25 de Dezembro
1 No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. 2 No princípio estava ela com Deus. 3 Tudo foi feito por ela, e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. 4 Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. 5 E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la. 6 Surgiu um homem enviado por Deus; seu nome era João. 7 Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. 8 Ele não era a luz, mais veio para dar testemunho da luz: 9 daquele que era a luz de verdade, que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano. 10 A Palavra estava no mundo — e o mundo foi feito por meio dela — mas o mundo não quis conhecê-la. 11 V eio para o que era seu, e os seus não a acolheram. 12 Mas, a todos que a receberam, deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus, isto é, aos que acreditam em seu nome, 13 pois estes não nasceram do sangue nem da vontade da carne nem da vontade do varão, mas de Deus mesmo. 14 E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que recebe do Pai como Filho unigênito, cheio de graça e de verdade. 15 Dele, João dá testemunho, clamando: “Este é aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim passou à minha frente, porque ele existia antes de mim”. 16 De sua plenitude todos nós recebemos graça por graça. 17 Pois por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo. 18 A Deus ninguém jamais viu. Mas o Unigênito de Deus, que está na intimidade do Pai, ele no-lo deu a conhecer.
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1. “O Verbo
se fez carne e habitou entre nós ”.
O evangelista João, no prólogo do seu evangelho , chama
Jesus de “Verbo ”. “Verbo ”
quer dizer “Palavra ” e a “palavra ”
serve para comunicar
alguma coisa para os outros . O que
guardamos na mente e no coração chega à
mente e ao coração
dos outros através
da palavra . Nada
mais fugaz e débil que a palavra , mero som que se
perde em ondas ,
mas também
nada mais
forte e de maior
alcance que a
palavra , pois
a palavra cria
vida ou
morte , amor ou ódio , bênção ou maldição , respeito ou desprezo , admiração ou inveja , aceitação ou rejeição. A palavra
pode consolar e curar , mas também pode
machucar e ferir . A palavra dita não tem volta .
E cada palavra
representa uma realidade . Se cada
palavra representa uma realidade ,
então , antes
de pronunciar uma palavra
devemos saber se ela
realmente representa uma realidade
ou não .
Se ela não
representar uma realidade ,
ela não
deve ser pronunciada. Por
isso , no Sermão
da Montanha Jesus diz categoricamente: “Seja vosso
sim , sim ,
e o vosso não ,
não . O que
passa disso vem do Maligno ”(Mt
5,37). Por isso ,
a palavra não
pode se pronunciar em
vão , pois o próprio Deus não pronunciou nada
em vão .
A palavra , antes
de ser dita ,
deve ser pensada e refletida para
torná-la eficaz em
transmitir a verdade ou realidade .
De acordo com
o livro de Gênesis, à medida que Deus fala , as coisas vão
acontecendo. Deus diz, por exemplo : “’Que
exista a luz ’, e a luz
começou a existir ” (cf. Gn 1,3ss). Jesus é o Verbo porque ele é a força
criadora que dá vida
a tudo ; é comunicador de vida , pois ele próprio é a vida em plenitude (cf. Jo 14,6) e a transmite à humanidade : “Tudo foi feito por meio dele,
e sem ele
nada foi feito
de tudo que
existe. Nele estava a vida , e a vida era a luz dos homens "
(Jo 1,3-4; cf. Jo 10,10). Se quisermos mais
vida , devemos voltar
sempre para a
fonte de vida
que é o Verbo
encarnado , pois
onde o Verbo
estiver espaço para
fazer sua tenda , lá a vida se torna abundante .
Jesus é comunicação pessoal de Deus
ao ser humano ,
e tão sublime
que lhe
oferece uma participação na sua própria vida :
“... a todos
aqueles que
O acolheram, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus :
são os que
crêem no seu nome ”
(Jo 1,12). O Verbo feito
carne é expressão
criadora de vida ; é sinal
humano e sacramento
do coração do Deus
Pai . Para que possamos possuir a vida em plenitude basta
olhar para o Verbo encarnado
de Deus , Jesus Cristo ,
e observar , imitar e viver o que ele faz, o que ele diz, o que ele ensina , e basta olhar para
ele para saber como devemos nos comportar , o que deve se pensar , qual deve ser a preferência etc.. Tudo
deve partir do Verbo
encarnado . Ele
deve ser espelho
vivo de nossa
vida cotidiana ,
inclusive de nossas decisões ,
pois fora
dele não existe vida .
