quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

SOU AMADO E CHAMADO POR DEUS APESAR DA MINHA DEBILIDADE


Sábado da Primeira Semana do Tempo Comum

19 de Janeiro de 2013
 
Texto: Mc 2,13-17

Naquele tempo, 13Jesus saiu de novo para a beira mar. Toda a multidão ia a seu encontro, e Jesus os ensinava. 14Enquanto passava, Jesus viu Levi, o filho de Alfeu, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: “Segue-me!” Levi se levantou e o seguiu. 15E aconteceu que, estando à mesa na casa de Levi, muitos cobradores de impostos e pecadores também estavam à mesa com Jesus e seus discípulos. Com efeito, eram muitos os que o seguiam. 16Alguns doutores da Lei, que eram fariseus, viram que Jesus estava comendo com pecadores e cobradores de impostos. Então eles perguntaram aos discípulos: “Por que ele come com cobradores de impostos e pecadores?” 17Tendo ouvido, Jesus respondeu-lhes: “Não são as pessoas sadias que precisam de médico, mas as doentes. Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores”. 
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Ao perdoar os pecados do paralítico que lemos no evangelho do dia anterior, (Mc 2,1-12) Jesus rompeu a distância entre o pecador e Deus. Mas que implicação tem isso na sociedade? Que exige da Igreja que se diz portadora de perdão e de reconciliação entre os homens (cf. Mt 16,19;18,18;Jo 20,22-23)?

 
Os primeiros versículos do evangelho deste dia são um pequeno relato da vocação de Levi, bastante semelhante à chamada de Simão e André (Mc 1,16-18). Jesus chama Levi enquanto está trabalhando sem especificar para quê. Simplesmente Jesus disse para Levi que estava sentado: “Segue-me!” e este se levantou e seguiu a Jesus. Aqui há uma ruptura de Levi com seu passado de injustiça que se expressa pela oposição entre estava sentado e levantou-se para dizer que Levi abandona seu estilo de vida sem sentido para seguir Jesus com quem pode dar fruto na vida (cf. Jo 15,5).

 
Levi é o quinto discípulo de Jesus segundo o evangelho de Mc. Aqui Jesus se apresenta diante dele como o Senhor que ordena: “Segue-me!” e Levi se levantou e O seguiu. Aquinovidade! Não é mais pescador que Jesus chama, mas é um cobrador de impostos para ser seu discípulo, e por isso, é um pecador público (publicano) que para a sua época, era mal visto pela população. Levi é descrito como um homem que “estava sentado”. Mas ao ouvir a chamada de Jesus para segui-lo, Levi se levantou. A partir daquele dia, Jesus será quem dará sentido para a vida de Levi. E Levi aprenderá de Jesus uma nova forma de viver com sentido.

               
Olhando para Levi e para o comportamento de Jesus diante deste, cada um de nós pode dizer em silêncio ao Senhor: “Senhor, eu sou também um pecador. Obrigado, Senhor, por não me julgar, como não julgou Levi. O Senhor me conhece e me ama e por isso, não me despreza” (cf. Sl 139).

       
Os escribas e os fariseus, vendo o comportamento de Jesus, perguntaram aos discípulos de Jesus: “Por que ele come com os cobradores de impostos e pecadores?”. Fazer refeição com os demais era um reconhecimento da igualdade e da dignidade. Os cobradores de impostos eram considerados ladrões do dinheiro publico, e por isso, eram excluídos e considerados impuros.  Os escribas e os fariseus, puritanos fechados em sua auto-suficiência e convencidos de serem os perfeitos, não se relacionavam com este tipo de pessoas para não comprometer sua pureza legal.

 
aqui uma revelação de Deus que chama nossa atenção. Jesus não julga os que dele se aproximam; não faz diferença entre os homens. Não entra nas classificações habituais da opinião de seu tempo. Jesus é um homem de idéias amplas, um homem tolerante e compreensivo, é um homem muito humano para com todos. Ele era tão humano a ponto de se tornar tão divino. Para ser verdadeiro cristão o homem tem que ser muito humano profundamente. Na profunda vivência da humanidade chegaremos à divindade. Paradoxalmente, o caminho da subida até Deus passa pelo caminho da descida até a nossa humanidade.

