EPIFANIA
DO SENHOR E SUA MENSAGEM PARA NÓS
Domingo da Epifania,
05 de Janeiro de 2014
Primeira Leitura Is
60,1-6
1
Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre
ti a glória do Senhor. 2 Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens
escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se
manifesta sobre ti. 3 Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua
aurora. 4 Levanta os olhos ao redor e vê: todos se reuniram e vieram a ti; teus
filhos vêm chegando de longe com tuas filhas, carregadas nos braços. 5 Ao vê-los,
ficarás radiante, com o coração vibrando e batendo forte, pois com eles virão
as riquezas de além-mar e mostrarão o poderio de suas nações; 6 será uma
inundação de camelos e dromedários de Madiã e Efa a te cobrir; virão todos os
de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando a glória do Senhor.
Segunda Leitura: Ef 3,2-3a. 5-6
Irmãos:
2 Se ao menos soubésseis da graça que Deus me concedeu para realizar o
seu plano a vosso respeito, 3ª e como, por revelação, tive conhecimento
do mistério. 5 Este mistério Deus não o fez conhecer aos homens das
gerações passadas, mas acaba de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus santos
apóstolos e profetas: 6 os pagãos são admitidos à mesma herança, são
membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por
meio do Evangelho.
Evangelho: Mt 2,1-12
1 Tendo
nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que
alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, 2 perguntando: “Onde está o rei
dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos
adorá-lo”. 3 Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado assim como toda a
cidade de Jerusalém. 4 Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei,
perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. 5 Eles responderam: “Em Belém,
na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: 6 E tu, Belém, terra de Judá,
de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti
sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo”. 7 Então Herodes
chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a
estrela tinha aparecido. 8 Depois os enviou a Belém, dizendo: “Ide e procurai
obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me,
para que também eu vá adorá-lo”. 9 Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a
estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar
onde estava o menino. 10 Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma
alegria muito grande. 11 Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua
mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe
ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. 12 Avisados em sonho para não
voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho.
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Como já se sabe de que Mateus
coloca essa passagem no seu evangelho para expor a tese da universalidade da
salvação. Mateus pretende nos dizer que Jesus, tendo nascido em Belém como
menino judeu e para salvar os judeus, quer oferecer também ao paganismo, logo
desde o berço, a possibilidade de um encontro para o que envia a luz da
fé(estrela), cuja missão é guiar os pagãos(magos) até onde o Salvador(Jesus) se
encontra. Deste modo, cada um dos elementos da narrativa simbolizaria uma realidade
distinta: os magos representam os pagãos; Herodes, os judeus; e a estrela, a
fé. Por isso, a estrela dos Magos na narrativa de Mateus é nenhum fenômeno
celeste surgido realmente no firmamento, mas o símbolo da luz da fé que brilha
nas trevas do pecado quando o Salvador aparece no mundo.
Mateus desenvolve assim uma nova
tese: Jesus, embora judeu e descendente de Davi, é um Messias com força para
afugentar do mundo inteiro as trevas do pecado, por mais afastado que o homem
se encontre e seja em que deserto for. Para tal deve cumprir um único
requisito: deixar-se guiar pela luz da fé(veja o comentário sobre este texto do
ano passado e também algumas mensagens).
Outras mensagens do texto:
1). Para encontrar Jesus, é necessário sair da própria terra
para ir ao encontro de Jesus.
Os escribas e os sumos sacerdotes
esquadrinharam a Bíblia e encontraram pelo menos 466 profecias messiânicas e
mais de 550 conclusões tiradas da Sagrada Escritura . E até indicaram a Herodes
o lugar exato onde podia encontrar o Salvador, o verdadeiro Rei dos judeus. No
entanto, nenhum se pôs a caminho. Como comenta Santo Agostinho:” Ensinam a
outros a fonte da vida e eles morreram de sede”. E em outra passagem ele
acrescenta: ”Aqueles(os magos) buscavam na terra destes(dos judeus) o que estes
não reconheciam na sua terra...”. Mateus
sublinha, assim, o paradoxo entre a busca e a acolhida de Jesus pelos “magos do
Oriente”, que eram pagãos, e o seu não conhecimento por parte do rei de
Jerusalém, dos chefes dos sacerdotes, dos escribas e do povo.