E
este Verbo
de Deus habita entre
nós . Isto
quer nos
dizer que Deus não se
esconde no além . Ele
está presente e faz presente
na caminhada do homem
e da mulher todos
os dias apesar
de tudo . Ele
está totalmente aqui
e agora no meio
de nós . Ele
veio para ficar entre nós para sempre : “Eis
que Eu
estou com vocês
todos os dias
até o fim
do mundo ”(Mt 28,20).Então , não
estamos mais a sós
em nossa
imensa solidão ,
pois ele é o Verbo que
habita entre nós .
Com a encarnação
do Verbo , Deus
não responde ao porquê
de nosso sofrimento, pois
ele sofre junto
conosco . Não
somos mais solitários ,
mas solidários ,
pois Deus
está conosco . Por
causa dessa encarnação
tudo ganha
um sentido
novo e vale a pena ser homem , ser gente , pois Deus quis ser um deles. Não
há nada que
seja totalmente absurdo
porque Deus
veio para nos dizer : “Eu te amo ”. Deus veio dizer à nossa solidão , às nossas lágrimas , ao nosso
desconsolo , às nossas fraquezas , aos nossos
sofrimentos: “Eu te
amo ”. Para que possamos voltar a ter forças suficientes na nossa
caminhada cotidiana ,
precisamos parar para ouvir a suavidade da Palavra de Deus
que diz a cada
um de nós :
“Eu te
amo ”, pois o amor dá segurança e tranqüilidade , dá paz
e serenidade , fortalece e faz crescer . “Cansam-se as
crianças e param, os jovens tropeçam e caem, mas
os que esperam no Senhor
renovam suas forças ,
criam asas como
as águias , correm se cansar ,
caminham sem parar ”,
diz o profeta Isaías(Is 40,30-31). Não há nada que possamos desejar neste mundo senão amor : amarmos e sermos amados .
Certamente Deus
veio para nos ensinar que não há outro caminho para sermos felizes e
fazermos os outros felizes
senão através
do caminho do amor :
felizes aqui
e nos leva
à felicidade eterna
na comunhão plena
com o Deus- amor .
2. “O Verbo se fez carne e
habitou entre nós ”
nos faz perceber
o Natal com
Deus e o Natal
sem Deus .
O Natal
quer nos
dizer que Deus ”desceu” das alturas
da sua glória
até o abismo
da nossa pobreza
e humilhação para
nos revelar e
oferecer todo
o seu amor :
“Deus amou tanto
o mundo que
entregou o seu Filho
único para que todo o que nele crê não
pereça, mas tenha a vida
eterna ” (Jo 3,16). Deus desceu até
nós para nos fazer subir
até ele .
Deus assumiu nossa
natureza humana
para fazer-nos participantes da sua
natureza divina .
A descida de Deus
até nós
possibilita a nossa subida
até ele .
Ele é o Caminho ,
a Verdade e a Vida
(Jo 14,6). A elevação do homem até Deus é uma conseqüência
do “rebaixamento” de Deus ao homem . Deus se
fez homem para
o homem se tornar
divino . Tudo isto é a graça
de Deus . Por
isso , ser homem só pode ser aquele que vive a sua humanidade a partir da graça de Deus :
“De Sua
plenitude todos
nós recebemos, graça
por graça ...a
graça e a verdade
vieram por meio
de Jesus Cristo ” (Jo 1,16-17). Por isso , São Paulo chegou a dizer : “É pela
graça de Deus
que sou o que
sou” (1Cor 15,10). Aqui o termo “graça ” deve-se considerar como benefício absolutamente gratuito ,
livre e sem
motivo . O ser
humano tem a explicação
do seu próprio
ser unicamente no amor
com que
Deus o amou e amando, criou. A salvação,
em sua
raiz , é graça
e não resultado
da vontade do homem ,
como diz São
Paulo: “É pela
graça que
fostes salvos , mediante
a fé . E isto
não é a vós
que se deve; é dom
de Deus ” (Ef 2,8).
A encarnação é uma lágrima da compaixão
divina para o
homem que
se encontra na miséria
do pecado e num circo
sem saída .
O essencial da encarnação ,
portanto , é o amor .
Deus ama
o homem para
torná-lo bom e feliz .
Deus renuncia a si
mesmo por
amor . Deus
veio para participar dos nossos
sofrimentos e indicar o caminho
de amor para não sofrermos sem
sentido . Se soubermos renunciar
a nós mesmos
por amor ,
seremos felizes e seremos capazes de fazer os outros felizes .
