CONHECER
A DEUS SE MANIFESTA NA DEDICAÇÃO E NO AMOR AO PRÓXIMO
30 de Dezembro
Leitura da Primeira: 1Jo 2,
12-17
12 Eu vos escrevo, filhinhos: os vossos pecados foram perdoados por meio do seu nome. 13 Eu vos escrevo, pais: vós conheceis aquele que é desde o princípio. Eu vos escrevo, jovens: vós vencestes o maligno. 14 Já vos escrevi, filhinhos: vós conheceis o Pai. Já vos escrevi, jovens: vós sois fortes, a Palavra de Deus permanece em vós e vencestes o Maligno. 15 Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai. 16 Porque tudo o que há no mundo – as paixões da natureza, a concupiscência dos olhos e a ostentação da riqueza – não vem do Pai, mas do mundo. 17 Ora, o mundo passa, e também a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.
Evangelho: Lc 2, 36-40
Naquele
tempo, 36 havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo
de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera
sete anos com o marido. 37 Depois ficara viúva, e agora já estava com oitenta e
quatro anos. Não saía do Templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e
orações. 38 Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do
menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. 39 Depois de
cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua
cidade. 40 O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça
de Deus estava com ele.
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Amar a Deus É Viver Para Sempre
“Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai. Ora, o mundo passa, e também a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre”. (1Jo 2,15.17).
Não há melhor comentário deste texto a não ser o comentário de Santo Agostinho que dizia: “Amando a Deus nos tornamos divinos; amando ao mundo nos tornamos mundanos (Serm. 121,1). Queres saber que tipo de pessoa és? Põe à prova teu amor. Se amas as coisas terrenas, és terra. Se amas a Deus, não tenhas medo de dizer: és Deus” (In epist. Joan. 2,2,14).
A primeira Carta de são João define as modalidades da comunhão com Deus: viver com Ele na luz, isto é, viver na transparência, pois não há nada que seja escondido, pois diante de Deus tudo é revelado (cf. Lc 12,2-3); compartilhar do amor salvador de Deus, amando os irmão. Tudo isso se resume na Carta de são João numa palavra: Conhecer Deus. Pela origem da palavra, o verbo “conhecer” quer dizer “com-nascer, nascer com, fazer-se um com outro. Somente conhecemos o outro, entregando-nos a ele e aceitando que ele se entregue a nós. Trata-se de uma relação existencial. Conhecer Deus significa ter uma relação profunda existencialmente com Deus. É estar unido com Deus. Esta união resulta na prática da vontade de Deus.
Quando uma pessoa conhece profundamente Deus, ela não será afetada pelo espirito mundano: “Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai. Porque tudo o que há no mundo – as paixões da natureza, a concupiscência dos olhos e a ostentação da riqueza – não vem do Pai, mas do mundo” (1Jo 2,15-16). Neste contexto, o termo “mundo” assume um sentido pejorativo. Por isso, não se trata do “mundo” pelo qual Cristo morreu (1Jo 2,2; 4,4; Jo 3,16; 4,42; 12,47). Pertencer ao mundo ou estar contaminado pelo espirito mundano se manifesta pela submissão às concupiscência da carne que contradizem a vontade de Deus. O homem que recusa as concupiscência do mundo para escolher a vontade de Deus participa da comunhão trinitária. Amar a Deus é reconhecido pelo amor aos irmãos, ao próximo.
Através da Primeira Leitura de hoje, são João se dirige a seus leitores chamando-os de “filhos”. É o denominador comum aplicável a todos os seus destinatários. Depois são João estabelece uma distinção entre eles: dirige-se aos pais e aos jovens. Porém o que se escreve para um grupo pode-se aplicar para outro e vice-versa. “Eu vos escrevo, filhinhos: os vossos pecados foram perdoados por meio do seu nome. Eu vos escrevo, pais: vós conheceis aquele que é desde o princípio. Eu vos escrevo, jovens: vós vencestes o maligno. Já vos escrevi, filhinhos: vós conheceis o Pai. Já vos escrevi, jovens: vós sois fortes, a Palavra de Deus permanece em vós e vencestes o Maligno”.
“Eu vos escrevo, filhinhos: os vossos pecados foram perdoados por meio do seu nome”. Devemos repetir incansavelmente essas palavras para que do fundo de nosso coração surja nosso agradecimento sincero ao Pai do céu. “Sois filhinhos porque nascestes de novo pela remissão dos pecados” (Santo Agostinho: Comentário da Primeira Epístola de são João, 2,4).
Vida Dedicada a Deus Silenciosamente
O texto do evangelho deste dia é a conclusão da cena da apresentação de Jesus no Templo e tem duas partes. A primeira parte fala do testemunho da profetisa Ana. A segunda parte fala da volta da Sagrada Família para Nazaré onde Jesus fortemente e cheio de sabedoria e está com a graça de Deus.
A figura feminina de Ana se corresponde com a figura masculina de Simeão, formando um par ideal no relato da apresentação do Menino Jesus no Templo.
O texto diz que “Ana, da tribo de Aser, era viúva e tinha 84 anos de idade”. O número “84” é um múltiplo de 12 (12 x 7), alusão às 12 tribos de Israel; enquanto que o número “7” tem, entre outros, valor de globalidade.
