ENTRE
A VONTADE DE
NOITES
DE DISCERNIMENTO DE SÃO JOSÉ
18 de
Primeira Leitura: Jr 23, 5-8
5 “Eis que virão dias, diz o Senhor, em que farei nascer um descendente de Davi; reinará como rei e será sábio, fará valer a justiça e a retidão na terra. 6 Naqueles dias, Judá será salvo e Israel viverá tranquilo; este é o nome com que o chamarão: ‘Senhor, nossa Justiça’. 7 Eis que virão dias, diz o Senhor, em que já não se usará jurar ‘Pela vida do Senhor que tirou os filhos de Israel do Egito’ 8 — mas sim: ‘Pela vida do Senhor que tirou e reconduziu os descendentes da casa de Israel desde o país do norte e todos os outros países’, para onde os expulsará; eles então irão habitar em sua terra”.
Evangelho: Mt 1, 18-25
18A origem de Jesus Cristo foi assim:
Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem
juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. 19José,
seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em
segredo. 20Enquanto
José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe
disse: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa,
porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um
filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus
pecados”. 22Tudo
isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: 23“Eis
que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de
Emanuel, que significa: Deus está conosco”. 24Quando acordou, José
fez conforme o anjo do Senhor havia mandado, e aceitou sua esposa.
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Na liturgia do Avento há algumas figuras bíblicas que dão uma tonalidade especial para este tempo litúrgico: Isaías, João Batista, Maria, Nossa Senhora e são José, esposo de Maria. Na liturgia de hoje (18 de Dezembro) a figura de são José está em destaque.
São José pertence à estirpe de Davi e como tal permite compreender o cumprimento da promessa feita por Deus ao seu régio antepassado: “Quando os teus dias estiverem completos e vieres a dormir com teus pais, farei permanecer a tua linhagem após ti, aquele que terá saído das tuas entranhas, e firmarei a sua realeza” (2Sm 7,12). Nisto entendemos que são José é o anel de conjunção que através de Davi, de quem descende, une Cristo à grande “promessa”, isto é, a Abraão. Justamente porque é legalmente “filho de José” (Lc 4,22), Jesus pode reivindicar para si o título messiânico de “filho de Davi” (Mt 22,41-46). Portanto, José tem, sem dúvida nenhuma, um lugar no mistério da encarnação do Filho de Deus. José é justo por causa de sua fé porque sua fé é modelo da fé de qualquer homem que queira entrar em diálogo e em comunhão com Deus.
Se na genealogia Mateus nos mostra que Jesus é “filho de Davi”, isto é, da descendência de Davi através de José, no texto do evangelho de hoje, Mateus vai além: Jesus é principalmente o “Filho de Deus” cuja concepção é o fruto da intervenção de Deus através da ação do Espírito Santo na vida de Maria. São José é convidado por Deus para compreender este mistério e colaborar na encarnação de Deus.
“A vida espiritual que José nos mostra, não é um caminho que explica, mas um caminho que acolhe. Só a partir deste acolhimento, desta reconciliação, é possível intuir também uma história mais excelsa, um significado mais profundo”, escreveu o Papa Francisco na Carta Apostólica, Patris Corde n.4c.
Deus Salva a Humanidade Por Meio de Um Homem
O oráculo do profeta Jeremias sobre o messianismo é claramente inspirado em Is 11,1-4: “Eis que virão dias, em que farei nascer um descendente de Davi; reinará como rei e será sábio, fará valer a justiça e a retidão na terra”.
Este oráculo de Jeremias (resposta de Deus para certas perguntas/situações do homem de Deus) está inserido num contexto de duras condenações sobre os reis de Judá por causa de suas incapacidades, das injustiças sociais, das alianças idolátricas, dos crimes políticos, má conduta pessoal dos chefes e assim por diante. Os reis pastorearam mal o povo e o dispersaram. Os maus pastores estão preocupados com o seu conforto, com o seu bem estar, em salvar a situação pessoal e familiar, e deixam o restante se perder. Em vez de tomar conta das ovelhas, eles se omitiram, e sacrificavam as mais gordas para se deliciar da sua carne e se vestir com sua lã. A situação é bem desordenada ou escura e confusa. A dinastia davídica está em plena decadência e por isso, suscita a cólera de Deus (Jr 21-22). E os líderes, os governantes, os pastores de hoje?
