SER
III
1 O espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me para dar a boa-nova aos humildes, curar as feridas da alma, pregar a redenção para os cativos e a liberdade para os que estão presos; 2ª para proclamar o tempo da graça do Senhor. 10 Exulto de alegria no Senhor e minh’alma regozija-se em meu Deus; ele me vestiu com as vestes da salvação, envolveu-me com o manto da justiça e adornou-me como um noivo com sua coroa, ou uma noiva com suas joias. 11 Assim como a terra faz brotar a planta e o jardim faz germinar a semente, assim o Senhor Deus fará germinar a justiça e a sua glória diante de todas as nações.
Segunda Leitura: 1Ts 5,16-24
Irmãos: 16 Estai sempre alegres! 17 Rezai sem cessar. 18 Dai graças em todas as circunstâncias, porque essa é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo. 19 Não apagueis o espírito! 20 Não desprezeis as profecias, 21 mas examinai tudo e guardai o que for bom. 22 Afastai-vos de toda espécie de maldade! 23 Que o próprio Deus da paz vos santifique totalmente, e que tudo aquilo que sois — espírito, alma, corpo — seja conservado sem mancha alguma para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo! 24 Aquele que vos chamou é fiel; ele mesmo realizará isso.
Evangelho:
Jo 1,6-8.19-28
6 Surgiu
um homem enviado por Deus; seu nome era João. 7 Ele veio como testemunha, para
dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. 8 Ele não
era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 19 Este foi o testemunho de
João, quando os judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar:
“Quem és tu?” 20 João confessou e não negou. Confessou: “Eu não sou o Messias”.
21 Eles perguntaram: “Quem és, então? És tu Elias?” João respondeu: “Não sou”.
Eles perguntaram: “És o Profeta?” Ele respondeu: “Não”. 22 Perguntaram então:
“Quem és, afinal? Temos que levar uma resposta para aqueles que nos enviaram. O
que dizes de ti mesmo?” 23 João declarou: “Eu sou a voz que grita no deserto:
‘Aplainai o caminho do Senhor’” — conforme disse o profeta Isaías. 24 Ora, os
que tinham sido enviados pertenciam aos fariseus 25 e perguntaram: “Por que
então andas batizando, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?” 26 João
respondeu: “Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que vós não
conheceis, 27 e que vem depois de mim. Eu não mereço desamarrar a correia de
suas sandálias”. 28Isso aconteceu em Betânia, além do Jordão, onde João estava
batizando.
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I. Um Olhar Geral Sobre As Leituras e Sobre o Espírito Do III Domingo Do Advento
Somos Chamados À Alegria No Senhor
O tema deste Terceiro Domingo do Advento é o de alegria e gozo na perspectiva de uma realidade salvífica esperada, mas já “misteriosamente” presente. É o Domingo “Gaudete”. Neste clima se move a Primeira Leitura (Is 1,1-2ª. 10-11) e o Salmo Responsorial (Cânt: Lc 1,46-48.49-50.53-53). A Segunda Leitura (1Ts 5,16-24) é um convite à alegria. O Evangelho (Jo 1,6-8.19-28) nos apresenta o motivo ou fundamento da mesma: a vinda do Senhor ao nosso encontro para nos salvar. A missão de João Batista é dar testemunho do Messias que vem.
A alegria é um dos principais temas da Sagrada Escritura. É o tema que se encontra em todas as partes no Antigo Testamento e no Novo Testamento. A mensagem da Bíblia é profundamente otimista: Deus quer a felicidade dos homens, seu êxito, sua expansão. Deus quer cobrir os homens de abundância de sua graça e de uma vida em plenitude.
Os cristãos devem saber que a Boa Nova da Salvação é uma mensagem de alegria. Em um mundo rico em possibilidades, os cristãos devem comunicar aos que se encontram ao seu redor, a alegria que eles vivem: uma alegria extraordinária realista e que expressa sua certeza, baseada na vitória de Cristo, de que o futuro da humanidade vai se construindo através de dificuldades e contradições aparentes. O mundo não é absurdo (sem sentido), pois Deus o ama, e o princípio vital de seu êxito nos é dado uma vez por todos em Jesus Cristo. A alegria adquire maior profundidade na medida em que o homem deixa de estar dominado pela possessão de um bem material. Deus reserva a verdadeira alegria aos que se fazem pobres diante d´Ele e esperam tudo de seu Deus e da fidelidade a sua Lei. Se a verdadeira alegria vem de Deus, então nada nem ninguém pode tirá-la do homem: nem a angústia, nem o sofrimento. A alegria de Deus é a força daqueles que O buscam.
