segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

 Domingo, 08/01/2017-EPIFANIA
os tres reis magos e os presentes  
EPIFANIA DO SENHOR

Primeira Leitura Is 60,1-6

1 Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor. 2 Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti. 3 Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora. 4 Levanta os olhos ao redor e vê: todos se reuniram e vieram a ti; teus filhos vêm chegando de longe com tuas filhas, carregadas nos braços. 5 Ao vê-los, ficarás radiante, com o coração vibrando e batendo forte, pois com eles virão as riquezas de além-mar e mostrarão o poderio de suas nações; 6 será uma inundação de camelos e dromedários de Madiã e Efa a te cobrir; virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando a glória do Senhor.

Segunda Leitura: Ef 3,2-3a. 5-6

Irmãos: 2 Se ao menos soubésseis da graça que Deus me concedeu para realizar o seu plano a vosso respeito, e como, por revelação, tive conhecimento do mistério. 5 Este mistério Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas, mas acaba de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas: 6 os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho.

Evangelho: Mt 2,1-12

1 Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, 2 perguntando: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. 3 Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado assim como toda a cidade de Jerusalém. 4 Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. 5 Eles responderam: “Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: 6 E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo”. 7 Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. 8 Depois os enviou a Belém, dizendo: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo”. 9 Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. 10 Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. 11 Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. 12 Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho.
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Celebramos neste Domingo a festa da Epifania do Senhor. Epifania significa manifestação de uma divindade ou de alguma intervenção prodigiosa de uma divindade. Esta festa chama-se Epifania no seu contexto de Natal porque Deus vem nos revelar quem nos criou e por quê. Nela compreendemos o amor de Deus por nós todos, seres humanos. O nascimento de Jesus manifesta ou epifaniza ao mundo a misericórdia, o amor que Deus é e com que nos ama. O amor de Deus não tem limites e alcança a todos, independentemente da gravidade do pecado cometido. E os Magos representam os povos de todas as línguas e nações que se põem a caminho, chamados por Deus, para adorar Jesus, Deus feito homem cujo nome é Amor e para voltar à própria realidade levando a luz de Cristo para os demais.

Como já se sabe de que Mateus coloca essa passagem no seu evangelho para expor a tese da universalidade da salvação. Jesus, embora judeu e descendente de Davi, é um Messias com força para afugentar do mundo inteiro as trevas do pecado, por mais afastado que o homem se encontre e seja em que deserto for. Para tal deve cumprir um único requisito: deixar-se guiar pela luz da fé e sair, com coragem, do próprio ninho que não salva.

A epifania é a solenidade da manifestação do Messias, o Deus feito criança, aos povos pagãos representados pelos personagens vindos do Oriente, alguns magos. É muito importante não desligar a Epifania do Natal. No fundo, o mistério é o mesmo, varia a perspectiva da amplitude e universalidade da manifestação. Epifania é manifestação do Deus-Conosco aos povos pagãos. Jesus Cristo é o Salvador de todos e para todos os homens.

A antífona da entrada para a missa deste dia (Ml 3,1; 1Cr 19,12) canta poeticamente a grandeza e a solenidade do mistério: “Eis que veio o Senhor dos senhores, em suas mãos, o poder e a realeza”. Esse Senhor é a criança pobre que nasceu em Belém. Porém, Jesus nascido em Belém é a Luz de todos os povos, como enfatiza o prefácio da missa desta solenidade: “Revelastes hoje o mistério de vosso Filho como luz para iluminar todos os povos no caminho da salvação” (veja a Primeira Leitura). Jesus Cristo é a Luz que vence as trevas e que indica o caminho para chegar à salvação.

Além disso, a Epifania quer aprofundar e estender o mistério celebrado no Natal. Este mistério se explica no prefácio da missa: “Quando Cristo se manifestou em nossa carne mortal, vós nos recriastes na luz eterna de sua divindade”. Aqui radica a profundidade do mistério: Jesus Cristo é o Deus que assume toda a realidade do homem, exceto o pecado. Deste modo Ele nos enriquece com a glória de sua realidade divina.

O texto do Evangelho de hoje fala também sobre alguns magos. O termo “mago” não tem no evangelho o significado que lhe damos hoje. Segundo Heródoto, os “magos” eram uma casta de sacerdotes que tinham especial poder para interpretar os sonhos. Nos séculos posteriores o termo “mago” adquiriu uma ampla gama de significados: sacerdotes que fazem augúrios e praticam as mais diversas formas de magia, sacerdotes e /ou sábios que possuem saberes secretos e cultivam diversas ciências, peritos em práticas mágicas, astrônomos, leitores do futuro, propagandistas religiosos, ou simplesmente charlatães.