O ato
de Deus de descer
até nós ,
nos leva
a nos perguntarmos: “Em que consiste
o poder e a glória
de Deus ?”. O poder
e a glória de Deus
se manifestam na misericórdia e compaixão através
do ato de descer
do trono a fim
de salvar quem
se encontra numa situação
sem saída ,
num problema sem
solução . Este
poder e glória
de Deus são
o amor que
desce em busca
dos perdidos(cf. Lc 15,1ss). Para Deus não há gente sem importância . Cada
ser humano é amado por Deus pessoalmente ,
e o avalia pelo preço
do sangue de seu
Filho , Jesus Cristo ,
Verbo encarnado .
A teologia
descendente , isto
é, Deus que
desce para nos
levantar , é o grande
desafio para o mundo ou a sociedade que gosta de dividir as pessoas entre
aquelas que estão “lá
em cima ”
que não
querem se misturar com
ninguém e aquelas que
estão lá embaixo
que precisam ser
afastadas. Mas qual felicidade que você ganhará com isto ? Celebrar o Natal de Jesus significa aprender
a descer dos nossos
tronos para
voltarmos à nossa condição
primordial como
irmãos e irmãs no Verbo
de Deus , pois
Deus é o Pai
de todos se quisermos ser
felizes e fazer
os outros felizes .
A felicidade não
está no isolamento ou
na separação dos outros ,
mas está na participação e na partilha. Tudo que se
separa tende a morrer . Por
isso , se nós
conseguirmos ver no rosto
do outro o nosso
próprio rosto ,
e sentir os sentimentos
de alegria e tristeza
do outro como
os nossos , se formos capazes de ver no coração do outro
o nosso coração ,
estaremos realmente celebrando o Natal de Jesus, um
Natal com
Deus . Se procuramos Deus
sem encontrar
o irmão , ainda
não encontramos o Deus
verdadeiro , pois
o verdadeiro Deus
se encontra quando
o irmão é encontrado. O homem perfeito
é um homem
que sabe amar .
Tudo isto
é o Natal com
Deus .
Se não
acontecer tudo
isto , celebraremos o Natal sem Deus , sem mistério , sem milagres , sem revelações ; onde
tudo é permitido :
matar o pai
e a mãe , a avó, a paciente
idosa , o marido ,
a mulher , a professora que pega um ônibus para
dar aula (como escreveu a jornalista
Célia Costa no artigo
dela, “Saudades de Deus ”
O Globo ,20/12/2002). O Natal sem Deus acontece quando
a crueldade se torna
um ato
que dá prazer
para quem a
pratica. O Natal sem
Deus acontece quando
um que
se diz ser humano
esfaqueia ou abre uma cabeça com um tiro por causa de cinqüenta reais ou uma bolsa magra do
13º salário . O Natal sem Deus acontece quando
um , que
se diz cristão , não
quer perdoar
o outro . O Natal
sem Deus acontece quando
um que
diz que ama
a Deus , mas
não sabe se cuidar
e continua guardando o ressentimento e o rancor .
O Natal sem
Deus é aquela vontade
de vingar-se. O Natal sem Deus
acontece quando alguém
não sente a saudade
de voltar para casa , pois a família se torna
uma família- hotel , uma família sem lar , sem ternura , sem amor , sem calor humano , sem abraços calorosos ; é um
Natal sem
encantamento . O Natal
sem Deus
acontece quando um
ser humano que se chama criatura perde a noção
do pecado , da moral
e da ética , da bondade ,
da solidariedade , da igualdade , da compaixão ,
do perdão , assim
por diante .
O Natal sem
Deus começa
quando um
ser humano
coloca o ouro e a prata
acima de Quem
os criou; é o Natal de idolatria ; é o Natal
comercializado.
Jesus Cristo ,
Verbo de Deus
está a caminho em
busca de uma nova
Belém. Ele quer
nascer também
num coração egoísta e fechado para torná-lo mais altruísta e compassivo .
Para isso , o coração terá que
estar aberto para deixar o Senhor
entrar : “Eis que estou à porta e bato; se alguém
ouvir minha voz e abrir a porta , eu
entrarei na sua casa
e tomaremos a refeição , eu
com ele
e ele comigo ”(Ap
3,20). Ele quer
continuar a nascer nos corações
aquecidos pelo amor .
