente, continuarmos a esquecer-nos de
quem somos e a perder muito tempo e energias a demonstrar o que não precisa ser
demonstrado. É importante compreender a fragilidade da vida que depende do
sucesso, da popularidade e do poder. Essa fragilidade provém do fato de esses
serem fatores externos sobre os quais temos apenas controle limitado.
Jesus veio nos anunciar que uma identidade
baseada no sucesso, na popularidade e no poder é uma falsa identidade, uma
ilusão! A nossa verdadeira identidade é que nós somos filhos de Deus, filhas e filhos amados do nosso Pai celeste. Toda
vez que proclamamos a nós mesmos a certeza da nossa amabilidade, a nossa vida
alarga-se e aprofunda-se. Jesus nos revelou que nós, seres humanos pecadores e
fracos, somos convidados à mesma comunhão, à filiação divina que ele viveu, que
somos os filhos e filhas prediletos de Deus, precisamente como ele é o seu
Filho amado, que somos enviados a este mundo a proclamar a amabilidade de toda
a gente, como ele o foi e que finalmente poderemos escapar aos poderes
destrutivos da morte, como ele conseguiu.
P. Vitus Gustama,svd
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