       
Diante da crítica dos escribas e fariseus Jesus diz: “Não são as pessoas sadias que precisam de médico, mas as doentes. Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores” (Mc 2,17).

       
A resposta de Jesus é um dos melhores retratos do amor misericordioso de Deus, manifestado em Cristo Jesus. Com uma liberdade admirável, Jesus vai pelo seu próprio caminho, anunciando a Boa Nova aos pobres, chamando os “pecadoresapesar das reações dos puritanos que afastam os outros e fazem isso, em nome de um suposto Deus em quem acreditam. Jesus continua a salvar os débeis e os enfermos. Continua fazendo o bem apesar dos comentários negativos a respeito. Jesus, em vez de se afastar dos “pecadores”, se aproxima deles. Ele não tem medo de sentar-se à mesa com aqueles que a sociedade considera como pessoas não “certinhas”.

 
O evangelista Marcos nos relatou que, como fruto da aproximação tão humana da parte de Jesus “Com efeito, eram muitos que o seguiam”. Esta frase tem um peso porque prepara uma melhor compreensão de Mc 3,13-16. Aqui tomamos consciência de que os que seguem a Jesus sintonizam seu atuar com o do Mestre e também eles se aproxima dos pecadores. Este fato era de grande atualidade no tempo da comunidade de Marcos (cf. Gl 2,11-14). Para um cristão de origem judaica não era fácil conviver com quem havia sido conhecido anteriormente como um pecador publico ou com quem provinha do mundo pagão. Somente recordando o comportamento de Jesus tudo se superava.

 
No texto do evangelho de hoje encontramos um dos melhores retratos do amor misericordioso de Deus encarnado em Jesus Cristo. Com uma liberdade admirável Jesus vai pelo seu caminho anunciando a Boa Nova aos pobres (cf. Lc 4,18-19; Is 61,1-2), chamando “pecadorespara segui-Lo apesar das reações diante de sua atitude. Ele cumpre sua missão: Veio para salvar os débeis/ pecadores e os enfermos.

 
Não são as pessoas sadias que precisam de médico, mas as doentes. Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores”. Para todos nós que não somos santos estas palavras de Jesus nos consolam. Cristo nos acolhe e nos chama apesar de nossas debilidades e da má fama que possamos ter e nos transforma em seus discípulos para continuar sua obra neste mundo. Como a Eucaristia, não é para os perfeitos. Por isso, sempre começamos nossa celebração com um ato penitencial e na hora de receber o Corpo do Senhor, na comunhão, continuamos a reconhecer nossa indignidade de comungar o Corpo tão santo do Senhor ao dizer: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra, serei salvo!”. A grandeza do Senhor cabe no coração arrependido e no coração que sabe amar (cf. Jo 14,23).

       
Temos que viver realmente a espiritualidade da Eucaristia porque a estrutura da Eucaristia nos mostra que somos todos pecadores. Começamos sempre nossa celebração com um ato penitencial. E antes de nos aproximar da comunhão, pedimos no Pai-Nosso: “Perdoai-nos as nossas ofensas”. Ao receber o Corpo e sangue do Senhor nós acreditamos que Ele é Aquele que tira o pecado do mundo e aquele que nos alimenta a fim de vivermos para ele e para os demais. Conscientes de sermos pecadores rezamos antes de receber o Corpo do Senhor: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra, serei salvo”. Se realmente vivermos profundamente a espiritualidade eucarística jamais julgaremos os outros e jamais consideramos que os outros não estejam preparados para receber o Corpo Santo do Senhor. Ao contrário, devemos rezar muito mais do que comentamos. “No falar muito está o pecado”, diz a Palavra de Deus, masquem retém os lábios é prudente” (cf. Provérbio 10,19).

 
Este evangelho deve nos estimular a não sermos como os fariseus, a não crermos os melhores, escandalizando-nos pelos defeitos que vemos nos demais aquilo que é, na verdade, nossa própria sombra. Infelizmente temos os olhos muito abertos para os defeitos dos demais e fechados para nossos próprios defeitos e para o bem praticado pelos outros. Portanto, o evangelho deste dia deve nos estimular a não sermos como os fariseus, a não crermos melhores, escandalizando-nos pelos defeitos que vemos nos demais.


P. Vitus Gustama,svd

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