Os magos puseram-se a caminho e
deixaram sua terra em busca do Rei recém-nascido. O texto nos diz: “Vimos sua
estrela no céu e viemos adorá-lo”(v.2). Guiados pela estrela no céu e pela
estrela de uma grande esperança no coração, os magos puseram-se a caminho. São
João Crisóstomo comentou: :Não se puseram a caminho porque viram a estrela, mas
viram a estrela porque se tinham posto a caminho”. Põem-se a caminho porque têm
perguntas e inquietações no coração. São o símbolo dos que buscam, como diz
Santo Agostinho: “Anunciam e perguntam, crêem e buscam; simbolizando aqueles
que caminham na fé e desejam a realidade”.
Somos peregrinos nesta terra. Mas
para onde caminhamos? Saibamo-lo ou não, caminhamos para Deus. Consciente ou
inconscientemente, no fundo todos procuram Deus. O destino do homem é,
certamente, a união plena com Deus. E na espera desse destino, o homem vive
sobre a Terra com fé. A fé é ter
confiança em Deus apesar das próprias dúvidas, perguntas e interrogações,
queixas e murmurações; é ter a coragem de agir apesar dos próprios medos; é
esperar no amanhã apesar do sofrimento e
dificuldades de hoje. Porque Deus veio antes ao nosso encontro e semeou no
nosso coração a fome e a sede da justiça e da paz, da felicidade e da comunhão,
enfim, da salvação que só podemos encontrar nele.
Para chegar ao encontro de Deus é
necessário pôr-se a caminho e atravessar, como os magos, desertos escaldantes e
noites escuras, desinstalar-se e romper com o convencional, vencer novos
obstáculos e refutar argumentos velhos e novos. Quem quer encontrar a Deus, não
pode ficar preso ao passado. Precisa partir sempre de novo, com o coração cada
vez mais leve e livre, porque na nossa vida costumam acontecer fatos carregados
de sentido, que exigem a nossa atenção e o nosso êxodo. Mas se a pessoa não se
põe a investigar e a tentar perceber o que Deus lhe quer dizer, com certeza
vive mais tranqüilo, não se interroga, não levanta problemas. Conseqüentemente,
não avança, move-se num horizonte estreito, mesquinho, sem dimensões, e
priva-se do que as suas capacidades lhe proporcionam para progredir. E Deus,
quando queremos encontrá-lo de verdade, vem em nossa ajuda, indica-nos o
caminho, às vezes, através de meios menos aptos. Mas, com certeza, Deus não se
encontra na soberba que nos separa dele, nem na falta de caridade que nos
isola.
Os magos iniciaram uma longa
caminhada, desejando encontrar Deus guiando apenas pela estrela. Na vida, é
preciso seguir uma estrela. Um ideal. Um modelo de santidade. Essa é a estrela
que brilha para nós no azul do nosso céu. E tem que se seguir, apesar de todos
os sacrifícios. Jesus, no fim, está à nossa espera.
2). Para encontrar Jesus é necessário discernir os sinais
Para encontrar Jesus é necessário,
em primeiro lugar, buscá-lo e querer encontrá-lo; e em segundo lugar, perceber
e discernir os sinais exteriores e interiores de sua manifestação. Para ver os
sinais é necessário estar com os olhos e o coração abertos para as realidades
que estão além do que vêem os olhos carnais e do que sente o coração de carne.
É necessário adquirir uma visão nova da realidade. Para isso, é importante sair
do pequeno mundo em que estamos instalados e empreender um caminho novo. Em
outras palavras, é preciso o êxodo interior e exterior. Se o nosso coração
inquieto, aberto e despojado, e se for generoso como o dos magos, saberemos
distinguir a voz de Deus das vozes que nos querem afastar do seu caminho.