Ele quer
nascer em seu lar , em suas conversas , num aperto
de mão , pedindo e oferecendo o perdão . Ele quer nascer naquela amizade que há tempo você rompeu violentamente por
um gesto
insignificante e irracional .
Ele quer
nascer naquela pessoa que morreu no seu
coração por
uma briga de ponto
de vista , esquecendo que cada ponto de vista é apenas vista de
um ponto . Ele quer nascer na mulher que você iludiu e enganou e
no homem que
você explorou sem
remorso . Desde
que você seja
capaz de escutar
a Palavra de Deus
e pô-la em prática ,
você também
será a mãe de Jesus que
faz nascer o Cristo
no mundo e na convivência
com os outros ,
e será irmão e irmã de todos com quem convive e trabalha .
Se você abrir seu coração para Jesus que está em busca da nova Belém, você será um eterno Natal para todos .
3. O Verbo se fez carne
e habitou (acampou) entre nós
A encarnação
faz Deus habitar /morar entre nós . A presença de Deus é um dos grandes temas
da Bíblia . Um
termo preciso
designa a morada de Deus
na história : a shekinah de Javé . A proximidade de Deus é uma convicção
profunda do povo
israelita e motivo
de permanente ação
de graças (cf. Dt 4,7). “Fazer
uma morada ” evoca importantes
ecos do AT. Este
tema aparece em
Ex 25,8-9, onde se ordena a Israel fazer uma tenda (o tabernáculo ) para que Deus possa morar no meio de seu povo . O tabernáculo se converte num ponto
em que
se localiza a presença de Deus
sobre a terra .
A habitação de Deus na história
atinge a plenitude na Encarnação do Verbo .
O evangelista Mateus
a enfatiza de outra forma
ao considerar o Verbo
encarnado como
o Emanuel, o “Deus conosco ”
(cf. Mt 1,23;18,20;28,20. Cf. Is 7,1). “Ele
veio até
a sua própria
terra ” (Jo 1,11), “se fez carne ”
(Jo 1,14) são expressões
que manifestam essa entrada
de Deus na história .
“Carne ” na linguagem
bíblica significa o ser humano ,
às vezes com
uma nuança de debilidade. Isto quer dizer que o Verbo
entrou na história , assumiu a condição humana
(menos o pecado ):
“Sendo rico , fez-se pobre
por vós ”
(2Cor 8,9). Quando
o prólogo proclama
que “o Verbo
se fez carne e habitou entre nós ” isto quer dizer que Jesus Cristo é o novo lugar da presença de Deus na terra e que Jesus veio substituir o antigo tabernáculo . Mais
tarde o mesmo
evangelho enfatizará novamente que
Jesus substitui o templo (cf. Jo
2,19-22).
O Verbo
encarnado é a tenda
do novo encontro .
Se quisermos que nos
encontremos uns aos outros profundamente , temos que
nos encontrar
com o Verbo
que faz tenda
no meio de nós .
“No meio de nós ”
quer dizer que Ele deve ser centro de nossa vida , de
nossas decisões ; ele
deve ser o ponto de referência de nossas atitudes
e comportamentos . Se o Verbo se tornar o centro de nossa
vida , seremos bons
e irmãos . Em
segundo lugar ,
o lugar em
que Deus
quer morar é
o coração que
sabe amar como
fruto da vivência
da palavra de Deus .
Mais tarde ,
neste mesmo evangelho ,
Jesus nos dirá: “Se alguém me
ama , guardará a minha
palavra ; meu
Pai o amará, e nós
viremos e faremos nele a nossa morada ”
(Jo 14,23).
4. O Verbo se fez carne e habitou entre
nós
é também por
causa do “Sim ” de Maria, Nossa Senhora , mãe do Senhor à vontade de Deus (cf. Lc 1,38).
“Sim ”
é uma palavra audaciosa :
contém um risco
e exige coragem . É deixar
algo para trás de si e avançar : “Quem põe a mão
no arado e olha
para trás , não está apto para o Reino de Deus ”, diz o Senhor (Lc
9,62). Dizer “sim ”
significa renunciar ao que
para nós é caro e avançar como uma pessoa livre . Partir é uma parte da vida . Mas não basta dizer sim somente uma vez . Devemos repeti-lo sempre .
Dizer “Sim ” só pela metade deteriora a personalidade ,
contrariando o desejo de Deus sobre nós .
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