quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

17 De Dezembro de 2020-Advento II Parte

DEUS QUER NOS USAR COMO “INSTRUMENTO” DE SALVAÇÃO APESAR DE NOSSAS LIMITAÇÕES

17 de Dezembro 

Primeira Leitura: Gn 49,2.8-10

Naqueles dias, 2 Jacó chamou seus filhos e disse: “Juntai-vos e ouvi, filhos de Jacó, ouvi Israel, vosso pai! 8 Judá, teus irmãos te louvarão; pesará tua mão sobre a nuca de teus inimigos, se prostrarão diante de ti os filhos de teu pai. 9 Judá, filhote de leão: subiste, meu filho, da pilhagem; ele se agacha e se deita como um leão, e como uma leoa; quem o despertará? 10 O cetro não será tirado de Judá, nem o bastão de comando dentre seus pés, até que venha Aquele a quem pertencem, e a quem obedecerão os povos”.

Evangelho: Mt 1,1-17

1Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. 2Abraão gerou Isaac; Isaac gerou Jacó; Jacó gerou Judá e seus irmãos. 3Judá gerou Farés e Zara, cuja mãe era Tamar. Farés gerou Esrom; Esrom gerou Aram; 4Aram gerou Aminadab; Aminadab gerou Naasson; Naasson gerou Salmon; 5Salmon gerou Booz, cuja mãe era Raab. Booz gerou Obed, cuja mãe era Rute. Obed gerou Jessé. 6Jessé gerou o rei Davi. Davi gerou Salomão, daquela que tinha sido mulher de Urias (Betsabé). 7Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asa; 8Asa gerou Josafá; Josafá gerou Jorão. Jorão gerou Ozias; 9Ozias gerou Jotão; Jotão gerou Acaz; Acaz gerou Ezequias; 10Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amon; Amon gerou Josias. 11Josias gerou Jeconias e seus irmãos, no tempo do exílio na Babilônia. 12Depois do exílio na Babilônia, Jeconias gerou Salatiel; Salatiel gerou Zorobabel; 13Zorobabel gerou Abiud; Abiud gerou Eliaquim; Eliaquim gerou Azor; 14Azor gerou Sadoc; Sadoc gerou Aquim; Aquim gerou Eliud; 15Eliud gerou Eleazar; Eleazar gerou Matã; Matã gerou Jacó. 16Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo. 17Assim, as gerações desde Abraão até Davi são catorze; de Davi até o exílio na Babilônia catorze; e do exílio na Babilônia até Cristo, catorze.

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“O Tempo do Advento possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o Tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedoso e alegre expectativa. (Normas Universais Sobre o Ano Litúrgico e o Calendário: Carta Apostólica Dada Motu Próprio do Papa Paulo VI, 14/02/1969, n.39).

Por isso, a liturgia do Advento tem um claro caráter escatológico na sua Primeira Parte até o dia 16 de dezembro, contemplando a ÚLTIMA VINDA DO SENHOR no final dos tempos. Assim o exprime os Prefácios do Advento I (“as duas vindas de Cristo”) e do Advento IA (“Cristo, Senhor e Juiz da História”).

A Segunda Parte, partir do dia 17 de dezembro, na chamada “Semana Santa” do Natal, o olhar se dirige mais concretamente para a preparação da festa, o que encontra eco no Prefácio do Advento II (“a dupla espera de Cristo”) e no IIA (“Maria, nova Eva”).

Por isso, a partir de hoje, o Evangelho nos apresenta o que precedeu ao nascimento de Jesus: o Evangelho da Infância. E notaremos que a primeira leitura, tirada do Antigo Testamento, está sempre em correspondência com o que se relata no Evangelho. O evangelista Mateus, particularmente, escreveu seu Evangelho enfatizando a harmonia entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento: Jesus é, certamente, “Aquele que Israel esperava, é Aquele que havia sido prometido... várias vezes e de diversas maneiras...”.