3). Para encontrar Jesus
é necessário deixar-se comover
Para chegar ao encontro de Jesus é
necessário também deixar-se mover pelos sinais percebidos e discernidos; é
necessário deixar-se mover e guiar por eles ao longo de toda a caminhada. Quem
é movido por uma grande esperança ou por um grande amor, tem força e entusiasmo
para deixar tudo o que tinha até esse momento ao encontro do Senhor que é Tudo.
A “estrela” que guia nossa busca continua sempre apontando para mais verdade,
mais entrega, mais justiça, mais fraternidade, mais partilha, mais honestidade,
mais sinceridade e mais comunhão. Ela continua iluminando apesar das nuvens que
nos atrapalham passageiramente, das decepções, das noites que anunciam o dia,
dos sofrimentos etc.
4). Para encontra Jesus
é necessário caminhar juntos e perguntar.
A sabedoria antiga diz: “Estar
juntos é apenas o início; caminhar juntos é o progresso e trabalhar juntos é
sucesso”. Não sabemos por quanto tempo os magos caminharam. O que sabemos é que
caminharam juntos. O longo caminho da busca, enfrentando o cansaço, obstáculos
etc., só pode ser feito em comunidade. Só ajudando-se e animando-se mutuamente,
carregando o peso uns dos outros durante um longo caminho da busca, é possível
chegar à meta.
Quando parece que as nuvens
atrapalham a nossa vista ou visão, quando aparentemente Deus nos abandonou e
sentimos que não caminha mais ao nosso lado, é necessário pararmos para
perguntar, como fizeram os magos. Essas perguntas fazem parte da providência de
Deus. Os chineses até dizem: “Quem pergunta, é bobo por cinco minutos. Quem não
pergunta, é bobo para sempre”. Na verdade, Deus está também nas nossas
perguntas, porque são perguntas sobre ele e por ele.
5). No comum encontra-se
o extraordinário
Os magos não encontram a riqueza e
a glória do rei recém-nascido, mas um bebê numa casa pobre, filho de pais
pobres, pobremente vestido. Também não viram sua mãe coroada de pedras
preciosas ou reclinada num leito de ouro. Mas “sua fé(dos magos) foi mais
penetrante que o olhar, porque viram coisas humildes e entenderam coisas
elevadas”, comenta S. João Crisóstomo. A glória de Deus não está nos astros do
céu, mas na fragilidade dessa criancinha.
6). Quem encontra o que
procura tem algo a oferecer
Os magos encontraram Jesus e lhe
ofereceram presentes: ouro, incenso, mirra. Tradicionalmente esses presentes
simbolizam a identidade de Jesus: recebe ouro como rei, incenso como Deus e
mirra como homem mortal(mirra era utilizada no embalsamamento de cadáveres).
Sabemos que a entrega de nós mesmos
na adoração é o dom mais perfeito e mais agradável ao Deus que nos amou até o
extremo de querer viver nossa vida mortal, e morrer nossa morte, para fazer-nos
participantes de sua vida eterna. Mas o gesto de oferta pode nos recordar
também que aqueles que encontram Deus com sinceridade demonstram a profundidade
desse encontro concretamente através daquilo que se tornam capazes de
partilhar. Quem é de Deus, ajuda os outros, desenvolvendo a sensibilidade
solidária.
7). Epifania e Missão
Evangelizadora
Como foi dito acima, a
universalidade da fé é um dos motivos dominantes da liturgia da Epifania. Que
fazemos para que se realize o desígnio salvífico de Deus, cuja meta é que todos
os homens conheçam e adorem Jesus como Salvador e Emanuel? Talvez as palavras
de S. João Crisóstomo possa nos despertar: ”Se
os magos percorreram um caminho tão longo para vê-lo recém-nascido, que
desculpa terás tu se nem sequer fores ao bairro ao lado para visitá-lo enfermo
e encarcerado?” Como cristãos, somos todos “apóstolos” ou “enviado”.
E o enviado deve ir aonde é chamado pela missão.
P. Vitus Gustama,svd
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