Diante dessa situação, Deus tem planos de salvação para seu povo apesar de suas infidelidades. O próprio Senhor vai reunir o povo novamente, mediante pastores, como Davi, que devolverão ao povo o descanso. Esse Deus se chama “o Senhor, minha justiça”, pois Ele fará justiça (salvação) seu povo. Deus lhe promete um rei novo, um rebento da casa de Davi. Em contraste com os dirigentes da época, este novo rei será um rei justo, prudente que salvará e dará segurança a Israel e se chamará “o Senhor, nossa Justiça”: “Eis que virão dias, diz o Senhor, em que farei nascer um descendente de Davi; reinará como rei e será sábio, fará valer a justiça e a retidão na terra”. São qualidade do rei esperado, do Messias. Na dinastia de Davi tão condenável, há um germe de Messias. Tudo isso se realiza em Jesus, o Cristo. Jesus é o verdadeiro Pastor (cf. Jo 10).
O salmo Responsorial (Sl 71) canta ao rei exemplar que governa com justiça, que escuta os clamores dos pobres e oprimidos e sai em sua defesa: “Com justiça ele governe o vosso povo, com equidade ele julgue os vossos pobres. Libertará o indigente que suplica, e o pobre ao qual ninguém quer ajudar. Terá pena do indigente e do infeliz, e a vida dos humildes salvará”.
Tudo isso quer nos dizer que o amor de Deus a seu povo continua o mesmo. Deus libertou uma vez do Egito, no primeiro êxodo, o povo. Este primeiro êxodo é protótipo de todos os demais. Continua em marcha a história da salvação: com debilidades contínuas por parte do povo e com fidelidade admirável e incondicional por parte de Deus (Cf. Jo 3,16). Toda a história da Bíblia é a história do amor de Deus pelo seu povo.
Nenhum rei do Antigo Testamento cumpriu estas promessas de Deus. Por isso, tanto a passagem de Jeremias como o Salmo Responsorial se orientam claramente para a espera dos tempos messiânicos. Nós cristãos vemos tudo isso cumprido plenamente em Jesus Cristo, nossa Salvador.
Será que a situação política e social que o profeta encarava não se repete hoje na nossa época atual? Que tipo de situação política que se passa na nossa Terra? Que tipo de aliança política que os políticos estão tendo nesta terra? Será que não esperamos também o surgimento de um líder que ”será sábio, fará valer a justiça e a retidão na terra”?
Um dia perguntaram a Mahatma Gandhi sobre quais são os fatores que destroem os seres humanos? Mahatma Gandhi respondeu: “Os fatores que destroem os seres humanos são o prazer sem compromisso; a riqueza sem trabalho; a sabedoria sem caráter; os negócios sem moral; a ciência sem humanidade; a oração sem caridade e a política sem princípios éticos”.
O povo atual espera não somente um líder sábio que faz valer a justiça e a retidão, mas também que cada um seja uma pessoa de critérios éticos para fazer valer a justiça e retidão. Tudo isso começa em casa. Se um homem é corrupto em casa, ele continua sendo corrupta na rua. Se um homem vive sem moral e ética em casa, ele vai ser um homem sem moral e sem ética na rua, no trabalho, nos negócios, na política e assim por diante.
Nosso Deus É Emanuel,
Deus-Conosco
No evangelho de Lucas lemos a anunciação do Anjo do Senhor a Maria (Lc 1,26-38). O Evangelho de Mateus nos relata a anunciação do Anjo do Senhor a José, como lemos no texto do evangelho de hoje.
1. Maria e Ação do Espírito Santo
“Maria se traduz, do hebraico, como Estrela do Mar; do siríaco com Senhora, porque deu ao mundo tanto a luz da salvação quanto o Senhor. também é dito com quem ela se casou, José” (São Beda, In Lucam, 1,3).
“Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo”, assim começa o texto do evangelho de hoje.
O matrimônio judeu é celebrado em duas etapas: o contrato e a coabitação. Entre o contrato e a coabitação transcorre um intervalo que pode durar um ano. O contrato já pode ser feito quando a moça tem doze anos de idade. O intervalo (antes da coabitação) dá espaço para a maturidade física da esposa. Maria está unida a José por contrato, mas ainda não há coabitação como mostra a frase citada acima (v.18). Mas, mesmo não havendo a coabitação a esposa em contrato deve ser fiel ao seu marido como se fosse uma casada. Consequentemente, a infidelidade é, nessa etapa, considerada como adultério.
“Ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo”, assim o texto nos diz em seguida. Esta frase nos mostra que o Pai de Jesus é o próprio Deus. Jesus é o Filho de Deus e não apenas tem o título de “filho de Davi”. Sua concepção e nascimento não são casuais, mas tem lugar pela vontade e obra de Deus. Assim o evangelista expressa a eleição de Jesus para sua missão messiânica e a novidade absoluta na história (Nova criação. A desobediência de Adão causou o novo caos. A chegada de Jesus ordena tudo para uma nova criação).
