sábado, 7 de dezembro de 2013

 
SOU AMADO POR DEUS

 
Terça-feira da II Semana do Advento
10 de Dezembro de 2013
 
Texto de Leitura: Mt 18,12-14

Naquele tempo disse Jesus a seus discípulos: 12 Que vos parece? Se um homem tem cem ovelhas, e uma delas se perde, não deixa ele as noventa e nove nas montanhas, para procurar aquela que se perdeu?  13Em verdade vos digo, se ele a encontrar, ficará mais feliz com ela, do que com as noventa e nove que não se perderam. 14Do mesmo modo, o Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum desses pequeninos .
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Este texto quer acentuar sobre o interesse de Jesus pelos pequenos, e, ao mesmo tempo, Jesus quer que seus seguidores se vistam dos mesmos sentimentos.


A comparação que se faz neste texto entre a atuação de Deus e a de um pastor é muito eficaz. Em Lc 15,4-7, que fala da mesma parábola, o que se acentua é a alegria. Enquanto que em Mt 18,12-14 o que se destaca é o fato de que Deus não quer “que se perca nenhum desses pequeninos” . Por isso, viver os mesmos sentimentos de Deus significa atuar para salvar, trabalhar em qualquer comunidade cristã é trabalhar para salvar as pessoas para Deus, sobretudo aqueles que estão em perigo, os pequeninos. Concretamente, há que evitar ser ocasião de pecado para eles (Mt 18,6) e não se pode desprezá-los (Mt 18,10), porque Deus os ama.


Que vos parece? Se um homem tem cem ovelhas, e uma delas se perde, não deixa ele as noventa e nove nas montanhas para procurar aquela que se perdeu?” (Mt 18,12). É a pergunta de Jesus para seus ouvintes e para todos nós. Ele quer que nos coloquemos no lugar do pastor das ovelhas para entender a maneira de Deus de tratar o ser humano, especialmente de um pecador. Aqui percebemos a “matemática” de Deus. Para nós um não é igual a noventa e nove, pois nossa matemática é quantitativa. Para Deus, um é igual a noventa e nove. Para Jesus, uma pessoa tem o mesmo valor de noventa e nove. Trata-se de uma “matemáticaqualitativa. Por isso, Jesus não mede seu esforço em buscar oi procurar uma ovelha perdida. Por causa do valor de cada um de nós, a misericórdia do Senhor se estende para todos e em todos os momentos de nossa vida.


Deixar noventa e nove ovelhas para buscar uma é uma loucura. Mas assim é a loucura de Jesus e deve ser assim também a loucura da comunidade. A comunidade não deve deixar-se guiar pelos critérios de eficiência e sim pelo cuidado com o pequeno, com o insignificante, com o desviado, com o abandonado, com o marginalizado e assim por diante.


Um verdadeiro pastor vai procurar a ovelha perdida. É a resposta que se espera da pergunta. Deus é assim, diz Jesus. De sua parte nãojamais ruptura. É um Deus que mantém o contato com o homem, com cada um de nós. A alegria de Deus é encontrar novamente seu filho perdido. A matemática de Deus é diferente totalmente da minha matemática. Para mim como para o resto da humanidade um não é igual a noventa e nove. Para Deus, um é igual a noventa e nove, pois ele ama cada um dos homens na sua individualidade. Por isso, Deus vai atrás do perdido. A felicidade de Deus que é o Pai de todos é perdoar, é salvar, é devolver a felicidade a quem carente dela. É um Deus que não condena. É o Deus que Jesus nos revelou. É um Deus que se preocupa comigo. É um Deus que se alegra com minhas alegrias. É um Deus que meforças e ânimo no momento do meu desespero. É um Deus que me procura no momento em que estou perdido. É um Deus que está ao meu lado e dentro de mim na minha dor para me fortalecer (cf. Mt 28,20). É um Deus que merece meu amor e minha confiança.


Do mesmo modo, o Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum desses pequeninos”, disse-nos Jesus (Mt 18,14). Esta é uma frase absolutamente capital. É a culminação do Evangelho. É o coração ou o centro do evangelho. É o que explica o resto: a Encarnação, a Paixão, a Morte na Cruz e a Ressurreição de Jesus. O amor é a resposta para todos os porquês da Bíblia. Por que a criação? Por que a encarnação? Por que a redenção? A resposta é esta: amor. “Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna” (Jo 3,16). A partir de Deus a lei que governa o mundo é o amor. Conseqüentemente, a lei que deve governar a vida de cada cristão é a lei do amor (Jo 13,34-35; 15,12-14).
  

“O Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum desses pequeninos (Mt 18,14). Deus não quer que eu me perca. Eu preciso meditar esta verdade que Jesus me revelou. Aqui está a vontade de Deus! Aqui está o Seu querer! Não pode nem quer perder um dos pequeninos. O mais insignificante em aparência é importante nos olhos ou para os olhos de Deus.


O que me faz perder é o pecado. “Toda corrupção leva o homem à própria destruição. Pecar é desmoronar o próprio ser e caminhar para o nada”, dizia Santo Agostinho (De mor. manich. 6,8). “O defeito moral não se define pelo mal que se intenta, mas pelo bem que se abandona”, acrescentou Santo Agostinho (De civ. Dei 2,8).


Mesmo que eu me perca, a misericórdia de Deus é muito maior do que a minha miséria. Por isso, posso me levantar novamente, pois a misericórdia está me chamando para voltar ao caminho de Deus que é o caminho da salvação. A misericórdia me chama a caminhar. A misericórdia me devolve o sentido da vida. O amor de Deus pelo homem é um amor essencialmente misericordioso, pois é dado a alguém que se tornou indigno, pela soberba, pela desobediência, pela ingratidão, pela maldade, pela rebelião, pela injustiça, pela falta de amor e assim por diante. Nesse gesto extremo do seu amor evidenciam-se duas verdades: a grande consideração de Deus pelo homem; Deus sempre está do lado do homem e contra o mal; e o amor infinito que ele derrama sobre o homem. Este amor misericordioso de Deus sempre persegue o homem na sua aventura espiritual, nas suas fugas de Deus, nas suas rebeldias, na sua perversa ingratidão e na sua profunda miséria. O amor de Deus é tão grande pelo homem até o salmista fica maravilhado ao dizer: Senhor, nosso Deus, quem é o homem para te lembrares dele? Quem é o homem para com ele te preocupares?” ( cf. Sl 8). E Deus tanto ama o homem a ponto de fazer-se homem em Jesus Cristo (cf. Jo 1,14): ele veio para o nosso meio, viveu como nós e ofereceu sua vida por nós. Assim ele revela esse traço de Deus misericordioso.
 

Por esta razão, Jesus Cristo aparece nas páginas do Evangelho como compreensivo, misericordioso, benigno com os pecadores, disposto sempre a perdoar. Aos discípulos “extraviados” que abandonaram a comunidade de Jerusalém e, desanimados, queriam se refugiar em sua casa em Emaús, o Ressuscitado saiu ao encontro deles, os recuperou pacientemente e lhes enviou de volta para a comunidade de Jerusalém (cf. Lc 24,13-35). Ele veio para salvar, para recuperar, para resgatar e não para condenar. Jesus é sempre o Bom Pastor. É um Deus de ternura. Vale a pena depositar toda nossa vida e nossa esperança nele! Ele é nosso Salvador. Ele é o Bom Pastor que nos carrega nos seus ombros no momento em que perdemos força para caminhar.


Que atitudes nós adotamos diante de um irmão que falhou muito na vida moral e ética? Será que ficamos contentes e tranqüilos apenas com as noventa e nove ovelhas?


A comunidade cristã deve sersinal do rosto de Deus”, de Deus que vai atrás da ovelha perdida com uma solicitude pastoral pelopequeno” e mais ainda, por aquele que se extraviou pelo pecado. A comunidade cristã não deve deixar-se guiar pelos critérios de eficiência e sim pelocuidadocom o pequeno, com o insignificante no critério da sociedade, com o excluído, com o isolado ou afastado.


Toda a experiência profunda de Deus, toda a consolação espiritual autêntica nos leva à prática eficaz da misericórdia. As nossas pequenas mortificações e exercícios ascéticos têm valor na medida em que servirem de treino para o exercício da misericórdia e para a conseqüente prática da auto-renúncia em função do amor que salva. A via que conduz ao Pai celeste é o caminho do amor. Diante deste apelo, caem todas as barreiras sociais, culturais, religiosas, étnicas e assim por diante. Haverá juízo sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o julgamento”, alerta-nos São Tiago (Tg 2,13).


Vem, Senhor Jesus, busca o teu servo, busca a tua ovelha inválida. Deixa as noventa e nove e vem buscar esta que está perdida... Busca-me, porque eu te busco. Encontra-me, levanta-me, leva-me. Tu podes encontrar o que buscas. Tu aceitas carregar sobre ti o que encontraste (Santo Ambrósio, Comentário ao Salmo 118).


Para Refletir:

·        A salvação, que Deus nos oferece, é obra da sua misericórdia. Não há ação humana, por melhor que seja, que nos faça merecer tão grande dom. Por pura graça, Deus atrai-nos para nos unir a Si. Envia o seu Espírito aos nossos corações, para nos fazer seus filhos, para nos transformar e tornar capazes de responder com a nossa vida ao seu amor (Papa Francisco: Exortação Apostólica: Evangelii Gaudium no. 112).


·        A Igreja é enviada por Jesus Cristo como sacramento da salvação oferecida por Deus. Através da sua ação evangelizadora, ela colabora como instrumento da graça divina, que opera incessantemente para além de toda e qualquer possível supervisão. O princípio da primazia da graça deve ser um farol que ilumine constantemente as nossas reflexões sobre a evangelização (Idem n. 112).


·        Ser Igreja significa ser povo de Deus, de acordo com o grande projeto de amor do Pai. Isto implica ser o fermento de Deus no meio da humanidade; quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido, necessitado de ter respostas que encorajem, dêem esperança e novo vigor para o caminho. A Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho. (Idem n. 114)

P. Vitus Gustama,svd

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