terça-feira, 1 de dezembro de 2020

II Domingo Do Advento- 06/12/2020: DESERTO

A CONVERSÃO NOS TORNA MENSAGEIROS DE JESUS CRISTO, FILHO DE DEUS

 

II DOMINGO DO ADVENTO DO ANO B

Uma voz2º Domingo do Advento « Paróquia Nossa Senhora das DoresMc. 1:3 #SoltandoOVerbo – ide.fazei.discípulos

 

I Leitura: Is 40,1-5.9-11

1 “Consolai o meu povo, consolai-o! — diz o vosso Deus —. 2 Falai ao coração de Jerusalém e dizei em alta voz que sua servidão acabou e a expiação de suas culpas foi cumprida; ela recebeu das mãos do Senhor o dobro por todos os seus pecados”. 3 Grita uma voz: “Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplainai na solidão a estrada de nosso Deus. 4 Nivelem-se todos os vales, rebaixem-se todos os montes e colinas; endireite-se o que é torto e alisem-se as asperezas: 5 a glória do Senhor então se manifestará, e todos os homens verão juntamente o que a boca do Senhor falou. 9 Sobe a um alto monte, tu, que trazes a boa-nova a Sião; levanta com força a tua voz, tu, que trazes a boa-nova a Jerusalém, ergue a voz, não temas; dize às cidades de Judá: ‘Eis o vosso Deus, 10 eis que o Senhor Deus vem com poder, seu braço tudo domina: eis, com ele, sua conquista, eis à sua frente a vitória. 11 Como um pastor, ele apascenta o rebanho, reúne, com a força dos braços, os cordeiros e carrega-os ao colo; ele mesmo tange as ovelhas-mães’”.

 

II Leitura: 2Pd 3,8-14

8 Uma coisa vós não podeis desconhecer, caríssimos: para o Senhor, um dia é como mil anos e mil anos como um dia. 9 O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como pensam alguns, achando que demora. Ele está usando de paciência para convosco. Pois não deseja que alguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se. 10 O dia do Senhor chegará como um ladrão, e então os céus acabarão com barulho espantoso; os elementos, devorados pelas chamas, se dissolverão, e a terra será consumida com tudo o que nela se fez. 11 Se desse modo tudo se vai desintegrar, qual não deve ser o vosso empenho numa vida santa e piedosa, 12 enquanto esperais com anseio a vinda do Dia de Deus, quando os céus em chama se vão derreter, e os elementos, consumidos pelo fogo, se fundirão? 13 O que nós esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça. 14 Caríssimos, vivendo nessa esperança, esforçai-vos para que ele vos encontre numa vida pura e sem mancha e em paz.

 

Evangelho: Mc 1,1-8

1 Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. 2 Está escrito no livro do profeta Isaías: “Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho. 3 Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas!’” 4 Foi assim que João Batista apareceu no deserto, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados. 5 Toda a região da Judeia e todos os moradores de Jerusalém iam ao seu encontro. Confessavam os seus pecados e João os batizava no rio Jordão. 6 João se vestia com uma pele de camelo e comia gafanhotos e mel do campo. 7 E pregava, dizendo: “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias. 8 Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo”.

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Um Olhar Geral Sobre As Leituras Deste Segundo Domingo Do Advento, Ciclo “B”

 

Estamos no Segundo Domingo do Advento. As leituras deste Domingo são muito apropriadas para enfatizar que o Natal que nós preparamos é algo muito mais profundo, mais real, mais sério. É preparar a vinda de Jesus Cristo para nós, abrindo caminho, removendo obstáculos, crescendo em fé-esperança-caridade. Estejamos prontos para seguir o Senhor mais de perto. Sair para encontrar o Senhor é algo muito mais profundo. A mensagem das leituras é uma advertência para não se deixar cativar por uma preparação superficial, consumista, sentimental do Natal.

 

A imagem de “deserto” aparece na Primeira Leitura e no Evangelho e nela se compendia ou se resume a mensagem litúrgica deste Domingo. No desterro babilônico que está para acabar, uma voz grita: “Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplainai na solidão a estrada de nosso Deus” (Is 40,3). No Evangelho a voz que assim grita é a voz de João Batista, o Precursor do Messias, cuja vinda está já próximo. Também no “deserto” o homem terá que preparar-se para a grande vinda última do Senhor, na qual “O que nós esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça”, como enfatiza a Segunda Leitura de hoje (2Pd 3,13).

 

Na tradição do Antigo Testamento, “o deserto” evoca várias ideias. O “deserto” evoca as primícias de Israel em seu encontro com Deus na saída da escravidão do Egito. Os profetas utilizam com frequência a imagem do “deserto” para recordara Israel o antigo tempo e exortá-lo a voltar a ser fiel à aliança com Deus (Cf. Os 2,16). Este é o sentido do deserto em que se encontra João Batista. João Batista prega no “deserto” ao povo para que não abandone a aliança com Deus.

 

Na vida cotidiana do homem há necessidade de “deserto”.  “Deserto” é lugar ou estado do espirito onde recriar o ambiente propício e favorável para encontrar-se com Deus e com a própria dignidade de imagem e de filho de Deus, mediante o silêncio interior e o recolhimento dos sentidos, através da meditação e da oração assíduas. Diante da perda do sentido de Deus e do sentido do pecado são requeridos “espaços”, sejam exteriores ou interiores, de recuperação de sentido, de reaquisição de princípios, valores e convicções ancoradas no mesmo ser do homem e do cristão.

 

Deus sempre intervém na história e na vida do homem diariamente. Os homens, no entanto, não captam a intervenção divina nem se deixam conduzir por ela. Somente no “deserto” os homens se dão conta, como os judeus de Babilônia, que há vales que devem ser nivelados, colinas rebaixadas e caminhos tortos endireitados a fim de regressar outra vez à Terra Prometida ou seja, a fim de poder encontrar sua salvação como fala a Primeira Leitura de hoje. Somente no “deserto” as pessoas escutam bem a pregação de João Batista, se convertem e recebem o batismo de água, preparação do Batismo com o Espírito Santo, próprio dos discípulos de Cristo, como foi enfatizado no Evangelho de hoje. Deus continua sua intervenção em nossos dias na vida de cada indivíduo e dos povos. Será impossível reconhecer e aceitar tal intervenção se não se viver a experiência purificadora e meditativa do “deserto”.

 

No ambiente sereno e silencioso de “deserto” é que vamos encontrar a verdade de Deus, o sentido do tempo em que vivemos, a norma suprema da existência. Deus é nosso Rei que vem com poder para nos libertar do pecado e de suas sequelas. Deus é nosso Senhor que traz consigo a vida em plenitude e a salvação eterna: “Falai ao coração de Jerusalém e dizei em alta voz que sua servidão acabou e a expiação de suas culpas foi cumprida; ela recebeu das mãos do Senhor o dobro por todos os seus pecados” (Is 40,2). Deus é nosso Pastor, que reúne o rebanho e o cuida amorosamente: “Como um pastor, ele apascenta o rebanho, reúne, com a força dos braços, os cordeiros e carrega-os ao colo; ele mesmo tange as ovelhas-mães” (Is 40,11). No “deserto” é que conheceremos que o dia do Senhor chegará como um ladrão. No “deserto” é que saberemos que Deus não quer que alguém se perca, mas que todos se convertam: “Deus está usando de paciência para convosco. Pois não deseja que alguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se”, lemos na Segunda Leitura (2Pd 3,9). No “deserto” é que veremos com claridade que a espera da vinda do Senhor devem levar o homem a uma conduta santa e religiosa, isto é, ao cumprimento perfeito da vontade santíssima de Deus: “Caríssimos, vivendo nessa esperança, esforçai-vos para que ele vos encontre numa vida pura e sem mancha e em paz”, alerta o autor da Segunda Carta de Pedro que lemos na Segunda Leitura (2Pd 3,14).

 

Sabemos muito bem que a vida é movimento, ação, ir e vir, decidir, projetar, fazer, progredir, mudar. Tudo isto é um movimento físico e mental. Nossa vida a partir da manhã até a noite está cheia de trabalhos e tarefas, de encontros e de reuniões, de contatos e de relações, de ruídos, de sons, de tensão e de nervosismo. Nisto tudo temos necessidade de “deserto” para enxergar com claridade quais são “vales” e “colinas” que atrapalham o horizonte de nossa vida a fim de não perder jamais de vista a meta de nossa vida que é a comunhão com Deus. Quem criou estes “vales” e “colinas”? Quanto tempo necessitamos para derrubar tudo isto a fim de ter uma visão muito mais ampla de nossa vida? Dentro de nosso “deserto”, será fácil nos prepararmos bem para a Natividade do Senhor na nossa vida.

 

Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplainai na solidão a estrada de nosso Deus. Nivelem-se todos os vales, rebaixem-se todos os montes e colinas; endireite-se o que é torto e alisem-se as asperezas: a glória do Senhor então se manifestará, e todos os homens verão juntamente o que a boca do Senhor falou” (Is 40,3-5). É o recado do profeta Isaías para nós todos. O profeta é a boca de Deus que merece ser levado em conta seu recado, pois a Palavra de Deus tem sua validade eterna e portanto, vale para os homens de hoje, todos nós.

 

Um Olhar Específico Sobre O Evangelho De Hoje

 

Jesus É Cristo, Filho De Deus

 

O evangelho de Marcos foi escrito para responder à pergunta: “Quem é Jesus?” E ao saber quem é Jesus, o discípulo se define a partir da missão de Jesus. Logo no início do seu evangelho Marcos responde: Jesus, Messias (Cristo), Filho de Deus (1,1).

 

Cada um destes nomes tem uma grande importância para Mc. O primeiro nome é “Jesus”. “Jesus” significa “Deus salva”. Em todo o evangelho Jesus agirá com o poder de Deus para salvar os homens. Se Jesus é o “Deus que salva”, logo temos que ter coragem de olhar para nossa vida sobre aquilo que nos tira do caminho da salvação. Temos que ter coragem de olhar para aquilo que nos dá prazer, mas nos faz ficarmos longe do Senhor com o perigo de ser excluídos da salvação. A coragem de largar aquilo que nos dá prazer, mas nos tira da felicidade e da salvação é outro nome da conversão.

          

O segundo nome é “Cristo”. “Cristo” significa aquele descendente de Davi que será ungido como Rei para estabelecer o Reino definitivo de Deus no mundo. O ungido é aquele que se deixa totalmente guiar pelo Espirito de Deus. Somos chamados de cristãos. Ser cristão é ser de Cristo e portanto, ser pessoa guiada pelo Espirito de Deus. O Espirito de Deus é que renova a face da terra. O cristão é chamado a se renovar permanentemente a exemplo da natureza que, para se manter, ela se renova em cada estação.

          

Mc também apresenta Jesus de maneira explícita e implicitamente como “Filho de Deus”. Com este título, Mc vincula Jesus de maneira especial e única à realidade divina. Filho é, por um lado, um conceito ontológico no sentido de compartilhar a mesma vida. Por outro lado, filho é, também, um conceito funcional no sentido de atuar de acordo com este ser: receber o ser do Pai, viver em intimidade com ele, confiar nele, sentir-se protegido por ele, identificar-se com a sua vontade e realizá-la. Tanto o AT com o NT enfatizam o aspecto funcional do título (cf. Mc 1,11;9,7;13,32;14,61-64;15,39). Ser Filho é ter uma relação de caráter único, íntimo, cordial com Deus, em que o poder é compartilhado e a vontade é identificada. Como “Filho de Deus”, Jesus Cristo é consubstancial ao Pai.

 

Quem Acredita Em Jesus Cristo, Filho de Deus, Se Renova

                     

O evangelista Marcos começa seu livro com esta frase: “Princípio da Boa- Nova de Jesus Cristo (Messias), Filho de Deus”. Não se trata só de início cronológico. O termo “arche” (princípio) em grego não somente significa início, mas também causa, origem, explicação. Marcos não escolhe por acaso o termo “Princípio”. O livro de Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, começa com a mesma expressão quando se relata a criação do mundo por Deus (Gn 1,1; cf. Jo 1,1).

 

Ao retomar essa expressão, Marcos quer dizer aos leitores e a todos nós que sua narrativa representa recriação fundamental da história da salvação com a vinda do Messias, Filho de Deus, a Boa Nova. A proclamação do Evangelho por Jesus dá origem a um mundo novo, é uma nova criação. O Evangelho, origem de um mundo novo é o acontecimento que principia com Jesus e tem nele seu fundamento. Há tanto tempo os homens esperavam um mundo novo ou uma nova criação. Eis, então, a nova realidade apareceu na pessoa de Jesus Cristo. Acreditando nele e vivendo sua vida e sua mensagem, qualquer um se renova e se torna nova criatura. Se ele se torna uma nova criatura, consequentemente ele renova também seu ambiente e as pessoas ao redor dele. Ele também sabe discernir a vontade de Deus na sua vida pois ele está com o Senhor. Tudo isto é uma Boa-Nova, pois Deus quer entrar em comunhão com as pessoas a fim de salvá-las. Em Jesus Cristo, Deus veio para dar-nos uma notícia tão sublime que até é difícil de acreditar: o amor de Deus é tão grande (cf. Jo 3,16) e tão forte que não permitirá que ninguém se perca (cf. Jo 6,39).

          

Até aqui, perguntemo-nos: nossas conversas ou nosso modo de falar, nossa vida são realmente boa notícia ou mensagem que traz felicidade e alegria sem fim para os outros? Ou será que somos causadores da notícia ruim? Será que somos fonte de inquietação para as pessoas ao redor? Se somos realmente cristãos, temos o dever de levar o Evangelho para os outros.

 

João Batista Nos Chama à Conversão Permanente

         

Depois desse versículo inicial, o trecho do Evangelho nos apresenta a missão de João Batista: “Eis que envio meu mensageiro à tua frente para preparar o teu caminho...”. São palavras de Deus através da boca dos profetas Isaías (Is 40,1-5) e Malaquias (Ml 3,1). Esta frase revela-nos quem é Deus?  Deus é Aquele que vê o final logo no começo. Tudo está no coração de Deus, aos poucos apareceu nos sonhos dos profetas e por fim se fez carne em Jesus Cristo. E nós estamos dentro desse processo.

         

Se Deus é Aquele que vê o final logo no começo, então a única coisa que podemos fazer perante Deus é entregarmo-nos nas mãos dele. Deus nos deu como exemplo a Nossa Senhora com sua frase famosa: “Faça-se em mim segundo a Sua Palavra”. Como se ela quisesse dizer: “O Senhor vê tudo: meus problemas, minhas dificuldades e grande ameaça para minha vida está na minha frente. Mas porque me escolheu para ser a mãe do Seu Filho, então, faça-se em mim segundo a Sua Palavra”. Ou como disse Pedro na pesca milagrosa: ”...por causa da sua Palavra lançarei as redes”. E deu mesmo resultado: apanhou muito peixe no pleno dia.

         

Para que o Messias possa chegar até as pessoas, Deus envia seu mensageiro na pessoa de João Batista para preparar o caminho desse Messias. Em João Batista encontramos as qualidades de quem está preparado para acolher os novos tempos: desprendimento que se manifesta na sobriedade do comer e do vestir(v.6) e a humildade diante da pessoa e do mistério de Jesus que se manifesta na afirmação de ser indigno de desamarrar suas sandálias(v.7). Antes de pregar a conversão, João se prepara para a vinda daquele que é maior que ele(v.8).

          

João Batista chama a atenção das pessoas para Jesus. João é o arauto de Cristo. Toda a sua vida fé um grito de advertência contra nossa inconsciência e nossa irresponsabilidade. Prepare os caminhos do Senhor ... reforma suas vidas! Abra seus corações ao Sagrado Coração do Redentor! Ele conclama todos para a conversão. Ele exige que se constitua uma comunidade de pessoas dispostas a mudar de vida. Ele prega uma descoberta tremenda que não é pelo fato de ser judeu que alguém se torne membro do povo eleito, mas pela vida purificada. Só desse modo O Messias se manifestará ao mundo. Muitos lhe dão ouvidos e vão em sua direção para receber o batismo de penitência. Trata-se daqueles que querem que alguma coisa ou uma vida mude, são as pessoas que cansam de viver num mundo ou numa sociedade de injustiça e de maldade.

          

Nós também nos deparamos frequentemente com situações intoleráveis (corrupção, injustiça social, violência etc.) e com razão esperamos uma mudança radical. Mas, por acaso, podemos exigir que os outros se convertam, quando nós não queremos mudar nossos maus hábitos, quando não estamos dispostos a renunciar aos nossos pequenos ou grandes egoísmos?  Podemos, por acaso, exigir que os ricos e os poderosos não oprimam os pobres e os fracos, se, de nossa parte, nos nossos lares continuamos mantendo um comportamento arrogante e agressivo, se nos comportamos como dominadores e donos da verdade, se no trabalho ou no grupo, nos exaltamos contra aqueles que hierarquicamente estão  “abaixo” de nós ou tratamos os outros como se eles não tivessem um mínimo conhecimento das coisas que, de fato, eles sabem muito mais do que nós, só que falta-lhes oportunidade?

         

Enquanto não renunciarmos aos nossos pecados, como exigia João Batista, não podemos esperar pela vinda do Salvador na nossa vida e na nossa família e pelo surgimento de uma sociedade nova e de um mundo novo.

        

Sabemos que faz parte da nossa natureza humana é que nós fechamos nossos olhos diante daquilo que deveríamos ver, e sobretudo, diante de nossos próprios pecados ou defeitos.  Enquanto que o primeiro passo para a conversão e para o bom relacionamento com Deus é admitir que somos pecadores, que temos defeitos, embora reconheçamos que nenhuma coisa no mundo mais duro e mais difícil do que encarar a nós mesmos, os nossos defeitos e fraquezas. Mas temos que estar conscientes de que o fim de arrogância é o início de perdão e da graça de Deus na nossa vida. Mas em qualquer retorno a Deus, a confissão dos pecados deve ser feita. O filho pródigo, antes de tomar a decisão de voltar para a casa do pai, reconhece seu pecado e se considera pecador. Mas certamente o primeiro passo para conversão e para um relacionamento verdadeiro com Deus e com o próximo é reconhecer os próprios pecados e tomar decisão de trilhar novamente os caminhos de Deus. Só assim a graça e todas as bênçãos de Deus poderão chegar até nós. Por isso, não há perdão e relacionamento verdadeiro com Deus e com o próximo sem humilhação e humildade, abandonando nossa arrogância e autossuficiência que não nos trazem vantagem nenhuma a não ser só a destruição de nossa vida.

