Naquele tempo, 1Jesus falou às multidões e aos seus discípulos e lhes disse: 2“Os mestres da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. 3Por isso, deveis fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam. 4Amarram pesados fardos e os colocam nos ombros dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo. 5Fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros. Eles usam faixas largas, com trechos da Escritura, na testa e nos braços, e põem na roupa longas franjas. 6Gostam de lugar de honra nos banquetes e dos primeiros lugares nas sinagogas. 7Gostam de ser cumprimentados nas praças públicas e de serem chamados de Mestre. 8Quanto a vós, nunca vos deixeis chamar de Mestre, pois um só é vosso Mestre e todos vós sois irmãos. 9Na terra, não chameis a ninguém de pai, pois um só é vosso Pai, aquele que está nos céus. 10Não deixeis que vos chamem de guias, pois um só é vosso Guia, Cristo. 11Pelo contrário, o maior dentre vós deve ser aquele que vos serve. 12Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado”.
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O capítulo 23 do Evangelho de Mateus é, sem dúvida nenhuma, uma das páginas mais violentas do Novo Testamento . Quem o lê fica impressionado, sobretudo , com a linguagem dura de Jesus. Neste capítulo , o evangelista Mt inicia com uma introdução (vv.1-12) para um extenso discurso que Jesus pronuncia contra os líderes religiosos de Israel da sua época (vv.13-36) como conseqüência de um longo enfrentamento com eles (Mt 21-22). Estes ataques completam a obra dos profetas contra a falsa religiosidade. As palavras são duras porque o perigo que é denunciado é grave . E a validade da denúncia profética que ouvimos dos lábios de Jesus, neste capítulo , não perde sua atualidade , pois seu alcance é universal . O “fariseu ” a quem Jesus dirige suas palavras duras e denúncia é personagem típico , representa um paradigma de comportamento oposto ao Evangelho .
Uma religião que não liberta as pessoas , mas somente cheia de regras por regras , não é uma verdadeira religião . A intenção de Jesus é chamar a atenção para um perigo que ronda toda comunidade cristã: o risco de esconder-se atrás de normas e regras , o risco do abuso espiritual , de exercer o poder sobre os outros sob um pretexto religioso , o risco de usar a moralização para desviar a atenção das fraquezas humanas.
A religião real é na essência uma relação interior entre Deus e o homem . As regras são necessárias, se forem instrumentos para facilitar este relacionamento a fim de alcançar a graça e a misericórdia de Deus .
É verdade que a experiência interior precisa achar expressão externa , porém , esta expressão exterior deve ser natural , sem exibicionismo religioso . Sabemos que o exibicionista é uma pessoa de personalidade superficial e sem ideais sólidos . A norma de seu comportamento é a ostentação de si próprio . Sua preocupação é colocar-se em evidencia, ser notado e elogiado. Toda pessoa possui algum lado bom , e ninguém consegue resistir à tentação de considerar-se mais do que vale e de parecer mais do que é. Mas um exibicionista exagera tudo . Ele não quer ser bom , mas quer parecer bom . Por isso , ele fica com um coração vazio . Por esta razão , Jesus quer que abandonemos este comportamento para não nos tornarmos pessoas vazias, mas pessoas cheias de espírito de fraternidade e de igualdade .
A condenação da hipocrisia religiosa por parte de Jesus é um aviso para todos nós cristãos . Todo cristão é candidato a este sistema de falsidade que se manifesta de múltiplas maneiras : na dissociação de crenças e conduta , no divórcio entre a fé e a vida , no orgulho religioso de quem se crê bom e santo e despreza os outros porque falham; em contentar-se com a estrita observância legal , esquecendo a conversão do coração . A dignidade da pessoa humana não consiste em parecer bom , mas em ser bom .
P. Vitus Gustama,svd
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