09 de Janeiro
FÉ NO MEIO DA TEMPESTADE
Texto:
Mc 6,45-52
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A cena relatada no evangelho de
hoje nos apresenta de maneira simbólica a situação em que se encontra a
comunidade cristã primitiva depois da ressurreição de Jesus. A comunidade se
encontra no meio de dificuldades (tempestade) e sente a ausência de Jesus
Cristo. As ondas e o mar representam no AT as forças do mal que Deus vence com
seu poder (Sl 77; Jó 9,8;38,16). Mas agora é Jesus quem vence a esta força
maligna. Sua manifestação aos discípulos neste episódio tem todas as marcas dos
relatos de aparições: a cena tem lugar de noite, o mesmo que a ressurreição do
Senhor; Jesus vem ao encontro dos seus (cf. Jo 20,19); os discípulos crêem ver
um fantasma (cf. Lc 24,37s); finalmente, Jesus se apresenta afirmando sua identidade:
“Coragem, sou Eu! Não tenhais medo!”.
Marcos também nos relata que Jesus “subiu
ao monte para rezar”. Em geral, oração solitária de Jesus precede ou segue a
algum acontecimento muito importante. Aqui, sua oração precede a sua
manifestação como Filho de Deus.
Ao olhar para o modo de viver de
Jesus, percebemos a dupla dimensão de seu ministério: a oração e a ação, a
solidão e a solidariedade, a intimidade mais profunda com o Pai e o engajamento
mais radical no serviço dos necessitados. Em Jesus as duas dimensões são
vividas não só como complementares, mas como necessariamente referidas uma à
outra. A vida se põe na oração e a oração se traduz na vida. A vida antes de
ser vivida, é rezada.
Enquanto Jesus está se retirando
para orar, os discípulos se encontram no meio da noite lutando contra a
tempestade. Evidentemente eles estão atormentados. O barco agitado pelas ondas
representa a Igreja sacudida pelas forças opostas e que por isso se sente
impotente, frágil e abandonada e que luta para encontrar um rumo certo.
Muitas vezes, no meio das
dificuldades, pensamos que somos nós os que temos que fazer triunfar a Igreja
com a nossa luta. Esquecemos que o único que pode salvar a Igreja é Jesus
Cristo. Nesses momentos Jesus aparece para nos salvar.
Quando Jesus vem ao encontro dos
discípulos, o medo se torna maior, pois acham que é um fantasma, pois eles não
reconhecem Jesus. E quando eles não reconhecem Jesus, acabam tendo medo dos
fantasmas que eles mesmos criam. Nessa altura Jesus se dá conhecer: “Coragem!
Sou Eu”. Esta frase é suficiente para acalmar os discípulos.
Deixemos que esta frase “Coragem!
Sou Eu! Não tenhais medo!” penetre em nós, nos momentos mais difíceis de nossa
vida. Quando ouvirmos a voz do Senhor, a paz estará presente no nosso coração,
ainda que estejamos rodeados pelas provações ou dificuldades.
A mensagem do texto é nitidamente
eclesiológica. A cena simboliza a relação de Cristo com todos nós como a
Igreja. A barca no meio da tempestade e no meio da noite representa a Igreja. E
Jesus se revela como “Eu sou”, o Deus-Conosco (Mt 1,23;28,20). Jesus está
sempre unido à sua Igreja. Quando estamos longe dele ou nos afastamos dele,
como os discípulos, nós sentimos o medo e o pavor. Mas estes desaparecem no fim
da noite, quando Jesus vai ao nosso encontro. Aparentemente, Jesus está ausente
quando nos encontramos no meio da tempestade desta vida ou em perigo de morte.
Mas, na realidade, Jesus está sempre unido a cada um de nós, como sua Igreja,
orando por nós, pois ele é o nosso Emanuel (Mt 1,23;18,20;28,20). E na hora
certa ele vai manifestar o seu poder, libertando-nos do medo e infundindo-nos
ânimo: “Coragem! Sou Eu! Não tenhais medo!”, assim ele nos diz, como disse aos
discípulos.
Por isso, temos que perseverar na
fé, mesmo quando agitada e açoitada pelas ondas e pelos ventos de provações e
de perseguições, quaisquer que sejam as dificuldades e os obstáculos no caminho
que temos que percorrer para ir ao encontro com Jesus e para obedecer à missão
recebida dele.
P. Vitus Gustama,svd
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