O Espírito Santo tem o poder de fecundar nossa vida com algo salvador desde que estejamos abertos à sua ação e impulso a exemplo de Maria.
“Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo”:
São Pedro Crisólogo no seu Sermão 148 comentou: “Não te perturbem nem ofendam teus ouvidos as palavras concepção e parto, porque a virgindade afasta toda desonra humana. Em quê ode ferir a vergonha a união da divindade com a pureza, sua sempre querida amiga, união cujo mensageiro é um anjo, a fé é a madrinha de casamento, a distribuição é a castidade, a doação é a virtude, o juiz é a consciência, a causa é Deus, o ato de conceber é sem violação, o parto é virgindade e a mãe é virgem”.
2. José/Israel e a Ruptura Com o Passado
“Sabemos que [José] era um humilde carpinteiro [cf. Mt 13, 55], desposado com Maria [cf. Mt 1, 18; Lc 1, 27]; um ’homem justo’ [Mt 1, 19], sempre pronto a cumprir a vontade de Deus manifestada na sua Lei [cf. Lc 2, 22.27.39] e através de quatro sonhos [cf. Mt 1, 20; 2, 13.19.22]. Depois duma viagem longa e cansativa de Nazaré a Belém, viu o Messias nascer num estábulo, ‘por não haver lugar para eles’ [Lc 2, 7] noutro sítio. Foi testemunha da adoração dos pastores [cf. Lc 2, 8-20] e dos Magos [cf. Mt 2, 1-12], que representavam respetivamente o povo de Israel e os povos pagãos. Teve a coragem de assumir a paternidade legal de Jesus, a quem deu o nome revelado pelo anjo: dar-Lhe-ás «o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados» [Mt 1, 21]. Entre os povos antigos, como se sabe, dar o nome a uma pessoa ou a uma coisa significava conseguir um título de pertença, como fez Adão na narração do Génesis [cf. 2, 19-20]. (Papa Francisco: Carta Apostólica, PATRIS CORDE).
“José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo”, disse o evangelista Mateus. José é o homem justo e reto. Ao usar o termo “justo” (cf. Mt 13,17; 23,29: em ambos os casos “justo” são associados a “profetas”), Mateus quer nos mostrar que José é protótipo de israelita fiel aos mandamentos de Deus. A fidelidade a Deus através do cumprimento da Lei obriga José a repudiar Maria. Consequentemente, Maria seria culpada como adúltera. No entanto, o amor ao próximo como a si mesmo (cf. Mt 22,39) impedia José de difamar Maria. Daí sua decisão de repudiar Maria em segredo e não quer expô-la para a vergonha pública ou para o pudor público.
Porém o Anjo do Senhor intervém: “Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”. E José que encarna o resto de Israel é dócil à voz de Deus e quer cumprir aquilo que Deus quer que ele realize para Jesus salvar a humanidade. E o uso da expressão “Filho de Davi” aplicada a José indica a relação com Mt 1,1 para sublinhar que o direito à realeza para Jesus vem pela linha de José (cf. Mt 12,23; 20,30).
Percebe-se aqui o significado que o evangelista Mateus atribui à figura de Maria. Ela representa a comunidade cristã em cujo seio nasce a nova criação pela obra do Espírito Santo. A dúvida de José reflete, por isso, o conflito interno dos israelitas fiéis diante da nova realidade: a comunidade cristã. Pela ruptura com a tradição que percebe nessa comunidade (nascimento virginal sem pai ou sem modelo humano), José (=Israel) deve repudiá-la para ser fiel à tradição. Por outro lado, José (=Israel) não tem motivo real algum para difamá-la, pois sua conduta irrepreensível é patente ou óbvia. O Anjo do Senhor, que representa o próprio Deus, resolve o conflito convidando Israel fiel a aceitar a nova comunidade, porque o que nasce nela é obra de Deus. Esse Israel compreende a novidade do messianismo de Jesus e aceita a ruptura com o passado por causa da salvação que está em jogo.
3. Noites de Discernimento de José: Mensagem Para Nós
O
José
E
José aceita o
Precisamos
Além disso, quando uma comunidade cristã de
hoje, como no tempo de Mateus, descobre sua impotência e sua pequenez, como
José, ela deve voltar à memória desse relato para descobrir dentro de si a
presença de Deus que sempre se conecta com ela para a realização da salvação. E
como na vida de José, também, às vezes, são nos apresentadas situações difíceis
e obscuras. Sabemos muito bem que dentro dos planos de Deus encaramos com frequência
as provas e as tribulações, as quais servem para nos purificar e nos
aproximarmos mais de Deus e de Sua vontade.
P. Vitus Gustama,svd
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