Esta segunda parte quer enfatizar que o Advento recorda a dimensão histórica da salvação. O Deus da Bíblia é o Deus do evento, o Deus da história, o Deus da promessa e da aliança. Deus se deixa encontrar como Salvador da história. O tempo e o espaço, a partir da encarnação, se tornam como sacramento do agir de Deus. Deus, de fato, está aqui e agora (Cf. Mt 28,20). Com Jesus, o tempo chega à sua plenitude (Cf. Gl 4,4) e o Reino de Deus se torna próximo (Cf. Mc 1,15). Dentro deste sentido, o Advento é o tempo litúrgico no qual é recordada a grande verdade da história como lugar da atuação do plano salvífico de Deus. Esta segunda parte quer nos lembrar e relembrar que um dia, na história humana, o número dos seres humanos é acrescentado por mais uma: o Deus encarnado. O ser humano é sempre mais um. Eu não ando sozinho, pois sempre é mais um comigo: “Estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Quando nos mantivermos conscientes disso, teremos forças suficientes para lutar pelo bem da humanidade.

Deus Quer Nos Dar Sua Bênção

A Primeira Leitura tem sua importância por causa de Jesus. O texto nos relatou que o velho patriarca Jacó estava para morrer. Ele sabia disso. Ele se encontrava no Egito com seus filhos. Ele chamou seus filhos para escutarem as últimas palavras importantes do patriarca para todos eles. O velho patriarca quer distribuir sua bênção como herança. A força da bênção do patriarca é a mesma que a força da Palavra de Deus. Com as palavras da bênção o patriarca Jacó abre o véu do futuro. A futura sorte do filho que receber a bênção será fundada na bênção dada pelo patriarca Jacó.

É interessante observar que a bênção do patriarca Jacó não foi dada ao primogênito, Rubem, nem para o segundo filho, Simeão, nem para o terceiro filho, Levi, e sim para o quarto filho, Judá. A bênção de Judá assume maior ênfase pelo fato de vir após as censuras desferidas contra os três primeiros filhos de Jacó. Judá é chamado de ”filhote de leão”. Leão é um símbolo do poder e da força, está separado dos outros animais, governa com sua presença e infunde medo por meio de rude de sua voz. Judá é o filho de Jacó que transmitirá a linha da esperança aos que esperam a vinda do Messias, o Salvador e o Libertador de Israel.

Precisamente, Jesus nascerá da tribo de Judá na Judeia, em Belém, como diz o evangelho de hoje, na genealogia: “Jacó gerou Judá e seus irmãos” e de Judá vai chegar até José, o pai adotivo de Jesus. Um descendente de Judá reinará não somente sobre as demais tribos do povo eleito e sim sobre todas as nações: “E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és o menor entre os clãs de Judá, pois de ti sairá um chefe que apascentará Israel, o meu povo” (Mt 2,6; Mq 5,1).

É bom lermos Gn 49,1-28 para entender o texto em seu conjunto. A bênção do patriarca Jacó não foi dada ao primogênito, Rubem, “porque subiste ao leito de teu pai e profanaste minha cama, contra mim!” (Gn 49,4). A bênção também não foi derramada sobre o segundo filho, Simeão, nem para o terceiro filho, Levi “porque na sua cólera mataram homens, em seu capricho mutilaram touros. Maldita sua cólera por seu rigor, maldito seu furor por sua dureza” (Gn 49,6-7). Mas a bênção do patriarca Jacó foi dado para Judá, o quatro filho, que é imaculado, sem mancha. A bênção de Deus está sempre a nossa disposição, da parte de Deus. Mas nem sempre encontra o lugar em nós. O pecado bloqueia ou impede a entrada da bênção de Deus na nossa vida, como a água que não entra numa garrafa bem tampada. Quais são os pecados que impedem a bênção de Deus de chegar até nós? Quais são nossos modos de viver que dificultam a vinda do Senhor para nossa vida e nossa família?

Em Jesus Se cumprem Todas As Profecias Do Antigo testamento

O texto do evangelho lido neste dia começa com a seguinte frase: “Livro da genealogia de Jesus Cristo...” É como o começo de uma nova criação... Uma nova Bíblia que se abre sobre uma primeira página. São Paulo dirá explicitamente que Jesus é o “novo Adão” (cf. 1Cor 15,22.45; Rm 5,12-21). Por Jesus uma nova humanidade é gerada.

Essa genealogia é uma espécie de resumo de toda a história. Na genealogia sabemos que Jesus se enraíza numa linhagem de antepassados concretos. Desse modo Jesus é um verdadeiro “Filho do Homem (Mt 8,20; 9,6; 10,23; 11,19; 12,8 etc.), que participa totalmente da condição humana, com seus limites e suas particularidades. Foram necessários muitos progenitores para que um dia nascesse o último fruto da humanidade, isto é, Aquele que salva a humanidade. Além disso, quer-se enfatizar que Jesus pertence à casa de Davi. Jesus é o “Filho de Davi” (cf. Mt 12,23; 21, 9.15 etc.).

