sábado, 26 de dezembro de 2020

29 De Dezembro-Tempo de Natal

APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO:

O ENCONTRO COM O SALVADOR

29 de Dezembro

Primeira Leitura: 1Jo 2,3-11

Caríssimos, 3 para saber que conhecemos Jesus, vejamos se guardamos os seus mandamentos. 4 Quem diz: “Eu conheço a Deus”, mas não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele. 5 Naquele, porém, que guarda a sua palavra, o amor de Deus é plenamente realizado. O critério para sabermos se estamos com Jesus é este: 6 quem diz que permanece nele, deve também proceder como ele procedeu. 7 Caríssimos, não vos comunico um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que recebestes desde o início; este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. 8 No entanto, o que vos escrevo é um mandamento novo – que é verdadeiro nele e em vós – pois que as trevas passam e já brilha a luz verdadeira. 9 Aquele que diz estar na luz, mas odeia o seu irmão, ainda está nas trevas. 10 O que ama o seu irmão permanece na luz e não corre perigo de tropeçar. 11 Mas o que odeia o seu irmão está nas trevas, caminha nas trevas, e não sabe aonde vai, porque as trevas ofuscaram os seus olhos.

Evangelho: Lc 2,22-35

22 Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor. 23Conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”. 24 Foram também oferecer o sacrifício – um par de rolas ou dois pombinhos – como está ordenado na Lei do Senhor. 25 Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso, 26 e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor. 27 Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, 28 Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: 29 “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; 30 porque meus olhos viram a tua salvação, 31 que preparaste diante de todos os povos: 32 luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”. 33 O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. 34 Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. 35 Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti uma espada te traspassará a alma”.

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O Evangelho nos traz ecos novamente do Natal. O texto do evangelho nos mostra que Jesus é plenamente encarnado na condição humana: é um menino que precisa ser levado nos braços como qualquer outra criança. E sua família se submete à Lei como qualquer outra família judia. Maria e José são pobres. Como uma família pobre, eles fazem a oferenda como pobre: um par de pombas. Jesus apresentado a Deus, isto é, ele é oferecido ao Pai solenemente. O sentido da oferenda se compreenderá somente sob a luz da cena do calvário onde Jesus morrerá como o autêntico primogênito que se entrega ao Pai pela salvação dos homens.

Continuamos com o evangelho sobre a infância de Jesus: a apresentação de Jesus no Templo e a purificação ritual de Maria. Como a oferenda nessa apresentação e purificação, as mulheres ricas, além de uma rola ou um pombinho para o sacrifício de purificação, oferecem um cordeiro de um ano para o holocausto de ação de graças (cf. Lv 12,6.8). As mulheres pobres somente oferecem duas rolas ou dois pombinhos (Lc 2,24). Da oferenda sabemos que Maria pertence à classe social pobre e humilde, pois leva apenas um par de pombinhos.

Por meio da apresentação (circuncisão) o menino judeu passava a fazer parte do povo de Deus e se tornava destinatário das promessas feitas a Abraão e à sua descendência (Cf. Gn 1,14.23-27; 34,14-16; At 7,8). Ao submeter-se ao rito da Lei de Moisés (circuncisão), Jesus se solidariza com o seu povo. Porém, mais tarde, este rito de circuncisão não terá mais necessidade, pois a salvação que Jesus traz não está vinculada à circuncisão e sim à fé como graça (Cf. At 15,1.5: Concílio de Jerusalém).         

Além disso, o evangelista Lucas sublinha a apresentação de Jesus no Templo para mostrar que Jesus pertence inteiramente a Deus e que sua entrega é total desde o início de sua vida (cf. 1Sm 1,24-28). E Maria sabe que “o seu filho primogênito” (Lc 2,6) não é propriedade dela, mas propriedade de Deus. Tudo pertence a Deus, menos o pecado.

Jesus é destinado para salvar a humanidade (Cf. Jo 3,16). O sentido do nome “Jesus” é Deus salva, nome que foi escolhido pelo próprio Deus (Mt 1,21; Lc 1,31; 2,21). Para os judeus, o nome expressa a identidade e o destino pessoal que cada um devia realizar ao longo de sua vida. Jesus foi, desde o primeiro instante de sua existência até a morte na Cruz, o que seu nome significa: Salvador.                 

Como Maria, nós podemos oferecer a Deus o que dele recebemos. Muitas vezes em vez de oferecermos algo para Deus, na verdade recebemos muita mais de Deus. Como diz uma música: “Cada vez que eu venho para Te oferecer, na verdade, venho para receber. Cada vez que eu venho para Te falar, na verdade, venho para Te escutar”, pois somente o Senhor fala da verdade de nossa vida.          

A parte central da cena começa com a introdução do personagem principal, o velho Simeão cujo nome significa “O Senhor escuta” (cf. Gn 29,33). Ele é apresentado como um homemjusto e piedoso”, como alguém que esperava a “consolação de Israel”, isto é, a vinda próxima da salvação messiânica. O texto relata que “o Espírito Santo estava nele” para sublinhar que a mensagem que Simeão dará tem valor (vv.29-32. 34-35), pois ele é um profeta inspirado, cheio de Espírito Santo. Além disso, receberá de Deus a promessa de não morrer antes de ver o “Messias do Senhor” (v.26). Sua ida ao Templo naquele determinado momento é interpretada, aqui, como uma condução do Espírito de Deus (v.27) como o próprio Jesus será conduzido pelo Espírito Santo (Mc 1,12).       

As palavras proféticas de Simeão sobre Jesus constituem o centro do relato. O ator principal é o Espírito Santo, pois ele é quem conduz Maria ao Templo, quem conduz Simeão ao encontro de Jesus e quem revela a Simeão que o Menino que ele acolhe é a salvação de Deus e luz para iluminar as nações.         

