terça-feira, 15 de dezembro de 2020

22 De Dezembro- II Parte Do Advento

COM MARIA CANTEMOS E LOUVEMOS A MISERICÓRDIA DE DEUS QUE NOS FECUNDA

22 de Dezembro

Primeira Leitura: 1Samuel 1,24-28

Naqueles dias, 24 Ana, logo que o desmamou, levou consigo Samuel à casa do Senhor em Silo, e mais um novilho de três anos, três arrobas de farinha e um odre de vinho. O menino, porém, era ainda uma criança. 25 Depois de sacrificarem o novilho, apresentaram o menino a Eli. 26 E Ana disse-lhe: “Ouve, meu Senhor, por tua vida, eu sou a mulher que esteve aqui orando ao Senhor, na tua presença. 27 Eis o menino por quem eu pedi, e o Senhor ouviu a minha súplica. 28 Portanto, eu também o ofereço ao Senhor, a fim de que só a ele sirva em todos os dias de sua vida”. E adoraram o Senhor.

Evangelho: Lc 1,46-56

Naquele tempo, 46Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, 48porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, 50e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o temem.51Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. 52Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. 53Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. 54Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. 56Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa.

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Deus Escuta Os Pedidos Dos Que São Fiéis a Ele 

Muito próximo já o Natal, a liturgia se concentra na contemplação de Maria e recorda os nascimentos milagrosos que narra o Antigo Testamento. Ana estéril suplica a Deus que se digne olhar para a aflição de sua serva. Tendo sido escutado sua oração, consagrou seu filho a Deus, o pequeno Samuel. Contemplemos em silêncio a alegria de Maria nesses dias: ela espera e se prepara para o nascimento do Salvador do mundo, o Deus-Conosco. 

A primeira leitura tirada do Antigo Testamento foi escolhida para a liturgia de hoje por duas razões: Primeiro, o Cântico de Ana contém exatamente os mesmos temas que o Magnificat de Maria que é lido no texto do Evangelho de hoje. Segundo, a maternidade excepcional de Ana, até agora estéril, anuncia também as duas maternidades excepcionais de Isabel (estéril) e de Maria (Virgem fecunda).

As leituras deste dia nos propõem um paralelo entre o cântico de Ana e o de Maria. As duas mulheres, a do Antigo Testamento e a do Novo Testamento, reconhecem a intervenção de Deus em suas vidas e louvam a Deus por isso.

Ana, a esposa de Elcana, envergonhada por sua esterilidade, pedia a Deus, insistentemente em sua oração, força para encarar essa situação (cf. 1Sam 1,1-8). Agora voltou para o Templo para dar graças a Deus por ter sido escutada, pois agora ela é mãe de Samuel, que será um personagem importante na história de Israel. A esterilidade da mãe, considerada frequentemente naquela época como uma maldição é um recurso típico do Antigo Testamento para sublinhar que o filho é um dom particular do Senhor destinado para exercer uma missão importante neste mundo (cf. Gn 21,1-4; 25,21; Jz 13,2ss; Lc 1,5ss). 

Samuel é um filho fruto de uma mãe estéril, fruto de uma oração insistente cheia de fé dirigida a Deus. Como fruto da graça, a mãe, Ana, consagra seu filho, Samuel, desde sua tenra idade ao Senhor. O perfil de Samuel é igual a outros personagens da história sagrada: Isaac, Jacó, Sansão, João Batista.

Uma convicção teológica que tem por atrás do relato que o autor quer nos transmitir é que não são as forças da natureza nem os esforços humanos que levam adiante a história da salvação, e sim a graça de Deus capaz de fecundar os úteros estéreis e de dar vigor para corpos velhos e enfraquecidos (cf. Rm 4,19). A graça fecunda qualquer pessoa que sabe criar o espaço para Deus. Onde há graça, não há esterilidade. Onde há graça, há vida, mesmo que tenha aparência de esterilidade, pois a extremidade do homem é a oportunidade de Deus, pois para Deus nada é impossível (cf. Lc 1,37).

Apesar das circunstancias não favoráveis, a exemplo de Ana, é preciso mantermos nossa fé em Deus que tem a última palavra sobre nossa vida. Na maior parte do tempo hoje em dia, recebemos um excesso de informações de maneira muito rápida. Somos bombardeados com imprensa, com sons, com imagens, com fakenews, com informações de redes sociais e assim por diante. Muitos de nós cultivamos um “saudável” ceticismo e procuramos verificar a fonte. Nesta era de corrupção, de ódio incentivado e cinismos disseminados, a fé também precisa ser disseminada, pois a fé é saudável. A fé é uma afirmação de valor que orienta nossa vida e nossa convivência. A fé nos leva para além da história e das aparências da vida. A fé é ancorar-se da alma em Deus, Criador de todas coisas onde eu sou incluído. Ser criado por Deus é uma graça. Quem cria, cuida. E quem cuida é porque ama. “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).

Maria Cheia Da Graça Louva a Misericórdia de Deus

No cântico de Ana se inspira o Magnificat de Lucas, fragmento que lemos hoje. Esta resposta de Maria à saudação de Isabel, sua prima, que conhecemos tradicionalmente com o nome de Magnificat, é uma oração de ação de graças composta de citações do Antigo Testamento. Depois de escutar os louvores de sua prima, Maria entoa um cântico de admiração, alegria e gratuidade a Deus, o Magnificat, que a Igreja tem cantado ou rezado de geração em geração.