O Messias esperado, o Filho de Deus, a Palavra eterna do Pai se encarnou plenamente na história humana, está arraigada num povo concreto, o de Israel. Ele não é um extraterrestre. Ele pertence com pleno direito à família humana.

Na genealogia de Jesus nós encontramos uma larga lista de nomes. E os nomes nessa genealogia não são precisamente uma ladainha de santos. Há pessoas famosas e outras totalmente desconhecidas. Há homens e mulheres que tinham uma vida ética e outros deixam de ser desejáveis ética e moralmente que vamos saber mais adiante nesta reflexão.

Por essa razão, essa genealogia quer nos mostrar que Deus nos quer conceder sua graça e para tantas pessoas que, talvez não sejam modelo de santidade. Deus quer nos encher de Sua vida, seja qual for a situação em que nos encontramos. É uma lição para que também nós olhemos para as pessoas com os olhos novos sem menosprezar ninguém. Ninguém é incapaz de salvação. A comunidade eclesial nos pode parecer débil, e a sociedade corrompida e algumas pessoas indesejáveis e as mais próximas cheias de defeitos. Mas Jesus Cristo vem precisamente para essa classe de pessoas. Vem curar os enfermos, salvar os pecadores e não canonizar os bons. Tudo isso, para nós, deve ser motivo de confiança e um convite para a tolerância e uma visão mais otimista da capacidade de toda pessoa diante da graça salvadora de Deus.

1. Jesus é o Filho de Deus 

O objetivo de Mt 1 é revelar quem é Jesus. Através da genealogia Mateus quer nos dizer que Jesus é da descendência de Davi. Em outras palavras, Jesus é o Filho de Davi. Mais tarde este título sairá da boca dos dois cegos: “Filho de Davi, tem piedade de nós!” (Mt 9,27). E na sua entrada em Jerusalém Jesus será clamado de “Filho de Davi”: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor. Hosana no mais alto do céu!” (Mt 21,9). Hosana (hebraico) = Salva, eu te peço! (Cf. Sl 118,25). A filiação de Davi é o tema especial do primeiro capítulo do evangelho de Mateus. Este tema aparece tanto na genealogia como na revelação angelical para José (esposo de Maria), que é chamado “Filho de Davi” (Mt 1,20).

Mas Mt não pára na identidade de Jesus como “Filho de Davi”. Através deste capítulo primeiro do seu evangelho Mt quer realmente nos mostrar que Jesus é o Filho de Deus, o Emanuel que ele explicará nos vv. 18-24. Para explicar que Jesus é o Filho de Deus, Mt usa na genealogia a palavra “GERAR”: “Abraão gerou... Jacó gerou... Judá gerou... e assim por diante”.

A palavragerar” na linguagem bíblica significa transmitir não apenas o próprio ser, mas também a própria maneira de ser e de comportar-se. O filho é a imagem do pai. Por esta razão, a genealogia se interrompe bruscamente no versículo16 para dizer que José não é o pai natural de Jesus, mas apenas é o pai legal: “Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo”. (Nos vv. 18-24 Mateus vai explicar detalhadamente esta questão). Isto quer nos dizer que a Jesus pertence toda a tradição anterior, mas ele não é imagem de José. Seu único pai será Deus; seu ser e sua ação vão refletir os do próprio Deus. Toda a história de Israel leva a Jesus, pois Ele é o Messias esperado, e n'Ele é que se cumprem as promessas feitas por Deus aos pais pela boca dos profetas.

2. Deus pode usar qualquer um como instrumento da salvação

“A história da salvação realiza-se, ‘na esperança para além do que se podia esperar’ (Rm 4, 18), através das nossas fraquezas. Muitas vezes pensamos que Deus conta apenas com a nossa parte boa e vitoriosa, quando, na verdade, a maior parte dos seus desígnios se cumpre através e apesar da nossa fraqueza. Isto mesmo permite a São Paulo dizer: ‘Para que não me enchesse de orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás, para me ferir, a fim de que não me orgulhasse. A esse respeito, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Mas Ele respondeu-me: ‘Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza’ (2 Cor 12, 7-9)”, escreveu o Papa Francisco na sua Carta Apostólica: Patris Corde (n.2d).

