Naquele tempo , 9Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros : 10“Dois homens subiram ao Templo para rezar : um era fariseu , o outro cobrador de impostos . 11O fariseu , de pé , rezava assim em seu íntimo : ‘Ó Deus , eu te agradeço porque eu não sou como os outros homens , ladrões , desonestos , adúlteros , nem como este cobrador de impostos . 12Eu jejuo duas vezes por semana , e eu dou o dízimo de toda a minha renda ’. 13O cobrador de impostos , porém , ficou à distância , e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu ; mas batia no peito , dizendo: ‘Meu Deus , tem piedade de mim que sou pecador !’ 14Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não . Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado ”.
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Estamos na parte do evangelho de Lucas na qual se fala do caminho de Jesus para Jerusalém onde será morto e ressuscitado (Lc 9,58-19,28). Jesus está na etapa final de seu caminho (Lc 17,11-19,28). Durante esse caminho Jesus dá muitas lições importantes para seus discípulos . Na passagem do evangelho deste dia Jesus continua a enfatizar sobre a importância da oração perseverante e humilde (Lc 18,1-14) que já se iniciou na passagem anterior deste texto . Para falar da oração humilde Jesus conta uma parábola na qual ele coloca em confronto dois tipos de atitude diante de Deus representados por um fariseu e um publicano, como protagonistas da parábola : o fariseu que se elogia desprezando o outro e o publicano que simplesmente pede a misericórdia de Deus sem desprezar ninguém , porque ele tem consciência de seus pecados .
Na “oração ” do fariseu , Deus ficou esquecido e somente o EU predomina: Eu não sou como os demais , eu jejuo, eu pago o dízimo . A arrogante consciência de ter feito alguma coisa , o faz acreditar que Deus se tornou seu Devedor , mas é inútil . Ele abusava da oração para demonstrar sua própria grandeza a fim de se colocar em destaque diante dos demais . É um verdadeiro exibicionista . O exibicionismo é a linguagem que demonstra a ausência de um valor . Quando um valor cresce na experiência espiritual de uma pessoa , ela ama discrição , que é a linguagem do tesouro escondido, e se comunica pelo caminho da simplicidade e da discrição . Toda a arrogância é contra ao amor fraterno que é essencial para uma convivência mais humana .
É curioso comprovar que os santos , os que estão de verdade mais perto de Deus , se consideram sempre uns grandes pecadores , pois eles compreendem verdadeiramente o que o pecado significa. Somente à luz de Deus é possível reconhecer a própria miséria . O aproximar-se de Deus consiste em perder ou em abandonar nosso egoísmo e auto-suficiência para encontrar a felicidade de Deus .
Na parábola o publicano se sente pequeno , não se atreve a levantar os olhos ao céu , e por isso , sai do templo engrandecido. Reconhece-se pobre e por isso , sai enriquecido. Reconhece-se pecador e por isso , sai justificado. Com razão o Livro de Eclesiástico afirma: “Quem serve a Deus como Ele o quer , será bem acolhido e suas súplicas subirão até as nuvens . A prece do humilde atravessa as nuvens ” (Eclo 35,20-21).
Somos fariseus quando vamos à igreja não para escutar Deus e suas exigências , mas para convidá-Lo a nos admirar pelo bom que somos. Somos fariseus quando esquecemos a grandeza de Deus e nosso nada , e cremos que as virtudes próprias exigem o desprezo dos demais . Somos fariseus quando nos separamos dos demais e nos cremos mais justos , menos egoístas e mais puros /limpos que os outros . Somos fariseus quando entendemos que nossas relações com Deus têm de ser quantitativas e medimos somente nossa religiosidade pelas missas das quais participamos e não pelo amor que vivenciamos com os demais . A vaidade nos faz perder tempo em coisas fúteis e sem valor .
Reflita o que São Paulo escreveu: “Verdade é que a minha consciência de nada me acusa, mas nem por isto estou justificado; meu juiz é o Senhor ” (1Cor 4,4).
P. Vitus Gustama,svd
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