A alegria do Evangelho é uma alegria que vem do Alto, mas que, ao mesmo tempo, deve surgir de um coração de homem: é uma alegria divino-humana. Jesus é o Iniciador definitivo desta alegria: esta alegria é pascal, já que está, necessariamente, ligada ao ato último pelo qual Jesus expressa sua obediência ao Pai dando sua vida por todos os homens.
A celebração eucarística constitui um dos terrenos privilegiados na qual deve comunicar-se e experimentar-se, de alguma maneira, a verdadeira alegria. A ambição que a Igreja persegue ao reunir seus fiéis em torno das Duas Mesas: Mesa da Palavra e Mesa do Pão, é fazer todos os fiéis viverem, por antecipação, a própria salvação do Reino e a fraternidade sem limites que leva consigo. Neste sentido, a participação eucarística é objetivamente fonte de alegria.
Mas tudo o que foi dito não é automático. Para que a Eucaristia seja fonte de alegria é preciso, em primeiro lugar, que a Eucaristia seja uma verdadeira celebração: os cristãos reunidos devem se ver nela como penetrados na fonte da verdadeira alegria. Além disso, que a própria reunião eucarística simbolize o projeto de catolicidade da Igreja: os cristãos convocados para a celebração devem pôr em destaque que, dentro de sua diversidade, estão constituídos irmãos mediante a graça de Cristo que sobrepõe os muros de separação entre os homens.
A alegria cristã é independente de qualquer coisa no mundo porque tem sua fonte na contínua presença de Cristo (cf. Mt 28,20). O cristão pode perder todas as coisas e todas as pessoas, mas ele jamais perderá Cristo Jesus (Rm 8,35-39), fonte de sua alegria. Embora se encontre numa circunstância em que a alegria se tornaria impossível, a alegria cristã permanece, pois “Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje; Ele o será para sempre” (Hb 13,8). O mistério de alegria nasce de Deus, é um dom, e por isso não se compra em nossos mercados nem se encontra em nossas salas de festa. A alegria brota de dentro e tem sua origem no Espírito Deus: fruto do Espírito Santo (Gl 5,22). O homem foi criado para expandir-se na alegria e é, por isso, chamado por Deus para expandir a alegria. Não é por acaso que para o evangelista Lucas, por exemplo, a alegria é um mandamento: “Alegrai-vos porque vossos nomes estão inscritos nos céus” (Lc 10,20). Se o Reino de Deus é paz, amor e alegria, o cristão deve ser testemunha de alegria: em seus talentos, em sua vida, em suas celebrações e assim por diante. Seria blasfêmia apresentar Deus como inimigo da vida e da alegria.
Saber-se Enviado Do Senhor
Uma das figuras-modelo da espera do Advento é João Batista que é destacado também na liturgia do Terceiro Domingo do Advento. Não se pode falar de João Batista sem falar de Cristo. Por isso, a Igreja nunca invoca a vinda do Salvador sem lembrar-se de João Batista, de quem o próprio Jesus fez o maior elogio: “Entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João”, embora “o menor no Reino de Deus seja maior do que ele” (Lc 7,28).
Ele é o último dos profetas e resume na sua pessoa e palavra toda a história precedente, no momento em que esta desemboca no seu cumprimento em Jesus Cristo (Messias). João Batista encarna muito bem o espírito do Advento. Como Precursor do Messias, ele tem a missão de preparar os caminhos do Senhor (Cf. Is 40,3), de oferecer a Israel o “conhecimento da salvação”, que consiste na remissão dos pecados, obra da misericórdia divina (Cf. Lc 1,77-78), e, sobretudo, de indicar Cristo já presente no meio de seu povo (Cf. Jo 1,29-34). João Batista está muito lúcido sobre sua missão como Precursor e por isso, não tem dificuldade de ceder lugar para Cristo que deve crescer, enquanto ele deve diminuir (Cf. Jo 1,19-28). Isto torna João Batista uma figura sempre atual.
João Batista, que reconhece honestamente sua função no plano de Deus, se sabe enviado como testemunha da Luz, do Messias por todos esperado, como fala o Evangelho deste Domingo. João Batista é muito consciente de quem é ele e de qual é sua missão. Ele não é o Messias; ele não realiza a figura messiânica do texto do profeta Isaías que lemos na Primeira Leitura. João Batista é somente uma voz que prepara os caminhos do Messias; ele é somente uma testemunha da Luz que ilumina todos os homens.
