FÉ E AMOR SE ALIMENTAM
Tempo do Natal- Epifania
Segunda-feira, 06 de
Janeiro de 2014
Primeira Leitura: 1Jo
3,22-4,6
Caríssimos: 22 qualquer coisa que
pedimos recebemos dele, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é
do seu agrado. 23 Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho,
Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele
nos deu. 24 Quem guarda os seus mandamentos permanece com Deus e Deus permanece
com ele. Que ele permanece conosco, sabemo-lo pelo Espírito que ele nos deu.
4,1 Caríssimos, não acrediteis em qualquer espírito, mas examinai os espíritos
para ver se são de Deus, pois muitos falsos profetas vieram ao mundo. 2 Este é
o critério para saber se uma inspiração vem de Deus: todo espírito que leva a
professar que Jesus Cristo veio na carne é de Deus; 3 e todo espírito que não
professa a fé em Jesus não é de Deus; é o espírito do Anticristo. Ouvistes
dizer que o Anticristo virá; pois bem, ele já está no mundo. 4 Filhinhos, vós
sois de Deus e vós vencestes o Anticristo. Pois convosco está quem é maior do
que aquele que está no mundo. 5 Os vossos adversários são do mundo; por isso,
agem conforme o mundo, e o mundo lhes presta ouvidos. 6 Nós somos de Deus. Quem
conhece a Deus, escuta-nos; quem não é de Deus não nos escuta. Nisto
reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.
Evangelho: Mt
4,12-17.23-25
Naquele tempo, 12 Ao saber que João
tinha sido preso, Jesus voltou para a Galileia. 13 Deixou Nazaré e foi morar em
Cafarnaum, que fica às margens do mar da Galileia, 14 no território de Zabulon
e Neftali, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: 15 “Terra de
Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região do outro lado do rio Jordão,
Galileia dos pagãos! 16 O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; e para
os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz”. 17 Daí em diante,
Jesus começou a pregar, dizendo: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está
próximo”. 23 Jesus andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas,
pregando o Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do
povo. 24 E sua fama espalhou-se por toda a Síria. Levaram-lhe todos os doentes,
que sofriam diversas enfermidades e tormentos: endemoninhados, epilépticos e
paralíticos. E Jesus os curava. 25 Numerosas multidões o seguiam, vindas da
Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia, e da região além do Jordão.
-----------------
Nos dois primeiros capítulos de seu
Evangelho, Mateus narrou o nascimento de Jesus, e no terceiro nos apresentou a
atividade de João Batista: o Batismo. No capitulo quarto, sem se preocupar em
satisfazer a curiosidade dos que quiseram saber de todo o itinerário formativo
de Jesus, nos apresenta Jesus atuando na Galileia, uma região ao norte de
Palestina onde conviviam, com dificuldade, judeus e pagãos. Por isso, Mateus
evoca o texto do profeta Isaias que fala da iluminação dos que “viviam nas
trevas e nas sombras de morte”. A festa da Epifania nos mostra que a vinda de
Jesus é em favor de todos os homens, sem distinção nem de etnia, nem de
condições nem de crenças.
O evangelho deste dia nos relata
que quando fica sabendo da prisão de João Batista, Jesus vai para a Galileia.
Galileia era um território longe de Jerusalém, do poder central legalista e
intransigente. Galileia tinha fama de região pagã contaminada pelos pagãos,
desinteressada da Lei e da oficialidade do Templo.
Na Galileia Jesus pode andar com
liberdade, junto aos empobrecidos e marginalizados. Toda a história dos pobres
gravitava sobre os pobres do tempo de Jesus: a fome, a carência de trabalho, a
opressão política e militar dos Herodes e de Roma, opressão religiosa do
Sinédrio (Sanedrin), o abandono e a marginalização. Esse povo pedia e exigia
ser redimido. O que o povo esperava era respostas concretas para suas
necessidades. Por isso, a figura de um rei poderoso, como Davi, continuava a
alimentar o sonho do povo para libertá-lo de toda essa situação.