A alusão à tribo de Aser a qual pertencia a profetisa Ana, uma das dez tribos do Norte, confirma o alcance de sua representatividade. A menção da “idade avançada”, situada já no limite, contrasta com a dupla menção da “idade avançada” de Zacarias e Isabel (cf. Lc 1,7.18). De um lado, Ana está muito arraigada ao passado (genealogia) e à instituição judaica (Templo). De outro lado, por sua qualidade de “viúva”, diz relação com o povo de Israel, que enviuvou de seu Deus, enquanto que como “profetisa” lança um grito de esperança diante da semelhante desastre nacional. Jesus veio como Deus-Conosco para não deixar o povo órfão na sua luta de cada dia.
Além disso, a figura de Ana nos faz pensar, em primeiro lugar, na dedicação calada e silenciosa a Deus. O silêncio possibilita a presença da plenitude e dá oportunidade para Deus falar de si próprio e de nós e de nossa vida. Quanto mais silêncio criarmos, mais inspiração nós teremos. Qualquer grande obra que existe sempre foi e é o fruto de horas de silêncio. O silêncio possibilita qualquer um usar devidamente palavras que serão ditas ou escritas para os outros.
A figura de Ana nos faz pensar também no espírito atento para as chamadas e manifestações de Deus. Geralmente, há duas maneiras de prestar atenção. O homem pode prestar atenção com os olhos do corpo para ver as coisas visíveis. Mas ele também pode prestar atenção com a força do espírito para contemplar as coisas invisíveis para captar seu sentido. Toda atenção sempre leva ao conhecimento. O olhar desatento deixa de aprender. O olhar desatento permanece estranho para as presenças; é ser isolado no meio da multidão. A atenção é, por isso, um momento único em que a inteligência (conhecimento) e o coração podem estar juntos. A atenção faz parte da espiritualidade cristã. Ser atento é ser vigilante. É saber estar ligado com tudo ao redor para captar e agir. O espírito atento faz alguém se perguntar: Será que alguém está precisando de alguma ajuda? Será que minha maneira de falar e de viver está incomodando a tranquilidade dos outros? Somente quem tem espírito atento é que capaz de captar as chamadas de Deus e suas mensagens para nossa vida diária.
A figura de Ana nos faz pensar também na alegria da salvação que sempre é nos mostrada. A consciência de que Deus sempre quer nossa salvação nos faz sempre alegres: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos!” (Fl 4,4). Quem tem Deus, sua vida tem futuro. Por isso, a alegria é a característica do cristão que vive na esperança, na expectativa e na certeza da ressurreição; que vive na certeza de uma vitória final que será realizada apesar dos sofrimentos, do fracasso aparente e da morte no presente: “Penso, com efeito, que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se a nós” (Rm 8,18). Por esse futuro garantido os cristãos jamais podem desistir de lutar por um mundo mais fraterno, mais justo, mais solidário e mais humano, onde um se preocupa com o outro, onde um protege o outro. Com efeito, a tristeza e o desânimo não são apenas sintomas de um profundo cansaço, e sim são um sinal da ausência de uma verdadeira esperança cristã que no fundo tem sua origem na falta de fé em Deus. A firme intenção de sermos portadores de alegria e o empenho em contagiar os outros com uma alegria santa, com alegria no Senhor, são uma defesa muito eficaz contra a perda da mesma.
Maria Educa Jesus na Sabedoria e na Graça
A segunda parte do evangelho fala da volta da Sagrada Família para Nazaré e Lc nos relatou que “Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e diante dos homens” (Lc 2,52).
“Jesus crescia em sabedoria...”. A palavra “sabedoria” provém do latim “sapere” que significa ter inteligência, ser compreendido; mas, propriamente, significa ter gosto, exercer o sentido do gosto, ter este ou aquele sabor. A sabedoria é o sabor que conduz ao sabor. É saborear para saber que mais tarde é o saber que permite saborear. A sabedoria é refinar o gosto pela vida. Com a sabedoria, a existência e a convivência se tronam mais saborosas. Por isso, a sabedoria é uma companhia indispensável para a existência e a convivência mais fraternas.
“Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e diante dos homens” (Lc 2,52). Este texto nos mostra que Maria (com José) é uma grande e perfeita educadora. Ela acompanha o crescimento de seu Filho não apenas no conhecimento humano (sabedoria), mas também na graça de Deus. Trata-se de uma educação completa, pois há um equilíbrio entre a espiritualidade e o conhecimento. O conhecimento tem uma função para servir a Deus e ao próximo. Nisto todo conhecimento tem uma função social e espiritual.
Quem pode assumir, primeiramente, essa missão de fazer filho crescer na sabedoria e na graça é a família. A família é o lugar privilegiado para a educação na justiça, no respeito mútuo, na solidariedade, no amor, na liberdade, na verdade, na sabedoria e na paz. A família é lugar privilegiado de encontro e de amor, lugar privilegiado de compreensão e de perdão, lugar privilegiado de criatividade e superação, lugar privilegiado da presença de Deus, pois Deus se fez carne em uma família humana.
Que a Sagrada Família nos conceda um pouco de
sua sabedoria para nossas famílias para cada membro de cada família possa
crescer na sabedoria e na graça diante de Deus e diante dos homens. Assim seja!
P.Vitus Gustama, SVD
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