Os magos do evangelho representavam melhor a sabedoria pagã e da sensibilidade religiosa, e buscavam a salvação através de revelação de Deus na natureza (cf. Nm 22-24 como a referência vetero-testamentária sobre o relato da estrela de Mateus e os pagãos e do Oriente). O texto evangélico também não diz que eram reis nem que eram três. O primeiro testemunho sobre o número de três é o de Orígenes, no século III, provavelmente por causa dos três presentes. Os Padres da Igreja e Lutero consideram os presentes como símbolos da pessoa e do mistério de Jesus: ouro, a realeza; incenso, a divindade; e mirra, a morte e sepultura de Jesus. Mateus salienta assim que Jesus é reconhecido e adorado por estrangeiros idólatras, uma figura dos pagãos que procuram a Deus. Os nomes: Melchior, Gaspar e Baltazar, apareceram no século VIII/IX.

A partir de alguns magos do Oriente que vão ao encontro do Rei dos reis, Senhor dos senhores, a Epifania pode ser interpretada como a festa de todos os que buscam, de todos os inquietos, de todos os que não se resignam à trivialidade da rotina diária e querem interpretar a realidade  a partir dos princípios superiores das estrelas que nos vem do Céu. É a festa de todos os que buscam honradamente, dos que são capazes de sair de sua casa e de sua terra, de seu ninho confortável ou de seu círculo habitual, para caminhar e buscar a Verdade. A Epifania é a “contra festa” de todos os que se sentem seguros, dos que se crêem possuidores da verdade, os que se crêem representantes “oficiais” da verdade e se confundem a si mesmos com a verdade.

Para os cristãos a Verdade absoluta não é nunca uma teoria ou uma frase redonda, e sim um fato, uma vida, mais exatamente, uma pessoa: Jesus de Nazaré, o Filho de Deus (cf. Jo 14,6). Por isso, é possível amar a verdade, confiar nela, viver e morrer por ela. Os que crêem em Jesus não somente escutam o que Jesus diz, e sim o que Ele é. Nós podemos buscar e devemos buscar a verdade, podemos reconhecê-la. Sejamos sinceros, é a única maneira de estar no caminho para a Verdade. Os incrédulos e os mentirosos andam nas trevas.

Os magos não encontram a riqueza e a glória do rei recém-nascido, mas um bebê numa casa pobre, filho de pais pobres, pobremente vestido. Também não viram sua mãe coroada de pedras preciosas ou reclinada num leito de ouro. Mas “sua fé(dos magos) foi mais penetrante que o olhar, porque viram coisas humildes e entenderam coisas elevadas”, comenta S. João Crisóstomo. A glória de Deus não está nos astros do céu, mas na fragilidade dessa criancinha.

Os magos encontraram Jesus e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso, mirra. Tradicionalmente esses presentes simbolizam a identidade de Jesus: recebe ouro como rei, incenso como Deus e mirra como homem mortal (mirra era utilizada no embalsamamento de cadáveres).

Sabemos que a entrega de nós mesmos na adoração é o dom mais perfeito e mais agradável ao Deus que nos amou até o extremo de querer viver nossa vida mortal, e morrer nossa morte, para fazer-nos participantes de sua vida eterna. Mas o gesto de oferta pode nos recordar também que aqueles que encontram Deus com sinceridade demonstram a profundidade desse encontro concretamente através daquilo que se tornam capazes de partilhar. Quem é de Deus, ajuda os outros, desenvolvendo a sensibilidade solidária.

Na viagem de volta já não necessitavam mais de estrela porque eles levavam a estrela dentro de seu coração. Era tal a luz e a alegria que receberam, que eles mesmos se converteram em estrelas. Voltaram com o rosto resplandecente, como Moisés depois que falou com Deus, como Jesus que foi transfigurado no monte Tabor. Por isso, os Magos se tornaram missionários de alegria e de amor. Desde então, as estrelas já não se encontraram no céu e sim entre nós, entre todos aqueles que de uma ou de outra maneira se encontraram profundamente com Deus. Quem contempla Deus profundamente se torna reflexo de Deus para os demais.

Cada um tem sua luz própria. Por isso, não precisa nem deve apagar a luz dos outros. Juntar duas ou mais estrelas só resulta na claridade maior. Por isso, tem toda a razão aquilo que o ditado popular diz: “Para que a sua estrela brilhe, não é preciso apagar a minha”. Cada um tem sua luz dentro de si e é preciso que brilhe para iluminar a vida dos outros. Isto se chama amor na unidade, amor fraterno. Se realmente somos crentes, não podemos continuar dissimulando nossa fé.

 São João Crisóstomo nos desperta e alerta: ”Se os magos percorreram um caminho tão longo para vê-lo recém-nascido, que desculpa terás tu se nem sequer fores ao bairro ao lado para visitá-lo enfermo e encarcerado?”  

P. Vitus Gustama,SVD

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