SOU AMADO
E CHAMADO POR DEUS
APESAR DA MINHA
DEBILIDADE
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Ao perdoar
os pecados do paralítico
que lemos no evangelho
do dia anterior ,
(Mc 2,1-12) Jesus rompeu a distância entre o pecador
e Deus . Mas
que implicação
tem isso na sociedade ?
Que exige da Igreja
que se diz portadora de perdão e de reconciliação entre
os homens (cf. Mt 16,19;18,18;Jo
20,22-23)?
Os primeiros
versículos do evangelho
deste dia são
um pequeno
relato da vocação de Levi, bastante semelhante
à chamada de Simão e André (Mc 1,16-18).
Jesus chama Levi enquanto
está trabalhando sem especificar
para quê . Simplesmente Jesus disse para
Levi que estava sentado:
“Segue-me!” e este se levantou e
seguiu a Jesus. Aqui há uma ruptura de Levi com seu passado de injustiça que
se expressa pela
oposição entre
estava sentado e levantou-se para dizer que Levi abandona seu estilo de vida sem sentido para seguir Jesus com quem pode dar fruto na vida (cf. Jo 15,5).
Levi é o quinto
discípulo de Jesus segundo
o evangelho de Mc. Aqui
Jesus se apresenta diante dele como o Senhor que ordena: “Segue-me!” e Levi se levantou e O seguiu.
Aqui há novidade !
Não é mais
pescador que
Jesus chama , mas
é um cobrador
de impostos para
ser seu discípulo , e por
isso , é um
pecador público
(publicano) que para
a sua época , era mal visto pela população . Levi é descrito como
um homem
que “estava sentado”. Mas ao ouvir a chamada de Jesus para
segui-lo, Levi se levantou. A partir daquele dia , Jesus será quem
dará sentido para
a vida de Levi. E Levi aprenderá de
Jesus uma nova forma
de viver com sentido .
Olhando para
Levi e para o comportamento
de Jesus diante deste, cada um de nós pode dizer em silêncio ao Senhor : “Senhor , eu sou também um pecador . Obrigado , Senhor , por não me julgar , como não julgou
Levi. O Senhor me
conhece e me ama
e por isso ,
não me
despreza ” (cf. Sl 139).
Os escribas
e os fariseus , vendo o comportamento de Jesus, perguntaram aos discípulos de Jesus: “Por
que ele
come com os cobradores
de impostos e pecadores ?”.
Fazer refeição com os demais era um reconhecimento da igualdade
e da dignidade . Os cobradores
de impostos eram considerados ladrões do dinheiro
publico, e por isso ,
eram excluídos e considerados impuros . Os escribas
e os fariseus , puritanos
fechados em sua
auto-suficiência e convencidos de serem
os perfeitos , não
se relacionavam com este
tipo de pessoas
para não comprometer sua pureza legal .
Há aqui
uma revelação de Deus
que chama
nossa atenção .
Jesus não julga os que
dele se aproximam; não faz diferença entre
os homens . Não
entra nas classificações habituais da opinião de seu tempo . Jesus é um
homem de idéias
amplas, um homem
tolerante e compreensivo ,
é um homem
muito humano
para com todos . Ele era tão humano a ponto de se tornar tão divino . Para ser
verdadeiro cristão
o homem tem que
ser muito humano profundamente .
Na profunda vivência
da humanidade chegaremos à divindade . Paradoxalmente ,
o caminho da subida
até Deus
passa pelo caminho da descida
até a nossa
humanidade .
A resposta
de Jesus é um dos melhores
retratos do amor
misericordioso de Deus , manifestado em Cristo
Jesus. Com uma liberdade
admirável , Jesus vai pelo
seu próprio caminho , anunciando a Boa Nova
aos pobres , chamando os “pecadores ” apesar
das reações dos puritanos
que afastam os outros
e fazem isso , em
nome de um
suposto Deus
em quem
acreditam. Jesus continua a salvar os débeis e os enfermos . Continua fazendo o bem
apesar dos comentários
negativos a respeito .
Jesus, em vez
de se afastar dos “pecadores ”,
se aproxima deles. Ele não tem medo de sentar-se à
mesa com
aqueles que
a sociedade considera como
pessoas não
“certinhas”.
O evangelista
Marcos nos
relatou que , como
fruto da aproximação
tão humana
da parte de Jesus “Com
efeito , eram muitos
que o seguiam”. Esta frase tem um peso porque prepara uma melhor
compreensão de Mc 3,13-16. Aqui tomamos consciência
de que os que
seguem a Jesus sintonizam seu atuar com o do Mestre e também
eles se aproxima dos pecadores . Este
fato era
de grande atualidade
no tempo da comunidade
de Marcos (cf. Gl 2,11-14). Para um cristão de origem
judaica não
era fácil
conviver com
quem havia sido conhecido
anteriormente como
um pecador
publico ou com
quem provinha do mundo
pagão . Somente
recordando o comportamento de Jesus tudo se superava.
No texto
do evangelho de hoje
encontramos um dos melhores
retratos do amor
misericordioso de Deus encarnado em
Jesus Cristo . Com
uma liberdade admirável
Jesus vai pelo seu
caminho anunciando a Boa Nova aos pobres
(cf. Lc 4,18-19; Is 61,1-2), chamando “pecadores ”
para segui-Lo apesar
das reações diante
de sua atitude .
Ele cumpre sua
missão : Veio
para salvar os débeis/ pecadores e os enfermos .
“Não
são as pessoas
sadias que precisam de médico , mas as doentes . Eu não vim para chamar
justos , mas
sim pecadores ”.
Para todos nós que não somos santos
estas palavras de Jesus nos consolam. Cristo
nos acolhe e nos
chama apesar
de nossas debilidades e da má fama que possamos ter e nos transforma em
seus discípulos
para continuar sua obra neste mundo . Como a Eucaristia , não
é para os perfeitos .
Por isso ,
sempre começamos nossa
celebração com
um ato
penitencial e na hora de receber
o Corpo do Senhor ,
na comunhão , continuamos a reconhecer nossa indignidade de comungar o Corpo tão santo do Senhor ao dizer : “Senhor , eu não sou digno de que
entreis em minha
morada , mas
dizei uma só palavra ,
serei salvo !”. A grandeza
do Senhor cabe no coração
arrependido e no coração que sabe amar (cf. Jo
14,23).
Temos que
viver realmente
a espiritualidade da Eucaristia porque
a estrutura da Eucaristia
nos mostra
que somos todos
pecadores . Começamos sempre nossa celebração com um ato
penitencial. E antes de nos aproximar da comunhão , pedimos no Pai-Nosso :
“Perdoai-nos as nossas ofensas ”.
Ao receber o Corpo
e sangue do Senhor
nós acreditamos que
Ele é Aquele
que tira
o pecado do mundo
e aquele que
nos alimenta
a fim de vivermos para
ele e para os
demais . Conscientes
de sermos pecadores rezamos antes de receber o Corpo do Senhor : “Senhor , eu não sou digno
de que entreis em
minha morada ,
mas dizei uma só
palavra , serei salvo ”.
Se realmente vivermos profundamente a espiritualidade
eucarística jamais julgaremos os outros e jamais
consideramos que os outros
não estejam preparados
para receber o Corpo Santo do Senhor . Ao contrário ,
devemos rezar muito
mais do que
comentamos. “No falar muito
está o pecado ”, diz a Palavra de Deus ,
mas “quem
retém os lábios é prudente ”
(cf. Provérbio 10,19).
P.
Vitus Gustama,svd
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