O cântico Magnificat que o evangelista Lucas põe na boca de Maria é a expressão da esperança de Israel e o testemunho da Igreja primitiva que tinha um grande apreço pela Mãe do Senhor que é apresentada como modelo de fé e esperança para os seguidores de Jesus Cristo. Maria é capaz de ver o mundo e a história da humanidade com os olhos de Deus. Quem tem Deus no coração e quem vive de acordo com os mandamentos do Senhor vive da esperança e na esperança do Senhor. Quem tem Deus no coração louva a Deus cheio de misericórdia. Maria, através de seu canto Magnificat quer nos recordar a fidelidade de Deus para nós apesar de nossos questionamentos e de todas as nossas dúvidas. Ao rezar ou canta o Magnificat queremos, como a Igreja primitiva, louvar a misericórdia, a fidelidade e a justiça de Deus que liberta. É um canto que nos chama a ser servos de Deus a exemplo de Maria.

“Magnificat” (= engrandece) é, na verdade, a primeira palavra latina da tradução do texto na versão latina: “Magnificat anima mea, Dominum”. No canto, as expressões "minha alma" e "meu espírito" são sinônimos e equivalem a "eu". É o "eu" de Maria, não simplesmente psicológico, mas ontológico e espiritual. O Magnificat de Maria é uma das mais belas orações do Novo Testamento com múltiplas reminiscências do Antigo Testamento (cf. 1Sm 2,1-11; Sl 110,9; 102,17; 88,11;106,9; Is 41,8-9).

No Magnificat, Maria aparece consciente de sua grandeza, mas, como humilde Serva do Senhor, transfere-a para Deus, reconhecendo, pois, sua pequenez, e dobrando-se diante do mistério do Deus sempre eterno e misericordioso. Maria sabe relacionar sua maternidade divina e messiânica com as promessas antigas, feitas a Abraão e à sua descendência, ligando, assim, o favor de Deus operante nela ao cumprimento de tais promessas. Maria se deixou ver por Deus, deixou-se amar por Deus com total transparência.

Não nos enganemos! Muitas vezes queremos fazer coisas para Deus, queremos sempre amar a Deus com nosso pobre amor. Se conseguirmos, será sempre pouco. De Maria aprendemos que o primeiro movimento da relação a Deus, não é oferecer o que fazemos para Deus e sim acolher o que Deus faz por s. Trata-se de passar da oferenda do meu pobre amor para o acolhimento do grande e maravilhoso o amor do qual Deus quer me preencher e com o qual Deus me ama incondicionalmente.

 

Nas palavras do Magnificat, a ordem dos valores do mundo sofre uma alteração radical, e aqui numa ressonância também política, econômica e social, pois os pobres e humildes são exaltados; os soberbos, derrubados de seus tronos; os ricos, opulentos e insensíveis, são despedidos de mãos vazias.

O canto ou a oração que o evangelista Lucas põe tão acertadamente nos lábios de Maria e provavelmente provinha da reflexão teológica e orante da primeira comunidade é um magnífico resumo da atitude religiosa de Israel na espera messiânica e é também a melhor expressão da cristã diante da história da salvação que chegou à sua plenitude com a chegada do Messias, Salvador e Libertador da humanidade. Jesus, com sua clara opção preferencial pelos pobres e humildes, pelos oprimidos e marginalizados, pelos abandonados e excluídos, pelos doente e pecadores, é o melhor desenvolvimento prático do que é dito no Magnificat.

Ana e Maria reconhecem a intervenção de Deus em suas vidas e por isso louvam a Deus. Saber louvar a Deus, com alegria agradecida é uma das principais atitudes cristãs. Ana e Maria nos ensinam a verificarmos tantas intervenções de Deus na nossa vida diariamente e que escapam de nossa atenção e por isso, vivemos tristes e insatisfeitos todos os dias. Quando pararmos para reconhecer as ações divinas na nossa vida, mesmo que seja no grau bem pequeno, aprenderemos de Ana e Maria a louvar a Deus diariamente e renovaremos nossas forças para continuar nossa missão sabendo que Deus nos ama e por isso, jamais nos abandonará. Olhar para o que Deus faz por nós desde toda a eternidade significa entrar em ação de graças e de louvores.

Maria louva a Deus pelo Natal de seu Filho, nosso Salvador, Jesus Cristo. O Magnificat de Maria é o melhor resumo da de Abraão e de todos os justos do Antigo Testamento. É um canto dos humildes de todos os tempos, de todos os que necessitam da libertação de suas várias opressões que a vida ou os outros impõem. Através de Maria o Deus-distante se torna Deus-Conosco para que vivamos o Natal com convicção de que Deus está presente e atua em nossa história por difícil que ela pareça ser. Se soubermos apreciar o Deus-Conosco, crescerão a paz interior e a atitude de esperança em nós. Ana nos ensina que com Deus nãonada que seja perdido. o tempo vai comprovar tudo isso. Mas o tempo de Deus é o tempo certo para nossa salvação. 

Ana e Maria representam todos os humildes de coração de todos os tempos. A humildade de coração é a mãe de todas as virtudes. Nela e dela geram e derivam as demais virtudes. “O único remédio eficaz para combater a soberba é uma dose diária de humildade, que, na maioria dos casos, também é um remédio amargo” (Santo Agostinho: Serm. 142,5,5). “Qualquer espécie de vício produz más obras. Porém, a soberba perscruta até as obras boas para fazê-las más” (Santo Agostinho: Regra).

P. Vitus Gustama,svd

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