domingo, 20 de janeiro de 2013

23 de Janeiro de 2013


A SALVAÇÃO DO HOMEM É A GLÓRIA DE DEUS

 

Quarta-feira da II Semana do Tempo Comum

Texto de Leitura: Mc 3,1-6

 
Naquele tempo, 1Jesus entrou de novo na sinagoga. Havia ali um homem com a mão seca. 2Alguns o observavam para ver se haveria de curar em dia de sábado, para poderem acusá-lo. 3Jesus disse ao homem da mão seca: “Levanta-te e fica aqui no meio!”  4E perguntou-lhes: “É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?” Eles, porém, se calavam. 5Repassando então sobre eles um olhar de indignação, e entristecido pela dureza do coração deles Jesus disse ao homem: “Estende a mão”. Ele a estendeu e a mão ficou curada. 6Ao saírem, os fariseus com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram, contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo.

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Continuamos ainda a acompanhar a controvérsia entre Jesus e os seus adversário: os fariseus (e os escribas) e desta vez, os herodianos. O tema da controvérsia ainda está em torno da observância do preceito de Sábado. O Sábado era um dos preceitos divinos mais claros e mais indiscutíveis para o povo de Israel. O Sábado era uma espécie de documento de identidade do Povo eleito. Sua observância estava rigidamente regulada. Algumas exceções eram admitidas por motivos de particular gravidade. Por exemplo, era permitido salvar a vida com a fuga, ajudar um homem em perigo ou uma mulher com dores de parto ou em caso de incêndio e assim por diante. Porém, de qualquer forma tratava-se sempre de exceções a uma regra.

 
Para Jesus, ao contrario, o que muda é a regra. A lei, sim, mas o legalismo, não. A lei é uma necessidade. Porém, atrás de cada lei deve respirar amor e respeito ao homem concreto. Atrás da letra está o espírito e o espírito deve prevalecer sobre a letra. Para Jesus o bem do homem está acima da observância do Sábado, e isso, não somente em caso de perigo de morte, mas em qualquer situação. “Portanto, é licito fazer o bem também no Sábado” (Mt 12,12b). Jesus proclama, assim, o valor absoluto do amor. Jesus recorda a todos que para Deus o mais importante é o homem, o bem do homem e não a regra por regra ou lei por lei. Não somente salvar a vida do homem e sim simplesmente fazer o bem a ele. A lei suprema da Igreja de Cristo são as pessoas, a salvação das pessoas. Se não a Igreja perderia sua razão de existir. A glória de Deus está sempre e unicamente no bem do homem. Não se trata de exaltar o homem constituindo-lhe centro das coisas. Mas trata-se de conhecer mais fundo o coração de Deus que ama o homem a ponto de enviar-lhe seu Filho unigênito a fim de que o homem seja salvo (Jo 3,16). O poder de Deus se manifesta no amor e nisto está sua honra. Para Jesus a observância do Sábado deve celebrar esse amor fraterno e não desmenti-lo nem negá-lo. Assim, mais uma vez, Jesus quer manifestar sua maneira de viver de que a lei do sábado está a serviço do homem e não o contrário.

 
Em sua luta contra a mentalidade legalista dos fariseus, ontem Jesus nos dizia que “o Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado”. Hoje ele aplica o principio para um caso concreto: sobre o homem com mão seca que se encontra no Templo.

 
Na antropologia bíblica, a mão está carregada de simbolismo. A mão está ligada à idéia de força e de poder. Estar na mão do outro significa estar sob o seu poder. A mão direita era sinal de força, de sabedoria e de fidelidade. Como rezamos no Credo: Jesus “ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso...”. Isto quer dizer que Jesus mostrou sua fidelidade à vontade de Deus Pai até o fim. a mão esquerda era sinal de fraqueza, de ignorância e de desgraça.

 
O homem do texto do evangelho de hoje está com a mão seca. É um homem sem iniciativa e incapaz de lutar por seus direitos, e por isso, é uma vitima de desumanização. Jesus é Deus que salva. Por isso, ele toma iniciativa para curar o homem a fim de humanizá-lo novamente. Com a mão curada, o homem volta a ter aptidão para fazer o bem. Ao colocar o homem no meio das pessoas, Jesus quer recordar a todos que qualquer pessoa deve ser respeitada, protegida, defendida, levada em consideração acima de qualquer lei por sagrada que ela pareça ser. São Crisóstomo comentou que ao colocar o homem de mão seca no meio, Jesus quis que os seus adversários (os fariseus e os herodianos), ao ver o homem enfermo, sentissem compaixão e abandonassem sua maldade.

 
Quando o homem de mão seca estava no meio Jesus lançou a seguinte pergunta: “É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?”. Isso não é casuístico! (cf. Mt 12,9). Aqui se enunciam princípios autênticos e com de forma categórica. Não se trata de respondersimpara um e “Nãopara outro. Quem não faz o bem, faz o mal porque deixa de fazer o bem; quem não intenta salvar uma vida é que está disposto a destruí-la ou deixá-la morrer.

 
Jesus dirigiu uma pergunta para seus adversários. E Marcos acrescenta: “Eles, porém, se calavam”. Somente Marcos acrescentou que Jesus olhou para seus adversários, indignado e entristecido e cheio de ira não pelo que ocorreu e sim pela dureza do coração deles. “Dureza de coração” é uma expressão bíblica que descreve a incapacidade para perceber a realidade de Deus. Trata-se da incapacidade de crê. Jesus não era insensível. Os seguidores de Cristo, os cristãos, não devem ser pessoas insensíveis e muito menos pessoas de coração duro.

 
Jesus quer nos relembrar que nenhuma religião ou nenhuma prática religiosa pode impedir o encontro fraterno e a vivência do amor e do respeito mútuos nem pode impedir o serviço solidário. Ao contrário, os que praticam religião devem ter cada vez mais a sensibilidade humana, devem ser mais humanos e irmãos para com os demais. A passagem para chegar ate Deus passa necessariamente pelo irmão. O próximo é a passagem obrigatória para chegar ao céu. Qualquer um pode não encontrar Deus, mas não tem como não se cruzar com o próximo. O próximo é ocasião de salvação para mim como também sou ocasião de salvação para o outro.

 
P. Vitus Gustama,svd

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