quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

PURIFICAR MINHA RELAÇÃO COM DEUS E COM O PRÓXIMO


Sábado da II Semana do Advento
14 de Dezembro de 2013
 
Texto de leitura: Mt 17,10-13

Ao descerem do monte, 10os discípulos perguntaram a Jesus: “Por que os mestres da Lei dizem que Elias deve vir primeiro?” 11Jesus respondeu: “Elias vem e colocará tudo em ordem. 12Ora, eu vos digo: Elias veio, mas eles não o reconheceram. Ao contrário, fizeram com ele tudo o que quiseram. Assim também o Filho do Homem será maltratado por eles”. 13Então os discípulos compreenderam que Jesus lhes falava de João Batista (Mt 17,10-13).

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Depois da transfiguração (Mt 17,1-8), Jesus desce do monte, mas continua conversando com seus discípulos. Um dos assuntos dessa conversa é sobre o profeta Elias bem conhecido entre o Povo eleito e bem admirado pela sua luta contra a corrupção social, principalmente, pela sua luta para defender o monoteísmo contra qualquer tipo de idolatria e o panteísmo. O povo eleito considera Elias como um profeta cuja palavra é semelhante ao fogo. Porém não para queimar ou aniquilar e sim para purificar o Povo de Deus, pois a palavra que ele anuncia é a Palavra de Deus. E a força da Palavra de Deus nunca é devastadora, pois ela tem uma função de purificar e de transformar qualquer pecador em filho de Deus novamente. A Palavra de Deus ilumina qualquer mente escura para voltar a enxergar a beleza da vida: “Tua palavra (Senhor) é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho” (Sl 118,105).


Entre os rabinos e os escribasdiscussões sobre o regresso do profeta Elias antes do juízo. A discussão se baseia na profecia do profeta Malaquias: “Eis que vos enviarei Elias, o profeta, antes que chegue o Dia de Iahweh, grande e terrível. Ele fará voltar o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais, para que eu não venha ferir a terra com anátema” (Ml 3,23-24). Para recusar a messianidade de Jesus, os escribas diziam que Elias não tinha vindo ainda. Dentro desta afirmação percebemos a objeção da cristã em suas primeiras discussões na Igreja primitiva.


Jesus aceita a tese da volta do profeta Elias, porém nega qualquer visão de fantasia bem difundida entre o povo sobre essa volta. Em vez disso, Jesus convida seus discípulos a discernirem o plano de Deus que está se manifestando diante de seus olhos. “Elias vem e colocará tudo em ordem... Elias veio, mas eles não o reconheceram”, afirma Jesus. Na primeira afirmação Jesus usa o vervir” no presente no sentido de que é verdade que Elias precederá ao Messias. Na apocalíptica judaica, Elias devia vir parapor tudo em ordemem Israel para que a vinda do Messias tivesse lugar em meio da alegria de um povo purificado. A figura de Elias se encaixa perfeitamente na missão de João Batista como o Precursor do Messias.


Para levar os discípulos à urgência de conversão, Jesus identifica, então, expressamente o profeta Elias com João Batista, o ultimo grande profeta do Antigo Testamento. Os discípulos compreendem, naquele momento, essa identificação: “Então os discípulos compreenderam que Jesus lhes falava de João Batista (Mt 17,13). Porém, mais tarde eles vão cair novamente na incompreensão e incredulidade (cf. Mt 15,20).


João Batista é uma das figuras mais marcantes e predominam durante o Advento, na preparação a vinda do Deus encarnado. Em analogia com a missão do profeta Elias, João Batista quer enfatizar dois pontos importantes. Em primeiro lugar, minha relação com Deus. Eu preciso voltar para Deus que me ama por mim mesmo incondicionalmente, pois Deus em si mesmo é perfeito. Sou eu que preciso aproximar-me de Deus para que eu seja um reflexo do amor de Deus para o próximo. Meu encontro com Deus é sempre um encontro de dois amores: o amor eterno de Deus por mim e meu amor por Deus (voltei a amar o Amor eterno para que eu seja eterno). Meu amor para Deus é muito mais para mim mesmo do que para Deus que é o próprio Amor (cf. 1Jo 4,8.16). Amando eu me tornarei amoroso e amável.


Mas não basta ter boa relação com Deus. Por isso, João Batista me convida para que sane minhas relações com os outros homens, com meu próximo. Trata-se da minha relação com os outros, pois próximo é a passagem obrigatória ao encontro de Deus. Diante da divisão e do ódio eu preciso me regenerar no amor e na unidade. Diante da exclusão eu preciso reafirmar a comunhão, a participação, a fraternidade e a solidariedade. Diante da irresponsabilidade culpável, eu preciso viver e proclamar a verdade da responsabilidade ao viver de acordo com os valores. Diante da violência e da discórdia eu preciso me reconciliar e me renovar na paz comigo mesmo, com Deus e com o próximo. Diante da escravidão do pecado eu preciso apostar firmemente na liberdade de filhos de Deus.


Por isso, um dos grandes ministérios que nos é recomendado em qualquer comunidade cristã, especialmente no tempo forte liturgicamente é o ministério de reconciliação. Esta é uma das mais importantes tarefas e um dos melhores testemunhos que podemos ou possamos dar para o nosso mundo (comunidade, grupo, pastoral, movimento etc.) tão dividido pelo egoísmo, pelo ódio, pela injustiça, pela violência e pela guerra. A própria experiência humana, do ponto de vista antropológico, reclama reconciliação. Por isso, a reconciliação não deixa de ser também uma necessidade antropológica. Reconhecemos que não é fácil perdoar como ser perdoado, pois a reconciliação exige uma mudança no ofensor e no ofendido simultaneamente. O ofensor não fica perdoado porque o ofendido esquece a ofensa recebida e sim porque ambos se reencontram no amor.


Neste sentido, eu preciso deixar-me interpelar por João Batista cuja voz queima as impurezas em mim. João Batista é, como o profeta Elias, fogo irresistível, profeta cuja palavra ilumina meu caminho e o da minha comunidade. Além disso, eu preciso estar consciente de que como Elias e João Batista foram perseguidos pelos poderosos e não compreendidos pelos seus contemporâneos, eu posso ter a mesma sorte. Mas ao mesmo tempo, apesar de tantas oposições e obstáculos, a Palavra de Deus sairá vitoriosa. Por isso, viver sem confiar na Palavra de Deus deve ser impossível.  A Palavra de Deus será plena em nós quando estivermos plenamente na Palavra de Deus” (Santo Agostinho. Serm. 1, 133).

P. Vitus Gustama,svd

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