A pregação de Jesus se inicia,
então, na “Galileia dos pagãos”, isto é, numa região onde a situação do povo é
mais precária devido a uma grande quantidade de população pagã. Isto nos mostra
que os primeiros destinatários da pregação de Jesus são para os que mais
necessitados dela e aos que não conhecem a “Luz” da revelação porque vivem nas
“sombras” do paganismo. É claro que o paganismo é muito mais no sentido do modo
de viver do que no sentido de não pertencer a uma crença ou religião. Por isso,
existem “pagãos” que se comportam como homens de Deus, por exemplo, o oficial
romano (cf. Mt 8,5-13). Como também são muitos os que se dizem crentes (do Povo
de Deus), mas se comportam como “pagãos”, sem nenhuma vivência da fraternidade,
por exemplo, o sacerdote e o levita na parábola do bom Samaritano que não
querem ajudar que está sofrendo (cf. Lc 10,31-32).
A mensagem de Jesus se resume nesta
frase: “O Reino de Deus está próximo”. O Reino de Deus, expressão já existente
no povo de Israel, se contrapõe a todos os demais reinos ou poderes humanos que
pretendem um domínio total sobre o povo de Israel e este mesmo poder é
oferecido a Jesus em suas tentações (cf. Mt 4,8-10). O Reino que Jesus prega já
começou nele, pois ele veio para fazer reinar o amor fraterno (cf. Mt 23,8).
Para que isso possa acontecer há uma exigência: convertei-vos!
O menino de Belém, adorado pelos
magos, agora se manifesta como o Messias e o Mestre enviado de Deus que ensina,
proclama o Reino de Deus, que cura os enfermos e liberta os possessos. A
proposta do Reino de Jesus é diferente: tem que descobrir e destruir o egoísmo
e as estruturas que o fomentam.
Para isso, Jesus exige para todos
os lados (dos poderosos e das vitimas do poder) que se convertam: “Convertei-vos,
porque o Reino dos Céus está próximo”. Os pobres, as vítimas, precisam
construir um projeto de humanização sem ódio e por isso, Jesus coloca o amor
como o maior mandamento (Jo 13,35; 15,12). Para os poderosos, que devolvam e
respeitem a dignidade do povo, respeitando seus direitos. Em outras palavras,
para Jesus o problema do Reino era um problema de transformação do coração.
Trata-se de uma transformação real que deve se demonstrar na prática e se
experimentar em todos os setores da vida.
O estilo da atuação de Jesus Cristo
que ama e se sacrifica pelos homens deve ser o estilo de cada cristão:
ajudando, curando feridas, libertando os outros de suas angústias e seus medos,
anunciando a Boa Notícia do amor de Deus. E que somente o amor salva, enquanto
que o egoísmo destrói e mata. O egoísmo mata a fraternidade e uma convivência
mais humana. É preciso aprender a ver Deus nos demais (cf. Mt 25,40.45), sobre
tudo nos pobres e nos débeis, nos marginalizados e excluídos da sociedade.
Trata-se de que esse amor fraterno que aprendemos de Jesus Cristo nós o
traduzamos em obras concretas de compreensão e de ajuda. O amor não é dizer
palavras solenes, bonitas e comovedoras, e sim imitar o amor de um Cristo que
se entregou pelos demais. Este é o caminho da salvação. Por este caminho não há
outro que possa nos salvar e nos levar para o Céu, pois “Deus é amor” (1Jo
4,8.16). A fé em Jesus Cristo e o amor aos irmãos são provas de autenticidade
da fé que professamos.
“Convertei-vos, porque o Reino
dos Céus está próximo”. A conversão, dentro do contexto das leituras de
hoje consiste em crer em Deus e amá-Lo amando o próximo. Crer e amar são duas
atitudes básicas de cada cristão e são inseparáveis: “Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu
Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento
que ele nos deu” (1Jo 3,23). Quem crê verdadeiramente em Deus, ama o
próximo. Quem ama o próximo, é porque pertence a Deus, mesmo que ele não tenha
consciência disso. A fé e o amor coexistem e fecundam mutuamente. A linha
vertical (fé) se expressa na linha horizontal (amor fraterno). A fé que salva é
a fé que atua pela caridade. Por isso, a fé e o amor devem configurar a vida de
cada cristão. Não existe a fé sem o amor fraterno. E não existe o amor fraterno
que não leve a pessoa que ama até Deus.
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário