terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Terça-feira Da III Semana Do Advento, 15/12/2020

O DIZER E O FAZER DO CRISTÃO DEVEM ESTAR EM SINTONIA

Terça-feira da III Semana do Advento

Primeira Leitura: Sf 3,1-2.9-13

Assim fala o Senhor: 1 “Ai de ti, rebelde e desonrada, cidade desumana. 2 Ela não prestou ouvidos ao apelo, não aceitou a correção; não teve confiança no Senhor, nem se aproximou de seu Deus. 9 Darei aos povos, nesse tempo, lábios purificados, para que todos invoquem o nome do Senhor e lhe prestem culto em união de esforços. 10 Desde além-rios da Etiópia, os que me adoram, os dispersos do meu povo, me trarão suas oferendas. 11 Naquele dia, não terás de envergonhar-te por causa de todas as tuas obras com que prevaricaste contra mim; pois eu afastarei do teu meio teus fanfarrões arrogantes, e não continuarás a fazer de meu santo monte motivo de tuas vanglórias. 12 E deixarei entre vós um punhado de homens humildes e pobres”. E no nome do Senhor porá sua esperança o resto de Israel. 13 Eles não cometerão iniquidades nem falarão mentiras; não se encontrará em sua boca uma língua enganadora; serão apascentados e repousarão, e ninguém os molestará.

Evangelho: Mt 21, 28-32

Naquele tempo, disse Jesus aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: 28“Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: ‘Filho, vai trabalhar hoje na vinha!’ 29O filho respondeu: ‘Não quero’. Mas depois mudou de opinião e foi. 30O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: ‘Sim, senhor, eu vou’. Mas não foi. 31Qual dos dois fez a vontade do pai?” Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “O primeiro”. Então Jesus lhes disse: “Em verdade vos digo, que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. 32 Porque João veio até vós num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele”.

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Chamados a Ser Pobre No Espírito

A Primeira Leitura é tirada do livro do profeta Sofonias. Sofonias (hebraico: Deus protegeu) é um dos discípulos do profeta Isaías. Sofonias escreveu um século depois do profeta Isaías (em torno de 640 a.C). Sofonias vê a comunidade de seu tempo dividida em dois grupos. Por um lado, há grupo rebelde que não quer aproximar-se de Deus, porque é um grupo de pessoas arrogantes e que confia muito mais nas suas alianças políticas do que em Deus. Esse grupo ouviu a voz do profeta para que se converta, no entanto não quer se converter. Por outro lado, há outro grupo formado pelos humildes e pobres que confia totalmente em Deus.

Podemos entender que Sofonias é um profeta que denuncia as coisas cotidianas. Ele denuncia as transgressões contra Deus e contra o próximo. Atacou a idolatria cultual, as injustiças, o materialismo, a indiferença religiosa, os abusos das autoridades, as ofensas cometidas pelos estrangeiros contra o povo de Deus.  Ai de ti, rebelde e desonrada, cidade desumana. Ela não prestou ouvidos ao apelo, não aceitou a correção; não teve confiança no Senhor, nem se aproximou de seu Deus”. A história do povo eleito é uma grande serie de infidelidades: idolatrias, injustiças sociais, hipocrisias religiosas. O profeta é chamado por Deus para denunciar esse mal.

Ai de ti, rebelde e desonrada, cidade desumana. Ela não prestou ouvidos ao apelo, não aceitou a correção; não teve confiança no Senhor, nem se aproximou de seu Deus” (Sf 3,1-2). Estes dois primeiros versículos constituem uma queixa dolorosa de Deus ao ver que Jerusalém, longe de ouvir Sua voz, de buscá-Lo e de arrepender-se com sincera conversão, converteu-se em cidade rebelde, manchada de pecado, opressora, cidade materialista. Israel se crê uma cidade rica, poderosa, autossuficiente e não aceita a voz de Deus. Ainda que oficialmente seja o povo de Deus, de fato, se rebela contra o próprio Deus e se confia somente em si mesmo. Já não conta com Deus em seus planos. Quando o número de nossos bens materiais aumentar, precisamos verificar se o tamanho de nosso amor a Deus e ao próximo diminui.

A expressão “Não obedecem...não aceitam...não confiam...nem se aproximam” é uma maneira de falar sobre a ausência de Deus e do divino na sociedade. Na linguagem atual é o ateísmo prático.

Por isso, na última parte do texto da Primeira Leitura, Deus se transborda generosamente na promessa de restauração messiânica. E não somente para Jerusalém, mas também para todos os povos para os quais serão dados “lábios puros” para que “lhe invoquem e lhe sirvam unânimes”.

Jesus de Nazaré, o Filho amado do Pai é, ao mesmo tempo, o primeiro irmão da humanidade que tem esses lábios puros para invocar o nome de Deus e que tem esse coração obediente para viver cumprindo incondicionalmente a vontade de Deus.

Se meditarmos seriamente sobre o livro do profeta Sofonias, perceberemos que a atualidade de sua denúncia nunca se perde. Tudo aquilo que era cometido na sua época, se repete em qualquer época, inclusive na nossa época. Só mudam seus personagens.

Apesar das denúncias o profeta Sofonias vê uma esperança, pois a fidelidade de Deus é maior do que a infidelidade dos homens. Apesar de muitos cometerem o mal e a maldade, existe “um punhado de homens justos”:Deixarei entre vós um punhado de homens humildes e pobres. Eles não cometerão iniquidades nem falarão mentiras; não se encontrará em sua boca uma língua enganadora; serão apascentados e repousarão, e ninguém os molestará”.

Pela primeira vez se emprega na Bíblia, através do profeta Sofonias, a palavra “pobre” com o sentido novo. Não se trata apenas do pobreza econômica e social, mas uma atitude interior que possibilita a entrada do Reino de Deus na vida de quem tem esta atitude (cf. Mt. 5,3). “Pobre em espirito” é uma expressão de confiança total em Deus e se submete à Sua vontade em qualquer circunstância da vida.

Se vivermos como humildes, simples, agradecidos e arrependidos (convertidos) de que fala o profeta Sofonias, formaremos também parte do “resto de Israel”, “do resto fiel da Igreja”, “do resto fiel da humanidade”. E seremos fonte da esperança para os demais homens para continuar na luta pela salvação da humanidade.

O Dizer e O Fazer Do Cristão Devem Estar Em Sintonia

Se serves ao Verbo de Deus, tu estás no Santuário”, dizia Orígenes.

A parábola dos dois filhos tem uma função similar à parábola do filho pródigo no evangelho de Lucas (cf. Lc 15,11-32) embora cada evangelista a desenvolva diversamente. Para o evangelista Mateus a mesma parábola é também o eco do Sermão da Montanha que enfatiza o fazer do que o dizer (Mt 7,21-23; cf. Mt 12,50;23,3-4). Atrás da parábola está Aquele que uma vez disse “sim” à vontade de Deus jamais mudou para umnão”. Ele é Jesus Cristo em quem devemos nos espelhar para nossa vida de cristãos. Jesus Cristo é um Filho ideal de Deus para a humanidade.          

Mt começa a parábola com a pergunta: “Que vós parece?” (v.28a). Esta pergunta é típica de Mateus (cf. Mt 17,25;18,12;22,17;26,66). A pergunta não é mais dirigida aos discípulos, mas aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo, os mesmos interlocutores da unidade anterior (cf. Mt 21,23-27). A pergunta obriga os ouvintes a comprometer-se e a tomar posição. A resposta à pergunta torna-se um julgamento para os ouvintes. E no fim da parábola, mais uma vez, os mesmos interlocutores são obrigados a escolherqual dos dois fez a vontade do pai?” (v.31). A resposta dada a estas perguntas pelos ouvintes será sua salvação ou seu juízo.                     

Os ouvintes de Jesus não tiveram dificuldade de dar uma resposta exata à pergunta de Jesus: “Qual dos dois fez a vontade do pai?”. Sem hesitarem os ouvintes responderam: o primeiro filho, isto é, aquele que falou que não iria, mas de fato foi e fez o que o pai pedia.          

A mensagem, portanto, é muito clara. Entre palavra e ação, a primazia é dada à ação. Entre intenção e ação, a primazia é dada à ação. O homem se salva não pelas palavras, intenções, palavras estéreis e descompromissadas, mas por fatos concretos e precisos.                   

Quando nós não somos fiéis à nossa palavra deixa de respeitarmos a nós mesmos e consequentemente aos outros e a verdade não está em nós, não somos fiéis a nós mesmos, e também aos outros. Deste jeito estamos mentindo para nós mesmos e para os outros. A mentira é a defesa fácil dos fracos, que não são capazes de assumir a responsabilidade de seus atos. Triste é que o mentiroso não somente se condena a si próprio a vergonhosas contradições, mas também priva os demais do direito que têm à verdade, semeando desconfiança entre as pessoas. Uma vez alguém mente, ele será obrigado a inventar outras mentiras para confirmar oudefender” a primeira mentira.        

O fazer ou o agir é tão importante que Jesus Cristo pede aos discípulos o seguimento. Seguir a Jesus é agir com ele e como ele, acompanhá-lo no seu agir. Jesus chama os discípulos convidando-os a segui-Lo (Mt 4,19-22; 8,22; 9,9; 16,24; 19,21.27). O que conta diante de Deus não são as aparências, nem as boas intenções ou palavras, mas a PRÁTICA. Deus olha para o que de fato fazemos, não importa o que pensamos ou dizemos. Aquele que honra a Deus, não é aquele que observa uns ritos exteriores, mas sim aquele que põe em prática a vontade de Deus. Por isso, devemos ficar sempre atentos para que a nossa prática religiosa ou nossos ritos exteriores, não seja mais importante do que nosso Deus e nosso próximo.         

Por isso, o maior escândalo de nossos tempos é a separação da religião da vida. Reza-se, mas não se vive o que se reza. Canta-se mas não se vive o que se canta. Recebe-se a Eucaristia, mas não se vive a comunhão fraterna. Dobra-se os joelhos diante do sacrário, mas despreza-se o irmão, o corpo vivo e imagem de Cristo.          

Numa ocasião o Papa Paulo VI disse: “O grande pecado da moderna cristandade é o vazio entre a e as obras. É o pecado de ser ilógico, inconsciente e infiel”. O maior escândalo de nossos tempos é a separação da religião da vida. Reza-se, mas não se vive o que se reza. Canta-se mas não se vive o que se canta. Recebe-se a Eucaristia, mas não se vive a comunhão fraterna. Dobra-se os joelhos diante do sacrário, mas despreza-se o irmão, o corpo vivo e imagem de Cristo.                     

Portanto, a parábola dos dois filhos é um convite para fazermos o sério exame de consciência sobre o nosso agir diário. As nossas palavras nunca podem ultrapassar o nosso agir para não sermos chamados de cristãos falsos. Se não nos convertermos continuamente, o mundo vai repetir as palavras de Mahatma Gandhi: “Eu aceito o vosso Cristo, mas não aceito o vosso cristianismo”.

P. Vitus Gustama,svd

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