Esta cena nos mostra que no encontro com Jesus realizamos nossas esperanças e esperas, e os nossos olhos são iluminados para ver a vida de maneira renovada e renovadora. Para acontecer o encontro com Jesus e a realização das promessas, temos que, como velho Simeão, nos deixar conduzir pelo Espírito do Senhor.          

Nesta cena Simeão recebe Jesus dos braços de Maria. Isto quer nos dizer que Deus quer que recebamos o Salvador e quem nos dá Jesus depois de tê-lo dado à luz para toda a humanidade é Maria. Devemos acolher Jesus com toda a nossa pessoa, corpo, coração, pensamento e sentimentos. “Aquele que deseja ser libertado, que tome Jesus nas suas mãos...e faça todos os esforços para deixar-se guiar pelo Espírito e vir ao templo de Deus...isto é, à sua Igreja” (Orígenes). Iluminado pelo Espírito Santo, Simeão vê no menino que tem nos seus braços a “luz das nações”. Jesus é a luz que vai iluminar todos os povos (Lc 1,79; Jo 8,12).          

Simeão também prevê o sofrimento de Maria pela incredulidade do seu povo. Este sofrimento é descrito por Lc com uma imagem muito forte: em grego “rhomfaia” que designa uma espada grande com duplo fio.  Este termo não voltará a ser mais usado em todo o NT até o último livro, o Apocalipse, onde aparecerá seis vezes; cinco delas para simbolizar a palavra de Deus. O sofrimento de Jesus pela divisão atinge também pessoalmente sua mãe. Sabemos pela experiência que o sofrimento do filho (a) é o sofrimento da mãe (pai). E o sucesso do filho (a) é o sucesso da mãe(pai). A fé de Maria vai ser provada. E ela se mostra fiel até o fim na provação. Por isso, ela é modelo para nossa fé.          

Se Simão é descrito mais pela sua interioridade, pela justiça e esperança, Ana pela sua espiritualidade, pela sua vinculação com o templo e pela sua esperança. Lc apresenta Ana como uma mulher consagrada a Deus, modelo de fidelidade e de piedade e vive no templo. Também Ana vai ao encontro de Jesus, olha, compreende e testemunha aos outros (v.38), porque ela está aberta ao Espírito Santo. A salvação é oferecida por Deus a todos, mas ela deve ser anunciada e testemunhada por quem a acolhe.

A cena do encontro de Jesus com a humanidade no Templo nos projeta para o futuro encontro com o Senhor. Por isso, o encontro com Jesus com a humanidade representada pelos anciãos Simeão e Ana prefigura nosso encontro final com Cristo na sua segunda vinda. Nós, peregrinos de Deus, caminhamos penosamente através deste mundo, guiados pela luz de Cristo e sustentados pela esperança de encontrar finalmente o Senhor da glória no seu Reino eterno. Toda nossa vida cristã tem esse objetivo: encontrar-nos com o Senhor na vida eterna. Por este objetivo temos sempre força suficiente para superar tudo na nossa peregrinação terrestre. Estando com Cristo e seguindo seus passos nossa vida sempre será iluminada: “Eu sou a Luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).

Para saber que conhecemos Jesus, vejamos se guardamos os seus mandamentos. Quem diz: “Eu conheço a Deus”, mas não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele”, assim lemos na Primeira Leitura de hoje. O conhecimento de Jesus Cristo não é um conhecimento intelectual. Não está reservado aos sábios, aos que são capazes de decifrar intelectualmente as “Escrituras” ou o “Dogma”. Aqui se trata de um conhecimento experimental, vital. Pela origem da palavra, o verbo “conhecer” quer dizer “com-nascer, nascer com, fazer-se um com outro. Somente conhecemos o outro, entregando-nos a ele e aceitando que ele se entregue a nós. Trata-se de uma relação existencial.

Os gnósticos dos fins do século primeiro dava a prioridade absoluta ao saber (“gnosis”, conhecimento) e com isso se sentiam salvos sem prestar grande atenção às consequências da vida moral. Não atuavam segundo esse conhecimento de Deus.

Para o autor da Carta de João, a demonstração de que deixamos as trevas e entramos na luz é quando amamos ao irmão: “Aquele que diz estar na luz, mas odeia o seu irmão, ainda está nas trevas. O que ama o seu irmão permanece na luz e não corre perigo de tropeçar. Mas o que odeia o seu irmão está nas trevas, caminha nas trevas, e não sabe aonde vai, porque as trevas ofuscaram os seus olhos(1Jo 2,9-11). Isso é conhecer Deus. 

É a consequência de ter conhecido o mistério do amor de Deus neste Natal: também temos que viver seu grande mandamento que é o amor. A teoria é fácil. A prática não é o tanto: as duas devem estar juntos. Natal é luz e é amor, por parte de Deus, e deve sê-lo também por nossa parte. O Natal nos está pedindo seguimento e não somente celebração poética. Haveria bastante luz em meio das trevas deste mundo, se todos os cristãos escutassem esta chamada e nos decidíssemos a celebrar o Natal com mais amor em nosso pequeno ou grande círculo de relações pessoais.

Também o evangelho de hoje nos conduz a um Natal mais profundo. O ancião Simeão nos convida, com seu exemplo, a ter “boa vista”, a descobrir, movidos pelo Espirito, a presença de Deus em nossa vida. Nos pequenos detalhes de cada dia, e nas pessoas que podem parecer muito insignificantes, nos espera a voz de Deus, se soubermos escutá-la.

P. Vitus Gustama,SVD

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