A lista de pessoas na genealogia, que lemos no texto do Evangelho de hoje, contém alguns dos mais significativos nomes como também alguns nomes que têm má fama; contém tanto pecadores como santos.

Dos 14 reis judeus que Mateus elenca entre Davi e a deportação somente dois (Ezequias e Josias) poderiam ser considerados fiéis aos padrões de Deus. O resto não passou de um estranho bando de idólatras, assassinos, incompetentes e adoradores de poder e prodígios. O próprio Davi foi uma surpreendente combinação de santo e pecador. Houve naturalmente o assassínio premeditado do marido de Betsabéia (Urias) de modo que Davi pudesse possuir legalmente a viúva.

Mas Deus é aquele que cumpre seus propósitos através daqueles que outros considerariam como não importantes e facilmente esquecíveis. Deus se serve tanto de instrumentos fracos como de instrumentos saudáveis, pois o agente principal da salvação é o próprio Deus.

Além dos reis fracos e pecadores, a escolha de mulheres mencionadas na genealogia é surpreendente. Alguns interpretam que a inclusão de quatro mulheres nesta genealogia, que algumas são pecadoras, tem função de enfatizar o papel de Jesus como Salvador dos pecadores. Nada ouvimos ou lemos a respeito das santas esposas patriarcais como Sara, Rebeca ou Raquel na genealogia de Mateus. Mt coloca na genealogia quatro mulheres de má fama:

·        Tamar: Uma Cananéia, estrangeira que teve filho com o seu próprio sogro, Judá (cf. Gn 38,1-30). Ela agiu como sedutora e pretensa prostituta. Fazia parte dos santos prosélitos judeus, cananeia convertida. Por sua iniciativa perpetuou a linhagem familiar do filho de Judá.

·        Raab: Era uma verdadeira prostituta, mas que protegeu os espiões israelitas que tornou possível a conquista de Jericó (Josué 2-6). Era classificada entre os prosélitos e considerada heroína por ter ajudado a vitória de Israel em Jericó. Nos escritos cristãos primitivos era saudada como modelo de fé (Cf. Hb 11,31).

·        Rute/Ruth: Foi outra estrangeira, uma moabita, uma pagã que se relacionou com Booz cujo resultado foi o nascimento de uma criança que seria o avô do Rei Davi (RT 4-12).

·        Betsabéia: Era adúltera. É uma vítima da luxúria de Davi (mulher adúltera de Davi), e mãe de Salomão, sucessor de Davi na monarquia (2Sm 11).

Todas estas mulheres tinham, então, uma história conjugal com elementos de escândalo e desespero humano. No entanto, eram instrumentos ativos do Espírito de Deus na continuação da sagrada linha do Messias. São Jerônimo afirmava que as mulheres mencionadas por São Mateus foram introduzidas para demonstrar que Jesus veio salvar os pecadores. Através do Antigo Testamento sabemos que a história da salvação passou através de violências, enganos, luxúrias, mentiras, adultérios, incestos, homicídios. Jesus veio certamente para salvar a humanidade, pois Ele ama a todos e quer salvar todos os homens. Mas é necessário ter a colaboração humana para este fim.

Mateus quer nos relembrar e transmitir um Deus que não hesitou em usar a torpeza tanto quanto a nobreza, a impureza tanto quanto a pureza, homens a quem o mundo ouviu atentamente e mulheres que o mundo censurou. Este Deus continua a trabalhar coma mesma mistura e continua a nos surpreender.

A proclamação desta genealogia na liturgia do Advento ocorre para nos dar esperança a respeito de nosso destino e de nossa importância. Deus pode nos usar como Seus instrumentos apesar de sermos pecadores. Mas que tenhamos uma disponibilidade para servir esse Deus que nos compreende profundamente nossos defeitos. Servir é uma adoração em ação, é uma continuação da minha adoração. Servir é prestar ajuda sem esperar recompensa e reconhecimento, pois servir significa ser servo e o servo está sempre à disposição de seu senhor. Quem serve com o Espírito de Deus jamais murmura, pois o tempo é precioso para ele.

P.Vitus Gustama,svd

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