13Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. 14No Templo , encontrou os vendedores de bois , ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados. 15Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo , junto com as ovelhas e os bois ; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas . 16E disse aos que vendiam pombas: “Tirai isso daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio !” 17Seus discípulos lembraram-se, mais tarde , que a Escritura diz: “O zelo por tua casa me consumirá”. 18Então os judeus perguntaram a Jesus: “Que sinal nos mostras para agir assim ?” 19Ele respondeu: “Destruí este Templo , e em três dias eu o levantarei”. 20Os judeus disseram: “Quarenta e seus anos foram precisos para a construção deste santuário e tu o levantarás em três dias ?” 21Mas Jesus estava falando do Templo do seu corpo . 22Quando Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra dele. 23Jesus estava em Jerusalém durante a festa da Páscoa . Vendo os sinais que realizava, muitos creram no seu nome . 24Mas Jesus não lhes dava crédito , pois ele conhecia a todos ; 25e não precisava do testemunho de ninguém acerca do ser humano , porque ele conhecia o homem por dentro .
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O relato da “purificação do Templo ” ou da “substituição do Templo ” se encontra também nos evangelhos sinóticos (cf. Mc 11,15-19;Mt 21,10-17;Lc 19,45-48). Mas o quarto evangelho (evangelho de João) tem suas próprias acentuações. Os sinóticos colocam este episódio na última semana da atividade de Jesus em Jerusalém. O quarto Evangelho o coloca logo no início da vida pública de Jesus. Para o quarto evangelho este episódio é um gesto programático (compare Lc 4,16-30) que , como tal , deve figurar ao princípio da atividade de Jesus.
O episódio é introduzido mediante a afirmação sobre a proximidade da festa judaica da páscoa . Esta forma de mencionar a festa principal dos judeus indica distância e separação entre o objetivo da festa e a prática atual dos judeus . A páscoa era uma festa de libertação . Ela evocava o passo da escravidão à libertação (cf. Ex 12,17;13,10). Em tempos de opressão , o pensamento da libertação se acentuava muito mais ainda . Ao desviar-se do próprio objetivo da festa (não é mais uma festa de libertação ), surgia inevitavelmente a idéia de uma nova libertação . E este era o caso em tempos de Jesus. Além disto, o templo , que é o símbolo e a síntese do sistema religioso , a partir de agora será “substituído” ou suplantado pela presença de Jesus. Não é por acaso que este episódio é coloca logo depois do primeiro sinal (Jo 2,1-11) que simboliza as núpcias de Deus com sua comunidade no tempo final . E desde início de sua atividade Jesus é o “lugar santíssimo ” de Deus .
Jesus foi educado a respeitar o Templo (Lc 2,22.41-42.46), subiu a Jerusalém para celebrar a Páscoa (Jo 2,13), pagou seu tributo ao Templo (Mt 17,23-26)etc..
O evangelho diz que Jesus vai ao Templo por ocasião da festa da Páscoa (Jo 2,13). A Páscoa judaica é uma festa que celebra a libertação do povo de Deus do Egito: o fim da escravidão e a origem de Israel como povo de Deus , povo da Aliança . Por isso , é uma festa principal para os judeus . A Páscoa também era uma festa familiar , celebrada na casa de família , na qual a parte principal cabe ao pai (Ex 12,1-11).
Ao ver os negociantes de bois , ovelhas e pombas e os cambistas no Templo Jesus faz um chicote para expulsá-los e diz: “Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio ” (v.16).
O que tem por trás do gesto de Jesus?
A salvação não se compra nem com dinheiro , nem com promessas , nem com devoções , pois Deus não é um comerciante , mas é um Pai-Mãe. Pai ou mãe faz tudo pelos filhos não pelo merecimento , mas porque quer o bem deles. O que se pede de cada crente é a convivência fraterna como conseqüência da filiação divina .
No quarto Evangelho , o que nos chama atenção é o fato de Jesus se dirigir somente aos vendedores de pombas. Para eles é que Jesus diz: “Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio ” (v.16). Porque a pomba era o animal sacrificado nos holocaustos (Lv 1,14-17) e nos sacrifícios (Lv 12,8;15,14.29) oferecidos especialmente pelos pobres , por meio dos sacerdotes , para reconciliar-se com Deus e para purificar-se (Lv 5,7;14,22.30-31; cf. Lc 2,44). Os vendedores de pombas são os que , por dinheiro , oferecem aos pobres a reconciliação com Deus , e representam os sacerdotes do Templo que fazem comércio com a graça de Deus . Em outras palavras , a hierarquia sacerdotal explora especificamente os pobres , oferecendo-lhes por dinheiro para ganhar favores ou benefícios de Deus . Eles apresentam Deus como um comerciante , pois convertem a casa de Deus num mercado .
Na verdade , os profetas já tinham denunciado um culto em união hipócrita com a injustiça e opressão do pobre por ação ou omissão (Is 1,11-17;Os 5,6-7;8,13;Am 5,21-24;Eclo 34,18-20;35,14-20) e propunham transformações.
O gesto de Jesus de expulsar os comerciantes do Templo suscita duas reações . Os discípulos reagem pensando que Jesus seja um grande reformador da instituição . Somente após a ressurreição eles entenderão que Jesus não é um reformador do Templo , mas aquele que o substitui (v.22).
E os que sentem o seu lucro ameaçado, os dirigente pedem de Jesus uma explicação da origem de sua autoridade : “Que sinal nos tu mostras para agires assim ?” (v.18). O homem gosta de exibir poder . Deus não é assim . Se Jesus faz milagres , especialmente para os simples e pobres , é para mostrar que Deus está sempre ao lado deles, e não para exibir seu poder . O poder de Deus consiste em amar o ser humano sem medida (Jo 3,16).
Jesus não é indiferente frente ao culto do templo . É necessário construir templos ou igrejas ou capelas para neles podermos celebrar o Senhor e a vida que vivemos. Mas a nossa oferenda cultual terá sua validade , se tudo isto for uma expressão do serviço fraternal , se não há separação entre o culto e a vida . O culto não vale pela observância de preceitos nem pela oferta de objetos . O culto verdadeiro consiste na mais profunda união do homem ao divino , na mais pura e incondicional entrega à vontade de Deus . O culto do cristão é um culto de Espírito (Jo 4,23). O templo não santifica o nosso culto , e sim o nosso culto santifica o lugar e a comunidade .
O evangelho deste domingo , por isso , nos traz de volta a consciência de sermos templo de Deus e de respeitar novamente , como Deus sempre quer , aos outros como habitação de Deus . Além disto, este evangelho nos leva ao arrependimento de tudo que cometemos em relação à dignidade humana desrespeitada, que se expressou através de violência moral- verbal e física , difamação etc. E este arrependimento deve ser tornar em conversão sem fim , pois o homem velho dentro de nós sempre tenta nos levar ao passado pecador .
P. Vitus Gustama,svd
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