         

Além disso, João Batista anuncia a vinda do Messias que batizará com o Espírito Santo. O Batismo com Espírito Santo é a realização de todas as promessas de Deus, pois ele é a comunicação pessoal de Deus com os homens. Ele entra em comunhão de amor com todos os que creem e o aceitam. Então, com essa expressão, João Batista quer nos dizer que Jesus Cristo fará desaparecer do coração dos homens o espírito mau, o impulso deturpado que impele a cometer malvadezas e comunicará a todos um Espírito novo, o Espírito de Deus, a força vital. Para isso acontecer, a conversão é a passagem obrigatória. Se não preceder a conversão pessoal e não se abrir a transcendência, não haverá eficácia real na mudança de estruturas sociais. Desde modo perpetuam-se a injustiça e a opressão do mais fraco.

        

Portanto, que cada um de nós saiba fazer a revisão de vida e se pergunte: quais são maus hábitos que eu devo abandonar, pois eles não trazem nenhuma vantagem para mim e para as pessoas ao meu redor? Só dessa maneira que as bênçãos de Deus vão entrar facilmente na nossa vida e na nossa família. Se não sonharemos sem fundamento.

 

Em relação ao tema da preparação do caminho, na Primeira Leitura, o profeta Isaías quer que Israel prepare um caminho para o Senhor. Pela sua história e experiência Israel é um povo em caminho. Isto aparece em toda a Sagrada Escritura, sobretudo, na primeira leitura de hoje, de um modo claro e preciso: de um estado de escravidão há que passar a outro estado de libertação e de paz.

 

A Igreja vive esse mesmo mistério. Ela mesma está “presente no mundo e é peregrina” (SC 2). Ela é herdeira das prerrogativas de Israel. Povo em caminho. A Igreja é dirigida para o cumprimento de uma comunhão total com Cristo e por isso, vive uma espiritualidade de esperança, isto é, de íntima união com Deus em Cristo que vive em sua Igreja como a Cabeça da Igreja (Cl 1,18). Como peregrino, cada cristão não deve carregar muita coisa para facilitar sua movimentação. A carga pesada no coração torna-nos parados e paralisados, pois muitas das vezes não queremos abrir mão daquilo que é passageiro.

 

Em seu plano de salvação, Deus coloca todo o seu amor. Ele mesmo nos enviou seu próprio Filho, o Salvador. Mas a vontade pessoal e coletiva dos homens terá que colocar toda a sinceridade de sua conversão, tornando-os disponíveis para Cristo Jesus, o Ungido de Deus que nos salva.

 

Com a disponibilidade para nos renovar é que podemos esperar a vinda do Senhor que não marca hora para nós, pois Ele vem como ladrão sem nenhum aviso, como escreveu o autor da Primeira Carta de São Pedro que lemos na Primeira Leitura de hoje (1Pd 3,8-14). Temos que colaborar com a graça de Deus, pois o Senhor nos dá a salvação, o perdão de nossos pecados, a graça, a vida. Quanto mais nos identificamos com a comunidade de fé, de oração, de sacrifício, de dor, de apostolado, que é a Igreja, mais profundamente participaremos da divina redenção e salvação.

 

O que nós esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça”, lemos na Segunda Leitura. O pensamento da vida justa é lindo: acelera a vinda do Senhor. Longe de ter medo desse fim porque é o triunfo total e definitivo do Senhor Jesus. Trata-se de novos céus e nova terra em que a justiça mora. Isso pode ser preparado a partir de agora.

 

A conversão profunda nos leva a sermos mensageiros de Cristo. Sejamos arautos de Cristo, como João Batista, para aqueles que não O conhecem ou não O amam. Esse é o nosso dever inescapável do Advento!

 

Ó Deus todo-poderoso e cheio de misericórdia, nós vos pedimos que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso Filho, mas, instruídos pela vossa sabedoria, participemos da plenitude de sua vida” (Coleta). E “que pela participação nesta Eucaristia, nos ensineis a julgar com sabedoria os valores terrenos e colocar nossas esperanças nos bens eternos” (Depois da Comunhão).

P. Vitus Gustama,SVD

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