Saber que há missão na Igreja não é suficiente. Há que reconhecer qual é a própria missão para cada cristão nos desígnios de Deus. Nossa missão, como a de João Batista, é a de ser testemunha da Luz, como a de são Paulo, apóstolo-enviado de Cristo que leva a cabo sua missão mediante a pregação e através das cartas escritas para as comunidades como lemos na Segunda Leitura de hoje que contém a exortação aos Tessalonicenses para viverem em conformidade com a salvação que Cristo, o Enviado de Deus. Nossa missão como a de João Batista e a de são Paulo é ser apóstolos de Jesus Cristo. Há, portanto, uma cadeia contínua entre a missão do profeta, a de João Batista, a de Jesus, a de são Paulo e a missão dos cristãos de todos os tempos. Esta continuidade garante e dá credibilidade à nossa consciência e ao nosso sentido de missão entre os homens.
Não se pode separar o nome de cristão da missão. Por definição, cristão é o discípulo de Cristo que participa da mesma missão de Jesus Cristo. Cada cristão, a exemplo de João Batista e de são Paulo, há de ser consciente de que tem uma missão para realizar na Igreja: santificar sua vida e colaborar na santificação da vida dos demais. Os primeiros destinatários da missão somos nós mesmos, porque somente quando somos evangelizados, podemos ajudar na evangelização dos outros. Somos missionários, isto é, enviados pelo próprio Cristo a anunciar na escola, na casa, no trabalho, na rua, no clube, na política e assim por diante, que Jesus Cristo é o Salvador de todos, que Ele é a Luz do mundo que ilumina todas as obscuridades da consciência individual e da existência social e coletiva pela verdade e pelo amor.
Qual é minha missão? Qual é meu ideal? O que devo fazer durante minha passagem neste mundo em termos de missão? O mais importante na vida de um homem não é somente o que faz, mas também o que é, simultaneamente. O que faz deve ser consequência do que é, fruto de suas convicções profundas. De outra maneira, será um “fariseu” ou um “hipócrita”.
Vivemos numa sociedade pragmática que dá primazia ao fazer, à técnica. Nosso mundo se preocupa com a eficácia e descuida das motivações profundas que deveriam determinar o comportamento de uma pessoa. Descobrir, inventar, fazer, ganhar dinheiro com rapidez parece ser o objetivo que se inculca no homem de hoje. Mas será que o homem pragmático, o homem que se considera “moderno” é mais feliz do que os demais homens?
O cristianismo necessita de crentes que saibam oferecer aos homens grandes ideais. Ideais que justifiquem e deem sentido ao serviço que a humanidade necessita. É o projeto sobre a vida que deve determinar as práticas. Diante da mínima dificuldade, as pessoas carentes de convicções profundas não sabem o que fazer. Não é possível perseverar se carece de princípios sólidos, se não há motivações profundas e constantemente alimentadas. Para seguir adiante necessita-se da solidez interior, que procede da profundidade de uma pessoa que encontrou o sentido da vida. João Batista sabe se definir quem é e por isso, sabe o que fazer.
II. Um Olhar Específico Sobre o Evangelho Deste Domingo
Logo no
1.
João
2.
João
2.1. Ser Testemunha Da Luz
Israel esperava
A
2.2. Ser
O
João
A
No
Tentemos
3.
É
Se
O Evangelho De Hoje Nas Palavras De São Cirilo de Alexandria, Doutor da Igreja (século V):
“O que significa: Preparai o caminho ao Senhor, aplainai os
seus caminhos, o explica quando acrescenta: Elevem-se os vales, desçam os montes e as colinas; que se endireite o
que é torcido, e que o acidentado se nivele. Pois existem acessos públicos
e trilhas quase impraticáveis, íngremes e intransitáveis, que algumas vezes
obrigam a subir os montes e as colinas, e outras a descê-los; ora te colocam à
beira de precipícios, ora te fazem escalar altíssimas montanhas. Porém, se
estes lugares isolados e abruptos descerem, e se preencherem as cavidades
profundas, aí sim, o torcido se endireita totalmente, os campos se aplainam, e
os caminhos, antes íngremes e tortuosos, tornam-se transitáveis. É isso, só que
em nível espiritual, o que faz acontecer o poder de nosso Salvador. ... Cristo nivelou o caminho para nós, um
caminho muito apto para correr pelas sendas da piedade; um caminho sem encostas
acima, nem declives ladeirentos, sem altos e baixos, mas realmente liso e plano” (Lecionário Patrístico Dominical 2ª Edição, Ed. Vozes, 2019 pp.279-280).
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